segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Depois da Chuva - 11

“Você não me quer, como eu quero você. Você não precisa de mim, como eu preciso de você. Você não pode me ver, como eu te vejo. Eu não posso ter você, como você me tem. Eu não posso te roubar, como você me roubou.” — The Pretty Reckless.
Sala da direção
Academia Yancy
Nova York

 — Senhor diretor, minha família mora muito longe daqui. — Nick suspirou, se sentando na cadeira de couro em frente a Ethan, já quase desistindo — Olha, eu entendo que nessa escola tem muitos filhos de estrangeiros e diplomatas, porque não podemos fazer...
 — Olha, rapaz, não insista! — interrompeu Ethan, parecendo impaciente — Eu não posso aceitar a inscrição de nenhum aluno sem prévia entrevista com os pais do aluno ou os tutores do aluno.
 Nick apertou os olhos, ele mesmo começando a ficar impaciente. Tentou pensar em um plano rápido, mas foi impossível. O que poderia fazer em uma situação daquelas? Fora de cogitação tocar no nome de sua mãe.
 Ethan encarou Nick, se perguntando quando ele finalmente sumiria de sua sala.
 — Me dá licença, rapaz? Por favor? — pediu o mesmo, pegando sua xícara de café — Além disso, vejo aqui em sua inscrição que seu pai é falecido, não é?
 Nick o olhou bem cético, alegando em seu próprio olhar que aquele era um assunto proibido.
 — Ou então a sua mãe é a responsável. — Ethan deu de ombros — Eu preciso...
 Ethan parou de falar com uma batida na porta.
 — Senhor diretor — Emma entrou na sala. — Está aqui fora a responsável pelo candidato Nick Jonas.
 O coração de Nick disparou. O que? Como assim? Responsável? Ele não tinha responsável, e não havia avisado a ninguém. Nick gelou ao pensar em sua mãe, em como ela havia descoberto que ele estava tentando entrar na Academia Yancy, e não em uma universidade, como havia prometido.
 — Pode entrar. — Disse Emma.
 Abigail entrou trotando pela porta. Nick a olhou confuso e assustado, e todas as alternativas sobre sua mãe foram descartadas na hora.
 — Seu idiota, você fugiu de mim! — Abigail gritou, puxando os cabelos de Nick. O garoto gemeu, não entendendo nada.
 — Senhora, senhora! — Gritou Ethan, fazendo Abigail o olhar. — Espera, a senhora não é a tia da candidata Swift?
 — Sim, e madrinha desse bandido que quer aprontar mais uma! — Rosnou para Nick. — É que a mãe dele e eu somos, como posso dizer... Irmãs. Mas é que o Nick insiste em entrar e eu... Am... Ele quer ficar junto da Taylor. Quer ter certeza de que ela terá boa educação. — Notava-se seu nervosismo.
 — Espera aí, perdão, mas eu não estou entendendo. — Ethan juntou as sobrancelhas. — O problema não é esse. O problema é que eu preciso de uma autorização legal assinada pela mãe desse rapaz pra eu poder dar entrada na inscrição dele.
 — Ah, não se preocupe com isso! — Abigail sorriu. — Eu vou trazer assim que ela mandar. Mas por favor, deixa que ele faça a prova. Se não o Nickzinho vai se atrasar e vai perder o ano, eu sei que o senhor é um homem muito bom...
 Nick não disse nada. Continuava mudo, apenas observando o que Abigail tentava fazer. Seu coração batia mais acelerado ao ver que ela conseguia convencer o diretor.

Dormitório das meninas / Selena's Room
Academia Yancy
Nova York

 Demi literalmente estava infernizando as garotas. Ela quebrava as coisas e fazia uma zona no quarto. Bagunçou a cama de Selena e jogou suas maquiagens no chão, fazendo Selena ficar louca e querer matá-la. Ela fez uma grande zona no guarda-roupa de Ava, que foi uma grande loucura, pois não havia nada de mais importante para Ava do que aquilo. Isabella já estava com ódio o bastante de Demi para ajudar as amigas a "acabarem com ela". Demi com certeza era um problema no meio das 'populares' e parecia fazer de propósito. Ela queria fazer de propósito.

Corredor
Academia Yancy
Nova York

 — Então faremos assim: você falsifica a carta da sua mãe, e eu consigo que alguma pessoa assine para que tenha valor. — Abigail sussurrava para Nick fora da sala da direção.
 O garoto deu um sorriso fraco.
 — Olha, obrigado pelo que está fazendo por mim. Se arriscar assim por um estranho é muito difícil, obrigado.
 — Eu sou assim, meu filho. Nem me lembre, porque eu volto atrás. Porque não é uma coisa muito correta.
 — Não, não, que isso. — Nick deu de ombros.
 — Além disso, não pense que vai sair de graça. — Ela sorriu.
 Nick bufou, sentindo um peso em suas costas.
 — Pode dizer.
 — O único favor que eu quero pedir é que... Cuide da Taylor. — Abigail suspirou, olhando bem nos olhos de Nick. — Sabe, ela é uma boa menina. É muito inocente, e eu quero que você a proteja. Não deixe que ninguém faça nada a ela.
 — Não se preocupe. — Nick falou baixo, o pedido o pegando de surpresa. — Vou ser como o irmão mais velho da Taylor. Não vou deixar que nada aconteça a ela.
 — Ah, não sabe a tranquilidade, que peso você tirou da minha consciência! Não imagina! — Abraçou Nick em um rompante, seus olhos começando a ficar marejados. Quando pensava em Taylor, sempre pensava com preocupação, como se não soubesse como deixá-la sozinha no mundo, com medo de que a machucassem. Nick a abraçou, de repente sentindo essa mesma preocupação se transferindo para ele.

Dormitório das meninas / Selena's Room
Academia Yancy
Nova York

 — Não aguento mais, eu preciso de ar! — Bufou Selena, saindo do quarto com as amigas. — Que horror, essa menina é um atentado contra o bom gosto.
 As três riram.
 — De onde ela tira tanta porcaria? — falou Isabella.
 — Do lixo, de onde mais? — riu Ava.
 — Eu não sei, mas eu não suporto ela, vou ter um treco, preciso de ar! — Selena bufou.
 — Oi, e aí? — uma garota loira com uma touca falou Selena, Isabella e Ava. As três a olharam confusas. — Tudo bem?
 As três olharam, de repente formando um sorriso.
 — Estamos super bem, e você? — responderam em coro, como em uma 'coreografia'.
 Madison as olhou estática. Claro que achou aquilo ridículo.
 — Hmm... Aqui é o quarto das meninas? — perguntou ela, tentando tirar a imagem anterior de sua cabeça.
 — É... Você é nova? — Isabella a olhou de cima a baixo, reparando em suas roupas surradas.
 — Sim, meu nome é Madison. — fez o mesmo toque de mãos em Isabella, mas a garota também não conhecia aquela arte.
 — Vem cá, você é bolsista, não é? — perguntou Selena.
 — Como é você sabe?
 — Bom, olha, não é difícil notar, as suas roupas e o seu cabelo são um pouquinho radicais. Mas não se preocupe, nada que Selena Gomez, especialista em produção visual não possa resolver.
 As meninas sorriram. Madison as olhou com completo... Nojo. Na verdade, ela não esperava encontrar isso quando pisasse naquela escola. Esperava encontrar pessoas legais e gente desinterassada.
 Mal podia ver que estava super enganada.
 — Mas se você é bolsista, não devia estar fazendo a prova? — perguntou Isabella.
 — Hm, não. Eu vim pra cá como bolsista atleta.
 — E o que é isso? — Ava perguntou.
 — É que eu pratico taekwoundo e acho que quando tiver um intercolegial eu vou representar o colégio. — deu de ombros.
 — Não, não. — Selena balançou a cabeça — A Academia Yancy jamais participa dos intercolegiais. Ainda mais nesse negócio aí de taekwondo, eu acho que você errou de escola.
 Madison as olhou confusa. Não sabia o que pensar naquele momento, mas desejou sair de perto daquelas três antes que ficasse louca.
 — Ta bom, eu vou te mostrar o seu quarto, as bolsistas ficam pra lá. — falou Isabella, começando a andar pelo corredor — Vamos, meninas.

 — Olha, esse quarto aqui está disponível. — Isabella entrou no quarto — Pode escolher qualquer lugar e decorar como você quiser.
 — Ah é, como o nosso! — Selena sorriu, se sentando em uma poltrona vermelha — O nosso quarto foi todo decorado pelo Aiden Thomas, meu decorador. Ficou lindo, você nem imagina. Ele deixou cada uma com o seu estilo divino. O único mal é que agora chegou uma ignorante chamada Demi. — Selena torceu o nariz — E estragou tudo, todo o trabalho que fizemos em meses. Juro que me deu vontade de vomitar vendo as coisas que ela trouxe. Bom, eu digo isso porque sou super sensível e você ainda não me conhece.
 — Ai, que nojo, uma mosca! — falou Ava, parecendo abafar o ar.
 Madison ainda as olhava confusa, como se aquelas garotas não fossem reais. Não tinham nada a ver com ela, e já começava a não suportá-las.
 — Hmm, eu vou pegar a minha mala. — falou ela, indo até a porta.
 — Eu te ajudo. — Isabella foi atrás dela.
 — Tem moscas nesse quarto?! — Selena sussurrou para Ava, com cara de nojo.
 — Ah, que nojo isso, fala sério!
 — Ai! — Isabella bufou, largando a mala de Madison no chão. — Tem algo que quebre aí?
 — Não sei, fizeram a minha mala no orfanato. — Deu de ombros.
 — Espera aí, você veio de um orfanato? — Isabella arregalou os olhos.
 — É, algum problema? — ergueu as sobrancelhas.
 — Não, é porque aqui isso não é comum. — Ava sorriu forçado.
 — Me desculpe, mas eu nunca vi uma órfã ao vivo... Como é ser órfã? — Selena a encarou como se fosse ouro.
 — Deve ser super deprimente, não é? — Isabella falou, olhando para Madison com pena.
 — Pior que não, lá se aprende muito. Uma das coisas que eu aprendi lá é: destruir tudo que te incomoda. — Lançou um olhar mortal para as três.

Campus de golfe
Academia Yancy
Nova York
Joe's POV

 Bom, eu não fui pra casa após sair do hospital, como podem ver. Ainda tinha que realizar os temerosos trabalhos voluntários, coisa que com certeza não era pra mim. Eu estava odiando aquilo, não tinha nada pior, eu deveria estar em casa descansando bastante e ser mimado pelos meus empregados, poxa, eu acabei de sofrer um acidente!
 Mas o senhor Collins tampouco pensava desse jeito.
 Ele teve prazer em ir até meu quarto no hospital para jogar na minha cara que havia feito uma denúncia contra mim sobre o acidente. Tudo bem, eu vacilei, eu admito, mas ele é meu pai. Será que qualquer outro pai faria isso com o filho? Não consigo nem imaginar, ele me dá nos nervos, apesar de eu sempre afastar esse sentimento de mim. Ele me deixa nervoso e com ele não posso dizer sequer o que quero e o que penso sobre nenhum assunto. Ás vezes me espelho nele, mas na maioria das vezes eu o desejo longe da minha frente e da minha vida.
 Saí do meu quarto e fui para o campus de golfe, entrei em um carrinho e aproveitei para ligar para Jacob. Contar as "novidades":
 — Pois é, Jacob, o juíz mandou fazer trabalho voluntário numa cidadezinha... Juro que preferia morrer. — Balancei a cabeça, afastando tais pensamentos. — Aposto que foi ideia do meu pai. Não me deixa sozinho nessa, ok? Ta bom, tchau.
 Desliguei o telefone, já voltando a sentir a mesma repulsa de antes. Eu estava atordoado com toda aquela situação, estava fora de cogitação eu, Joe Collins, passar o verão inteiro trabalhando. Qual é, eu nunca nem lavei um prato em casa, agora terei que trabalhar para outras pessoas? Foram só maconha e bebidas, ok? Porra, foi só uma mancadinha!
 Ainda continuava rodando pelo campus com o carrinho, passei pelas líderes de torcida fazendo alongamentos no gramado, as quais acenaram para mim alegres e sorrindo. Assanhadas. Me adoravam, eram loucas pra transar comigo, e eu já havia pegado metade. Assim como metade dessa escola.
 Quem pode, pode.

Selena Gomez's POV

 Aquela Madison me assustou, eu não vou negar. Depois das últimas palavras que ela me lançou, eu e as meninas demos uma desculpa para sairmos correndo daquele quarto o quanto antes. Até tinha passado pela minha cabeça que eu poderia ajudá-la aqui, mas logo descartei. Não gosto de trabalhos difíceis, muito menos de cobaias difíceis. Se quer ficar do jeito que está, que fique. Eu, Ava e Isabella saímos daquele quarto, indo direto para o campus de golfe.
 Ao chegar lá, pegamos um carrinho e nos amontoamos em cima dele, eu e Ava na frente e Isabella atrás. Conversávamos sobre assuntos recorrentes quando cruzamos com o carrinho de Joe a nossa frente, o qual havia acabado de azarar simultaneamente várias líderes de torcida atrás dele. Eu automaticamente dei um sorrisinho cínico pra ele. Eu já estava ligada na mega confusão que ele havia se metido, aliás, quem não sabia?
 Joe parou o carro a minha frente, me fazendo parar também. Nós dois nos encaramos.
 — Joezinho! — Falei, sorrindo. — Suas férias foram curtas, não é?
 Ele riu, balançando a cabeça.
 — Olha só quem fala. Você nem saiu daqui, gatinha.
 Ele piscou para mim, e depois arrancou com o carrinho, dando de ré e virando na direção oposta. Fiquei estática em meu lugar. Como assim? Ele é apenas Joe Collins. Apesar de ele ter dito a verdade, eu não aceitava ouvir aquilo dele, não mesmo.
 — Hahaha. — Ri irônica, não achando graça nenhuma.
 Ele deu uma última olhada para nós e saiu de vez, sem olhar pra trás. Já vai tarde.
 — Vem cá, porque você trata ele assim? — Perguntou Ava de repente. — Eu acho que você está afim dele.
 — Mas é claro que não. — Nós duas rimos, eu achando completamente sem nexo o que ela acabara de dizer. — Sabe, Ava, ele é um gato, mas não faz o meu tipo. E ficar com ele? Fala sério!
 Ela me avaliou, parecendo querer entrar da minha cabeça para ver se eu estava falando a verdade.
 — Bom... — disse ela.
 — Bom o que? — perguntei.
 — Eu já volto! — ela deu um gritinho, saindo do carrinho rapidamente e correndo para onde Joe havia partido.
 Eu ri e a olhei, meio perplexa, mas não assustada. Joe seria o novo alvo de Ava, isso eu já esperava para esse ano.
 — Ah, vai pedir carona pra ele, vai? — eu ri, vendo ela correr empolgada.
 — Ei, por favor! — ouvi ela dizer para um garoto que estava de bobeira parado em um carrinho. — Pode me dar uma caroninha até lá em cima?
 O garoto apenas sorriu e ela subiu em seu banco carona, o carro arrancando para frente. Que esse garoto não queira nada em troca, por favor. Ava era louca, era capaz de aceitar para não ficar mal na fita. Apenas balancei a cabeça e Isabella se sentou ao meu lado, no antigo lugar de Ava.
 — Amiga, fiquei pensando muito no que a Ava disse. — falou Isabella.
 — O que?
 — Que você e o Joe seriam o casal ideal. Os dois são iguais. — ela sorriu, parecendo sonhar com esse dia.
 Eu ri. Na verdade, gargalhei. Não era possível. Onde que eu e Joe éramos "perfeitos um pro outro"? Nunca, né? Contem outra, o garoto é um bebêzão e fica com todas as meninas do colégio. Um namoro dele deve durar o que? 1 semana? E olhe lá...
 — Ah, Isabella, por favor! — bufei, rindo. — Sério, não tem nada a ver. Você pensa umas merdas muito grandes, mas tudo bem.
 Ela revirou os olhos, parecendo não mudar de ideia.
 — Viu a Ava? Ela perde a linha, saiu voando atrás do Joe. É só aparecer um menino que ela vai correndo atrás.
 — Ai, não começa, não critica, ela é nossa amiga, lembra? — levantei as sobrancelhas.
 — É óbvio, eu sei que ela é nossa amiga, mas isso vai ficar entre a gente, ta? Olha, você não vai negar que ela é super atiradinha com os meninos. — deu de ombros.
 Eu ri. Na verdade, foi a única coisa que eu encontrei naquele momento.
 — Isabella, para! — falei. — Já chega. O problema é que a Ava tem que ser boazinha porque todos os meninos querem ficar com ela. Tem que ser como eu, não os trato mal, mas eu parto o coração deles.
 Ela bufou.
 — Você é legal, mas eu acho ela muito oferecida!
 — Sério?
 — Por isso que eles te procuram tanto.
 — Ta bom, chega de criticar. O que eu ia te dizer a 5 minutos é que eu tenho que ir falar com o diretor, por isso querida, me dá uns minutinhos, vai lá.
 "Expulsei" Isabella do carrinho, mandando um beijinho no ar. Logo mais, saí com o carrinho, direto para a sala do diretor. Haviam assuntos importantes a tratar com ele, muito importantes.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Depois da Chuva - 10

“Comece a perceber. Em cada verso meu, tem um pouco de você.” — Allax Garcia. 

Avenida Begrs Street
Nova York
"Ok, pode parar aqui." — Logan se manifestou no carro — "Daqui eu vou sozinho."
"Porque, filho? Falta tão pouco." — disse seu pai.
"Eu sei, pai, mas eu não sou mais uma criança pra você me deixar em frente a escola."
 Seus pais suspiraram e pararam a uma distância mínima da Academia Yancy, enquanto Logan se atirava para fora da caminhonete Hi-Lux, pegando apenas sua mala preta de rodinhas e começando a caminhar.
"Filho, espera!" — sua mãe gritou, o fazendo parar de má vontade — "Sabe o que é? Eu gostaria de conhecer seus colegas. O seu quarto, o refeitório..."
"Ok, mãe, mas não vai dar. E também não quero que venham me visitar nos fins de semana. Quando der eu visito vocês." — deu de ombros.
"Mas nós achamos importante visitar você aqui." — sua mãe sorriu.
"Tudo bem, tudo bem." — seu pai cortou a conversa, dando um riso forçado — "Ele é assim." — abraçou Logan, fazendo o garoto executar uma careta de mal gosto — "Sabe, eu sinto muito orgulho de um filho de um simples açougueiro, de gente do campo, chegou ao melhor colégio do país. Sabe, filho, você vai chegar mais longe do que eu."
 Logan revirou os olhos, completamente entediado.
"Desde que seja um homem bom e trabalhador como você." — os pais se olharam — "Porque é o que eu quero."
"Tudo bem, mulher. Ele quer ser mais do que eu..."
"Mas porque ser mais? Além disso, ele pode continuar com o negócio do açougue. Nós conseguimos juntar mais do que jamais sonhamos."
"Ok, chega!" — gritou Logan — "Já chega, ok? Não vai começar agora com aquela história de miséria, que um dia ficamos ricos e blá blá blá." — ele bufou.
"Tudo bem, filho." — seu pai sussurrou — "Boa sorte. Trouxe tudo?"
"Sim, pai." — respondeu Logan, morrendo de vontade de vê-los longe.
"Aqui, filho. A medalinha do seu batismo." — sua mãe colocou um cordão de prata em seu pescoço — "Ande sempre com ela."
"Obrigado... Agora vão." — Logan bufou, e dessa vez seguiu em frente para a Academia.

Queens
Nova York

"E depois o meu pai morreu." — completou Nick, com o olhar distante, enquanto ele, Abigail e Taylor estavam sentados, ainda esperando o ônibus.
"Coitado." — Taylor suspirou — "E morreu de que?"
"Ele já estava doente." — Nick deu de ombros.
"Puxa..." — Abigail suspirou, observando Nick.
"Na verdade, o sonho dele era que eu entrasse pra essa escola, por isso eu vim." — Nick mentiu, rolando os olhos. Era a primeira vez que mentia daquele jeito em voz alta.
"Vai ser difícil." — falou Abigail — "Nessa escola é tudo complicado. Não pense que vai ser tão fácil entrar."
"Mas... Eu posso falsificar a assinatura da minha mãe..."
"Como vai falsificar a assinatura da sua mãe, garoto? Te expulsam! Não, aqui é tudo cheio de regras!" — ela bufou — "O que eu quero dizer é o seguinte, precisa de alguém que se responsabilize por você. Que fale por você, que o defenda, entendeu?"
"Mas esse é o sonho da minha vida inteira. É quase meu projeto de vida, entrar pra essa escola..." — Nick imaginava se não estaria exagerando demais.
"Você vai entrar, eu tenho certeza." — Taylor sorriu, encorajando-o.
"Não, você vai entrar, eu tenho certeza."

Centro Médico Chapon Hill
Nova York

"Venha, filho." — a mãe de Joe puxou o garoto pelas mãos enquanto terminava de colocar suas roupas normais. Joe estava com a cara mais abatida de todas. Não dormia direito havia dias e sua cabeça ainda doía com o curativo acima da sobrancelha.
"Eu estou bem, mãe." — Joe falou baixo, ainda sentindo dores.
"Vejo que se recuperou perfeitamente, Joe." — o diretor Ethan entrou pela porta do quarto, o que causou ainda mais dores de cabeça em Joe.
"Senhor diretor, me desculpe." — falou Joe — "Eu sei que vacilei. Acho que dessa vez a situação é um pouco delicada, não é?"
"É..." — Ethan deu de ombros.
"Mas não está pensando em me expulsar, não é?"
"Bom, eu devia, Joe, mas falei com o seu pai e considerando que todos os seus irmãos passaram pelo nosso colégio, vamos considerá-lo como um caso especial." — Ethan sorriu e Joe o olhou confuso — "E tem mais, eu falei com o juíz e não precisará ser processado. Isso não significa que não terá uma punição."
"Ah, muito obrigada!" — falou a mãe de Joe, sorrindo como sempre — "Que consideração. Agradeça a ele, Joezinho." — deu uma cutucada em Joe.
"Obrigado. Qual é a punição?"
"Está aqui, especificado." — Ethan tirou do bolso do terno alguns papeis — "E você vai realizar trabalhos voluntários. E não se preocupe, vai ser na cidade, perto do nosso clube de férias. Mas fique sabendo que vai ter um inspetor vigiando você."
"É por isso que eu adoro a sua escola!" — a mulher riu, pegando no braço de Ethan e o encaminhando para fora do quarto.
"Senhora, por favor..." — Ethan ria nervoso.
"É tão encantador..."
"Nós temos prazer em poder ajudá-lo." — sorriu.

Área da piscina
Academia Yancy
Nova York

"Oi, gatinha!" — gritou Logan ao ver uma loirinha baixa andando em sua frente. A garota o olhou, parecendo confusa — "E aí, posso te ajudar em alguma coisa? Eu já vi que você é nova aqui, e sei lá... Logan Lerman." — estendeu a mão.
"Eu sou Madison Taylor." — fez um toque de mãos com Logan, e o garoto a olhou cético. Só agora havia percebido algo 'macho' na garota.
"Hmm, Madison Taylor..." — ele analisou-a — "É que... Combina com seus olhos." — Madison riu — "Então, você é bolsista aqui? Veio fazer a prova?"
"Não, pra mim não disseram nada."
 Em algum canto da piscina, no meio da confusão entre os jogadores que praticavam volleyboll na água, a bola escapou dentre as mãos de alguma pessoa, fazendo a bola correr pelo teto e bater em Madison, na parte de seus seios. A garota soltou um gemido de dor e as pessoas na piscina a olharam preocupados. Não com ela, claro, mas se ela devolveria a bola numa boa.
 Madison os olhou com raiva. Logan apenas revirou os olhos, se fazendo de desentendido, como se não estivesse presente naquele momento. Madison pegou a bola do chão.
 — Quem foi o idiota? — A garota gritou, olhando para as pessoas na piscina.
 Ninguém soltou um pio. Ela bufou e em menos de 1 segundo, jogou a bola pra cima, chutando-a em seguida, com uma força extraordinária. O queixo de Logan caiu. Ele e todos acompanharam enquanto a bola voava pela quadra, por cima da piscina. E todos olharam com medo até ver que a bola ia em direção a um homem descendo as escadas, há uma distância significante da quadra. Não deu outra, a bola bateu em seu braço, dando um estalo.
 — O que aconteceu, Daniel? — Gritou o homem, massageando seu braço onde fora atingido, saindo em seguida batendo os pés.
 Daniel Anderson era o professor de educação física, presente na quadra naquele momento, e não soube o que dizer naquele momento. Não podia dizer nada, ainda olhava perplexo para Madison, assim como os outros.
 — Nada mal. — Logan comentou após as pessoas terem "acordado" e voltado para suas atividades. — Eu aposto que você quer ajuda com a sua mala, não é? O que é isso aqui? Seu tapete de alongamento? — Ele riu, enquanto pegava a mala de Madison.
 Os braços de Logan queimaram. Pareciam haver pedras na mala da garota. Logan soltou um gemido gutural enquanto tentava levantar a mala, e Madison apenas soltou um sorriso.
 — Vamos lá? — Ela riu e começou a caminhar para dentro da escola, sendo seguida pelo andar devagar de Logan.

Dormitório das meninas / Selena's Room
Academia Yancy
Nova York

 — Eu não voltei só por você, Selena, eu voltei também porque eu não suportava mais a minha mãe e o imbecil do meu irmão. — Ava bufou enquanto Selena passava pó em seu rosto. — Só porque o meu pai saiu de casa, ele se acha o dono de tudo.
 — Soube mais alguma coisa dele?
 — Não. Ele se divorciou da minha mãe, se divorciou de todos.
 — Vocês já viram os alunos novos? — Perguntou Isabella enquanto descia as escadas do dormitório gigante.
 — São uns idiotas... — Murmurou Ava.
 — Tadinhos, pareciam que estavam entrando no matadouro. — Isabella riu.
 — Você já está prontinha. — Selena disse á Ava enquanto guardava um pouco de suas maquiagens. Ava agradeceu murmurando um "obrigada". — Olha, eu nem tive vontade de sair do meu quarto. Já basta ter visto aquela menina... — Selena descia as escadas, indo ao encontro de Isabella. — Sabe o que eu descobri? Que ela é filha de uma artista...
 — Gente, eu vi ela em uma revista, eu achei ela bem bonita. — Ava se levantou do espelho, indo ao encontro das amigas.
 Selena bufou.
 — Ava, acorda! Por favor, nas revistas eles retocam as fotos no computador. — ela se jogou em sua cama — Você precisa vê-la pessoalmente, não é? Conta pra ela, Isabella!
 — Então me contem, eu quero saber. — Ava se sentou em sua cama, e Isabella soltou uma risada.
 — Parece uma árvore de natal com as luzes piscando, é horrível. — Selena contou, fazendo as três rirem. Ava murmurava palavras como "Ah não, não acredito..."
 — E a filha? — perguntou Ava.
 — A filha? Não, a filha é a pior de todas! É a mais idiota que eu já vi na minha vida! — Selena gesticulava com os braços.
 — Espera, me conta aí. — pediu Ava.
 — Não, espera, ela tem um cabelo loiro com umas mexas verdes...
 — Azuis! — corrigiu Isabella.
 — São azuis também? — Selena riu. — São azuis, roxas, sei lá...
 Naquele momento, a porta se abriu bruscamente. Demi chutou suas malas para dentro do quarto, fazendo um silêncio reinar naquele momento. A garota entrou a passos largos, não se importando com as meninas ali.
 — É exatamente desse jeito. — Selena resmungou — Escuta, menina, acho que você se enganou, porque a saída fica por aquele lado. — apontou para um lado distante do quarto.
 — Ah, não me diga! — Demi sorriu irônicamente. — Então me desculpe, pois eu vim pra ficar aqui, bonequinha. — Mexeu nos cabelos de Selena.
 — Mas você me disse que não ia ficar...
 — Pois é, mas eu mudei de ideia. — Demi pulou de joelhos na cama de Selena — Porque eu gostei muito da escola e então... Eu vou ficar aqui. — Sorriu.
 Selena a olhou com nojo e desprezo, e também um pouco de preocupação. Não sabia porque, mas já sentia que Demi iria ser um problema pra ela.
 — Essa escola não tem nada a ver com você! — Isabella disse, se levantando.
 Demi a olhou com graça, dando um enorme sorriso de deboche.
 — É mesmo? — Ela se levantou, ficando em pé na cama de Selena. — Poxa, mas que inteligente você é.
 — Não na minha cama! — Selena gritou ao ver Demi em pé.
 — Deixa eu te perguntar, além de falar, você também sabe fazer piruetas? Como todos as baleias? — Demi falou para Isabella, ignorando a existência de Selena completamente.
 Ava levou a mão á boca, chocada com o comentário de Demi. Selena baixou os olhos, seu peito pareceu se apertar. Isabella a encarou, sua garganta se fechando, como se não houvesse o que dizer naquele momento.
 Isabella era a típica pessoa que estava acima do peso. Isso seria normal, se ela não fosse uma das meninas mais populares da escola. Se sentia completamente fora do mundo comum pelo motivo de não estar no patamar do "corpo perfeito", e se tinha alguma coisa que a machucava era caçoar disso.

Salão principal
Academia Yancy
Nova York

 — Os que entregaram a solicitação podem passar para a sala para fazerem a prova. Só os candidatos! — Anunciou Emma para a aglomeração de pais e filhos na Academia.
 Nick e Taylor se levantaram em um sobressalto, assim como um montante de alunos. Todos pareciam mais nervosos do que o comum, pareciam estarem se decidindo ali na hora se iam ou não. Dava pra ver o pânico nos olhos deles.
 Um a um, os candidatos iam até a mesa de Emma e colocavam a solicitação preenchida, como devia ser. Suas mãos tremiam, sem querer exagerar. Eles estavam mesmo nervosos. Taylor rapidamente entregou nas mãos de Emma e caminhou até a sala, parecendo suar frio.
 Nick se encaminhou para a mesa de Emma, colocou sua solicitação e já foi seguindo para a sala, quando:
 — Jonas! — chamou Emma, fazendo Nick se virar novamente — Você não.
 Nick a olhou confuso e ao mesmo tempo perplexo. Abigail e Miley pararam para ver ao longe, também confusas.
 — Não o que? — perguntou ele.
 — Você não pode fazer a prova. — ela deu de ombros.
 — Mas porque?
 — O diretor não falou com os seus pais. Eles vieram com você?
 A cabeça de Nick queimou. Seus pais? Não havia coisa pior para pedir a ele naquele momento. Estava fora de cogitação envolver seus pais naquilo. Ele respirou bem fundo.
 — Não. — respondeu.
 — Então você não vai poder fazer a prova, eu lamento. — Emma deu de ombros.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Depois da Chuva - 09

“Quando você chega à emergência de um hospital, uma das primeiras coisas que eles pedem é que você dê uma nota para a sua dor numa escala de um a dez. Me lembro de uma vez, logo no inicio, em que eu não estava conseguindo respirar e parecia que meu peito estava pegando fogo, as chamas lambendo meu tórax por dentro, tentando encontrar um jeito de sair e queimar o lado de fora, e meus pais me levaram para a emergência. Uma enfermeira perguntou sobre a dor e eu não conseguia nem falar, então mostrei nove dedos. Depois, quando já tinham me dado alguma coisa, a enfermeira voltou e ficou meio que acariciando minha mão enquanto media minha pressão arterial, então disse: Sabe como sei que você é guerreira? Você chamou um dez de nove.” — A culpa é das estrelas.

 "Pai, eu..." — Joe tentou começar, mas as palavras lhe faltavam. Ele estava com mais medo do que nunca esteve.
"Você faz de tudo pra me destruir." — disse Michael, com seu tom frio e arrogante de sempre — "O que a oposição não conseguiu fazer em anos, você quase conseguiu em um dia." — ele bufou, dando passos até Joe — "Me diga uma coisa, filho, qual é o seu plano? Quer me arrasar? Porque você não aprende com os seus irmãos mais velhos? Eles são mil vezes melhores do que você! Você não pensa na minha imagem pública, não é verdade? Não se importa se ficam falando do seu pai por aí, pelas ruas, em todos os lugares..."
"Pai, por favor, deixa eu falar..." — Joe balançou a cabeça.
"Não, eu não vim pra escutar você! Eu vim pra falar. Eu vim dizer que se você pensa que por ser meu filho vai poder fazer o que você quiser..." — Michael balançou a cabeça, parecendo indignado — "Filho, você está muito enganado. Dessa vez eu não pretendo salvar você. Você foi longe demais, podia ter matado todo mundo!" — Joe abaixou a cabeça, as palavras de seu pai pareciam ser marteladas no cérebro dele — "Você destruiu um carro..."
"Pai..."
"Você destruiu um carro, não é verdade?!"
"Eu vou pagar por tudo, pai, eu juro."
"Não." — Michael soltou uma risada irônica — "A minha confiança não tem preço."
"Nunca teve confiança em mim, não é? Tudo que vê em mim é ruim, pai."
"E tem alguma coisa boa?" — ele levantou as sobrancelhas e Joe sentiu os joelhos vacilarem. Ele não queria escutar mais nada — "Eu vim trazer isso." — Michael retirou uma folha de papel do paletó que usava.
"O que é isso?"
"É uma entimação." — ele estendeu a folha para Joe. O garoto arregalou os olhos.
"Quem fez a denúncia? As garotas?"
"Não... Eu fiz."
 Joe olhou para o pai, com uma expressão de choque e desamparo. Seu pai estava transformando aquela situação na mais infernal de todas. Seu coração pareceu apertar, e de repente ele se tocou de que não sabia do que seu pai era capaz.
"Você?!" — Joe arregalava os olhos chocado.
"A mídia me persegue. Eu tenho que dar alguma coisa." — ele deu de ombros, parecendo completamente satisfeito.
"Ah, claro." — Joe deu uma risada irônica — "Agora eu entendo. O político exemplar quer entregar a cabeça do filho. Maior sacrifício do que esse impossível, não é?"
"Não é assustador que tenha tanta inteligência. Você que não a use, filho." — deu um olhar duro para Joe e saiu, acendendo mais um de seus inseparáveis charutos.
"Pai, espera!" — Joe gritou, mas o pai já havia ido — "É, estou com um pouco de dor de cabeça. Obrigado por perguntar..." — falou a si mesmo.


Highland PS
Nova York

"48, 49, 50, 51..." — Selena arfava enquanto levantava mais um peso no meio do quarto. Não era a primeira vez que se sentia tão entediada a ponto de malhar ali, no quarto mesmo — "Selena!" — ela gritou a si mesma, largando os pesinhos e se olhando no enorme espelho que pegava do chão ao teto — "Selena, o que é isso? Que gordurinha é essa? Não pode ser! Droga! Porque tudo tem que acontecer comigo?!" — ela choramingou enquanto apertava sua barriga em frente ao espelho.
 Selena gemia de indignação ao procurar qualquer tipo de creme nos armários e rezou quantas vezes fosse preciso para que Deus a afastasse das celulites e estrias. A garota ainda se olhava no espelho quando algo escorreu por sua porta. Ela olhou, sem entender no início. Depois viu um pedaço de papel no meio do quarto.
"Quem é?" — gritou ela, mas não obteve resposta. Selena se aproximou e pegou a carta, que estava intitulada como 'Selena Gomez'. Ela rapidamente abriu a porta, mas não viu ninguém, corredor completamente vazio. Ela estranhou e fechou a porta novamente.
"Ah não, e se for um trote? Ou um vírus perigoso?" — ela murmurou, se sentando na cama — "Ou talvez não! Talvez é um menino que quer ficar comigo... E se for aquele gatinho da outra sala?" — ela riu — "Caramba, é muito difícil seu eu! Tenho que ler..." — Selena abriu a carta, com sorrisos involuntários — "Essa caça ao tesouro é pra você. No colégio tem uma coisa que te interessa. Pra encontrar a primeira pista vá ao corredor dos vestiários..."
 Selena parou de ler e não sabia o que fazer. Rapidamente, ela se levantou e saiu pela porta, seguindo para o corredor. Chegando lá, bem em cima dos vestiários, havia plaquinhas onde ela deveria ir. Ela estranhava, pois a escola estava completamente vazia, mas seguia em frente. Depois de ter rodado praticamente a escola toda, ela chegou ao ginásio, que estava completamente escuro e assustador. Selena começou a sentir um medo, pois não via ninguém. E, sem mais nem menos, a garota tropeçou em seus próprio pés e algo caiu em cima dela.
"O QUE É ISSO?!" — Selena berrou ao ver que uma rede caíra em cima da mesma — "QUEM ESTÁ AÍ? EI, QUEM ESTÁ AÍ? ME AJUDA, JÁ CHEGA DISSO!"
 Selena começava a ficar com medo, e não sabia o que fazer. De um canto do ginásio, ela ouviu passos, e de repente duas pessoas apareciam naquele escuro como breu. De repente ela passou do medo para sentir alívio. As duas pessoas eram Isabella e Ava, suas amigas, que viam rindo.
"Calma, amiga!" — disse Ava, rindo, enquanto ela e Isabella tiravam a rede de Selena.
"Suas bobas! Vocês me assustaram!" — Selena estava rindo, estava feliz — "Vem cá, o que estão fazendo aqui? Não estavam de férias?"
"Nós estávamos, mas eu disse pra minha mãe que preferia voltar pro colégio." — Ava deu de ombros.
"Ah, amiga!" — Selena a deu um abraço rápido.
"E é claro que eu inventei pra minha mãe que tinha que estudar algumas matérias." — Isabella sorriu.
"Por isso que eu adoro vocês, porque são as melhores amigas desse mundo! Obrigada por não me deixarem sozinha."
"Como a gente ia te deixar sozinha?" — Isabella riu.
"Não, a gente prefere sofrer com você num martírio." — Ava sorriu.

Queens
Nova York

"É aqui." — Abigail apontou para o logotipo do Highland na figura na parede, avisando que ali era o ponto onde o ônibus do internato passaria — "Essa é a escola, Taylor, eu..."
 Abigail foi interrompida por um ser que esbarrou nela enquanto se virava para Taylor. Instantaneamente, ela o bateu com a bolsa que segurava, fazendo o garoto se assustar.
"Qual é o problema, senhora?" — Nick gritou, afagando seu braço.
"Como assim qual é o problema? Você me deu o maior susto!" — Abigail bufou.
"Eu só vim esperar o micro ônibus do Highland Private School, sei lá..." — ele suspirou.
"Oh, me desculpe, eu não sabia que você também era aluno daqui, mas... É que de repente aparece qualquer um que a gente não sabe se vai cumprimentar ou roubar." — ela deu de ombros. Nick deu um sorrisinho fraco.
"Sou Nick Jonas." — ele estendeu a mão para elas.
"Sou Abigail." — apertou a mão de Nick.
"Eu sou Taylor." — a garota lançou um olhar doce para Nick, que se encantou na mesma hora.
"Pra ser sincera, é muito chato, é que essa cidade você não sabe de onde você é, o que você faz, as coisas são bem difíceis..." — Abigail remexia em sua bolsa enquanto falava.
"Sou da Flórida, mas meus pais moraram aqui há muito tempo." — disse Nick.
"Que legal! Nós somos da Califórnia, mas foi fácil chegar até aqui." — Taylor sorriu, fazendo Nick sorrir junto.
"Ah, então vocês já estão acostumadas com a correria dessa cidade..."
"Não, ainda não acostumamos, falta muito." — Abigail riu — "E como você chegou aqui? Da onde você veio?"
"Na verdade, eu estou muito cansado."
"E de que você veio?"
"De ônibus." — Nick deu um sorriso de lado.
"Nossa, tantas horas de ônibus!"
"12."
"Nossa senhora, que isso, deve estar cansadíssimo. Você já comeu?"
"Hm... Não."
"Toma aqui, eu trouxe uns sanduíches de casa, vai servir pra você."
"Ok." — Nick sorriu.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Depois da Chuva - 08

“Às vezes temos pensamentos que nem mesmo a gente entende. Pensamentos que nem são tão verdadeiros – que não são realmente como nos sentimos –, mas que ficam rondando nossa cabeça porque são interessantes de pensar.” — Os 13 porquês.

   Em Dallas, Texas, o salão "Make Boutique" estava vazio naquela tarde. Não era um local que chamava muito a atenção das pessoas que passavam, com as portas foscas de vidro preto e os dizeres em cima com o cartaz já gasto.
 Lá dentro, pelo contrário, as conversas estavam animadas. Taylor estava sentada em uma das cadeiras alcochoadas de frente ao enorme espelho espaçoso, enquanto sua tia, uma mulher de meia-idade com os cabelos loiros pintados com mechas de várias cores, penteava cuidadosamente o cabelo da garota.
 Taylor era alta, magra e curvilínea. Tinha cabelos loiros chamativos de parar o trânsito e olhos azul-turquesa, que era de causar inveja. A garota era uma gata, se não fosse tão tímida e inocente, e não tivesse tanto medo de encarar o mundo afora.
 Sua tia falava animada, enquanto ajeitava os cabelos de Taylor, fazendo seus cachos se sobressaírem no rosto emoldurado.
 — Ah, quando você conhecer o colégio, não vai acreditar. — ela sorriu para a imagem de Taylor no espelho, um sorriso confiante — Parece até que é um hotel de 5 estrelas. Os quartos são como suítes presidenciais, lindos.
 — Tia, e se não me aceitarem? — Taylor disse, quase em um fio de voz — O que eu vou fazer? O que vai acontecer se eu não conseguir entra pra esse colégio?
 — Mas porque, filha? — a mulher colocou a escova que penteava os cabelos de Taylor de lado — Porque não vão aceitá-la e não vai entrar pro colégio? Diz.
 — Não, é que eu morro de medo de não passar nessa prova. — ela virou a cadeira para ficar de frente para a tia. Suas mãos estavam quase tremendo, só de pensar na possibilidade de não entrar na Academia Yancy.
 A loira abriu um sorriso sem mostrar os dentes. Ela entendia o sofrimento agudo de Taylor naquele momento.
 — Você será aprovada. — falou ela.
 — Depois de tudo que ficou gastando com meus professores particulares pra que eu pudesse entrar... Mas eu prometo, eu prometo, que eu vou pagar por tudo que você já fez por mim.
 — Esqueça essa ideia de pagar! — a mulher olhou torto para Taylor — Porque se disser de novo, eu queimo seu cabelo, faço um permanente, vou deixar tudo verde, o que você acha disso? — ela ergueu uma sobrancelha.
 Taylor se levantou, segurando uma risada.
 — Então você vai me maltratar?
 — Vou sim, vou deixar você careca, o que você acha?
 — Que má! — as duas riram e se abraçaram no instante seguinte.
 — Obrigada por tudo, tia.
 — Você não tem o que agradecer, filha. E lembre-se: se não gostar de alguma coisa, ous e alguém mexer com você, se aqueles ricos exibidos quiserem te maltratar, não esqueça de me ligar, Taylor, já vou avisando!
 — Espera, se lá eu vou ter que estudar com adolescentes exibidos, porque eu to indo?
 — Ah, Taylor, não reclame! Você tem que crescer. Olha, o preço nós temos que pagar, temos que pagar pra ser alguém. Você tem que sair desse bairro, dessa cidade, minha querida. Você é muito mais do que isso tudo. — ela olhou com ternura para Taylor.
 Um conforto repentino tomou conta de Taylor. Ela abraçou a tia, querendo cada vez mais aquele abraço, mesmo quando fosse embora. Não se dera conta do quanto sentiria saudades, de todos os conselhos e broncas, e também de todas as brincadeiras. Pensava que nada mais iria fazer sentido sem ela ao lado, mas entendia que precisava ir. Tinha a consciência de que a vida começaria a andar, a sair um pouco dos trilhos, mas por uma coisa boa.
 As duas foram interrompidas por uma mulher entrando no salão vazio.
 — Taylor! — chamou ela, com uma voz severa.
 As duas se desfizeram do abraço. A loira com mechas coloridas encarou mortalmente a mulher de cabelos castanhos e maçãs do rosto muito vermelhas que acabara de entrar.
 — Você vai lá em casa se despedir da sua irmã ou vai embora direto daqui?
 — Não, é claro que eu vou me despedir da Emily, mãe. Aliás, sem a sua permissão eu não vou a nenhum lugar.
 As palavras de Taylor foram duras e ela se retirou, deixando as duas mulheres se encarando.
 — O que está olhando? — perguntou a loira de mechas, olhando com certo desprezo para a mulher a sua frente — Gostou da minha cor de cabelo? Gostou? Posso pintar o seu de graça.
 A mulher bufou, dentro de si não suportava esse jeito irritante e prepotente.
 — Agora que conseguiu separar a minha filha de mim, deve estar contente, não é, Abigail?
 Abigail sorriu.
 — Se quiser que eu diga a verdade... Sim. — ela deu de ombros.
 — O que ganha tirando a minha filha de casa? — ela cerrou os dentes — Anda, diga!
 — Eu não ganho nada. Vou sentir muito mais saudades do que você. Mas sabe quem vai ganhar? Isso mesmo, a Taylor.
 — Você sabe perfeitamente que eu preciso dela. — a mãe de Taylor balançou a cabeça — Porque encheu a cabeça dela de merda, por que?!
 — Porque até disso ela tem direito! Tem o direito de ter a cabeça cheia de merda, ela tem o direito de ter uma história diferente, porque a história não vai se repetir, tem que ser diferente de nós duas!
 — Ah claro! — a mulher deu uma gargalhada que ressondou por todo o recinto — Desde que não levem ela pra onde levaram você, não é? Tomara que a minha filha não seja uma prostitua como a tia dela foi. — ela disse com repugnância.
 Abigail lançou um olhar frio para a irmã, cheio de mágoa e rancor.
 — Não, ela não vai ser prostituta, eu tenho certeza. Mas quer saber? Ela também não vai ser a enfermeira da irmã dela a vida toda.
 — Você sabe perfeitamente que ela ama a irmã dela!
 — Mas é claro que ela ama, a menina gosta dela, mas você é a mãe dela! Taylor não é a mãe de Emily, e tem que ficar cuidando dela, entenda que a mãe é você, entenda! — ela gritou.



 — Oi. — Taylor disse ao encontrar a irmã pequena tentando subir as escadas.
 — Ainda faltam alguns degraus. — Emily apontou pra cima enquanto Taylor a segurava pela cintura e a sentava ao seu lado na escada de madeira, com um pequeno caderno surrado nas mãos.
 — Olha, vem aqui. — Taylor suspirou — Aqui, nesse livrinho, eu vou escrever tudo que acontece comigo. Pra quando eu vim ver você, eu vou contar tudo como se estivesse lendo uma historinha, tudo bem?
 Emily balançou a cabeça, concordando com tudo que Taylor dizia. As palavras pipocavam um pouco em sua cabeça quando Taylor falava, por causa da síndrome de Down, mas entendia perfeitamente. Só não entendia o quanto estava sendo difícil para Taylor partir, o quanto estava sendo doloroso ter de deixá-la ali, aos cuidados da mãe, que mal cuidava de si própria, quanto mais ter de ficar vigiando Emily 24 horas por dia. Isso era trabalho de Taylor, por mais que ela tivesse de se "libertar" disso agora. Precisava viver a vida.
 Emily baixou a cabeça. De repente pegou na mão de Taylor, que estava sobre o colo, e a apertou, como se não fossem mãos reais. Emily se lançou para Taylor em um abraço desengonçado.
 — Porque? — ela perguntou, com os olhos no horizonte — Porque, Taylor?
 Parecia que naquele momento Emily havia entendido que Taylor não estaria mais ali. Talvez não tivesse entendido perfeitamente, mas havia compreendido que iria ficar sem ela. Taylor agarrou as mãozinhas que a cercavam e lutou para que não chorasse. Não queria chorar, não iria chorar.
 — Eu também vou sentir muito a sua falta. — Taylor olhou nos olhos azuis de Emily, afastando alguns fios louros de seu rosto — Mas você e eu sempre vamos estar juntas. — ela deu um beijo no rosto de Emily, enquanto a menina brincava com alguns cachos soltos do coque de Taylor — A minha tia me prometeu que vai vim aqui te pentear todos os dias. E vai te deixar mais bonita do que se eu estivesse com você. E ela vai pintar suas unhas também.
 — É? — os olhos de Emily brilharam — As unhas?
 — Sim, as unhas. — as duas riram.
 Taylor puxou Emily com cuidado pela escada acima, em direção ao pequeno quarto das duas. Emily pulou na cama enquanto Taylor pegava uma caixa de papelão de cima do armário de madeira e se postou na frente da irmã.
 — Agora você vai ser a responsável por todos os nossos brinquedos, ok? Você promete? — Taylor abriu a caixa enquanto Emily concordava com a cabeça.
 De repente um nó se formou na garganta de Taylor. Emily pegou cada coisa de dentro da caixa. Um dominó, uma boneca de pano, alguns cds... Ela não prestava mais atenção em nada enquanto mexia nas coisas com tanto cuidado. Taylor respirou fundo, como se toda a água de seu corpo estivesse na porta dos olhos, prontas para sair em lágrimas.
 — Eu não quero te deixar. — ela disse, e percebeu como sua voz saiu rouca — Mas eu tenho que ir.
 — Porque? — perguntou Emily, com seus olhos no urso de pelúcia entre suas perninhas.
 — Porque... Porque eu quero ser uma grande médica pra cuidar de todas as crianças como você. — ela alisou os cabelos de Emily. Depois, em cima da mesinha de cabeceira, ela pegou um retrato onde havia uma foto dela e de Emily — Olha, eu tenho essa foto de nós duas. Eu vou ficar com uma foto igualzinha essa pra sempre me lembrar de você. E você também.
 Emily olhava o retrato com cautela, como se tentasse reconhecer as pessoas da foto. Depois, em súbito, ela gritou, apontando para o retrato "Sou eu! Sou eu! E você!", e apontava para Taylor, abrindo um enorme sorriso. Beijou o retrato com carinho, abraçando-o logo em seguida. Taylor limpou a lágrima que caiu, rindo de como Emily ficava ao ver fotografias.
 — Eu prometo que quando eu acabar a escola, eu nunca mais vou deixar você sozinha. Nunca mais. Eu vou voltar pra ficar com você, eu prometo.
 Taylor agora chorava. Não era uma coisa muito habitual de se fazer na frente de Emily, mas era algo que não conseguia mais segurar. Estava indo embora. Deixando pessoas que amava e que precisavam dela. Principalmente Emily.

  — Me disseram que você estava bem, mas não tão bem! — falou Jacob.
 Depois de Joe ter dispensado todas as visitas recebidas, inclusive a de sua mãe, ele nunca dispensaria uma visita de Jacob, que ele estava surpreso por estar ali. Jacob não havia sido prejudicado pelo acidente. Via-se um pequeno corte em sua testa, perto da sobrancelha, que já começava desaparecer. O garoto vestia jeans, uma camiseta estampada marrom com vans. Era muito bonito, mas nada se comparava a Joe.
 Joe riu e se levantou da maca, ainda com as roupas brancas do hospital e com um curativo na testa, onde havia levado uma baita pancada.
 — Eu estou bem. — disse ele — Quase nenhum arranhão. O que acha?
 — Acho muito foda. — Jacob deu de ombros.
 — E aí, e o carro?
 — Ah, cara, o seguro vai pagar.
 — O que sua mãe disse?
 — Cara, minha mãe nem veio me ver. — Jacob deu uma risada fraca — Ela só falou comigo no telefone, e o meu pai disse que eu era um homem muito idiota. E minha mãe disse que, graças a mim, eles tinham perdido o carro.
 — Bom, mas se eles não voltaram das férias é porque ta tudo bem. — Joe deu de ombros, como se aquilo fosse o menor dos problemas.
 — Não, está tudo mal! Eu vou pagar com a minha mesada por um ano.
 — Ah, que isso, Jacob, eu estou aqui pra te ajudar. — Joe deu um soco no ombro de Jacob — E então, o que vai fazer?
 — Ah, eu não sei. — ele suspirou — E então, como está o seu pai? Você não falou com ele?
 O sorriso de Joe sumiu por completo.
 — Não. — respondeu ele — Mas garanto que vai me dar a maior bronca.
 — E você está assustado.
 — Pior que sim. — Joe sussurrou.
 — Ah, Joe, sei lá, vai que ele também não paga sua mesada por um ano, vai saber.
 Joe bufou.
 — Não, escuta, essa ele não me perdoa.
 — Tudo bem, de repente ele não quer ver você por 10 anos, e quando ele voltar vai estar velhinho demais pra se lembrar de todas as merdas que nós fizemos. — Jacob deu de ombros.
 Joe riu. Não se aguentou.
 — Que bom que você veio. — Joe passou os braços pelos ombros de Jacob.
 — Você sabe que mora no meu coração.
 — Eu já estava cansado de fingir que estava dormindo pra não falar com a minha mãe...
 Os dois deram risinhos até ouvirem passos no corredor. Ao se virarem, Michael e os seguranças o olhavam feio.
 — Oi, pai. — Joe sussurrou, um medo crescendo em seu peito.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Depois da Chuva - 07

“Tem coisa que dá vontade de viver de novo. E de novo. E de novo.” — Clarice Lispector.

   No gabinete do diretor Ethan, o clima estava bem tenso. Ambos os dois, Ethan e Sophia, pareciam muito desconfortáveis depois de terem um tipo de "reencontro" depois de mais de 10 anos. Sophia parecia nervosa e apertava o forro da cadeira tão forte que seus dedos quase ficavam brancos. E o coração de Ethan não desacelerava, não importa no que ele pensasse.
 Apesar disso tudo, eles decidiram ter uma conversa completamente profissional.
 — Minha filha Demi é hiperativa. — começou Sophia — É um verdadeiro tanque de guerra.
 — Eu vou adorar conhecê-la. — Ethan sorriu, e sorriu de verdade. Ainda não lhe caíra a ficha de que estava vendo Sophia novamente.
 — O único problema é que quando ela mete uma coisa na cabeça, não desiste enquanto não consegue. — ela bufou, se lembrando das inúmeras vezes que Demi fazia aquilo — E está decidida a não ficar nessa escola.
 — Não se preocupe. — ele deu de ombros, ainda sorrindo. Algo dentro dele simplesmente gritava, berrava, ele não conseguia parar de sorrir — Nós vamos ajudá-la a se adaptar. É meu trabalho. Ainda mais nesse caso...
 Ele pareceu olhar para Sophia de cima a baixo, apesar da mulher estar sentada. Mais uma vez, ela se sentiu desconfortável e recomeçou a apertar a cadeira. "Obrigada", falou ela.
 — Quer mais café? — perguntou ele, se levantando e pegando a xícara da mão de Sophia.
 — Eu agradeço, mas não, obrigada. — ela suspirou enquanto via Ethan se virar de costas e postando a xícara em sua mesa.
 Ela se levantou, ainda balançando as mãos, em sinal de nervosismo.
 — A Demi não é má. — ela disse quase em um sussurro — Digamos que seja um pouco intensa. Me entende?
 Ethan riu, voltando a pregar os olhos nos de Sophia.
 — Eu entendo perfeitamente. — ele suspirou — O que você me contou me fez lembrar de uma linda adolescente que conheci uma vez... Uma menina que era fogo puro. — ele falou baixo, e simplesmente começou a se aproximar de Sophia.
 Seu coração batia tão rápido que era impossível captar a que velocidade. Ela não recuou ao ver que Ethan se aproximava.
 — E, mesmo já sendo um homem... — ele sussurrou — Me apaixonei como um adolescente.
 Seus olhos estavam cravados, aquilo era evidente. De repente torrentes de lembranças antigas foram desenterradas com tal brutalidade que Sophia não pode aguentar. De repente ela sentiu, e sentia, tudo que sentiu a 10 anos atrás por Ethan: paixão e raiva.
 — Mas não se apaixonou o suficiente pra largar tudo e... Ir embora com ela. — ela falou em tom firme.
 Aquilo foi como um tapa no diretor. Ele abaixou a cabeça, bufando.
 — Ah... Eu não podia. — ele balançou a cabeça — Eu tinha uma carreira, uma família...
 Ele colocou as mãos nos bolsos da calça social, meio nervoso e com os dedos trêmulos, e caminhou até sua mesa novamente, colocando as mãos em um porta-retrato que tinha a foto de uma garota.
 — Sabia que eu tenho uma filha da idade da sua? — ele falou baixo.
 — É claro que eu sei. — ela revirou os olhos — Eu sumi quando descobri que a sua mulher estava grávida.
 Ethan fechou os olhos.
 — Você não me perdoa, não é?
 — Não. — ela balançou a cabeça, lutando contra uma mágoa antiga louca para sair — Eu não vim aqui criticar nem nada. Pra mim, você é só uma lembrança. Uma linda lembrança.
 — Eu nunca te esqueci. — ele suspira e encara Sophia, se sentando em sua cadeira de diretor — Acompanhei sua carreira pelas revistas... Procurei tudo que podia para saber sobre o pai da sua filha, mas... Nunca soube nada dele.
 Aquilo pareceu pegar Sophia de surpresa.
 — Não se preocupe. — ela ergueu uma sobrancelha — Demi não é sua filha. O pai dela é um homem que vive muito longe, e... A única coisa boa que me deu foi essa princesa. Mas agora quer me separar dela.
 — Como assim? — Ethan juntou as sobrancelhas — Porque?
 — Ele disse que eu não sou boa mãe. — Sophia abaixa a cabeça, baixando o tom de voz — E se Demi não ficar neste colégio, ele vai levá-la com ele para a Europa. Tem que me ajudar que ela fique aqui, por favor! — ela implorava em seu tom de voz, olhando para Ethan com certo desespero.
 — Fique tranquila. — ele pareceu desconcertado, mas com compaixão nos olhos.
 Ethan se levantou e foi até Sophia.
 — Porque ela não vai poder ficar? — ele pegou nas mãos dela.

 — Já disse que você não pode entrar! — Emma estava parada á frente da porta do gabinete do diretor, parecendo proteger o lugar. Demi estava á sua frente, batendo os pés de raiva — Ninguém pode entrar na sala do diretor sem ser anunciado.
 Demi bufou.
 — Deixa que eu me anuncio, muito obrigada, não tenho a vida toda pra esperar!
 Demi avançou para a porta e simplesmente empurrou Emma dali, como se ela fosse uma criança de 12 anos. Emma gritou e tentou agarrar o braço da garota, mas ela já estava dentro da sala do diretor.
 Demi olhou de Ethan para sua mãe dentro da sala. Pareceu nem reparar que Ethan ainda segurava a mão de Sophia.
 De repente, ela riu.
 — Nossa, a julgar pela aparência do diretor, eu acho que ele tem menos tempo do que eu, não é mesmo? — ela deu uma risada irônica — O senhor já não devia estar aposentado?
 — Demi, por favor, filha! — Sophia rangeu os dentes — Ela é minha filha, senhor diretor. — ela deu um sorriso sem graça — Por favor, cumprimente-o, Demi.
 — Oi, como vai? — Demi sorriu e apertou as mãos de Ethan.
 — Esse senhor é o diretor do colégio. — Emma falou perto de Demi, como se fosse para lembrá-la de que ela não estava falando com um simples homem.
 — Ah, eu tenho um cigarro! Você fuma? — Demi tirou um pacote de cigarros do bolso e estendeu para o diretor, que a olhou pasmo.

����☀

 Selena se debruçava em sua cama várias vezes, procurando uma posição que lhe parecesse correta e confortável. Não conseguia se estabilizar, sabendo que não sairia daquele lugar. Tentava se distrair com tudo que lhe aparecesse, mas parecia impossível.
 Sua atenção foi tirada das unhas recém-feitas por Emma entrando no quarto, estendendo o telefone.
 — Abri a exceção de vir até aqui só porque é o seu pai, e ele está ligando de Albuquerque, ele disse que você não atende o celular. — disse Emma, lançando um olhar para o celular jogado de Selena em cima da cama.
 Selena lançou um olhar de surpresa para o celular.
 — Ah, olha, ele está desligado. — ela riu, dando de ombros — Eu nem tinha percebido. Mas diz pra ele que eu vou ligar agora mesmo.
 Emma a olhou desconfiada.
 — Atende agora, vai. — ela estendeu mais uma vez o telefone.
 Selena olhou de Emma para o telefone. "Tudo bem", ela murmurou, pegando o telefone. Emma coçou o nariz e se virou para ver o quarto. Nesse momento, Selena não perdeu a oportunidade e apertou no botãozinho para desligar o telefone, tão rápido que Emma nunca teria visto.
 — Alô? — Selena colocou o objeto na orelha, sorrindo — Pai? Como você está, paizinho? ... Puxa, eu estou tão feliz, é sério, não vejo a hora de passar as férias no Vacance Club... É, eu juro. — Selena se levantou, caminhando até as escadas — É sério, não é como as ilhas do Caribe, mas eu vou. Todo mundo que eu gosto está no colégio... Claro, pai. Se divirta bastante e não exagere com o trabalho. Tudo bem. Te amo, pai! — ela mandou beijos pelo telefone — Tchau.
 Emma olhava Selena como se fosse maluca. Todos sabiam que Selena deveria estar odiando o pai agora, por causa de tudo que havia acontecido.
 — Pronto. — ela lhe entregou o telefone, sorrindo.
 — Tudo bem? — perguntou Emma pausadamente.
 — Tudo perfeito. — Selena deu um enorme sorriso — Quando nós vamos pro Vacance Club?
 — Quando os bolsistas terminarem de fazer a prova.
 — Que maravilha! — ela falou rapidamente, terminando de subir as escadas — Estou muito feliz por ir ao Vacance Club!
 Emma achou melhor deixar Selena sozinha com sua loucura e bipolaridade e bateu a porta ao sair.
 Selena encarou a porta, dando um urro de raiva. Ela feliz por ir ao Vacance Club? Nem aqui e nem em outra vida.

����☀

 Joe fora mandado imediatamente para um hospital localizado no Queens. O melhor hospital, é claro. O deputado Michael estava posto ao lado do médico, com a sua esposa passando o braço por um dos seus.
 — Doutor, com relação aos jovens que estavam no carro, diga aos familiares deles que eu vou arcar com todas as despesas. — disse Michael — Mas eu quero que mantenham discrição sobre tudo, é lógico.
 — Creio que não haverá nenhum problema, senhor. — falou o doutor, enquanto anotava algo em sua prancheta.
 Michael lançou um olhar de esguelha para sua esposa.
 — Ainda bem. — ele sorriu um pouco. Talvez o máximo que conseguia — Isso é o mais importante.
 — Achei que o mais importante fosse a saúde do seu filho. — o doutor levantou os olhos para lançar um olhar de surpresa — Não querem vê-lo?
 Michael se segurou para não demonstrar desânimo ao ouvir falar em Joe. Sua esposa acariciava seus ombros e seus cabelos ralos, sabendo imediatamente da resposta de Michael.
 — Ér... Não, não. — ele balançou a cabeça — Prefiro esperá-lo aqui. Vai você, meu amor.
 A mulher ao seu lado sorriu e se virou para o doutor.
 — Onde é o quarto dele?
 — Por aqui, senhora, me acompanhe. — ele apontou para um corredor largo e os dois seguiram juntos.

����☀

  Parecia que tinham se passado horas desde que o diretor havia saído da sala pra se decidir sobre Demi. Dava pra ouvir as batidas do coração de Sophia naquele momento. Demi ria e brincava com os troféis espalhados por um armário no canto da sala. Ela havia se sentado na grande cadeira do diretor com dois deles.
 — Já chega de brincar, Demi, parece uma criança! — Sophia pegou os troféis da mão de Demi, começando a se irritar.
 — Eu estou cansada! — Demi bufou — Que horas o diretor pretende vir?
 — Eu me pergunto exatamente a mesma coisa! Provavelmente, ele já está com a decisão tomada, mas deve ter medo de me dizer que não aceita você nessa escola.
 Demi deu de ombros, como se aquilo fosse a coisa mais insignificante do mundo.
 — Poxa, mas se a escola não me aceita, a culpa não é nossa.
 — Ah, claro! Depois do show que você fez! Porque teve que pegar o cigarro? Você nem fuma, Demi!
 — Ué, sempre tem uma primeira vez, mãe. — ela deu de ombros mais uma vez, revirando os olhos.
 Sophia encarou Demi e se sentou em seguida.
 — Tanto faz. — ela suspirou — Agora as cartas já foram dadas. E eu não tenho mais nenhum trunfo na manga.
 — Ai, para de dramatizar, mãe! — ela subiu na mesa de vidro do diretor e se sentou em borboleta — Olha só, quando o velho descobrir que não me aceitaram nessa escolinha, vai parar de choramingar. A única coisa que ele quer é mostrar que tem poder, é só.
 — Dessa vez não é assim, Demi. Se não aceitarem você aqui, Noah vai reclamar a sua guarda e vão dar pra ele, e vão te separar de mim. — Sophia acariciou o rosto de Demi — Será que você não entendeu, filha?
 Demi olhou dura para a mãe. Pela primeira vez, parecia assimilar algo mais sério do que a si própria. Parecia ver e absorver a importância de tudo aquilo para a mãe.
 — Isso não importa. — ela murmurou — Olha, eu vou deixá-lo louco. Ele não vai me aguentar nem por 3 dias, e vai me devolver. Pronto, mãe.
 — Quem dera se as coisas fossem tão fáceis. — Sophia sussurrou — Não importa por quanto tempo for, ainda assim vai ser longo. Vou perder a sua guarda e não vou recuperar. Talvez isso possa ser bom pra você, não é? Conhecer outras pessoas, uma família... Uma coisa que comigo você nunca teve.
 — Eu não quero ter nenhuma outra família, mãe. — a voz de Demi saiu falha.
 — Agora é tarde, filha.
 Demi a olhou estarrecida. Tarde? Como assim tarde? As coisas seriam assim? Ela simplesmente deixaria sua mãe? E as duas seriam iguais aquelas outras famílias, que só se viam aos finais de semana ou nem isso?
 Não. Demi não conseguia aceitar isso. Ela e Sophia viviam aos berros uma com a outra quase sempre, e ás vezes era um alívio Demi estar sozinha sem a mãe, mas também nunca se imaginou sem ela. Parecia até absurdo pensar em uma coisa dessas.
 Os pensamentos de ambas foram interrompidos pela porta do gabinete sendo aberta. Ethan entrou abotoando o paletó enquanto Demi "acordava" e saía imediatamente de cima da mesa.
 — Bom... — disse ele ao chegar em sua mesa — Eu já tomei a minha decisão.
 — Olha, não importa qual tenha sido sua decisão, está bem? — Demi o encarou, ainda com a voz falha. E odiou que sua voz estivesse daquele jeito — Ainda assim eu quero pedir desculpas, como a minha mãe me ensinou. — ela olhou de esguelha para Sophia — E... Eu nem uso essas porcarias, sabe? Eu só queria escandalizar um pouco. — ela tirou o pacote de cigarros do bolso e os jogou na lixeira ao lado.
 Ethan pareceu desconcertado com a mudança de comportamento da garota.
 — E... Porque queria fazer uma coisa assim?
 — Porque eu não tinha percebido... — ela suspirou — Quanta vontade eu tenho de ficar nesse colégio.
 Ethan assentiu.
 — Não acredito em você, sabia? — ele deu um sorriso duro para Demi — Mas... Acredito que nós dois precisamos de uma oportunidade. Você de conhecer o colégio e o colégio de conhecer você. Bem vinda a Academia Yancy, Demi Lovato.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Depois da Chuva - 06

“Tenho dificuldade de entrar numa sala cheia de gente e dizer qualquer coisa. Não gosto. Não gosto de fazer conferência. Não gosto de discurso, não tenho a empostação de voz necessária, não tenho a presença de espírito. Geralmente, tenho respostas muito boas em 24 horas depois.” — Carlos Drummond de Andrade.

   O deputado Michael Collins quase soltava fogo pelas narinas na sala da direção. Não se conformava com o fato da facilidade que Joe tivera para sair da escola, assim, na frente de todos e ninguém percebeu. Ethan praticamente tremia de medo ao ver o rosto raivoso do deputado, temendo de que se não achasse uma solução, ele partiria pra cima dele ali mesmo.
 — Ainda não entendo como ele conseguiu escapar. — disse mais uma vez o diretor, parecendo ter repetido aquilo várias vezes.
 Michael não parava. Andava de um lado a outro na sala, com a carranca ainda mais séria do que o normal. Sua esposa estava sentada em uma das cadeiras á frente da mesa do diretor, fumando seu cigarro, mas ainda com a mesma aparência de preocupação.
 — Eu me pergunto a mesma coisa. — Michael grunhiu — Que tipo de seguranças vocês tem nesse colégio?
 Ethan assentiu, recebendo toda a culpa de bom grado. Ele não seria louco de tentar se impôr ao deputado.
 — Já sei, senhor. — ele murmurou — Estamos fazendo o impossível para encontrá-lo, eu garanto.
 — Se souberem que eu não consigo controlar o meu filho, como vão votar em mim para controlar o país?
 Ethan riu, constrangido.
 — Vamos encontrá-lo, senhor. Estamos ligando pra casa de todos os alunos, dos que saíram do colégio, ele tem que estar em alguma.
 — Procure no céu e na terra. Mas tem uma coisa... — ele se aproximou de Ethan agora falando mais baixo — Com muita discrição. Entendeu?
 Ethan engoliu em seco.

 Selena agora estava completamente sozinha no quarto. Isabella já havia ido e ela parecia andar de um lado a outro no aposento. Ela havia tomado um banho e ajeitado toda a desgraça que havia ficado seu cabelo por causa da nova aluna encrenqueira, a qual esperava nunca mais ver em sua vida. (roupa)
 Havia se passado apenas umas 2 horas após esse terrível fato, e Selena estava sentada em frente do espelho na parte de cima do quarto, ainda ajeitando alguns estragos em seu cabelo. É claro que ele voltara a ficar impecável como sempre, mas Selena era famosa por seus caprichos.
 Ela falava ao celular, ao mesmo tempo em que mexia nos cabelos.
 — Eu juro, Ava, eu nunca vi ninguém assim. — disse ela, se referindo á Demi — E ta na cara que ela não vai poder ficar no colégio, porque aqui não admitem idiotas como essa. — ela bufa — Ninguém merece!
 — Espera aí, ela também é bolsista? — perguntou Ava do outro lado da linha.
 Ava Wilson era uma das melhores amigas de Selena. O trio era inseparável e inabalável: Selena, Isabella e Ava. A garota parecia possuir a mesma história que Isabella, em questão de começo de amizade com Selly. A garota viu como Ava era nova e acanhada na escola e decidiu transformá-la, e não deu outra, Ava era uma das garotas mais desejadas e lindas da Yancy, depois de Selena, é claro.
 Ava era alta e magra, quase escultural. Tinha cabelos pretos muito lisos, que chegavam um pouco abaixo dos ombros. Seus olhos negros e brilhantes eram grandes e chamavam a atenção junto com suas bochechas, sempre rosadas.
 Ava era o oposto de tudo que Selena e Isabella eram. A garota era atirada e festeira, gostava de ter os garotos a seus pés e dava mole pra qualquer um. Gostava de roupas curtas e provocantes e nunca estava sem namorado. Fazia uma listinha de todos que ela pegava em um pequeno caderno, que parecia super confidencial para todas, até para Selena e Isabella.
 A cama vazia no quarto de Selena pertencia a Ava. A garota já tinha ido viajar e passar as férias com a família antes de quase todos, e na sua ausência, o quarto e o colégio pareciam sem vida para Selena, pois ela era a alegria de qualquer grupo.
 — Não, Ava, não é isso. — Selena suspirou, se levantando da mesinha que continha o espelho e começando a descer as escadas — Olha só, você é bolsista e eu amo muito você. O problema é que essa menina... Ah, não sei, essa menina é ignorante. Mas tudo bem, não vamos mais falar dela porque eu estou ficando enjoada. Agora me fala de você, como está tudo na sua casa? — ela sorriu e se jogou em sua cama.
 Ava suspirou.
 — Como sempre, uma chatice. Selena, vem cá, quando você vai viajar?
 Selena baixou os olhos, de repente sentiu um aperto no peito e a mágoa novamente chegando. Queria eliminar aquele assunto de sua mente.
 — Não, eu não vou mais. — ela revirou os olhos, se lembrando das palavras do pai — Eu tive uma discussão com o meu ex-pai e ele cancelou a viajem. Não tem jeito, vou ficar as férias inteiras aqui. — ela deu um grande suspiro, em seguida levantou a cabeça e sorriu — Ah não, eu juro que não me importo... É, a Isabella acabou de ir embora... Mas está tudo bem, amiga...
 O telefone piscou e deu um barulhinho. Selena pareceu quase saltar de susto.
 — Espera, tem outra ligação. — ela atendeu a outra chamada — Alô?
 — Alô, Selena. — ela imediatamente reconheceu a voz do pai — Selena, sou eu...
 Selena apertou o botão para encerrar a chamada imediatamente.
 — Desculpe, Ava. — ela continuou, bufando — Alguém ligou errado. Só Deus sabe pra onde. Mas enfim, amiga, eu tenho que desligar... — ela suspirou — É, eu juro pela minha última calça Armani que eu estou bem, eu estou bem! Tchau.
 Selena desligou o iPhone, o jogando de qualquer jeito na cama. Sozinha novamente, pensou ela, sentindo uma depressão horrível.  Chega! Calminha, Selena. Não importa se você está sozinha, ok? Não tem que se importar, está tudo bem. Está tudo bem..., pensou ela e se sentou na cama, com o rosto entre as mãos.
 A porta se abriu repentinamente antes que Selena pudesse começar a chorar de raiva. Lá estava Emma, com seu cabelo preso e óculos enormes.
 — Perdão, Selena. Com licença. — ela entrou no quarto.
 — Emma, muito obrigada, mas é sério, não precisa me pedir desculpas, ta tudo bem, de verdade, eu não me importo. — Selena falou rápido, fazendo Emma a olhar como sempre olhou: uma louca histérica.
 Emma apenas levantou as sobrancelhas e se virou a porta, sem dizer nada.
 — Demi? — ela chamou.
 Demi surgiu na porta, o que fez Selena quase ter um surto.
 — Ah, não! Pode ir tirando essa daí do meu quarto, porque só de olhar pra ela eu fico enjoada, por favor! — gritou Selena, parecendo um tanto apavorada.
 Emma suspirou.
 — Demi vai ficar aqui enquanto a mãe dela fala com o diretor.
 — Mas porque aqui?! — Selena choramingou.
 Emma ajeitou os óculos em cima do nariz, e encarou Selena.
 — Porque este vai ser o quarto dela, caso seja aceita. — ela deu um sorriso triunfante.
 Selena pareceu ter levado um banho de água fria.
 — Bom, com licença. — falou Emma mais uma vez, caminhando até a porta — Demi, pode entrar.
 — Espera, espera! — gritou Selena, mas a secretária já havia ido.
 Demi olhou para todos os lados antes de pisar no dormitório. Seu estômago revirou só de olhar o tanto de enfeites que o cobriam, fazendo-o parecer realmente um quarto de meninas mimadinhas. Aquele era mesmo um quarto com cara de Selena.
 Selena encarou a garota enquanto ela entrava, sua expressão era de pura raiva.
 — Olha aqui, eu já vou avisando: nem pense em ficar nesse colégio, porque é outro mundo, você não tem lugar aqui. — ela grunhiu.
 Demi a olhou entediada e se jogou na cama de Isabella, que ficava na frente de Selena.
 — Calma, ok? — ela sussurrou calmamente — Eu não quero ficar nesse internato de merda. Deixa eu só falar com o diretor e eu te garanto que não vai nem aceitar a minha inscrição.
 O alívio tomou conta de Selena, pelo menos por um tempo.
 — É o que eu espero.

 Na Flórida, a sra. Jonas empacotava as últimas coisas antes de se mudar de vez daquela velha casa que tinham. A filha mais nova estava em seu antigo quarto, guardando tudo que era possível guardar da velha casa para não se desprender tanto assim das lembranças. Ela sabia que não ia ser fácil.
 Chegou a hora de ir ao quarto de Nick. Ao acordar áquela manhã, ela ainda não havia visto o filho, mas não estranhou. Desde a morte do pai, Nick tinha uns surtos de sair de casa antes do sol nascer para afogar algumas mágoas. Mas naquele dia foi diferente.
 Ela pegou mais uma caixa de papelão e entrou no quarto. Ele estava intacto e arrumado. A cama estava completamente impecável, como se ninguém tivesse a tocado. Estranho. Nick nunca arrumava sua cama.
 A sra. Jonas tirou isso da cabeça. Deveria querer fazer um agrado, pensou ela. Colocou a caixa em cima da cama, se preparando para pegar as outras coisas quando viu algo em cima do travesseiro do filho. Era uma carta.
 Ela juntou as sobrancelhas, mas se apressou em pegar o papel. "Pra minha mãe e pra minha baixinha", dizia na frente. De repente, ela teve um aperto no coração. Não podia ser aquilo. Tudo menos aquilo. Ela abriu a carta.
 "Mãe, baixinha... Espero que possam me perdoar por sumir assim de repente, mas eu queria evitar uma nova discussão."
 Ela parou de ler, com as mãos trêmulas. E de repente ela já entendera tudo, já sabia.

 Emma abriu a porta do gabinete do diretor, o encontrando vazio. Ela suspirou e entrou, com Sophia atrás dela.
 — Sente-se, por favor. — pediu ela, apontando para a poltrona no fundo da sala — Ah, eu já ia chamá-la de Sophia. É que eu estou acostumada a vê-la na TV, nas revistas...
 Emma deu um sorriso constrangido. Aquilo não era normal pra ela, como também não era normal receber artistas de grande porte na escola.
 — Claro... — Sophia deu um sorriso simpático enquanto se sentava.
 — Eu sinto como se já a conhecesse.
 — Não se preocupe, pode me chamar de Sophia. Está tudo bem.
 Emma deu mais um sorriso sem graça e se encaminhou para a mesa do diretor.
 — Eu te servir um café, ok? — ela já pegava as xícaras — Sem açúcar, não é?
 — Isso, sem açúcar. — concordou Sophia — Eu tenho que cuidar, não é?
 Emma levou apenas instantes para estar entregando uma das xícaras nas mãos de Sophia.
 — Aqui está. — ela sorriu mais uma vez — Dentro de uns minutinhos o senhor Ethan virá recebê-la.
 — Obrigada, você é muito gentil.
 — Eu vou estar aqui fora, qualquer coisa.
 Emma desapareceu para fora da sala. Sophia mexia lentamente em seu café, suspirando. Torcia mentalmente para que Demi entrasse, aquilo não era uma causa boba. Se ela não entrasse, Sophia podia nunca mais vê-la, e isso a apavorava.
 Alguns passos ecoaram no corredor e a porta se abriu, entrando o diretor.
 — Desculpe a demora... — falou o diretor enquanto entrava e ia imediatamente para sua mesa, sem nem olhar para quem estava sentado na poltrona — Estava me despedindo de alguns pais de alunos, e...
 Ethan se virou e congelou. Um tremor percorreu a espinha de Sophia, e ela se levantou, quase jogando a xícara de café no chão, tanto que suas mãos tremeram.
 — Você?! — ela disse, com a voz falha.

 Nick chegou ao aeroporto a tempo de carona com alguns amigos. Ele olhava para o relógio com grande insistência, como se tivesse medo de alguém o perseguir e estragar completamente com seus planos de ir á Nova York. Ele entrou no estabelecimento com mais 3 amigos.
 A bagagem de Nick não era grande coisa. Na verdade, ele não levava quase nada. Estava com a roupa do corpo — uma blusa preta de botões de mangas compridas, as quais ele dobrou até os cotovelos, um jeans igualmente preto largos e tênis — e uma mochila grande, onde carregava algumas roupas, e alguns itens necessários.
 Os 3 amigos não estavam muito felizes com a partida de Nick.
 — Ah, qual é, não fiquem com essas caras. — Nick parou abruptamente, se virando para eles — Eu não vou embora pra sempre.
 Um deles, que era alto e meio gordinho, com cabelos claros e olhos azuis, falou:
 — Não deve ser fácil se vingar de alguém tão poderoso como esse velho.
 Nick revirou os olhos, como se já tivesse explicado aquela história mil vezes á eles.
 — Sabe de uma coisa? — ele cerrou os olhos — Vou atingir aonde mais dói nele.
 Um outro cara, que era meio baixinho e tinha cabelos cacheados, olhou pra Nick como se este fosse meio louco.
 — Espera, mas como você vai fazer isso?
 Nick parou por um instante, parecendo tentar se lembrar de algo.
 — Ele tem uma filha. — falou baixo.
 — E como vai fazer pra se aproximar dela? — perguntou o do olhos claros.
 — O mais provável é que a menina nem te dê moral. — o do cabelos cacheados riu.
 Nick deu de ombros.
 — E porque não vai dar bola pra um colega de colégio? — falou ele.
 Todos pareceram sem palavras por um momento, parecendo absorver a informação.
 — E como vocês vão se relacionar no colégio? — perguntou um deles.
 — Olha, eu andei pesquisando em tudo quanto é lugar e já investiguei a escola onde estuda essa mimadinha milionária. — ele disse com certo tom de nojo.
 — E o que você vai fazer? Vai pedir um trabalho de porteiro, de faxineiro? — perguntou o de cabelos cacheados, rindo mais uma vez.
 Nick riu e deu um soco de leve no ombro do garoto.
 — Não, cara! Eu pedi uma bolsa pra estudar no mesmo ano que essa menina.
 — Ta maluco, Nick? — o de olhos claros pareceu chocado — Vai voltar pro segundo grau?
 — Vai logo. — disse o garoto do meio pela primeira vez, um garoto forte com a pele morena e cabelos escuros e repicados — Você vai perder o avião.
 Nick o olhou com firmeza.
 — Não vou te decepcionar. — ele sussurrou.
 O garoto sorriu.
 — Tenho certeza que não.
 Nick suspirou. De repente ele ganhou uma nova expressão, pela primeira vez se mostrava muito triste por ter de deixar a Flórida.
 — Olha... Eu sei que eu nem preciso dizer isso a vocês, mas minha mãe e minha irmã não podem saber por nenhum motivo que eu estou indo a Nova York vingar a morte do meu pai.
 — Ah, não se preocupe. A galera aqui e eu vamos cuidar dela e da sua irmãzinha também.
 — É, cara, pode ir tranquilo. — o garoto do olhos claros sorriu.
 Nick os olhou cheio de gratidão e já estava com saudades. Eles se abraçaram e murmuram um último "Boa sorte" a Nick e foram embora, deixando o garoto ainda mais perdido.
 Nick podia estar se sentindo perdido, mas nunca esteve tão determinado em toda sua vida. Ele tinha um objetivo, um foco, que ele mal sabia por onde começar, mas sabia que tinha que tentar. Essa dor não podia durar mais, ele tinha que ter um alívio.
 Nick se encaminhou para fora para pegar o avião que já estava saindo, quando ouviu uma voz que o congelou inteiro por dentro:
 — Nick!
 Ele se virou a tempo de ver sua mãe correndo entre as pessoas do aeroporto, segurando a mão da pequena.
 Nick não sabia o que fazer. Ele simplesmente ficou imóvel enquanto sua mãe se aproximava correndo.
 A sra. Jonas se aproximou do filho, o que fez Nick ficar preocupado. Ah, ela não vai me impedir de ir, pensou Nick. Nada o impediria, ele já deixara aquilo bem claro.
 Ela sorriu, já com os olhos marejados.
 — Você tem que me prometer duas coisas. — ela disse, quase em um sussurro, com a voz embargada e abafada — Que você vai se cuidar muito, e que não vai cometer nenhuma estupidez.
 Nick foi pego de surpresa. Ele esperava que ela gritasse e o arrastasse para casa, louca de raiva por ele ter fugido. Mas não. Isso mostrava nos olhos da sra. Jonas: ela sabia exatamente como seu filho havia crescido, e que ele sabia se cuidar.
 — Eu prometo, mãe. — falou ele, dando um sorriso.
 — E por favor, mantenha contato. — ela balançou a cabeça, as lágrimas não contidas.
 Nick assentiu, pegando nas mãos dela.
 — Vou sentir sua falta. — falou a garotinha, ainda agarrada á mão da mãe.
 Nick se agachou até ficar na altura da irmã.
 — Eu também, baixinha. Sabe de uma coisa? Vou levar você sempre perto do meu coração. — ele sorriu, e a menina lhe deu um beijo carinhoso na testa.
 — Nick, lembre-se do que seu pai sempre exigiu: que você fosse feliz. — a sra. Jonas acariciou o rosto do filho.
 — É por isso que eu vou, mãe. — ele suspirou.
 — Você vai escrever pra gente? — perguntou a menininha.
 — Eu vou escrever muitas cartas! E mandar e-mails também. E você vai ler. Ok?
 A garotinha bateu palmas, excitada com a possibilidade de ler todas as cartas e e-mails. Nick deu um beijo na testa da menina, a saudade já começando a fluir.
 — Nick, eu sei que você vai dar bem, porque você sabe se virar sozinho. Mas também sei que o seu pai vai estar sempre com você, com essa corrente... — ela aponta para o cordão de prata no pescoço de Nick.
 Nick baixou os olhos para ver a corrente. Com certeza, aquilo já se tornava um símbolo sagrado pra ele, aquilo era a lembrança mais vívida do pai. Podia sentir que ele estava ali ao seu lado, lhe dando força e confiança para seguir em frente.
 Nick ouviu as últimas chamadas pro seu voô. Ele rapidamente deu um último abraço na mãe e na menina, pegou sua mochila e deu as costas, se obrigando a não olhar pra trás, para a família que estava deixando na Flórida.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Depois da Chuva - 05

“Somente uma coisa me faria bem agora. Seria adormecer com a cabeça no seu colo, você me dizendo bobagenzinhas gostosas para eu esquecer a ruindade do mundo.” — Clarice Lispector.

   Joe e Jacob continuavam em sua farra particular na casa do amigo. A essa altura, que já era noite, a casa já estava uma bagunça e a grama estava infestada de cervejas e cigarros. Os garotos estavam curtindo e não queriam saber de mais nada.
 Até o telefone tocar.
 Joe se levantou da grama num salto.
 — O telefone está tocando. — ele disse pra Jacob, meio apavorado, mas nem tanto, agora que estava um pouco bêbado.
 — Telefone? — Jacob parecia tentar se lembrar o que era aquilo.
 — É... — Joe vasculhava a bagunça rapidamente. O telefone havia sumido, mas podiam ouvir seus toques.
 — Onde está?
 Joe rolou os olhos pelo gramado. No meio dos escombros de algumas latas de cerveja, estava o telefone.
 — Ali! — ele o pegou, entregando a Jacob.
 O garoto bufou.
 — Só vou atender porque pode ser da escola. — ele pegou mais uma vez o guardanapo, colocando na entrada de som, fazendo sua voz grossa e diferente — Alô, boa noite.
 O garoto deu uma pausa. Em seguida, ele tirou o guardanapo do telefone e falou com sua voz normal, parecendo um tanto aliviado.
 — Ah, oi, ele não está. — ele olhou pra Joe, que não entendia nada — Ele saiu a uns dois dias, quem fala? — ele deu uma pausa e tampou a entrada de som com a mão, se virando para Joe, sussurrando — É uma tal de Olívia Miller, amiga do meu irmão!
 Os olhos dos garotos brilharam. Parecia que estava escrito na testa de Jacob: "Uau, atenção! Mulheres mais velhas!"
 Jacob colocou o telefone no viva-voz.
 — Ah, eu queria ir com ele ao Café Loud, que vai ser inaugurado hoje a tarde. — falou a garota.
 Joe rapidamente pegou o telefone.
 — Não importa, Olívia. O Alexander não está, mas eu estou.
 — E quem é você?
 — Um amigo dele. Mas agora eu estou com outro amigo. — ele olhou para Jacob, sorrindo — Que tal pegarmos você e irmos os quatro? Você tem uma amiga?
 Jacob deu um sorriso malicioso.
 — Tenho, mas... Como vamos reconhecer vocês? — perguntou ela.
 — Ah, nos reconhecer vai ser fácil. Somos os mais bonitos, estamos na moda... E, além disso, temos um carrão. — ele percebeu o olhar confuso de Jacob — E aí?
 — Ér... Pode ser. — Olívia riu do outro lado da linha.
 — Perfeito. Então a gente se vê mais tarde. — ele desligou o telefone.
 Jacob deu um urro. Ele deu um soco no ombro de Joe, sorrindo abobado.
 — Cara, vamos nos dar muito bem! — ele sorriu — Mas espera aí, como nós vamos transformar um táxi num carrão?
 Joe olhou pro amigo como se ele fosse de outro planeta.
 — Jacob, deixa de ser burro, vamos com o carro da sua mãe. — ele deu de ombros, como se o Sr. Óbvio.
 O sorriso de Jacob desapareceu.
 — Não, espera aí, cara, nada disso! — ele repreendeu Joe — Você sabe que eu te apoio em tudo, mas sair com o carro da minha mãe não, ela não vai gostar.
 Joe revirou os olhos.
 — Ninguém vai ficar sabendo...
 — Joe...
 — Vai dar tudo certo! — ele segurou os ombros de Jacob — Eles estão a mais de 500 km daqui.
 A expressão do garoto pareceu não mudar. Aquela ideia o apavorou mais do que tudo.
 — Você avisou os seus pais que eu iria ficar na sua casa, não é?
 — Não, isso não importa. Olha, com todos os amigos que chegam com o meu irmão, meus pais nunca sabem quem está ou quem não está. — ele deu de ombros — Mas tudo bem, você ligou pros seus pais, cara?
 Joe balançou a cabeça.
 — Não. — ele suspirou — Mas depois eu ligo. Vamos nessa? — ele apontou pra piscina.
 Jacob sorriu e tirou a camisa. Os dois pularam de ponta na piscina.

 Isabella e Selena estavam novamente no quarto juntas. Depois de Jayden sair, Selena viu o território livre pra chorar e espernear a vontade. Apesar de ela reconhecer que seu choro não mudaria nada, ela ainda assim estava muito chateada. Contou pra Isabella o que havia acontecido, e a garota também ficara um pouco ressentida com a amiga. Afinal, seriam as primeiras férias que ela passaria com o pai depois de anos.
 Agora as duas estavam na parte de cima do quarto. Selena estava sentada em frente ao espelho largo, passando máscaras no rosto e mais maquiagem para disfarçar que havia chorado. Isabella estava com as mãos no corrimão, olhando pra baixo. Olhando pra porta. Parecia estar contando os segundos pra que alguém entrasse.
 — O que foi, Isabella? — Selena perguntou ao ver a amiga perdida em pensamentos.
 Isabella pareceu "acordar".
 — Nada. — respondeu ela — Mas é que... Eu não gosto de deixar você sozinha. — ela suspirou — A Ava já foi e...
 — Não, a Ava vai ficar fora pouco tempo. — Selena se levantou, indo se colocar ao lado de Isabella — Além disso, não vou ficar sozinha, vou ficar com todo o pessoal do Club de Vacaciones. — ela deu um sorriso.
 Isabella a olhou espantada.
 — Ah, amiga! Os perdedores! — ela diz com certo tom de nojo.
 Selena suspirou.
 — Eu sei. — disse ela, indo até o alto da escada e começando a descê-la para a parte de baixo — Mas lembre-se que eu gosto de transformar as pessoas. Eu gosto que um menino ou uma menina que seja de um jeito, de repente se transforme em alguém como você ou como eu. — ela sorriu — E tem mais, sabe o que eu pensei? Que nessas férias eu vou andar muito com as alunas novas, porque eu vou transformá-la no meu mais novo projeto, e isso leva muito tempo. — ela se virou para olhar Isabella quando já estava na frente de sua cama — Não é?
 Isabella apenas olhava a amiga. Aquele sorriso, aquela animação... Nada daquilo era de verdade. Isabella suspirou, cruzando os braços.
 — Selena, você não me engana. Você acha tudo isso muito legal, mas eu sei que você ta super mal por causa do seu pai.
 Selena encarou Isabella com certo tom de raiva por apenas ter tocado naquele assunto, que já havia lacrado como proibido.
 — Qual pai? — ela trincou os dentes — Eu não tenho nenhum pai.
 Ela se virou para sua mesinha onde havia a foto de Jayden e a abaixou com força.
 — Escuta, Isabella, eu sou uma menina órfã. O que você acha? — ela bufou — Agora vai embora porque estão te esperando. — ela virou a cara e se sentou na cama.
 Isabella olhou para Selena com certa compaixão e graça. Ela sabia fazer seus dramas naquele tipo de ocasião, e isso fazia ser quem ela era. Isabella se sentou ao lado de Selena.
 — Selena, sabe... Eu fui o seu melhor projeto. — ela disse, olhando nos olhos de Selena, enquanto sorria — Eu não existia. Graças a você, todo mundo me conhece. Eu nunca vou ter como te agradecer por isso.
 Selena corou e baixou os olhos, abrindo um sorriso. Mas esse era sincero. Isabella era sua melhor amiga, ela sempre faria de tudo por ela, não importava o que fosse.
 Isabella não era ninguém quando chegou á Yancy. Era discriminada por ser gorda e invisível, e ainda não sabia se vestir. Selena viu ali uma chance pra transformar a garota, mas também viu uma chance de serem amigas. E não deu outra. A amizade das duas era tão forte que os que a percebiam, chegavam a ter inveja.
 — Sabe o que você tem que fazer agora? — Selena falou, mexendo nos cabelos de Isabella — A dieta, mocinha! — as duas riram, pondo-se de pé — Agora vem cá, temos que conversar muito sério! O assunto é aquele, chocolate excessivo.
 — O que? — Isabella pareceu confusa.
 Selena bufou.
 — Sem chocolate, falou? — ela ergueu uma sobrancelha — Agora vai, amiga. E faça uma dieta.
 Isabella riu e se virou para pegar sua mala, já pronta em cima da cama.
 — Ah, e não se vista como uma idiota, pelo amor de Deus! — falou Selena mais uma vez — Agora vamos. Postura, encolha a barriga, desse jeito...
 Selena colocou os braços nos ombros de Isabella enquanto as duas se retiravam do quarto.

 Um carro completamente explêndido e incrível acabava de estacionar á frente dos portões da Yancy. Parecia mais uma limusine, de tão enorme e alto, tanto que vários rostos se viraram para espiar. Naquele momento, haviam muitos carros ali parados e algumas pessoas, a maioria alunos, que se despediam para irem a suas férias de verão.
 Uma mulher, igualmente esbelta, saltou do carro. Ela vestia um vestido preto com sua parte da saia cinza, com um laço preto arrumado. Seus saltos eram enormes e bem caros, e usava um óculos de sol que caía bem em seus cabelos curtos e loiros, seus cachos bem feitos áquela tarde. Era Sophia Jones.
 Ela estava parada á frente da porta do carro ainda aberta, olhando pra dentro com uma expressão impaciente.
 — Vamos, Demi. — disse ela, bufando — Desce de uma vez, filha. Anda!
 Demi a olhou com raiva e desceu do carro a passadas fortes. A garota parecia diferente. Seus cabelos pretos esvoaçantes estavam em cachos muito soltos e ela havia colocado uma lente vermelha. (roupa de Demi) Usava uma bota preta que quase chegava a seus joelhos e na mão estava sua inseparável lata de red bull.
 Sophia a olhou com desaprovação.
 — Justo hoje tinha que aparecer assim, não é, minha filha? — ela suspirou — Não é uma boa imagem pra um colégio.
 Demi deu de ombros.
 — O velho decrépito paga a conta, então... Perfeito, vão ter que me aceitar como sou, se não eu vou embora feliz da vida. — ela tomou um gole da bebida, se sentindo completamente satisfeita.
 Sophia juntou as mãos, parecendo fazer um pedido.
 — Por favor, Demi, faça um esforço. — falou ela — Pelo menos uma vez na sua vida, tem que fazer alguma coisa que não quer.
 — Ok, mas olhe o que eu tenho que fazer! — ela olhou com nojo para os lados — Por favor, mãe, isso parece um jardim de infância. Olha só, tem bebê. Parece que eu vim desfilar de lancheira, isso sim.
 Sophia pareceu confusa e espantada.
 — Mas... Eles tem a mesma idade que você, Demi. — ela disse como se fosse óbvio, e que não fazia o menor sentido as palavras de Demi.
 A garota gargalhou.
 — Haha, física, e não mental. Eu estou a anos-luz deles.
 — Demi, são só dois anos, está bem? — Sophia suspirou — Quando se formar, eu pago uma viagem pelo mundo. Mas agora comporte-se bem, por favor.
 Demi ficou calada, tomando mais goles de sua bebida, como se aquilo a acalmasse. Sophia levantou a mão para acariciar os cabelos de Demi.
 — Demi, eu morro se me separam de você, filha. Eu te amo. — ela disse em tom doce.
 Demi imediatamente se esquivou do toque da mãe, como se aquilo fosse muito errado.
 — Mãe, porque não joga gasolina em mim e acende um fósforo? — irônica, ela trincou os dentes, agora olhando para os lados com preocupação — Se quer me queimar, não precisa me abraçar na frente de toda essa gente, fala sério!
 Sophia tirou os óculos, avaliando Demi com tristeza. Aquela não era a única vez que a filha a esnobava daquele jeito, mas mesmo assim, não era bom.
 — Demi, é que eu... Eu só quero te fazer um carinho, filha. — ela voltou a tentar passar as mãos nos cabelos de Demi, mas a garota se esquivou novamente.
 — Mãe, não faz drama, ok? — ela se aproximou de Sophia, falando mais baixo — Ninguém vai nos separar.

 — Ah, você já viu a aluna nova? — perguntou Selena, apontando na direção de Demi.
 Selena e Isabella já haviam chegado na entrada do colégio, onde esperavam pacientemente a família de Isabella chegar pra buscá-la. Claro que estavam reparando em todos que chegavam, inclusive Selena não parava de olhar para os lados procurando carne nova no pedaço.
 — Tadinha. — Selena disse com um tom de pena — Ela é daquelas que acordam e colocam a primeira roupa que encontram.
 Isabella torceu o nariz, também não parava de encarar Demi.
 — Que horror, não é? — falou ela, com um tom mais para o nojo.
 — Não, Isabella, não é um horror. — Selena agora esboçava um sorriso — Porque assim eu tenho alguma pra fazer. Só que eu acho que eu vou levar o verão inteiro pra transformar essa coitadinha, porque essa é uma missão muito complicada. — ela balançou a cabeça, parecendo já planejar os primeiros passos.
 Isabella parecia não concordar com Selena. Olhava para Demi como se a mesma fosse uma aberração.
 — Você quer dizer missão impossível, não é? — ela murmurou.
 — Não, não. — Selena riu — Pra Selena Gomez, nada é impossível, querida! Vamos.
 Selena pegou na mão de Isabella, e sem mais delongas, as duas já estavam se aproximando de Demi e Sophia, que continuam conversando - ou discutindo - na frente da limusine branca enorme.
 Não pareceram perceber isso, pois quando chegaram até elas, as duas estavam em silêncio.
 — Olá. — cumprimentou Selena com um sorriso simpático, estendendo a mão — Eu sou Selena Gomez. E você?
 Por um minuto, Demi se assustou com Selena aparecendo do nada, parecendo que havia brotado do chão. Olhou para a menina com a mesma carranca de sempre e revirou os olhos, bebendo mais um gole longo da bebida, ignorando completamente a mão estendida de Selena.
 Sophia pareceu corar diante dessa atitude de Demi. Rapidamente, ela agarrou a mão estendida de Selena, vendo que Demi não estava afim.
 — Oi, eu sou Sophia Jones. — falou ela, em um sorriso amigável — Essa é a minha filha Demi. Cumprimente essas meninas lindas, Demi, por favor. — pediu Sophia, entredentes, parecendo suplicar para que Demi fosse um pouco legal.
 Demi olhou para as garotas. Em seguida, deu um sorriso tão forçado que era melhor que nem tivesse sorriso.
 — E aí. — ela disse, e voltou sua atenção para todos os lados.
 Selena não sabia o que dizer. Não era aquilo que ela estava esperando. Nunca havia topado com tal pessoa em toda sua vida, e com certeza não tinha se agradado daquilo. De repente ela estava tremendamente arrependida de ter deixado seu lugar para ir ser simpática com uma troglodita desconhecida.
 — Fica aí conversando com elas que eu vou ver o diretor, ok? — falou Sophia após alguns minutos de silêncio entre as garotas, enquanto Demi continuava olhando para o chão ou para sua latinha, e Selena revia vários jeitos para sair dali sem ser mal educada — Com licença.
 Sophia se retirou para dentro do colégio e Selena parecia meio encurralada. Isabella não dissera uma palavra até agora, parecia horrorizada demais com a situação.
 Finalmente, Selena falou.
 — Olha, me desculpe, mas... Eu não sei, eu acho que a sua mãe não gosta muito de você. — ela murmurou, olhando novamente para Demi dos pés a cabeça com uma expressão ruim — Ela só compra essas roupas feias pra você, não é?
 Demi arqueou uma sobrancelha, como se estivesse surpresa e ao mesmo tempo estava achando graça daquilo.
 — Mas não se preocupe, eu entendo muito de moda. — Selena agora esboçava um sorriso vibrante — Então hoje vamos fazer um ritual. Vamos fazer uma fogueira e queimar todas as roupas feias que você trouxe, e eu tenho roupas novas incríveis, e eu posso te emprestar, assim como eu faço com as outras meninas, é legal.
 Demi assentiu, concordando. Algo dentro dela se segurava ao máximo para não cair na risada.
 — Olha, eu acho que primeiro temos que levá-la ao salão de beleza, porque ela precisa mudar esse visual. — Isabella falou pela primeira vez, olhando principalmente para os cabelos negros de Demi e suas horríveis lentes vermelhas, que tornavam a imagem da garota um tanto bizarra.
 — É, tem razão. — concordou Selena.
 Demi ficou séria, após ter rido muito por dentro. Agora ela já entendia tudo. Já não queria ir parar num ambiente como aquele, se todas as pessoas fossem do jeito que aquelas duas garotas completamente estúpidas á sua frente estavam sendo, ela já queria sair correndo dali imediatamente.
 Ela se aproximou das duas garotas, dando um sorriso sarcástico.
 — Não tanto quanto vocês duas precisam de uma mudança de cérebro. — ela piscou.
 Em seguida, aconteceu algo muito rápido. Demi literalmente enfiou sua latinha de red bull no meio dos seios de Isabella, que com o peso a mais que a garota tinha, quase pulavam pra fora de sua blusa marrom. Isabella deu um berro estridente, chamando a atenção de todos os alunos que se encontravam ali, que começaram a acompanhar a cena.
 — O que é isso! Ta gelado, sua idiota! — gritou Isabella, tirando a lata de seus seios, parecendo com muita raiva.
 Selena parecia chocada.
 — Espera aí, qual é o seu problema? — ela disse, olhando pra Demi.
 — Ué, foi a coisa mais parecida com uma lata de lixo que eu encontrei. Redonda e marrom. — Demi deu de ombros, como se ela não tivesse feito absolutamente nada.
 Isabella arregalou os olhos.
 — Você é uma estúpida! — gritou mais uma vez, agora realmente com raiva.
 Os risos dos alunos em volta eram altos, agora todos acompanhavam a recente discussão entre as meninas.
 — Espera, você não vai falar assim com a minha amiga. — Selena se colocou na frente Isabella, agora começando a sentir uma raiva semelhante.
 Demi levantou as sobrancelhas, como se aquilo fosse um saboroso desafio pra ela.
 — Fica calma, menina, também tem pra você. — ela sorriu e pegou a lata da mão de Isabella.
 Em seguida, Demi virou o líquida da lata no cabelo de Selena. Um choque tremendo pareceu se passar entre os alunos, assim como as risadas, dessa vez mais altas. Selena berrou com urgência. Aquilo nunca a havia acontecido antes, em momento nenhum.
 Selena estava com tanta raiva que seria capaz de explodir. Demi ria ás gargalhadas enquanto ela estava com seu cabelo colando molhado com energético.
 — O que está pensando?! — Selena gritou, tamanha era sua raiva.
 — Tchauzinho, queridas! Foi um prazer conhecer vocês!
 Demi mandou beijinhos no ar para Selena e Isabella e desapareceu para dentro da escola.

 Uma música alta eclodia de dentro do carro onde Joe e Jacob estavam. (a música) Os garotos dirigiam pelas ruas pequenas de Salinas, rindo sem parar de várias histórias que eles faziam questão de relembrar. Não foi difícil achar o Café Loud, não era uma cidade assim tão grande. Era um estabelecimento pequeno com dois andares, onde tinha uma placa enorme indicando o lugar. Haviam mesas do lado de fora e várias do lado de dentro, onde garçons andavam sem parar de um lado pro outro, o que significava que o movimento estava bom.
 Joe estacionou bem na frente do Café, e rapidamente olhou pra cima, onde haviam apenas duas garotas sentadas em uma mesa pequena do lado de fora, olhando pra baixo.
 — Devem ser aquelas ali. — apontou Joe.
 Uma das garotas era alta e magra. Tinha um cabelo curtinho, mal chegando aos ombros, muito loiros, cortados em estilo chanel. (roupa da garota) Seus olhos eram castanhos e ela pareceu reconhecer Joe assim que o carro estacionou. A outra garota tinha os cabelos castanhos avermelhados e encaracolados, e tinha um sorriso gracioso, com algumas pouquíssimas sardas pelo rosto. (roupa)
 Na mesa das duas, haviam cervejas e as duas fumavam cigarros. Pareciam duas mulheres de 30 anos.
 — Cara, elas são mais velhas do que a gente. — comentou Jacob após estacionarem.
 — Tranquilo, cara. — Joe riu — É melhor que sejam mais velhas, não é?
 Jacob riu e concordou. Joe abriu o teto solar do carro, e os dois puseram as cabeças pra fora. As garotas eram realmente lindas.
 — Olívia! — chamou Joe — Sou eu. Joe.
 A loira sorriu pra ele.
 — Olá, Joe. — ela acenou — Vem até aqui, não quer subir?
 — Não, não, vamos dar uma volta enquanto está meio vazio. Depois a gente volta. — Joe deu de ombros, sorrindo — O que acha? Vem.
 As garotas riram.
 — Eles são muito novinhos. — cochichou a garota do cabelo cacheado para Olívia. A garota apenas assentiu e riu mais um pouco — Olha, ele tem um carro lindo, mas eu acho que não.
 — O que foi? — perguntou Joe — Está com medo?
 Joe sorriu malicioso, fazendo Olívia rir ás gargalhadas. Mas olhou pra ele com mais interesse.
 — Eu não tenho medo. — respondeu ela — Meu ex namorado sempre me levava ás corridas.
 Joe bufou.
 — O que está esperando?
 As garotas se olharam e, em seguida, desceram.

 Mal haviam se passado duas horas e todos já estavam completamente bêbados no carro. Pelo visto, o fato de Joe e Jacob serem novinhos demais não afetou em nada para Olívia e sua amiga, já que Joe trocava algumas carícias quentes com Olívia enquanto Jacob enfiava a língua na boca da outra garota. Em certos momentos, os garotos revezavam para ver quem dirigia. Após algumas voltas por lugares da cidade que nunca tinham visto, Joe passou o volante para Jacob e ele e Olívia foram pra trás do carro, onde se engoliam ferozmente e Joe fez questão de tirar o vestido da garota. Jacob e a outra pareciam não perceber, ou não estavam nem aí pra isso.
 Joe deitou a garota no banco do carro e retirou sua camisa de botões, fazendo Olívia apreciar seu físico. Ele retirou-lhe o vestido, e a garota parecia suplicar para que ele continuasse. A garota mesmo retirou sua calcinha, vendo que Joe estava meio devagar com o carro em movimento. Ela retirou a calça de Joe rapidamente com agilidade e massageou seu órgão genital com prazer. Joe beijou Olívia com vontade, abrindo suas pernas e as encaixando em sua cintura enquanto ele a penetrava com força, e a garota gemia em meios aos risos. Jacob bebia mais no banco da frente do carro enquanto Joe transava com Olívia. Ele não sabia como, já que o carro estava em alta velocidade e Jacob não parava de rir com o efeito da bebida.
 Em seguida, Joe passou para o banco da frente no lugar de Jacob, e ele e a outra garota foram pra trás, ficando Joe e Olívia na frente novamente. Os dois estavam suados e riam escandalosamente. Joe pegou algo no bolso e acendeu um isqueiro. Maconha. Ele disse que precisava relaxar.
 Após isso, tudo aconteceu muito rápido.
 Joe parecia não olhar a estrada. Tudo a sua frente ficou nebuloso e embaçado. Quando se deu por si, Joe perdeu o controle do volante e o carro deu um zigue-zague que quase atropelou algumas pessoas na pista. Isso seria o de menos, se o carro ainda não estivesse revirando louco pela estrada. Foi quando Jacob também pareceu acordar.
 — Joe, pare! — o garoto berrou.
 Mas Joe não estava ouvindo. O carro parecia descontrolado. Á frente deles se encontrava uma rua feita inteiramente de cabanas de feiras, e estava lotada de pessoas, e o carro avançava para aquele lado. Joe virava o volante como um maluco tentando parar o carro ou virá-lo em outra direção, mas não conseguia. As garotas agora gritavam apavoradas dentro do carro. Em menos de 2 minutos, eles estavam passando a uma velocidade inacreditável pelas barracas de feira, destruindo que viam pela frente, derrubando alimentos no chão e quase matando umas dezenas de pessoas.
 O carro seguia desgovernado. As pessoas saltavam ao ver que o carro se aproximava deles e destruía tudo que se via pela frente, fazendo o vidro do carro estar cheio de coisas amassadas como melancias e mamões. Joe não enxergava nada, mas tentava como um louco parar o carro.
 Mas, infelizmente, mal vendo as coisas á sua frente, Joe sentiu um baque no peito e os vidro se quebrando a sua frente. De repente ele não enxergava nada. Tudo ficou escuro e ele fechou os olhos, mergulhando na inconsciência.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Depois da Chuva - 11

“Você não me quer, como eu quero você. Você não precisa de mim, como eu preciso de você. Você não pode me ver, como eu te vejo. Eu não posso ter você, como você me tem. Eu não posso te roubar, como você me roubou.” — The Pretty Reckless.
Sala da direção
Academia Yancy
Nova York

 — Senhor diretor, minha família mora muito longe daqui. — Nick suspirou, se sentando na cadeira de couro em frente a Ethan, já quase desistindo — Olha, eu entendo que nessa escola tem muitos filhos de estrangeiros e diplomatas, porque não podemos fazer...
 — Olha, rapaz, não insista! — interrompeu Ethan, parecendo impaciente — Eu não posso aceitar a inscrição de nenhum aluno sem prévia entrevista com os pais do aluno ou os tutores do aluno.
 Nick apertou os olhos, ele mesmo começando a ficar impaciente. Tentou pensar em um plano rápido, mas foi impossível. O que poderia fazer em uma situação daquelas? Fora de cogitação tocar no nome de sua mãe.
 Ethan encarou Nick, se perguntando quando ele finalmente sumiria de sua sala.
 — Me dá licença, rapaz? Por favor? — pediu o mesmo, pegando sua xícara de café — Além disso, vejo aqui em sua inscrição que seu pai é falecido, não é?
 Nick o olhou bem cético, alegando em seu próprio olhar que aquele era um assunto proibido.
 — Ou então a sua mãe é a responsável. — Ethan deu de ombros — Eu preciso...
 Ethan parou de falar com uma batida na porta.
 — Senhor diretor — Emma entrou na sala. — Está aqui fora a responsável pelo candidato Nick Jonas.
 O coração de Nick disparou. O que? Como assim? Responsável? Ele não tinha responsável, e não havia avisado a ninguém. Nick gelou ao pensar em sua mãe, em como ela havia descoberto que ele estava tentando entrar na Academia Yancy, e não em uma universidade, como havia prometido.
 — Pode entrar. — Disse Emma.
 Abigail entrou trotando pela porta. Nick a olhou confuso e assustado, e todas as alternativas sobre sua mãe foram descartadas na hora.
 — Seu idiota, você fugiu de mim! — Abigail gritou, puxando os cabelos de Nick. O garoto gemeu, não entendendo nada.
 — Senhora, senhora! — Gritou Ethan, fazendo Abigail o olhar. — Espera, a senhora não é a tia da candidata Swift?
 — Sim, e madrinha desse bandido que quer aprontar mais uma! — Rosnou para Nick. — É que a mãe dele e eu somos, como posso dizer... Irmãs. Mas é que o Nick insiste em entrar e eu... Am... Ele quer ficar junto da Taylor. Quer ter certeza de que ela terá boa educação. — Notava-se seu nervosismo.
 — Espera aí, perdão, mas eu não estou entendendo. — Ethan juntou as sobrancelhas. — O problema não é esse. O problema é que eu preciso de uma autorização legal assinada pela mãe desse rapaz pra eu poder dar entrada na inscrição dele.
 — Ah, não se preocupe com isso! — Abigail sorriu. — Eu vou trazer assim que ela mandar. Mas por favor, deixa que ele faça a prova. Se não o Nickzinho vai se atrasar e vai perder o ano, eu sei que o senhor é um homem muito bom...
 Nick não disse nada. Continuava mudo, apenas observando o que Abigail tentava fazer. Seu coração batia mais acelerado ao ver que ela conseguia convencer o diretor.

Dormitório das meninas / Selena's Room
Academia Yancy
Nova York

 Demi literalmente estava infernizando as garotas. Ela quebrava as coisas e fazia uma zona no quarto. Bagunçou a cama de Selena e jogou suas maquiagens no chão, fazendo Selena ficar louca e querer matá-la. Ela fez uma grande zona no guarda-roupa de Ava, que foi uma grande loucura, pois não havia nada de mais importante para Ava do que aquilo. Isabella já estava com ódio o bastante de Demi para ajudar as amigas a "acabarem com ela". Demi com certeza era um problema no meio das 'populares' e parecia fazer de propósito. Ela queria fazer de propósito.

Corredor
Academia Yancy
Nova York

 — Então faremos assim: você falsifica a carta da sua mãe, e eu consigo que alguma pessoa assine para que tenha valor. — Abigail sussurrava para Nick fora da sala da direção.
 O garoto deu um sorriso fraco.
 — Olha, obrigado pelo que está fazendo por mim. Se arriscar assim por um estranho é muito difícil, obrigado.
 — Eu sou assim, meu filho. Nem me lembre, porque eu volto atrás. Porque não é uma coisa muito correta.
 — Não, não, que isso. — Nick deu de ombros.
 — Além disso, não pense que vai sair de graça. — Ela sorriu.
 Nick bufou, sentindo um peso em suas costas.
 — Pode dizer.
 — O único favor que eu quero pedir é que... Cuide da Taylor. — Abigail suspirou, olhando bem nos olhos de Nick. — Sabe, ela é uma boa menina. É muito inocente, e eu quero que você a proteja. Não deixe que ninguém faça nada a ela.
 — Não se preocupe. — Nick falou baixo, o pedido o pegando de surpresa. — Vou ser como o irmão mais velho da Taylor. Não vou deixar que nada aconteça a ela.
 — Ah, não sabe a tranquilidade, que peso você tirou da minha consciência! Não imagina! — Abraçou Nick em um rompante, seus olhos começando a ficar marejados. Quando pensava em Taylor, sempre pensava com preocupação, como se não soubesse como deixá-la sozinha no mundo, com medo de que a machucassem. Nick a abraçou, de repente sentindo essa mesma preocupação se transferindo para ele.

Dormitório das meninas / Selena's Room
Academia Yancy
Nova York

 — Não aguento mais, eu preciso de ar! — Bufou Selena, saindo do quarto com as amigas. — Que horror, essa menina é um atentado contra o bom gosto.
 As três riram.
 — De onde ela tira tanta porcaria? — falou Isabella.
 — Do lixo, de onde mais? — riu Ava.
 — Eu não sei, mas eu não suporto ela, vou ter um treco, preciso de ar! — Selena bufou.
 — Oi, e aí? — uma garota loira com uma touca falou Selena, Isabella e Ava. As três a olharam confusas. — Tudo bem?
 As três olharam, de repente formando um sorriso.
 — Estamos super bem, e você? — responderam em coro, como em uma 'coreografia'.
 Madison as olhou estática. Claro que achou aquilo ridículo.
 — Hmm... Aqui é o quarto das meninas? — perguntou ela, tentando tirar a imagem anterior de sua cabeça.
 — É... Você é nova? — Isabella a olhou de cima a baixo, reparando em suas roupas surradas.
 — Sim, meu nome é Madison. — fez o mesmo toque de mãos em Isabella, mas a garota também não conhecia aquela arte.
 — Vem cá, você é bolsista, não é? — perguntou Selena.
 — Como é você sabe?
 — Bom, olha, não é difícil notar, as suas roupas e o seu cabelo são um pouquinho radicais. Mas não se preocupe, nada que Selena Gomez, especialista em produção visual não possa resolver.
 As meninas sorriram. Madison as olhou com completo... Nojo. Na verdade, ela não esperava encontrar isso quando pisasse naquela escola. Esperava encontrar pessoas legais e gente desinterassada.
 Mal podia ver que estava super enganada.
 — Mas se você é bolsista, não devia estar fazendo a prova? — perguntou Isabella.
 — Hm, não. Eu vim pra cá como bolsista atleta.
 — E o que é isso? — Ava perguntou.
 — É que eu pratico taekwoundo e acho que quando tiver um intercolegial eu vou representar o colégio. — deu de ombros.
 — Não, não. — Selena balançou a cabeça — A Academia Yancy jamais participa dos intercolegiais. Ainda mais nesse negócio aí de taekwondo, eu acho que você errou de escola.
 Madison as olhou confusa. Não sabia o que pensar naquele momento, mas desejou sair de perto daquelas três antes que ficasse louca.
 — Ta bom, eu vou te mostrar o seu quarto, as bolsistas ficam pra lá. — falou Isabella, começando a andar pelo corredor — Vamos, meninas.

 — Olha, esse quarto aqui está disponível. — Isabella entrou no quarto — Pode escolher qualquer lugar e decorar como você quiser.
 — Ah é, como o nosso! — Selena sorriu, se sentando em uma poltrona vermelha — O nosso quarto foi todo decorado pelo Aiden Thomas, meu decorador. Ficou lindo, você nem imagina. Ele deixou cada uma com o seu estilo divino. O único mal é que agora chegou uma ignorante chamada Demi. — Selena torceu o nariz — E estragou tudo, todo o trabalho que fizemos em meses. Juro que me deu vontade de vomitar vendo as coisas que ela trouxe. Bom, eu digo isso porque sou super sensível e você ainda não me conhece.
 — Ai, que nojo, uma mosca! — falou Ava, parecendo abafar o ar.
 Madison ainda as olhava confusa, como se aquelas garotas não fossem reais. Não tinham nada a ver com ela, e já começava a não suportá-las.
 — Hmm, eu vou pegar a minha mala. — falou ela, indo até a porta.
 — Eu te ajudo. — Isabella foi atrás dela.
 — Tem moscas nesse quarto?! — Selena sussurrou para Ava, com cara de nojo.
 — Ah, que nojo isso, fala sério!
 — Ai! — Isabella bufou, largando a mala de Madison no chão. — Tem algo que quebre aí?
 — Não sei, fizeram a minha mala no orfanato. — Deu de ombros.
 — Espera aí, você veio de um orfanato? — Isabella arregalou os olhos.
 — É, algum problema? — ergueu as sobrancelhas.
 — Não, é porque aqui isso não é comum. — Ava sorriu forçado.
 — Me desculpe, mas eu nunca vi uma órfã ao vivo... Como é ser órfã? — Selena a encarou como se fosse ouro.
 — Deve ser super deprimente, não é? — Isabella falou, olhando para Madison com pena.
 — Pior que não, lá se aprende muito. Uma das coisas que eu aprendi lá é: destruir tudo que te incomoda. — Lançou um olhar mortal para as três.

Campus de golfe
Academia Yancy
Nova York
Joe's POV

 Bom, eu não fui pra casa após sair do hospital, como podem ver. Ainda tinha que realizar os temerosos trabalhos voluntários, coisa que com certeza não era pra mim. Eu estava odiando aquilo, não tinha nada pior, eu deveria estar em casa descansando bastante e ser mimado pelos meus empregados, poxa, eu acabei de sofrer um acidente!
 Mas o senhor Collins tampouco pensava desse jeito.
 Ele teve prazer em ir até meu quarto no hospital para jogar na minha cara que havia feito uma denúncia contra mim sobre o acidente. Tudo bem, eu vacilei, eu admito, mas ele é meu pai. Será que qualquer outro pai faria isso com o filho? Não consigo nem imaginar, ele me dá nos nervos, apesar de eu sempre afastar esse sentimento de mim. Ele me deixa nervoso e com ele não posso dizer sequer o que quero e o que penso sobre nenhum assunto. Ás vezes me espelho nele, mas na maioria das vezes eu o desejo longe da minha frente e da minha vida.
 Saí do meu quarto e fui para o campus de golfe, entrei em um carrinho e aproveitei para ligar para Jacob. Contar as "novidades":
 — Pois é, Jacob, o juíz mandou fazer trabalho voluntário numa cidadezinha... Juro que preferia morrer. — Balancei a cabeça, afastando tais pensamentos. — Aposto que foi ideia do meu pai. Não me deixa sozinho nessa, ok? Ta bom, tchau.
 Desliguei o telefone, já voltando a sentir a mesma repulsa de antes. Eu estava atordoado com toda aquela situação, estava fora de cogitação eu, Joe Collins, passar o verão inteiro trabalhando. Qual é, eu nunca nem lavei um prato em casa, agora terei que trabalhar para outras pessoas? Foram só maconha e bebidas, ok? Porra, foi só uma mancadinha!
 Ainda continuava rodando pelo campus com o carrinho, passei pelas líderes de torcida fazendo alongamentos no gramado, as quais acenaram para mim alegres e sorrindo. Assanhadas. Me adoravam, eram loucas pra transar comigo, e eu já havia pegado metade. Assim como metade dessa escola.
 Quem pode, pode.

Selena Gomez's POV

 Aquela Madison me assustou, eu não vou negar. Depois das últimas palavras que ela me lançou, eu e as meninas demos uma desculpa para sairmos correndo daquele quarto o quanto antes. Até tinha passado pela minha cabeça que eu poderia ajudá-la aqui, mas logo descartei. Não gosto de trabalhos difíceis, muito menos de cobaias difíceis. Se quer ficar do jeito que está, que fique. Eu, Ava e Isabella saímos daquele quarto, indo direto para o campus de golfe.
 Ao chegar lá, pegamos um carrinho e nos amontoamos em cima dele, eu e Ava na frente e Isabella atrás. Conversávamos sobre assuntos recorrentes quando cruzamos com o carrinho de Joe a nossa frente, o qual havia acabado de azarar simultaneamente várias líderes de torcida atrás dele. Eu automaticamente dei um sorrisinho cínico pra ele. Eu já estava ligada na mega confusão que ele havia se metido, aliás, quem não sabia?
 Joe parou o carro a minha frente, me fazendo parar também. Nós dois nos encaramos.
 — Joezinho! — Falei, sorrindo. — Suas férias foram curtas, não é?
 Ele riu, balançando a cabeça.
 — Olha só quem fala. Você nem saiu daqui, gatinha.
 Ele piscou para mim, e depois arrancou com o carrinho, dando de ré e virando na direção oposta. Fiquei estática em meu lugar. Como assim? Ele é apenas Joe Collins. Apesar de ele ter dito a verdade, eu não aceitava ouvir aquilo dele, não mesmo.
 — Hahaha. — Ri irônica, não achando graça nenhuma.
 Ele deu uma última olhada para nós e saiu de vez, sem olhar pra trás. Já vai tarde.
 — Vem cá, porque você trata ele assim? — Perguntou Ava de repente. — Eu acho que você está afim dele.
 — Mas é claro que não. — Nós duas rimos, eu achando completamente sem nexo o que ela acabara de dizer. — Sabe, Ava, ele é um gato, mas não faz o meu tipo. E ficar com ele? Fala sério!
 Ela me avaliou, parecendo querer entrar da minha cabeça para ver se eu estava falando a verdade.
 — Bom... — disse ela.
 — Bom o que? — perguntei.
 — Eu já volto! — ela deu um gritinho, saindo do carrinho rapidamente e correndo para onde Joe havia partido.
 Eu ri e a olhei, meio perplexa, mas não assustada. Joe seria o novo alvo de Ava, isso eu já esperava para esse ano.
 — Ah, vai pedir carona pra ele, vai? — eu ri, vendo ela correr empolgada.
 — Ei, por favor! — ouvi ela dizer para um garoto que estava de bobeira parado em um carrinho. — Pode me dar uma caroninha até lá em cima?
 O garoto apenas sorriu e ela subiu em seu banco carona, o carro arrancando para frente. Que esse garoto não queira nada em troca, por favor. Ava era louca, era capaz de aceitar para não ficar mal na fita. Apenas balancei a cabeça e Isabella se sentou ao meu lado, no antigo lugar de Ava.
 — Amiga, fiquei pensando muito no que a Ava disse. — falou Isabella.
 — O que?
 — Que você e o Joe seriam o casal ideal. Os dois são iguais. — ela sorriu, parecendo sonhar com esse dia.
 Eu ri. Na verdade, gargalhei. Não era possível. Onde que eu e Joe éramos "perfeitos um pro outro"? Nunca, né? Contem outra, o garoto é um bebêzão e fica com todas as meninas do colégio. Um namoro dele deve durar o que? 1 semana? E olhe lá...
 — Ah, Isabella, por favor! — bufei, rindo. — Sério, não tem nada a ver. Você pensa umas merdas muito grandes, mas tudo bem.
 Ela revirou os olhos, parecendo não mudar de ideia.
 — Viu a Ava? Ela perde a linha, saiu voando atrás do Joe. É só aparecer um menino que ela vai correndo atrás.
 — Ai, não começa, não critica, ela é nossa amiga, lembra? — levantei as sobrancelhas.
 — É óbvio, eu sei que ela é nossa amiga, mas isso vai ficar entre a gente, ta? Olha, você não vai negar que ela é super atiradinha com os meninos. — deu de ombros.
 Eu ri. Na verdade, foi a única coisa que eu encontrei naquele momento.
 — Isabella, para! — falei. — Já chega. O problema é que a Ava tem que ser boazinha porque todos os meninos querem ficar com ela. Tem que ser como eu, não os trato mal, mas eu parto o coração deles.
 Ela bufou.
 — Você é legal, mas eu acho ela muito oferecida!
 — Sério?
 — Por isso que eles te procuram tanto.
 — Ta bom, chega de criticar. O que eu ia te dizer a 5 minutos é que eu tenho que ir falar com o diretor, por isso querida, me dá uns minutinhos, vai lá.
 "Expulsei" Isabella do carrinho, mandando um beijinho no ar. Logo mais, saí com o carrinho, direto para a sala do diretor. Haviam assuntos importantes a tratar com ele, muito importantes.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Depois da Chuva - 10

“Comece a perceber. Em cada verso meu, tem um pouco de você.” — Allax Garcia. 

Avenida Begrs Street
Nova York
"Ok, pode parar aqui." — Logan se manifestou no carro — "Daqui eu vou sozinho."
"Porque, filho? Falta tão pouco." — disse seu pai.
"Eu sei, pai, mas eu não sou mais uma criança pra você me deixar em frente a escola."
 Seus pais suspiraram e pararam a uma distância mínima da Academia Yancy, enquanto Logan se atirava para fora da caminhonete Hi-Lux, pegando apenas sua mala preta de rodinhas e começando a caminhar.
"Filho, espera!" — sua mãe gritou, o fazendo parar de má vontade — "Sabe o que é? Eu gostaria de conhecer seus colegas. O seu quarto, o refeitório..."
"Ok, mãe, mas não vai dar. E também não quero que venham me visitar nos fins de semana. Quando der eu visito vocês." — deu de ombros.
"Mas nós achamos importante visitar você aqui." — sua mãe sorriu.
"Tudo bem, tudo bem." — seu pai cortou a conversa, dando um riso forçado — "Ele é assim." — abraçou Logan, fazendo o garoto executar uma careta de mal gosto — "Sabe, eu sinto muito orgulho de um filho de um simples açougueiro, de gente do campo, chegou ao melhor colégio do país. Sabe, filho, você vai chegar mais longe do que eu."
 Logan revirou os olhos, completamente entediado.
"Desde que seja um homem bom e trabalhador como você." — os pais se olharam — "Porque é o que eu quero."
"Tudo bem, mulher. Ele quer ser mais do que eu..."
"Mas porque ser mais? Além disso, ele pode continuar com o negócio do açougue. Nós conseguimos juntar mais do que jamais sonhamos."
"Ok, chega!" — gritou Logan — "Já chega, ok? Não vai começar agora com aquela história de miséria, que um dia ficamos ricos e blá blá blá." — ele bufou.
"Tudo bem, filho." — seu pai sussurrou — "Boa sorte. Trouxe tudo?"
"Sim, pai." — respondeu Logan, morrendo de vontade de vê-los longe.
"Aqui, filho. A medalinha do seu batismo." — sua mãe colocou um cordão de prata em seu pescoço — "Ande sempre com ela."
"Obrigado... Agora vão." — Logan bufou, e dessa vez seguiu em frente para a Academia.

Queens
Nova York

"E depois o meu pai morreu." — completou Nick, com o olhar distante, enquanto ele, Abigail e Taylor estavam sentados, ainda esperando o ônibus.
"Coitado." — Taylor suspirou — "E morreu de que?"
"Ele já estava doente." — Nick deu de ombros.
"Puxa..." — Abigail suspirou, observando Nick.
"Na verdade, o sonho dele era que eu entrasse pra essa escola, por isso eu vim." — Nick mentiu, rolando os olhos. Era a primeira vez que mentia daquele jeito em voz alta.
"Vai ser difícil." — falou Abigail — "Nessa escola é tudo complicado. Não pense que vai ser tão fácil entrar."
"Mas... Eu posso falsificar a assinatura da minha mãe..."
"Como vai falsificar a assinatura da sua mãe, garoto? Te expulsam! Não, aqui é tudo cheio de regras!" — ela bufou — "O que eu quero dizer é o seguinte, precisa de alguém que se responsabilize por você. Que fale por você, que o defenda, entendeu?"
"Mas esse é o sonho da minha vida inteira. É quase meu projeto de vida, entrar pra essa escola..." — Nick imaginava se não estaria exagerando demais.
"Você vai entrar, eu tenho certeza." — Taylor sorriu, encorajando-o.
"Não, você vai entrar, eu tenho certeza."

Centro Médico Chapon Hill
Nova York

"Venha, filho." — a mãe de Joe puxou o garoto pelas mãos enquanto terminava de colocar suas roupas normais. Joe estava com a cara mais abatida de todas. Não dormia direito havia dias e sua cabeça ainda doía com o curativo acima da sobrancelha.
"Eu estou bem, mãe." — Joe falou baixo, ainda sentindo dores.
"Vejo que se recuperou perfeitamente, Joe." — o diretor Ethan entrou pela porta do quarto, o que causou ainda mais dores de cabeça em Joe.
"Senhor diretor, me desculpe." — falou Joe — "Eu sei que vacilei. Acho que dessa vez a situação é um pouco delicada, não é?"
"É..." — Ethan deu de ombros.
"Mas não está pensando em me expulsar, não é?"
"Bom, eu devia, Joe, mas falei com o seu pai e considerando que todos os seus irmãos passaram pelo nosso colégio, vamos considerá-lo como um caso especial." — Ethan sorriu e Joe o olhou confuso — "E tem mais, eu falei com o juíz e não precisará ser processado. Isso não significa que não terá uma punição."
"Ah, muito obrigada!" — falou a mãe de Joe, sorrindo como sempre — "Que consideração. Agradeça a ele, Joezinho." — deu uma cutucada em Joe.
"Obrigado. Qual é a punição?"
"Está aqui, especificado." — Ethan tirou do bolso do terno alguns papeis — "E você vai realizar trabalhos voluntários. E não se preocupe, vai ser na cidade, perto do nosso clube de férias. Mas fique sabendo que vai ter um inspetor vigiando você."
"É por isso que eu adoro a sua escola!" — a mulher riu, pegando no braço de Ethan e o encaminhando para fora do quarto.
"Senhora, por favor..." — Ethan ria nervoso.
"É tão encantador..."
"Nós temos prazer em poder ajudá-lo." — sorriu.

Área da piscina
Academia Yancy
Nova York

"Oi, gatinha!" — gritou Logan ao ver uma loirinha baixa andando em sua frente. A garota o olhou, parecendo confusa — "E aí, posso te ajudar em alguma coisa? Eu já vi que você é nova aqui, e sei lá... Logan Lerman." — estendeu a mão.
"Eu sou Madison Taylor." — fez um toque de mãos com Logan, e o garoto a olhou cético. Só agora havia percebido algo 'macho' na garota.
"Hmm, Madison Taylor..." — ele analisou-a — "É que... Combina com seus olhos." — Madison riu — "Então, você é bolsista aqui? Veio fazer a prova?"
"Não, pra mim não disseram nada."
 Em algum canto da piscina, no meio da confusão entre os jogadores que praticavam volleyboll na água, a bola escapou dentre as mãos de alguma pessoa, fazendo a bola correr pelo teto e bater em Madison, na parte de seus seios. A garota soltou um gemido de dor e as pessoas na piscina a olharam preocupados. Não com ela, claro, mas se ela devolveria a bola numa boa.
 Madison os olhou com raiva. Logan apenas revirou os olhos, se fazendo de desentendido, como se não estivesse presente naquele momento. Madison pegou a bola do chão.
 — Quem foi o idiota? — A garota gritou, olhando para as pessoas na piscina.
 Ninguém soltou um pio. Ela bufou e em menos de 1 segundo, jogou a bola pra cima, chutando-a em seguida, com uma força extraordinária. O queixo de Logan caiu. Ele e todos acompanharam enquanto a bola voava pela quadra, por cima da piscina. E todos olharam com medo até ver que a bola ia em direção a um homem descendo as escadas, há uma distância significante da quadra. Não deu outra, a bola bateu em seu braço, dando um estalo.
 — O que aconteceu, Daniel? — Gritou o homem, massageando seu braço onde fora atingido, saindo em seguida batendo os pés.
 Daniel Anderson era o professor de educação física, presente na quadra naquele momento, e não soube o que dizer naquele momento. Não podia dizer nada, ainda olhava perplexo para Madison, assim como os outros.
 — Nada mal. — Logan comentou após as pessoas terem "acordado" e voltado para suas atividades. — Eu aposto que você quer ajuda com a sua mala, não é? O que é isso aqui? Seu tapete de alongamento? — Ele riu, enquanto pegava a mala de Madison.
 Os braços de Logan queimaram. Pareciam haver pedras na mala da garota. Logan soltou um gemido gutural enquanto tentava levantar a mala, e Madison apenas soltou um sorriso.
 — Vamos lá? — Ela riu e começou a caminhar para dentro da escola, sendo seguida pelo andar devagar de Logan.

Dormitório das meninas / Selena's Room
Academia Yancy
Nova York

 — Eu não voltei só por você, Selena, eu voltei também porque eu não suportava mais a minha mãe e o imbecil do meu irmão. — Ava bufou enquanto Selena passava pó em seu rosto. — Só porque o meu pai saiu de casa, ele se acha o dono de tudo.
 — Soube mais alguma coisa dele?
 — Não. Ele se divorciou da minha mãe, se divorciou de todos.
 — Vocês já viram os alunos novos? — Perguntou Isabella enquanto descia as escadas do dormitório gigante.
 — São uns idiotas... — Murmurou Ava.
 — Tadinhos, pareciam que estavam entrando no matadouro. — Isabella riu.
 — Você já está prontinha. — Selena disse á Ava enquanto guardava um pouco de suas maquiagens. Ava agradeceu murmurando um "obrigada". — Olha, eu nem tive vontade de sair do meu quarto. Já basta ter visto aquela menina... — Selena descia as escadas, indo ao encontro de Isabella. — Sabe o que eu descobri? Que ela é filha de uma artista...
 — Gente, eu vi ela em uma revista, eu achei ela bem bonita. — Ava se levantou do espelho, indo ao encontro das amigas.
 Selena bufou.
 — Ava, acorda! Por favor, nas revistas eles retocam as fotos no computador. — ela se jogou em sua cama — Você precisa vê-la pessoalmente, não é? Conta pra ela, Isabella!
 — Então me contem, eu quero saber. — Ava se sentou em sua cama, e Isabella soltou uma risada.
 — Parece uma árvore de natal com as luzes piscando, é horrível. — Selena contou, fazendo as três rirem. Ava murmurava palavras como "Ah não, não acredito..."
 — E a filha? — perguntou Ava.
 — A filha? Não, a filha é a pior de todas! É a mais idiota que eu já vi na minha vida! — Selena gesticulava com os braços.
 — Espera, me conta aí. — pediu Ava.
 — Não, espera, ela tem um cabelo loiro com umas mexas verdes...
 — Azuis! — corrigiu Isabella.
 — São azuis também? — Selena riu. — São azuis, roxas, sei lá...
 Naquele momento, a porta se abriu bruscamente. Demi chutou suas malas para dentro do quarto, fazendo um silêncio reinar naquele momento. A garota entrou a passos largos, não se importando com as meninas ali.
 — É exatamente desse jeito. — Selena resmungou — Escuta, menina, acho que você se enganou, porque a saída fica por aquele lado. — apontou para um lado distante do quarto.
 — Ah, não me diga! — Demi sorriu irônicamente. — Então me desculpe, pois eu vim pra ficar aqui, bonequinha. — Mexeu nos cabelos de Selena.
 — Mas você me disse que não ia ficar...
 — Pois é, mas eu mudei de ideia. — Demi pulou de joelhos na cama de Selena — Porque eu gostei muito da escola e então... Eu vou ficar aqui. — Sorriu.
 Selena a olhou com nojo e desprezo, e também um pouco de preocupação. Não sabia porque, mas já sentia que Demi iria ser um problema pra ela.
 — Essa escola não tem nada a ver com você! — Isabella disse, se levantando.
 Demi a olhou com graça, dando um enorme sorriso de deboche.
 — É mesmo? — Ela se levantou, ficando em pé na cama de Selena. — Poxa, mas que inteligente você é.
 — Não na minha cama! — Selena gritou ao ver Demi em pé.
 — Deixa eu te perguntar, além de falar, você também sabe fazer piruetas? Como todos as baleias? — Demi falou para Isabella, ignorando a existência de Selena completamente.
 Ava levou a mão á boca, chocada com o comentário de Demi. Selena baixou os olhos, seu peito pareceu se apertar. Isabella a encarou, sua garganta se fechando, como se não houvesse o que dizer naquele momento.
 Isabella era a típica pessoa que estava acima do peso. Isso seria normal, se ela não fosse uma das meninas mais populares da escola. Se sentia completamente fora do mundo comum pelo motivo de não estar no patamar do "corpo perfeito", e se tinha alguma coisa que a machucava era caçoar disso.

Salão principal
Academia Yancy
Nova York

 — Os que entregaram a solicitação podem passar para a sala para fazerem a prova. Só os candidatos! — Anunciou Emma para a aglomeração de pais e filhos na Academia.
 Nick e Taylor se levantaram em um sobressalto, assim como um montante de alunos. Todos pareciam mais nervosos do que o comum, pareciam estarem se decidindo ali na hora se iam ou não. Dava pra ver o pânico nos olhos deles.
 Um a um, os candidatos iam até a mesa de Emma e colocavam a solicitação preenchida, como devia ser. Suas mãos tremiam, sem querer exagerar. Eles estavam mesmo nervosos. Taylor rapidamente entregou nas mãos de Emma e caminhou até a sala, parecendo suar frio.
 Nick se encaminhou para a mesa de Emma, colocou sua solicitação e já foi seguindo para a sala, quando:
 — Jonas! — chamou Emma, fazendo Nick se virar novamente — Você não.
 Nick a olhou confuso e ao mesmo tempo perplexo. Abigail e Miley pararam para ver ao longe, também confusas.
 — Não o que? — perguntou ele.
 — Você não pode fazer a prova. — ela deu de ombros.
 — Mas porque?
 — O diretor não falou com os seus pais. Eles vieram com você?
 A cabeça de Nick queimou. Seus pais? Não havia coisa pior para pedir a ele naquele momento. Estava fora de cogitação envolver seus pais naquilo. Ele respirou bem fundo.
 — Não. — respondeu.
 — Então você não vai poder fazer a prova, eu lamento. — Emma deu de ombros.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Depois da Chuva - 09

“Quando você chega à emergência de um hospital, uma das primeiras coisas que eles pedem é que você dê uma nota para a sua dor numa escala de um a dez. Me lembro de uma vez, logo no inicio, em que eu não estava conseguindo respirar e parecia que meu peito estava pegando fogo, as chamas lambendo meu tórax por dentro, tentando encontrar um jeito de sair e queimar o lado de fora, e meus pais me levaram para a emergência. Uma enfermeira perguntou sobre a dor e eu não conseguia nem falar, então mostrei nove dedos. Depois, quando já tinham me dado alguma coisa, a enfermeira voltou e ficou meio que acariciando minha mão enquanto media minha pressão arterial, então disse: Sabe como sei que você é guerreira? Você chamou um dez de nove.” — A culpa é das estrelas.

 "Pai, eu..." — Joe tentou começar, mas as palavras lhe faltavam. Ele estava com mais medo do que nunca esteve.
"Você faz de tudo pra me destruir." — disse Michael, com seu tom frio e arrogante de sempre — "O que a oposição não conseguiu fazer em anos, você quase conseguiu em um dia." — ele bufou, dando passos até Joe — "Me diga uma coisa, filho, qual é o seu plano? Quer me arrasar? Porque você não aprende com os seus irmãos mais velhos? Eles são mil vezes melhores do que você! Você não pensa na minha imagem pública, não é verdade? Não se importa se ficam falando do seu pai por aí, pelas ruas, em todos os lugares..."
"Pai, por favor, deixa eu falar..." — Joe balançou a cabeça.
"Não, eu não vim pra escutar você! Eu vim pra falar. Eu vim dizer que se você pensa que por ser meu filho vai poder fazer o que você quiser..." — Michael balançou a cabeça, parecendo indignado — "Filho, você está muito enganado. Dessa vez eu não pretendo salvar você. Você foi longe demais, podia ter matado todo mundo!" — Joe abaixou a cabeça, as palavras de seu pai pareciam ser marteladas no cérebro dele — "Você destruiu um carro..."
"Pai..."
"Você destruiu um carro, não é verdade?!"
"Eu vou pagar por tudo, pai, eu juro."
"Não." — Michael soltou uma risada irônica — "A minha confiança não tem preço."
"Nunca teve confiança em mim, não é? Tudo que vê em mim é ruim, pai."
"E tem alguma coisa boa?" — ele levantou as sobrancelhas e Joe sentiu os joelhos vacilarem. Ele não queria escutar mais nada — "Eu vim trazer isso." — Michael retirou uma folha de papel do paletó que usava.
"O que é isso?"
"É uma entimação." — ele estendeu a folha para Joe. O garoto arregalou os olhos.
"Quem fez a denúncia? As garotas?"
"Não... Eu fiz."
 Joe olhou para o pai, com uma expressão de choque e desamparo. Seu pai estava transformando aquela situação na mais infernal de todas. Seu coração pareceu apertar, e de repente ele se tocou de que não sabia do que seu pai era capaz.
"Você?!" — Joe arregalava os olhos chocado.
"A mídia me persegue. Eu tenho que dar alguma coisa." — ele deu de ombros, parecendo completamente satisfeito.
"Ah, claro." — Joe deu uma risada irônica — "Agora eu entendo. O político exemplar quer entregar a cabeça do filho. Maior sacrifício do que esse impossível, não é?"
"Não é assustador que tenha tanta inteligência. Você que não a use, filho." — deu um olhar duro para Joe e saiu, acendendo mais um de seus inseparáveis charutos.
"Pai, espera!" — Joe gritou, mas o pai já havia ido — "É, estou com um pouco de dor de cabeça. Obrigado por perguntar..." — falou a si mesmo.


Highland PS
Nova York

"48, 49, 50, 51..." — Selena arfava enquanto levantava mais um peso no meio do quarto. Não era a primeira vez que se sentia tão entediada a ponto de malhar ali, no quarto mesmo — "Selena!" — ela gritou a si mesma, largando os pesinhos e se olhando no enorme espelho que pegava do chão ao teto — "Selena, o que é isso? Que gordurinha é essa? Não pode ser! Droga! Porque tudo tem que acontecer comigo?!" — ela choramingou enquanto apertava sua barriga em frente ao espelho.
 Selena gemia de indignação ao procurar qualquer tipo de creme nos armários e rezou quantas vezes fosse preciso para que Deus a afastasse das celulites e estrias. A garota ainda se olhava no espelho quando algo escorreu por sua porta. Ela olhou, sem entender no início. Depois viu um pedaço de papel no meio do quarto.
"Quem é?" — gritou ela, mas não obteve resposta. Selena se aproximou e pegou a carta, que estava intitulada como 'Selena Gomez'. Ela rapidamente abriu a porta, mas não viu ninguém, corredor completamente vazio. Ela estranhou e fechou a porta novamente.
"Ah não, e se for um trote? Ou um vírus perigoso?" — ela murmurou, se sentando na cama — "Ou talvez não! Talvez é um menino que quer ficar comigo... E se for aquele gatinho da outra sala?" — ela riu — "Caramba, é muito difícil seu eu! Tenho que ler..." — Selena abriu a carta, com sorrisos involuntários — "Essa caça ao tesouro é pra você. No colégio tem uma coisa que te interessa. Pra encontrar a primeira pista vá ao corredor dos vestiários..."
 Selena parou de ler e não sabia o que fazer. Rapidamente, ela se levantou e saiu pela porta, seguindo para o corredor. Chegando lá, bem em cima dos vestiários, havia plaquinhas onde ela deveria ir. Ela estranhava, pois a escola estava completamente vazia, mas seguia em frente. Depois de ter rodado praticamente a escola toda, ela chegou ao ginásio, que estava completamente escuro e assustador. Selena começou a sentir um medo, pois não via ninguém. E, sem mais nem menos, a garota tropeçou em seus próprio pés e algo caiu em cima dela.
"O QUE É ISSO?!" — Selena berrou ao ver que uma rede caíra em cima da mesma — "QUEM ESTÁ AÍ? EI, QUEM ESTÁ AÍ? ME AJUDA, JÁ CHEGA DISSO!"
 Selena começava a ficar com medo, e não sabia o que fazer. De um canto do ginásio, ela ouviu passos, e de repente duas pessoas apareciam naquele escuro como breu. De repente ela passou do medo para sentir alívio. As duas pessoas eram Isabella e Ava, suas amigas, que viam rindo.
"Calma, amiga!" — disse Ava, rindo, enquanto ela e Isabella tiravam a rede de Selena.
"Suas bobas! Vocês me assustaram!" — Selena estava rindo, estava feliz — "Vem cá, o que estão fazendo aqui? Não estavam de férias?"
"Nós estávamos, mas eu disse pra minha mãe que preferia voltar pro colégio." — Ava deu de ombros.
"Ah, amiga!" — Selena a deu um abraço rápido.
"E é claro que eu inventei pra minha mãe que tinha que estudar algumas matérias." — Isabella sorriu.
"Por isso que eu adoro vocês, porque são as melhores amigas desse mundo! Obrigada por não me deixarem sozinha."
"Como a gente ia te deixar sozinha?" — Isabella riu.
"Não, a gente prefere sofrer com você num martírio." — Ava sorriu.

Queens
Nova York

"É aqui." — Abigail apontou para o logotipo do Highland na figura na parede, avisando que ali era o ponto onde o ônibus do internato passaria — "Essa é a escola, Taylor, eu..."
 Abigail foi interrompida por um ser que esbarrou nela enquanto se virava para Taylor. Instantaneamente, ela o bateu com a bolsa que segurava, fazendo o garoto se assustar.
"Qual é o problema, senhora?" — Nick gritou, afagando seu braço.
"Como assim qual é o problema? Você me deu o maior susto!" — Abigail bufou.
"Eu só vim esperar o micro ônibus do Highland Private School, sei lá..." — ele suspirou.
"Oh, me desculpe, eu não sabia que você também era aluno daqui, mas... É que de repente aparece qualquer um que a gente não sabe se vai cumprimentar ou roubar." — ela deu de ombros. Nick deu um sorrisinho fraco.
"Sou Nick Jonas." — ele estendeu a mão para elas.
"Sou Abigail." — apertou a mão de Nick.
"Eu sou Taylor." — a garota lançou um olhar doce para Nick, que se encantou na mesma hora.
"Pra ser sincera, é muito chato, é que essa cidade você não sabe de onde você é, o que você faz, as coisas são bem difíceis..." — Abigail remexia em sua bolsa enquanto falava.
"Sou da Flórida, mas meus pais moraram aqui há muito tempo." — disse Nick.
"Que legal! Nós somos da Califórnia, mas foi fácil chegar até aqui." — Taylor sorriu, fazendo Nick sorrir junto.
"Ah, então vocês já estão acostumadas com a correria dessa cidade..."
"Não, ainda não acostumamos, falta muito." — Abigail riu — "E como você chegou aqui? Da onde você veio?"
"Na verdade, eu estou muito cansado."
"E de que você veio?"
"De ônibus." — Nick deu um sorriso de lado.
"Nossa, tantas horas de ônibus!"
"12."
"Nossa senhora, que isso, deve estar cansadíssimo. Você já comeu?"
"Hm... Não."
"Toma aqui, eu trouxe uns sanduíches de casa, vai servir pra você."
"Ok." — Nick sorriu.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Depois da Chuva - 08

“Às vezes temos pensamentos que nem mesmo a gente entende. Pensamentos que nem são tão verdadeiros – que não são realmente como nos sentimos –, mas que ficam rondando nossa cabeça porque são interessantes de pensar.” — Os 13 porquês.

   Em Dallas, Texas, o salão "Make Boutique" estava vazio naquela tarde. Não era um local que chamava muito a atenção das pessoas que passavam, com as portas foscas de vidro preto e os dizeres em cima com o cartaz já gasto.
 Lá dentro, pelo contrário, as conversas estavam animadas. Taylor estava sentada em uma das cadeiras alcochoadas de frente ao enorme espelho espaçoso, enquanto sua tia, uma mulher de meia-idade com os cabelos loiros pintados com mechas de várias cores, penteava cuidadosamente o cabelo da garota.
 Taylor era alta, magra e curvilínea. Tinha cabelos loiros chamativos de parar o trânsito e olhos azul-turquesa, que era de causar inveja. A garota era uma gata, se não fosse tão tímida e inocente, e não tivesse tanto medo de encarar o mundo afora.
 Sua tia falava animada, enquanto ajeitava os cabelos de Taylor, fazendo seus cachos se sobressaírem no rosto emoldurado.
 — Ah, quando você conhecer o colégio, não vai acreditar. — ela sorriu para a imagem de Taylor no espelho, um sorriso confiante — Parece até que é um hotel de 5 estrelas. Os quartos são como suítes presidenciais, lindos.
 — Tia, e se não me aceitarem? — Taylor disse, quase em um fio de voz — O que eu vou fazer? O que vai acontecer se eu não conseguir entra pra esse colégio?
 — Mas porque, filha? — a mulher colocou a escova que penteava os cabelos de Taylor de lado — Porque não vão aceitá-la e não vai entrar pro colégio? Diz.
 — Não, é que eu morro de medo de não passar nessa prova. — ela virou a cadeira para ficar de frente para a tia. Suas mãos estavam quase tremendo, só de pensar na possibilidade de não entrar na Academia Yancy.
 A loira abriu um sorriso sem mostrar os dentes. Ela entendia o sofrimento agudo de Taylor naquele momento.
 — Você será aprovada. — falou ela.
 — Depois de tudo que ficou gastando com meus professores particulares pra que eu pudesse entrar... Mas eu prometo, eu prometo, que eu vou pagar por tudo que você já fez por mim.
 — Esqueça essa ideia de pagar! — a mulher olhou torto para Taylor — Porque se disser de novo, eu queimo seu cabelo, faço um permanente, vou deixar tudo verde, o que você acha disso? — ela ergueu uma sobrancelha.
 Taylor se levantou, segurando uma risada.
 — Então você vai me maltratar?
 — Vou sim, vou deixar você careca, o que você acha?
 — Que má! — as duas riram e se abraçaram no instante seguinte.
 — Obrigada por tudo, tia.
 — Você não tem o que agradecer, filha. E lembre-se: se não gostar de alguma coisa, ous e alguém mexer com você, se aqueles ricos exibidos quiserem te maltratar, não esqueça de me ligar, Taylor, já vou avisando!
 — Espera, se lá eu vou ter que estudar com adolescentes exibidos, porque eu to indo?
 — Ah, Taylor, não reclame! Você tem que crescer. Olha, o preço nós temos que pagar, temos que pagar pra ser alguém. Você tem que sair desse bairro, dessa cidade, minha querida. Você é muito mais do que isso tudo. — ela olhou com ternura para Taylor.
 Um conforto repentino tomou conta de Taylor. Ela abraçou a tia, querendo cada vez mais aquele abraço, mesmo quando fosse embora. Não se dera conta do quanto sentiria saudades, de todos os conselhos e broncas, e também de todas as brincadeiras. Pensava que nada mais iria fazer sentido sem ela ao lado, mas entendia que precisava ir. Tinha a consciência de que a vida começaria a andar, a sair um pouco dos trilhos, mas por uma coisa boa.
 As duas foram interrompidas por uma mulher entrando no salão vazio.
 — Taylor! — chamou ela, com uma voz severa.
 As duas se desfizeram do abraço. A loira com mechas coloridas encarou mortalmente a mulher de cabelos castanhos e maçãs do rosto muito vermelhas que acabara de entrar.
 — Você vai lá em casa se despedir da sua irmã ou vai embora direto daqui?
 — Não, é claro que eu vou me despedir da Emily, mãe. Aliás, sem a sua permissão eu não vou a nenhum lugar.
 As palavras de Taylor foram duras e ela se retirou, deixando as duas mulheres se encarando.
 — O que está olhando? — perguntou a loira de mechas, olhando com certo desprezo para a mulher a sua frente — Gostou da minha cor de cabelo? Gostou? Posso pintar o seu de graça.
 A mulher bufou, dentro de si não suportava esse jeito irritante e prepotente.
 — Agora que conseguiu separar a minha filha de mim, deve estar contente, não é, Abigail?
 Abigail sorriu.
 — Se quiser que eu diga a verdade... Sim. — ela deu de ombros.
 — O que ganha tirando a minha filha de casa? — ela cerrou os dentes — Anda, diga!
 — Eu não ganho nada. Vou sentir muito mais saudades do que você. Mas sabe quem vai ganhar? Isso mesmo, a Taylor.
 — Você sabe perfeitamente que eu preciso dela. — a mãe de Taylor balançou a cabeça — Porque encheu a cabeça dela de merda, por que?!
 — Porque até disso ela tem direito! Tem o direito de ter a cabeça cheia de merda, ela tem o direito de ter uma história diferente, porque a história não vai se repetir, tem que ser diferente de nós duas!
 — Ah claro! — a mulher deu uma gargalhada que ressondou por todo o recinto — Desde que não levem ela pra onde levaram você, não é? Tomara que a minha filha não seja uma prostitua como a tia dela foi. — ela disse com repugnância.
 Abigail lançou um olhar frio para a irmã, cheio de mágoa e rancor.
 — Não, ela não vai ser prostituta, eu tenho certeza. Mas quer saber? Ela também não vai ser a enfermeira da irmã dela a vida toda.
 — Você sabe perfeitamente que ela ama a irmã dela!
 — Mas é claro que ela ama, a menina gosta dela, mas você é a mãe dela! Taylor não é a mãe de Emily, e tem que ficar cuidando dela, entenda que a mãe é você, entenda! — ela gritou.



 — Oi. — Taylor disse ao encontrar a irmã pequena tentando subir as escadas.
 — Ainda faltam alguns degraus. — Emily apontou pra cima enquanto Taylor a segurava pela cintura e a sentava ao seu lado na escada de madeira, com um pequeno caderno surrado nas mãos.
 — Olha, vem aqui. — Taylor suspirou — Aqui, nesse livrinho, eu vou escrever tudo que acontece comigo. Pra quando eu vim ver você, eu vou contar tudo como se estivesse lendo uma historinha, tudo bem?
 Emily balançou a cabeça, concordando com tudo que Taylor dizia. As palavras pipocavam um pouco em sua cabeça quando Taylor falava, por causa da síndrome de Down, mas entendia perfeitamente. Só não entendia o quanto estava sendo difícil para Taylor partir, o quanto estava sendo doloroso ter de deixá-la ali, aos cuidados da mãe, que mal cuidava de si própria, quanto mais ter de ficar vigiando Emily 24 horas por dia. Isso era trabalho de Taylor, por mais que ela tivesse de se "libertar" disso agora. Precisava viver a vida.
 Emily baixou a cabeça. De repente pegou na mão de Taylor, que estava sobre o colo, e a apertou, como se não fossem mãos reais. Emily se lançou para Taylor em um abraço desengonçado.
 — Porque? — ela perguntou, com os olhos no horizonte — Porque, Taylor?
 Parecia que naquele momento Emily havia entendido que Taylor não estaria mais ali. Talvez não tivesse entendido perfeitamente, mas havia compreendido que iria ficar sem ela. Taylor agarrou as mãozinhas que a cercavam e lutou para que não chorasse. Não queria chorar, não iria chorar.
 — Eu também vou sentir muito a sua falta. — Taylor olhou nos olhos azuis de Emily, afastando alguns fios louros de seu rosto — Mas você e eu sempre vamos estar juntas. — ela deu um beijo no rosto de Emily, enquanto a menina brincava com alguns cachos soltos do coque de Taylor — A minha tia me prometeu que vai vim aqui te pentear todos os dias. E vai te deixar mais bonita do que se eu estivesse com você. E ela vai pintar suas unhas também.
 — É? — os olhos de Emily brilharam — As unhas?
 — Sim, as unhas. — as duas riram.
 Taylor puxou Emily com cuidado pela escada acima, em direção ao pequeno quarto das duas. Emily pulou na cama enquanto Taylor pegava uma caixa de papelão de cima do armário de madeira e se postou na frente da irmã.
 — Agora você vai ser a responsável por todos os nossos brinquedos, ok? Você promete? — Taylor abriu a caixa enquanto Emily concordava com a cabeça.
 De repente um nó se formou na garganta de Taylor. Emily pegou cada coisa de dentro da caixa. Um dominó, uma boneca de pano, alguns cds... Ela não prestava mais atenção em nada enquanto mexia nas coisas com tanto cuidado. Taylor respirou fundo, como se toda a água de seu corpo estivesse na porta dos olhos, prontas para sair em lágrimas.
 — Eu não quero te deixar. — ela disse, e percebeu como sua voz saiu rouca — Mas eu tenho que ir.
 — Porque? — perguntou Emily, com seus olhos no urso de pelúcia entre suas perninhas.
 — Porque... Porque eu quero ser uma grande médica pra cuidar de todas as crianças como você. — ela alisou os cabelos de Emily. Depois, em cima da mesinha de cabeceira, ela pegou um retrato onde havia uma foto dela e de Emily — Olha, eu tenho essa foto de nós duas. Eu vou ficar com uma foto igualzinha essa pra sempre me lembrar de você. E você também.
 Emily olhava o retrato com cautela, como se tentasse reconhecer as pessoas da foto. Depois, em súbito, ela gritou, apontando para o retrato "Sou eu! Sou eu! E você!", e apontava para Taylor, abrindo um enorme sorriso. Beijou o retrato com carinho, abraçando-o logo em seguida. Taylor limpou a lágrima que caiu, rindo de como Emily ficava ao ver fotografias.
 — Eu prometo que quando eu acabar a escola, eu nunca mais vou deixar você sozinha. Nunca mais. Eu vou voltar pra ficar com você, eu prometo.
 Taylor agora chorava. Não era uma coisa muito habitual de se fazer na frente de Emily, mas era algo que não conseguia mais segurar. Estava indo embora. Deixando pessoas que amava e que precisavam dela. Principalmente Emily.

  — Me disseram que você estava bem, mas não tão bem! — falou Jacob.
 Depois de Joe ter dispensado todas as visitas recebidas, inclusive a de sua mãe, ele nunca dispensaria uma visita de Jacob, que ele estava surpreso por estar ali. Jacob não havia sido prejudicado pelo acidente. Via-se um pequeno corte em sua testa, perto da sobrancelha, que já começava desaparecer. O garoto vestia jeans, uma camiseta estampada marrom com vans. Era muito bonito, mas nada se comparava a Joe.
 Joe riu e se levantou da maca, ainda com as roupas brancas do hospital e com um curativo na testa, onde havia levado uma baita pancada.
 — Eu estou bem. — disse ele — Quase nenhum arranhão. O que acha?
 — Acho muito foda. — Jacob deu de ombros.
 — E aí, e o carro?
 — Ah, cara, o seguro vai pagar.
 — O que sua mãe disse?
 — Cara, minha mãe nem veio me ver. — Jacob deu uma risada fraca — Ela só falou comigo no telefone, e o meu pai disse que eu era um homem muito idiota. E minha mãe disse que, graças a mim, eles tinham perdido o carro.
 — Bom, mas se eles não voltaram das férias é porque ta tudo bem. — Joe deu de ombros, como se aquilo fosse o menor dos problemas.
 — Não, está tudo mal! Eu vou pagar com a minha mesada por um ano.
 — Ah, que isso, Jacob, eu estou aqui pra te ajudar. — Joe deu um soco no ombro de Jacob — E então, o que vai fazer?
 — Ah, eu não sei. — ele suspirou — E então, como está o seu pai? Você não falou com ele?
 O sorriso de Joe sumiu por completo.
 — Não. — respondeu ele — Mas garanto que vai me dar a maior bronca.
 — E você está assustado.
 — Pior que sim. — Joe sussurrou.
 — Ah, Joe, sei lá, vai que ele também não paga sua mesada por um ano, vai saber.
 Joe bufou.
 — Não, escuta, essa ele não me perdoa.
 — Tudo bem, de repente ele não quer ver você por 10 anos, e quando ele voltar vai estar velhinho demais pra se lembrar de todas as merdas que nós fizemos. — Jacob deu de ombros.
 Joe riu. Não se aguentou.
 — Que bom que você veio. — Joe passou os braços pelos ombros de Jacob.
 — Você sabe que mora no meu coração.
 — Eu já estava cansado de fingir que estava dormindo pra não falar com a minha mãe...
 Os dois deram risinhos até ouvirem passos no corredor. Ao se virarem, Michael e os seguranças o olhavam feio.
 — Oi, pai. — Joe sussurrou, um medo crescendo em seu peito.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Depois da Chuva - 07

“Tem coisa que dá vontade de viver de novo. E de novo. E de novo.” — Clarice Lispector.

   No gabinete do diretor Ethan, o clima estava bem tenso. Ambos os dois, Ethan e Sophia, pareciam muito desconfortáveis depois de terem um tipo de "reencontro" depois de mais de 10 anos. Sophia parecia nervosa e apertava o forro da cadeira tão forte que seus dedos quase ficavam brancos. E o coração de Ethan não desacelerava, não importa no que ele pensasse.
 Apesar disso tudo, eles decidiram ter uma conversa completamente profissional.
 — Minha filha Demi é hiperativa. — começou Sophia — É um verdadeiro tanque de guerra.
 — Eu vou adorar conhecê-la. — Ethan sorriu, e sorriu de verdade. Ainda não lhe caíra a ficha de que estava vendo Sophia novamente.
 — O único problema é que quando ela mete uma coisa na cabeça, não desiste enquanto não consegue. — ela bufou, se lembrando das inúmeras vezes que Demi fazia aquilo — E está decidida a não ficar nessa escola.
 — Não se preocupe. — ele deu de ombros, ainda sorrindo. Algo dentro dele simplesmente gritava, berrava, ele não conseguia parar de sorrir — Nós vamos ajudá-la a se adaptar. É meu trabalho. Ainda mais nesse caso...
 Ele pareceu olhar para Sophia de cima a baixo, apesar da mulher estar sentada. Mais uma vez, ela se sentiu desconfortável e recomeçou a apertar a cadeira. "Obrigada", falou ela.
 — Quer mais café? — perguntou ele, se levantando e pegando a xícara da mão de Sophia.
 — Eu agradeço, mas não, obrigada. — ela suspirou enquanto via Ethan se virar de costas e postando a xícara em sua mesa.
 Ela se levantou, ainda balançando as mãos, em sinal de nervosismo.
 — A Demi não é má. — ela disse quase em um sussurro — Digamos que seja um pouco intensa. Me entende?
 Ethan riu, voltando a pregar os olhos nos de Sophia.
 — Eu entendo perfeitamente. — ele suspirou — O que você me contou me fez lembrar de uma linda adolescente que conheci uma vez... Uma menina que era fogo puro. — ele falou baixo, e simplesmente começou a se aproximar de Sophia.
 Seu coração batia tão rápido que era impossível captar a que velocidade. Ela não recuou ao ver que Ethan se aproximava.
 — E, mesmo já sendo um homem... — ele sussurrou — Me apaixonei como um adolescente.
 Seus olhos estavam cravados, aquilo era evidente. De repente torrentes de lembranças antigas foram desenterradas com tal brutalidade que Sophia não pode aguentar. De repente ela sentiu, e sentia, tudo que sentiu a 10 anos atrás por Ethan: paixão e raiva.
 — Mas não se apaixonou o suficiente pra largar tudo e... Ir embora com ela. — ela falou em tom firme.
 Aquilo foi como um tapa no diretor. Ele abaixou a cabeça, bufando.
 — Ah... Eu não podia. — ele balançou a cabeça — Eu tinha uma carreira, uma família...
 Ele colocou as mãos nos bolsos da calça social, meio nervoso e com os dedos trêmulos, e caminhou até sua mesa novamente, colocando as mãos em um porta-retrato que tinha a foto de uma garota.
 — Sabia que eu tenho uma filha da idade da sua? — ele falou baixo.
 — É claro que eu sei. — ela revirou os olhos — Eu sumi quando descobri que a sua mulher estava grávida.
 Ethan fechou os olhos.
 — Você não me perdoa, não é?
 — Não. — ela balançou a cabeça, lutando contra uma mágoa antiga louca para sair — Eu não vim aqui criticar nem nada. Pra mim, você é só uma lembrança. Uma linda lembrança.
 — Eu nunca te esqueci. — ele suspira e encara Sophia, se sentando em sua cadeira de diretor — Acompanhei sua carreira pelas revistas... Procurei tudo que podia para saber sobre o pai da sua filha, mas... Nunca soube nada dele.
 Aquilo pareceu pegar Sophia de surpresa.
 — Não se preocupe. — ela ergueu uma sobrancelha — Demi não é sua filha. O pai dela é um homem que vive muito longe, e... A única coisa boa que me deu foi essa princesa. Mas agora quer me separar dela.
 — Como assim? — Ethan juntou as sobrancelhas — Porque?
 — Ele disse que eu não sou boa mãe. — Sophia abaixa a cabeça, baixando o tom de voz — E se Demi não ficar neste colégio, ele vai levá-la com ele para a Europa. Tem que me ajudar que ela fique aqui, por favor! — ela implorava em seu tom de voz, olhando para Ethan com certo desespero.
 — Fique tranquila. — ele pareceu desconcertado, mas com compaixão nos olhos.
 Ethan se levantou e foi até Sophia.
 — Porque ela não vai poder ficar? — ele pegou nas mãos dela.

 — Já disse que você não pode entrar! — Emma estava parada á frente da porta do gabinete do diretor, parecendo proteger o lugar. Demi estava á sua frente, batendo os pés de raiva — Ninguém pode entrar na sala do diretor sem ser anunciado.
 Demi bufou.
 — Deixa que eu me anuncio, muito obrigada, não tenho a vida toda pra esperar!
 Demi avançou para a porta e simplesmente empurrou Emma dali, como se ela fosse uma criança de 12 anos. Emma gritou e tentou agarrar o braço da garota, mas ela já estava dentro da sala do diretor.
 Demi olhou de Ethan para sua mãe dentro da sala. Pareceu nem reparar que Ethan ainda segurava a mão de Sophia.
 De repente, ela riu.
 — Nossa, a julgar pela aparência do diretor, eu acho que ele tem menos tempo do que eu, não é mesmo? — ela deu uma risada irônica — O senhor já não devia estar aposentado?
 — Demi, por favor, filha! — Sophia rangeu os dentes — Ela é minha filha, senhor diretor. — ela deu um sorriso sem graça — Por favor, cumprimente-o, Demi.
 — Oi, como vai? — Demi sorriu e apertou as mãos de Ethan.
 — Esse senhor é o diretor do colégio. — Emma falou perto de Demi, como se fosse para lembrá-la de que ela não estava falando com um simples homem.
 — Ah, eu tenho um cigarro! Você fuma? — Demi tirou um pacote de cigarros do bolso e estendeu para o diretor, que a olhou pasmo.

����☀

 Selena se debruçava em sua cama várias vezes, procurando uma posição que lhe parecesse correta e confortável. Não conseguia se estabilizar, sabendo que não sairia daquele lugar. Tentava se distrair com tudo que lhe aparecesse, mas parecia impossível.
 Sua atenção foi tirada das unhas recém-feitas por Emma entrando no quarto, estendendo o telefone.
 — Abri a exceção de vir até aqui só porque é o seu pai, e ele está ligando de Albuquerque, ele disse que você não atende o celular. — disse Emma, lançando um olhar para o celular jogado de Selena em cima da cama.
 Selena lançou um olhar de surpresa para o celular.
 — Ah, olha, ele está desligado. — ela riu, dando de ombros — Eu nem tinha percebido. Mas diz pra ele que eu vou ligar agora mesmo.
 Emma a olhou desconfiada.
 — Atende agora, vai. — ela estendeu mais uma vez o telefone.
 Selena olhou de Emma para o telefone. "Tudo bem", ela murmurou, pegando o telefone. Emma coçou o nariz e se virou para ver o quarto. Nesse momento, Selena não perdeu a oportunidade e apertou no botãozinho para desligar o telefone, tão rápido que Emma nunca teria visto.
 — Alô? — Selena colocou o objeto na orelha, sorrindo — Pai? Como você está, paizinho? ... Puxa, eu estou tão feliz, é sério, não vejo a hora de passar as férias no Vacance Club... É, eu juro. — Selena se levantou, caminhando até as escadas — É sério, não é como as ilhas do Caribe, mas eu vou. Todo mundo que eu gosto está no colégio... Claro, pai. Se divirta bastante e não exagere com o trabalho. Tudo bem. Te amo, pai! — ela mandou beijos pelo telefone — Tchau.
 Emma olhava Selena como se fosse maluca. Todos sabiam que Selena deveria estar odiando o pai agora, por causa de tudo que havia acontecido.
 — Pronto. — ela lhe entregou o telefone, sorrindo.
 — Tudo bem? — perguntou Emma pausadamente.
 — Tudo perfeito. — Selena deu um enorme sorriso — Quando nós vamos pro Vacance Club?
 — Quando os bolsistas terminarem de fazer a prova.
 — Que maravilha! — ela falou rapidamente, terminando de subir as escadas — Estou muito feliz por ir ao Vacance Club!
 Emma achou melhor deixar Selena sozinha com sua loucura e bipolaridade e bateu a porta ao sair.
 Selena encarou a porta, dando um urro de raiva. Ela feliz por ir ao Vacance Club? Nem aqui e nem em outra vida.

����☀

 Joe fora mandado imediatamente para um hospital localizado no Queens. O melhor hospital, é claro. O deputado Michael estava posto ao lado do médico, com a sua esposa passando o braço por um dos seus.
 — Doutor, com relação aos jovens que estavam no carro, diga aos familiares deles que eu vou arcar com todas as despesas. — disse Michael — Mas eu quero que mantenham discrição sobre tudo, é lógico.
 — Creio que não haverá nenhum problema, senhor. — falou o doutor, enquanto anotava algo em sua prancheta.
 Michael lançou um olhar de esguelha para sua esposa.
 — Ainda bem. — ele sorriu um pouco. Talvez o máximo que conseguia — Isso é o mais importante.
 — Achei que o mais importante fosse a saúde do seu filho. — o doutor levantou os olhos para lançar um olhar de surpresa — Não querem vê-lo?
 Michael se segurou para não demonstrar desânimo ao ouvir falar em Joe. Sua esposa acariciava seus ombros e seus cabelos ralos, sabendo imediatamente da resposta de Michael.
 — Ér... Não, não. — ele balançou a cabeça — Prefiro esperá-lo aqui. Vai você, meu amor.
 A mulher ao seu lado sorriu e se virou para o doutor.
 — Onde é o quarto dele?
 — Por aqui, senhora, me acompanhe. — ele apontou para um corredor largo e os dois seguiram juntos.

����☀

  Parecia que tinham se passado horas desde que o diretor havia saído da sala pra se decidir sobre Demi. Dava pra ouvir as batidas do coração de Sophia naquele momento. Demi ria e brincava com os troféis espalhados por um armário no canto da sala. Ela havia se sentado na grande cadeira do diretor com dois deles.
 — Já chega de brincar, Demi, parece uma criança! — Sophia pegou os troféis da mão de Demi, começando a se irritar.
 — Eu estou cansada! — Demi bufou — Que horas o diretor pretende vir?
 — Eu me pergunto exatamente a mesma coisa! Provavelmente, ele já está com a decisão tomada, mas deve ter medo de me dizer que não aceita você nessa escola.
 Demi deu de ombros, como se aquilo fosse a coisa mais insignificante do mundo.
 — Poxa, mas se a escola não me aceita, a culpa não é nossa.
 — Ah, claro! Depois do show que você fez! Porque teve que pegar o cigarro? Você nem fuma, Demi!
 — Ué, sempre tem uma primeira vez, mãe. — ela deu de ombros mais uma vez, revirando os olhos.
 Sophia encarou Demi e se sentou em seguida.
 — Tanto faz. — ela suspirou — Agora as cartas já foram dadas. E eu não tenho mais nenhum trunfo na manga.
 — Ai, para de dramatizar, mãe! — ela subiu na mesa de vidro do diretor e se sentou em borboleta — Olha só, quando o velho descobrir que não me aceitaram nessa escolinha, vai parar de choramingar. A única coisa que ele quer é mostrar que tem poder, é só.
 — Dessa vez não é assim, Demi. Se não aceitarem você aqui, Noah vai reclamar a sua guarda e vão dar pra ele, e vão te separar de mim. — Sophia acariciou o rosto de Demi — Será que você não entendeu, filha?
 Demi olhou dura para a mãe. Pela primeira vez, parecia assimilar algo mais sério do que a si própria. Parecia ver e absorver a importância de tudo aquilo para a mãe.
 — Isso não importa. — ela murmurou — Olha, eu vou deixá-lo louco. Ele não vai me aguentar nem por 3 dias, e vai me devolver. Pronto, mãe.
 — Quem dera se as coisas fossem tão fáceis. — Sophia sussurrou — Não importa por quanto tempo for, ainda assim vai ser longo. Vou perder a sua guarda e não vou recuperar. Talvez isso possa ser bom pra você, não é? Conhecer outras pessoas, uma família... Uma coisa que comigo você nunca teve.
 — Eu não quero ter nenhuma outra família, mãe. — a voz de Demi saiu falha.
 — Agora é tarde, filha.
 Demi a olhou estarrecida. Tarde? Como assim tarde? As coisas seriam assim? Ela simplesmente deixaria sua mãe? E as duas seriam iguais aquelas outras famílias, que só se viam aos finais de semana ou nem isso?
 Não. Demi não conseguia aceitar isso. Ela e Sophia viviam aos berros uma com a outra quase sempre, e ás vezes era um alívio Demi estar sozinha sem a mãe, mas também nunca se imaginou sem ela. Parecia até absurdo pensar em uma coisa dessas.
 Os pensamentos de ambas foram interrompidos pela porta do gabinete sendo aberta. Ethan entrou abotoando o paletó enquanto Demi "acordava" e saía imediatamente de cima da mesa.
 — Bom... — disse ele ao chegar em sua mesa — Eu já tomei a minha decisão.
 — Olha, não importa qual tenha sido sua decisão, está bem? — Demi o encarou, ainda com a voz falha. E odiou que sua voz estivesse daquele jeito — Ainda assim eu quero pedir desculpas, como a minha mãe me ensinou. — ela olhou de esguelha para Sophia — E... Eu nem uso essas porcarias, sabe? Eu só queria escandalizar um pouco. — ela tirou o pacote de cigarros do bolso e os jogou na lixeira ao lado.
 Ethan pareceu desconcertado com a mudança de comportamento da garota.
 — E... Porque queria fazer uma coisa assim?
 — Porque eu não tinha percebido... — ela suspirou — Quanta vontade eu tenho de ficar nesse colégio.
 Ethan assentiu.
 — Não acredito em você, sabia? — ele deu um sorriso duro para Demi — Mas... Acredito que nós dois precisamos de uma oportunidade. Você de conhecer o colégio e o colégio de conhecer você. Bem vinda a Academia Yancy, Demi Lovato.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Depois da Chuva - 06

“Tenho dificuldade de entrar numa sala cheia de gente e dizer qualquer coisa. Não gosto. Não gosto de fazer conferência. Não gosto de discurso, não tenho a empostação de voz necessária, não tenho a presença de espírito. Geralmente, tenho respostas muito boas em 24 horas depois.” — Carlos Drummond de Andrade.

   O deputado Michael Collins quase soltava fogo pelas narinas na sala da direção. Não se conformava com o fato da facilidade que Joe tivera para sair da escola, assim, na frente de todos e ninguém percebeu. Ethan praticamente tremia de medo ao ver o rosto raivoso do deputado, temendo de que se não achasse uma solução, ele partiria pra cima dele ali mesmo.
 — Ainda não entendo como ele conseguiu escapar. — disse mais uma vez o diretor, parecendo ter repetido aquilo várias vezes.
 Michael não parava. Andava de um lado a outro na sala, com a carranca ainda mais séria do que o normal. Sua esposa estava sentada em uma das cadeiras á frente da mesa do diretor, fumando seu cigarro, mas ainda com a mesma aparência de preocupação.
 — Eu me pergunto a mesma coisa. — Michael grunhiu — Que tipo de seguranças vocês tem nesse colégio?
 Ethan assentiu, recebendo toda a culpa de bom grado. Ele não seria louco de tentar se impôr ao deputado.
 — Já sei, senhor. — ele murmurou — Estamos fazendo o impossível para encontrá-lo, eu garanto.
 — Se souberem que eu não consigo controlar o meu filho, como vão votar em mim para controlar o país?
 Ethan riu, constrangido.
 — Vamos encontrá-lo, senhor. Estamos ligando pra casa de todos os alunos, dos que saíram do colégio, ele tem que estar em alguma.
 — Procure no céu e na terra. Mas tem uma coisa... — ele se aproximou de Ethan agora falando mais baixo — Com muita discrição. Entendeu?
 Ethan engoliu em seco.

 Selena agora estava completamente sozinha no quarto. Isabella já havia ido e ela parecia andar de um lado a outro no aposento. Ela havia tomado um banho e ajeitado toda a desgraça que havia ficado seu cabelo por causa da nova aluna encrenqueira, a qual esperava nunca mais ver em sua vida. (roupa)
 Havia se passado apenas umas 2 horas após esse terrível fato, e Selena estava sentada em frente do espelho na parte de cima do quarto, ainda ajeitando alguns estragos em seu cabelo. É claro que ele voltara a ficar impecável como sempre, mas Selena era famosa por seus caprichos.
 Ela falava ao celular, ao mesmo tempo em que mexia nos cabelos.
 — Eu juro, Ava, eu nunca vi ninguém assim. — disse ela, se referindo á Demi — E ta na cara que ela não vai poder ficar no colégio, porque aqui não admitem idiotas como essa. — ela bufa — Ninguém merece!
 — Espera aí, ela também é bolsista? — perguntou Ava do outro lado da linha.
 Ava Wilson era uma das melhores amigas de Selena. O trio era inseparável e inabalável: Selena, Isabella e Ava. A garota parecia possuir a mesma história que Isabella, em questão de começo de amizade com Selly. A garota viu como Ava era nova e acanhada na escola e decidiu transformá-la, e não deu outra, Ava era uma das garotas mais desejadas e lindas da Yancy, depois de Selena, é claro.
 Ava era alta e magra, quase escultural. Tinha cabelos pretos muito lisos, que chegavam um pouco abaixo dos ombros. Seus olhos negros e brilhantes eram grandes e chamavam a atenção junto com suas bochechas, sempre rosadas.
 Ava era o oposto de tudo que Selena e Isabella eram. A garota era atirada e festeira, gostava de ter os garotos a seus pés e dava mole pra qualquer um. Gostava de roupas curtas e provocantes e nunca estava sem namorado. Fazia uma listinha de todos que ela pegava em um pequeno caderno, que parecia super confidencial para todas, até para Selena e Isabella.
 A cama vazia no quarto de Selena pertencia a Ava. A garota já tinha ido viajar e passar as férias com a família antes de quase todos, e na sua ausência, o quarto e o colégio pareciam sem vida para Selena, pois ela era a alegria de qualquer grupo.
 — Não, Ava, não é isso. — Selena suspirou, se levantando da mesinha que continha o espelho e começando a descer as escadas — Olha só, você é bolsista e eu amo muito você. O problema é que essa menina... Ah, não sei, essa menina é ignorante. Mas tudo bem, não vamos mais falar dela porque eu estou ficando enjoada. Agora me fala de você, como está tudo na sua casa? — ela sorriu e se jogou em sua cama.
 Ava suspirou.
 — Como sempre, uma chatice. Selena, vem cá, quando você vai viajar?
 Selena baixou os olhos, de repente sentiu um aperto no peito e a mágoa novamente chegando. Queria eliminar aquele assunto de sua mente.
 — Não, eu não vou mais. — ela revirou os olhos, se lembrando das palavras do pai — Eu tive uma discussão com o meu ex-pai e ele cancelou a viajem. Não tem jeito, vou ficar as férias inteiras aqui. — ela deu um grande suspiro, em seguida levantou a cabeça e sorriu — Ah não, eu juro que não me importo... É, a Isabella acabou de ir embora... Mas está tudo bem, amiga...
 O telefone piscou e deu um barulhinho. Selena pareceu quase saltar de susto.
 — Espera, tem outra ligação. — ela atendeu a outra chamada — Alô?
 — Alô, Selena. — ela imediatamente reconheceu a voz do pai — Selena, sou eu...
 Selena apertou o botão para encerrar a chamada imediatamente.
 — Desculpe, Ava. — ela continuou, bufando — Alguém ligou errado. Só Deus sabe pra onde. Mas enfim, amiga, eu tenho que desligar... — ela suspirou — É, eu juro pela minha última calça Armani que eu estou bem, eu estou bem! Tchau.
 Selena desligou o iPhone, o jogando de qualquer jeito na cama. Sozinha novamente, pensou ela, sentindo uma depressão horrível.  Chega! Calminha, Selena. Não importa se você está sozinha, ok? Não tem que se importar, está tudo bem. Está tudo bem..., pensou ela e se sentou na cama, com o rosto entre as mãos.
 A porta se abriu repentinamente antes que Selena pudesse começar a chorar de raiva. Lá estava Emma, com seu cabelo preso e óculos enormes.
 — Perdão, Selena. Com licença. — ela entrou no quarto.
 — Emma, muito obrigada, mas é sério, não precisa me pedir desculpas, ta tudo bem, de verdade, eu não me importo. — Selena falou rápido, fazendo Emma a olhar como sempre olhou: uma louca histérica.
 Emma apenas levantou as sobrancelhas e se virou a porta, sem dizer nada.
 — Demi? — ela chamou.
 Demi surgiu na porta, o que fez Selena quase ter um surto.
 — Ah, não! Pode ir tirando essa daí do meu quarto, porque só de olhar pra ela eu fico enjoada, por favor! — gritou Selena, parecendo um tanto apavorada.
 Emma suspirou.
 — Demi vai ficar aqui enquanto a mãe dela fala com o diretor.
 — Mas porque aqui?! — Selena choramingou.
 Emma ajeitou os óculos em cima do nariz, e encarou Selena.
 — Porque este vai ser o quarto dela, caso seja aceita. — ela deu um sorriso triunfante.
 Selena pareceu ter levado um banho de água fria.
 — Bom, com licença. — falou Emma mais uma vez, caminhando até a porta — Demi, pode entrar.
 — Espera, espera! — gritou Selena, mas a secretária já havia ido.
 Demi olhou para todos os lados antes de pisar no dormitório. Seu estômago revirou só de olhar o tanto de enfeites que o cobriam, fazendo-o parecer realmente um quarto de meninas mimadinhas. Aquele era mesmo um quarto com cara de Selena.
 Selena encarou a garota enquanto ela entrava, sua expressão era de pura raiva.
 — Olha aqui, eu já vou avisando: nem pense em ficar nesse colégio, porque é outro mundo, você não tem lugar aqui. — ela grunhiu.
 Demi a olhou entediada e se jogou na cama de Isabella, que ficava na frente de Selena.
 — Calma, ok? — ela sussurrou calmamente — Eu não quero ficar nesse internato de merda. Deixa eu só falar com o diretor e eu te garanto que não vai nem aceitar a minha inscrição.
 O alívio tomou conta de Selena, pelo menos por um tempo.
 — É o que eu espero.

 Na Flórida, a sra. Jonas empacotava as últimas coisas antes de se mudar de vez daquela velha casa que tinham. A filha mais nova estava em seu antigo quarto, guardando tudo que era possível guardar da velha casa para não se desprender tanto assim das lembranças. Ela sabia que não ia ser fácil.
 Chegou a hora de ir ao quarto de Nick. Ao acordar áquela manhã, ela ainda não havia visto o filho, mas não estranhou. Desde a morte do pai, Nick tinha uns surtos de sair de casa antes do sol nascer para afogar algumas mágoas. Mas naquele dia foi diferente.
 Ela pegou mais uma caixa de papelão e entrou no quarto. Ele estava intacto e arrumado. A cama estava completamente impecável, como se ninguém tivesse a tocado. Estranho. Nick nunca arrumava sua cama.
 A sra. Jonas tirou isso da cabeça. Deveria querer fazer um agrado, pensou ela. Colocou a caixa em cima da cama, se preparando para pegar as outras coisas quando viu algo em cima do travesseiro do filho. Era uma carta.
 Ela juntou as sobrancelhas, mas se apressou em pegar o papel. "Pra minha mãe e pra minha baixinha", dizia na frente. De repente, ela teve um aperto no coração. Não podia ser aquilo. Tudo menos aquilo. Ela abriu a carta.
 "Mãe, baixinha... Espero que possam me perdoar por sumir assim de repente, mas eu queria evitar uma nova discussão."
 Ela parou de ler, com as mãos trêmulas. E de repente ela já entendera tudo, já sabia.

 Emma abriu a porta do gabinete do diretor, o encontrando vazio. Ela suspirou e entrou, com Sophia atrás dela.
 — Sente-se, por favor. — pediu ela, apontando para a poltrona no fundo da sala — Ah, eu já ia chamá-la de Sophia. É que eu estou acostumada a vê-la na TV, nas revistas...
 Emma deu um sorriso constrangido. Aquilo não era normal pra ela, como também não era normal receber artistas de grande porte na escola.
 — Claro... — Sophia deu um sorriso simpático enquanto se sentava.
 — Eu sinto como se já a conhecesse.
 — Não se preocupe, pode me chamar de Sophia. Está tudo bem.
 Emma deu mais um sorriso sem graça e se encaminhou para a mesa do diretor.
 — Eu te servir um café, ok? — ela já pegava as xícaras — Sem açúcar, não é?
 — Isso, sem açúcar. — concordou Sophia — Eu tenho que cuidar, não é?
 Emma levou apenas instantes para estar entregando uma das xícaras nas mãos de Sophia.
 — Aqui está. — ela sorriu mais uma vez — Dentro de uns minutinhos o senhor Ethan virá recebê-la.
 — Obrigada, você é muito gentil.
 — Eu vou estar aqui fora, qualquer coisa.
 Emma desapareceu para fora da sala. Sophia mexia lentamente em seu café, suspirando. Torcia mentalmente para que Demi entrasse, aquilo não era uma causa boba. Se ela não entrasse, Sophia podia nunca mais vê-la, e isso a apavorava.
 Alguns passos ecoaram no corredor e a porta se abriu, entrando o diretor.
 — Desculpe a demora... — falou o diretor enquanto entrava e ia imediatamente para sua mesa, sem nem olhar para quem estava sentado na poltrona — Estava me despedindo de alguns pais de alunos, e...
 Ethan se virou e congelou. Um tremor percorreu a espinha de Sophia, e ela se levantou, quase jogando a xícara de café no chão, tanto que suas mãos tremeram.
 — Você?! — ela disse, com a voz falha.

 Nick chegou ao aeroporto a tempo de carona com alguns amigos. Ele olhava para o relógio com grande insistência, como se tivesse medo de alguém o perseguir e estragar completamente com seus planos de ir á Nova York. Ele entrou no estabelecimento com mais 3 amigos.
 A bagagem de Nick não era grande coisa. Na verdade, ele não levava quase nada. Estava com a roupa do corpo — uma blusa preta de botões de mangas compridas, as quais ele dobrou até os cotovelos, um jeans igualmente preto largos e tênis — e uma mochila grande, onde carregava algumas roupas, e alguns itens necessários.
 Os 3 amigos não estavam muito felizes com a partida de Nick.
 — Ah, qual é, não fiquem com essas caras. — Nick parou abruptamente, se virando para eles — Eu não vou embora pra sempre.
 Um deles, que era alto e meio gordinho, com cabelos claros e olhos azuis, falou:
 — Não deve ser fácil se vingar de alguém tão poderoso como esse velho.
 Nick revirou os olhos, como se já tivesse explicado aquela história mil vezes á eles.
 — Sabe de uma coisa? — ele cerrou os olhos — Vou atingir aonde mais dói nele.
 Um outro cara, que era meio baixinho e tinha cabelos cacheados, olhou pra Nick como se este fosse meio louco.
 — Espera, mas como você vai fazer isso?
 Nick parou por um instante, parecendo tentar se lembrar de algo.
 — Ele tem uma filha. — falou baixo.
 — E como vai fazer pra se aproximar dela? — perguntou o do olhos claros.
 — O mais provável é que a menina nem te dê moral. — o do cabelos cacheados riu.
 Nick deu de ombros.
 — E porque não vai dar bola pra um colega de colégio? — falou ele.
 Todos pareceram sem palavras por um momento, parecendo absorver a informação.
 — E como vocês vão se relacionar no colégio? — perguntou um deles.
 — Olha, eu andei pesquisando em tudo quanto é lugar e já investiguei a escola onde estuda essa mimadinha milionária. — ele disse com certo tom de nojo.
 — E o que você vai fazer? Vai pedir um trabalho de porteiro, de faxineiro? — perguntou o de cabelos cacheados, rindo mais uma vez.
 Nick riu e deu um soco de leve no ombro do garoto.
 — Não, cara! Eu pedi uma bolsa pra estudar no mesmo ano que essa menina.
 — Ta maluco, Nick? — o de olhos claros pareceu chocado — Vai voltar pro segundo grau?
 — Vai logo. — disse o garoto do meio pela primeira vez, um garoto forte com a pele morena e cabelos escuros e repicados — Você vai perder o avião.
 Nick o olhou com firmeza.
 — Não vou te decepcionar. — ele sussurrou.
 O garoto sorriu.
 — Tenho certeza que não.
 Nick suspirou. De repente ele ganhou uma nova expressão, pela primeira vez se mostrava muito triste por ter de deixar a Flórida.
 — Olha... Eu sei que eu nem preciso dizer isso a vocês, mas minha mãe e minha irmã não podem saber por nenhum motivo que eu estou indo a Nova York vingar a morte do meu pai.
 — Ah, não se preocupe. A galera aqui e eu vamos cuidar dela e da sua irmãzinha também.
 — É, cara, pode ir tranquilo. — o garoto do olhos claros sorriu.
 Nick os olhou cheio de gratidão e já estava com saudades. Eles se abraçaram e murmuram um último "Boa sorte" a Nick e foram embora, deixando o garoto ainda mais perdido.
 Nick podia estar se sentindo perdido, mas nunca esteve tão determinado em toda sua vida. Ele tinha um objetivo, um foco, que ele mal sabia por onde começar, mas sabia que tinha que tentar. Essa dor não podia durar mais, ele tinha que ter um alívio.
 Nick se encaminhou para fora para pegar o avião que já estava saindo, quando ouviu uma voz que o congelou inteiro por dentro:
 — Nick!
 Ele se virou a tempo de ver sua mãe correndo entre as pessoas do aeroporto, segurando a mão da pequena.
 Nick não sabia o que fazer. Ele simplesmente ficou imóvel enquanto sua mãe se aproximava correndo.
 A sra. Jonas se aproximou do filho, o que fez Nick ficar preocupado. Ah, ela não vai me impedir de ir, pensou Nick. Nada o impediria, ele já deixara aquilo bem claro.
 Ela sorriu, já com os olhos marejados.
 — Você tem que me prometer duas coisas. — ela disse, quase em um sussurro, com a voz embargada e abafada — Que você vai se cuidar muito, e que não vai cometer nenhuma estupidez.
 Nick foi pego de surpresa. Ele esperava que ela gritasse e o arrastasse para casa, louca de raiva por ele ter fugido. Mas não. Isso mostrava nos olhos da sra. Jonas: ela sabia exatamente como seu filho havia crescido, e que ele sabia se cuidar.
 — Eu prometo, mãe. — falou ele, dando um sorriso.
 — E por favor, mantenha contato. — ela balançou a cabeça, as lágrimas não contidas.
 Nick assentiu, pegando nas mãos dela.
 — Vou sentir sua falta. — falou a garotinha, ainda agarrada á mão da mãe.
 Nick se agachou até ficar na altura da irmã.
 — Eu também, baixinha. Sabe de uma coisa? Vou levar você sempre perto do meu coração. — ele sorriu, e a menina lhe deu um beijo carinhoso na testa.
 — Nick, lembre-se do que seu pai sempre exigiu: que você fosse feliz. — a sra. Jonas acariciou o rosto do filho.
 — É por isso que eu vou, mãe. — ele suspirou.
 — Você vai escrever pra gente? — perguntou a menininha.
 — Eu vou escrever muitas cartas! E mandar e-mails também. E você vai ler. Ok?
 A garotinha bateu palmas, excitada com a possibilidade de ler todas as cartas e e-mails. Nick deu um beijo na testa da menina, a saudade já começando a fluir.
 — Nick, eu sei que você vai dar bem, porque você sabe se virar sozinho. Mas também sei que o seu pai vai estar sempre com você, com essa corrente... — ela aponta para o cordão de prata no pescoço de Nick.
 Nick baixou os olhos para ver a corrente. Com certeza, aquilo já se tornava um símbolo sagrado pra ele, aquilo era a lembrança mais vívida do pai. Podia sentir que ele estava ali ao seu lado, lhe dando força e confiança para seguir em frente.
 Nick ouviu as últimas chamadas pro seu voô. Ele rapidamente deu um último abraço na mãe e na menina, pegou sua mochila e deu as costas, se obrigando a não olhar pra trás, para a família que estava deixando na Flórida.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Depois da Chuva - 05

“Somente uma coisa me faria bem agora. Seria adormecer com a cabeça no seu colo, você me dizendo bobagenzinhas gostosas para eu esquecer a ruindade do mundo.” — Clarice Lispector.

   Joe e Jacob continuavam em sua farra particular na casa do amigo. A essa altura, que já era noite, a casa já estava uma bagunça e a grama estava infestada de cervejas e cigarros. Os garotos estavam curtindo e não queriam saber de mais nada.
 Até o telefone tocar.
 Joe se levantou da grama num salto.
 — O telefone está tocando. — ele disse pra Jacob, meio apavorado, mas nem tanto, agora que estava um pouco bêbado.
 — Telefone? — Jacob parecia tentar se lembrar o que era aquilo.
 — É... — Joe vasculhava a bagunça rapidamente. O telefone havia sumido, mas podiam ouvir seus toques.
 — Onde está?
 Joe rolou os olhos pelo gramado. No meio dos escombros de algumas latas de cerveja, estava o telefone.
 — Ali! — ele o pegou, entregando a Jacob.
 O garoto bufou.
 — Só vou atender porque pode ser da escola. — ele pegou mais uma vez o guardanapo, colocando na entrada de som, fazendo sua voz grossa e diferente — Alô, boa noite.
 O garoto deu uma pausa. Em seguida, ele tirou o guardanapo do telefone e falou com sua voz normal, parecendo um tanto aliviado.
 — Ah, oi, ele não está. — ele olhou pra Joe, que não entendia nada — Ele saiu a uns dois dias, quem fala? — ele deu uma pausa e tampou a entrada de som com a mão, se virando para Joe, sussurrando — É uma tal de Olívia Miller, amiga do meu irmão!
 Os olhos dos garotos brilharam. Parecia que estava escrito na testa de Jacob: "Uau, atenção! Mulheres mais velhas!"
 Jacob colocou o telefone no viva-voz.
 — Ah, eu queria ir com ele ao Café Loud, que vai ser inaugurado hoje a tarde. — falou a garota.
 Joe rapidamente pegou o telefone.
 — Não importa, Olívia. O Alexander não está, mas eu estou.
 — E quem é você?
 — Um amigo dele. Mas agora eu estou com outro amigo. — ele olhou para Jacob, sorrindo — Que tal pegarmos você e irmos os quatro? Você tem uma amiga?
 Jacob deu um sorriso malicioso.
 — Tenho, mas... Como vamos reconhecer vocês? — perguntou ela.
 — Ah, nos reconhecer vai ser fácil. Somos os mais bonitos, estamos na moda... E, além disso, temos um carrão. — ele percebeu o olhar confuso de Jacob — E aí?
 — Ér... Pode ser. — Olívia riu do outro lado da linha.
 — Perfeito. Então a gente se vê mais tarde. — ele desligou o telefone.
 Jacob deu um urro. Ele deu um soco no ombro de Joe, sorrindo abobado.
 — Cara, vamos nos dar muito bem! — ele sorriu — Mas espera aí, como nós vamos transformar um táxi num carrão?
 Joe olhou pro amigo como se ele fosse de outro planeta.
 — Jacob, deixa de ser burro, vamos com o carro da sua mãe. — ele deu de ombros, como se o Sr. Óbvio.
 O sorriso de Jacob desapareceu.
 — Não, espera aí, cara, nada disso! — ele repreendeu Joe — Você sabe que eu te apoio em tudo, mas sair com o carro da minha mãe não, ela não vai gostar.
 Joe revirou os olhos.
 — Ninguém vai ficar sabendo...
 — Joe...
 — Vai dar tudo certo! — ele segurou os ombros de Jacob — Eles estão a mais de 500 km daqui.
 A expressão do garoto pareceu não mudar. Aquela ideia o apavorou mais do que tudo.
 — Você avisou os seus pais que eu iria ficar na sua casa, não é?
 — Não, isso não importa. Olha, com todos os amigos que chegam com o meu irmão, meus pais nunca sabem quem está ou quem não está. — ele deu de ombros — Mas tudo bem, você ligou pros seus pais, cara?
 Joe balançou a cabeça.
 — Não. — ele suspirou — Mas depois eu ligo. Vamos nessa? — ele apontou pra piscina.
 Jacob sorriu e tirou a camisa. Os dois pularam de ponta na piscina.

 Isabella e Selena estavam novamente no quarto juntas. Depois de Jayden sair, Selena viu o território livre pra chorar e espernear a vontade. Apesar de ela reconhecer que seu choro não mudaria nada, ela ainda assim estava muito chateada. Contou pra Isabella o que havia acontecido, e a garota também ficara um pouco ressentida com a amiga. Afinal, seriam as primeiras férias que ela passaria com o pai depois de anos.
 Agora as duas estavam na parte de cima do quarto. Selena estava sentada em frente ao espelho largo, passando máscaras no rosto e mais maquiagem para disfarçar que havia chorado. Isabella estava com as mãos no corrimão, olhando pra baixo. Olhando pra porta. Parecia estar contando os segundos pra que alguém entrasse.
 — O que foi, Isabella? — Selena perguntou ao ver a amiga perdida em pensamentos.
 Isabella pareceu "acordar".
 — Nada. — respondeu ela — Mas é que... Eu não gosto de deixar você sozinha. — ela suspirou — A Ava já foi e...
 — Não, a Ava vai ficar fora pouco tempo. — Selena se levantou, indo se colocar ao lado de Isabella — Além disso, não vou ficar sozinha, vou ficar com todo o pessoal do Club de Vacaciones. — ela deu um sorriso.
 Isabella a olhou espantada.
 — Ah, amiga! Os perdedores! — ela diz com certo tom de nojo.
 Selena suspirou.
 — Eu sei. — disse ela, indo até o alto da escada e começando a descê-la para a parte de baixo — Mas lembre-se que eu gosto de transformar as pessoas. Eu gosto que um menino ou uma menina que seja de um jeito, de repente se transforme em alguém como você ou como eu. — ela sorriu — E tem mais, sabe o que eu pensei? Que nessas férias eu vou andar muito com as alunas novas, porque eu vou transformá-la no meu mais novo projeto, e isso leva muito tempo. — ela se virou para olhar Isabella quando já estava na frente de sua cama — Não é?
 Isabella apenas olhava a amiga. Aquele sorriso, aquela animação... Nada daquilo era de verdade. Isabella suspirou, cruzando os braços.
 — Selena, você não me engana. Você acha tudo isso muito legal, mas eu sei que você ta super mal por causa do seu pai.
 Selena encarou Isabella com certo tom de raiva por apenas ter tocado naquele assunto, que já havia lacrado como proibido.
 — Qual pai? — ela trincou os dentes — Eu não tenho nenhum pai.
 Ela se virou para sua mesinha onde havia a foto de Jayden e a abaixou com força.
 — Escuta, Isabella, eu sou uma menina órfã. O que você acha? — ela bufou — Agora vai embora porque estão te esperando. — ela virou a cara e se sentou na cama.
 Isabella olhou para Selena com certa compaixão e graça. Ela sabia fazer seus dramas naquele tipo de ocasião, e isso fazia ser quem ela era. Isabella se sentou ao lado de Selena.
 — Selena, sabe... Eu fui o seu melhor projeto. — ela disse, olhando nos olhos de Selena, enquanto sorria — Eu não existia. Graças a você, todo mundo me conhece. Eu nunca vou ter como te agradecer por isso.
 Selena corou e baixou os olhos, abrindo um sorriso. Mas esse era sincero. Isabella era sua melhor amiga, ela sempre faria de tudo por ela, não importava o que fosse.
 Isabella não era ninguém quando chegou á Yancy. Era discriminada por ser gorda e invisível, e ainda não sabia se vestir. Selena viu ali uma chance pra transformar a garota, mas também viu uma chance de serem amigas. E não deu outra. A amizade das duas era tão forte que os que a percebiam, chegavam a ter inveja.
 — Sabe o que você tem que fazer agora? — Selena falou, mexendo nos cabelos de Isabella — A dieta, mocinha! — as duas riram, pondo-se de pé — Agora vem cá, temos que conversar muito sério! O assunto é aquele, chocolate excessivo.
 — O que? — Isabella pareceu confusa.
 Selena bufou.
 — Sem chocolate, falou? — ela ergueu uma sobrancelha — Agora vai, amiga. E faça uma dieta.
 Isabella riu e se virou para pegar sua mala, já pronta em cima da cama.
 — Ah, e não se vista como uma idiota, pelo amor de Deus! — falou Selena mais uma vez — Agora vamos. Postura, encolha a barriga, desse jeito...
 Selena colocou os braços nos ombros de Isabella enquanto as duas se retiravam do quarto.

 Um carro completamente explêndido e incrível acabava de estacionar á frente dos portões da Yancy. Parecia mais uma limusine, de tão enorme e alto, tanto que vários rostos se viraram para espiar. Naquele momento, haviam muitos carros ali parados e algumas pessoas, a maioria alunos, que se despediam para irem a suas férias de verão.
 Uma mulher, igualmente esbelta, saltou do carro. Ela vestia um vestido preto com sua parte da saia cinza, com um laço preto arrumado. Seus saltos eram enormes e bem caros, e usava um óculos de sol que caía bem em seus cabelos curtos e loiros, seus cachos bem feitos áquela tarde. Era Sophia Jones.
 Ela estava parada á frente da porta do carro ainda aberta, olhando pra dentro com uma expressão impaciente.
 — Vamos, Demi. — disse ela, bufando — Desce de uma vez, filha. Anda!
 Demi a olhou com raiva e desceu do carro a passadas fortes. A garota parecia diferente. Seus cabelos pretos esvoaçantes estavam em cachos muito soltos e ela havia colocado uma lente vermelha. (roupa de Demi) Usava uma bota preta que quase chegava a seus joelhos e na mão estava sua inseparável lata de red bull.
 Sophia a olhou com desaprovação.
 — Justo hoje tinha que aparecer assim, não é, minha filha? — ela suspirou — Não é uma boa imagem pra um colégio.
 Demi deu de ombros.
 — O velho decrépito paga a conta, então... Perfeito, vão ter que me aceitar como sou, se não eu vou embora feliz da vida. — ela tomou um gole da bebida, se sentindo completamente satisfeita.
 Sophia juntou as mãos, parecendo fazer um pedido.
 — Por favor, Demi, faça um esforço. — falou ela — Pelo menos uma vez na sua vida, tem que fazer alguma coisa que não quer.
 — Ok, mas olhe o que eu tenho que fazer! — ela olhou com nojo para os lados — Por favor, mãe, isso parece um jardim de infância. Olha só, tem bebê. Parece que eu vim desfilar de lancheira, isso sim.
 Sophia pareceu confusa e espantada.
 — Mas... Eles tem a mesma idade que você, Demi. — ela disse como se fosse óbvio, e que não fazia o menor sentido as palavras de Demi.
 A garota gargalhou.
 — Haha, física, e não mental. Eu estou a anos-luz deles.
 — Demi, são só dois anos, está bem? — Sophia suspirou — Quando se formar, eu pago uma viagem pelo mundo. Mas agora comporte-se bem, por favor.
 Demi ficou calada, tomando mais goles de sua bebida, como se aquilo a acalmasse. Sophia levantou a mão para acariciar os cabelos de Demi.
 — Demi, eu morro se me separam de você, filha. Eu te amo. — ela disse em tom doce.
 Demi imediatamente se esquivou do toque da mãe, como se aquilo fosse muito errado.
 — Mãe, porque não joga gasolina em mim e acende um fósforo? — irônica, ela trincou os dentes, agora olhando para os lados com preocupação — Se quer me queimar, não precisa me abraçar na frente de toda essa gente, fala sério!
 Sophia tirou os óculos, avaliando Demi com tristeza. Aquela não era a única vez que a filha a esnobava daquele jeito, mas mesmo assim, não era bom.
 — Demi, é que eu... Eu só quero te fazer um carinho, filha. — ela voltou a tentar passar as mãos nos cabelos de Demi, mas a garota se esquivou novamente.
 — Mãe, não faz drama, ok? — ela se aproximou de Sophia, falando mais baixo — Ninguém vai nos separar.

 — Ah, você já viu a aluna nova? — perguntou Selena, apontando na direção de Demi.
 Selena e Isabella já haviam chegado na entrada do colégio, onde esperavam pacientemente a família de Isabella chegar pra buscá-la. Claro que estavam reparando em todos que chegavam, inclusive Selena não parava de olhar para os lados procurando carne nova no pedaço.
 — Tadinha. — Selena disse com um tom de pena — Ela é daquelas que acordam e colocam a primeira roupa que encontram.
 Isabella torceu o nariz, também não parava de encarar Demi.
 — Que horror, não é? — falou ela, com um tom mais para o nojo.
 — Não, Isabella, não é um horror. — Selena agora esboçava um sorriso — Porque assim eu tenho alguma pra fazer. Só que eu acho que eu vou levar o verão inteiro pra transformar essa coitadinha, porque essa é uma missão muito complicada. — ela balançou a cabeça, parecendo já planejar os primeiros passos.
 Isabella parecia não concordar com Selena. Olhava para Demi como se a mesma fosse uma aberração.
 — Você quer dizer missão impossível, não é? — ela murmurou.
 — Não, não. — Selena riu — Pra Selena Gomez, nada é impossível, querida! Vamos.
 Selena pegou na mão de Isabella, e sem mais delongas, as duas já estavam se aproximando de Demi e Sophia, que continuam conversando - ou discutindo - na frente da limusine branca enorme.
 Não pareceram perceber isso, pois quando chegaram até elas, as duas estavam em silêncio.
 — Olá. — cumprimentou Selena com um sorriso simpático, estendendo a mão — Eu sou Selena Gomez. E você?
 Por um minuto, Demi se assustou com Selena aparecendo do nada, parecendo que havia brotado do chão. Olhou para a menina com a mesma carranca de sempre e revirou os olhos, bebendo mais um gole longo da bebida, ignorando completamente a mão estendida de Selena.
 Sophia pareceu corar diante dessa atitude de Demi. Rapidamente, ela agarrou a mão estendida de Selena, vendo que Demi não estava afim.
 — Oi, eu sou Sophia Jones. — falou ela, em um sorriso amigável — Essa é a minha filha Demi. Cumprimente essas meninas lindas, Demi, por favor. — pediu Sophia, entredentes, parecendo suplicar para que Demi fosse um pouco legal.
 Demi olhou para as garotas. Em seguida, deu um sorriso tão forçado que era melhor que nem tivesse sorriso.
 — E aí. — ela disse, e voltou sua atenção para todos os lados.
 Selena não sabia o que dizer. Não era aquilo que ela estava esperando. Nunca havia topado com tal pessoa em toda sua vida, e com certeza não tinha se agradado daquilo. De repente ela estava tremendamente arrependida de ter deixado seu lugar para ir ser simpática com uma troglodita desconhecida.
 — Fica aí conversando com elas que eu vou ver o diretor, ok? — falou Sophia após alguns minutos de silêncio entre as garotas, enquanto Demi continuava olhando para o chão ou para sua latinha, e Selena revia vários jeitos para sair dali sem ser mal educada — Com licença.
 Sophia se retirou para dentro do colégio e Selena parecia meio encurralada. Isabella não dissera uma palavra até agora, parecia horrorizada demais com a situação.
 Finalmente, Selena falou.
 — Olha, me desculpe, mas... Eu não sei, eu acho que a sua mãe não gosta muito de você. — ela murmurou, olhando novamente para Demi dos pés a cabeça com uma expressão ruim — Ela só compra essas roupas feias pra você, não é?
 Demi arqueou uma sobrancelha, como se estivesse surpresa e ao mesmo tempo estava achando graça daquilo.
 — Mas não se preocupe, eu entendo muito de moda. — Selena agora esboçava um sorriso vibrante — Então hoje vamos fazer um ritual. Vamos fazer uma fogueira e queimar todas as roupas feias que você trouxe, e eu tenho roupas novas incríveis, e eu posso te emprestar, assim como eu faço com as outras meninas, é legal.
 Demi assentiu, concordando. Algo dentro dela se segurava ao máximo para não cair na risada.
 — Olha, eu acho que primeiro temos que levá-la ao salão de beleza, porque ela precisa mudar esse visual. — Isabella falou pela primeira vez, olhando principalmente para os cabelos negros de Demi e suas horríveis lentes vermelhas, que tornavam a imagem da garota um tanto bizarra.
 — É, tem razão. — concordou Selena.
 Demi ficou séria, após ter rido muito por dentro. Agora ela já entendia tudo. Já não queria ir parar num ambiente como aquele, se todas as pessoas fossem do jeito que aquelas duas garotas completamente estúpidas á sua frente estavam sendo, ela já queria sair correndo dali imediatamente.
 Ela se aproximou das duas garotas, dando um sorriso sarcástico.
 — Não tanto quanto vocês duas precisam de uma mudança de cérebro. — ela piscou.
 Em seguida, aconteceu algo muito rápido. Demi literalmente enfiou sua latinha de red bull no meio dos seios de Isabella, que com o peso a mais que a garota tinha, quase pulavam pra fora de sua blusa marrom. Isabella deu um berro estridente, chamando a atenção de todos os alunos que se encontravam ali, que começaram a acompanhar a cena.
 — O que é isso! Ta gelado, sua idiota! — gritou Isabella, tirando a lata de seus seios, parecendo com muita raiva.
 Selena parecia chocada.
 — Espera aí, qual é o seu problema? — ela disse, olhando pra Demi.
 — Ué, foi a coisa mais parecida com uma lata de lixo que eu encontrei. Redonda e marrom. — Demi deu de ombros, como se ela não tivesse feito absolutamente nada.
 Isabella arregalou os olhos.
 — Você é uma estúpida! — gritou mais uma vez, agora realmente com raiva.
 Os risos dos alunos em volta eram altos, agora todos acompanhavam a recente discussão entre as meninas.
 — Espera, você não vai falar assim com a minha amiga. — Selena se colocou na frente Isabella, agora começando a sentir uma raiva semelhante.
 Demi levantou as sobrancelhas, como se aquilo fosse um saboroso desafio pra ela.
 — Fica calma, menina, também tem pra você. — ela sorriu e pegou a lata da mão de Isabella.
 Em seguida, Demi virou o líquida da lata no cabelo de Selena. Um choque tremendo pareceu se passar entre os alunos, assim como as risadas, dessa vez mais altas. Selena berrou com urgência. Aquilo nunca a havia acontecido antes, em momento nenhum.
 Selena estava com tanta raiva que seria capaz de explodir. Demi ria ás gargalhadas enquanto ela estava com seu cabelo colando molhado com energético.
 — O que está pensando?! — Selena gritou, tamanha era sua raiva.
 — Tchauzinho, queridas! Foi um prazer conhecer vocês!
 Demi mandou beijinhos no ar para Selena e Isabella e desapareceu para dentro da escola.

 Uma música alta eclodia de dentro do carro onde Joe e Jacob estavam. (a música) Os garotos dirigiam pelas ruas pequenas de Salinas, rindo sem parar de várias histórias que eles faziam questão de relembrar. Não foi difícil achar o Café Loud, não era uma cidade assim tão grande. Era um estabelecimento pequeno com dois andares, onde tinha uma placa enorme indicando o lugar. Haviam mesas do lado de fora e várias do lado de dentro, onde garçons andavam sem parar de um lado pro outro, o que significava que o movimento estava bom.
 Joe estacionou bem na frente do Café, e rapidamente olhou pra cima, onde haviam apenas duas garotas sentadas em uma mesa pequena do lado de fora, olhando pra baixo.
 — Devem ser aquelas ali. — apontou Joe.
 Uma das garotas era alta e magra. Tinha um cabelo curtinho, mal chegando aos ombros, muito loiros, cortados em estilo chanel. (roupa da garota) Seus olhos eram castanhos e ela pareceu reconhecer Joe assim que o carro estacionou. A outra garota tinha os cabelos castanhos avermelhados e encaracolados, e tinha um sorriso gracioso, com algumas pouquíssimas sardas pelo rosto. (roupa)
 Na mesa das duas, haviam cervejas e as duas fumavam cigarros. Pareciam duas mulheres de 30 anos.
 — Cara, elas são mais velhas do que a gente. — comentou Jacob após estacionarem.
 — Tranquilo, cara. — Joe riu — É melhor que sejam mais velhas, não é?
 Jacob riu e concordou. Joe abriu o teto solar do carro, e os dois puseram as cabeças pra fora. As garotas eram realmente lindas.
 — Olívia! — chamou Joe — Sou eu. Joe.
 A loira sorriu pra ele.
 — Olá, Joe. — ela acenou — Vem até aqui, não quer subir?
 — Não, não, vamos dar uma volta enquanto está meio vazio. Depois a gente volta. — Joe deu de ombros, sorrindo — O que acha? Vem.
 As garotas riram.
 — Eles são muito novinhos. — cochichou a garota do cabelo cacheado para Olívia. A garota apenas assentiu e riu mais um pouco — Olha, ele tem um carro lindo, mas eu acho que não.
 — O que foi? — perguntou Joe — Está com medo?
 Joe sorriu malicioso, fazendo Olívia rir ás gargalhadas. Mas olhou pra ele com mais interesse.
 — Eu não tenho medo. — respondeu ela — Meu ex namorado sempre me levava ás corridas.
 Joe bufou.
 — O que está esperando?
 As garotas se olharam e, em seguida, desceram.

 Mal haviam se passado duas horas e todos já estavam completamente bêbados no carro. Pelo visto, o fato de Joe e Jacob serem novinhos demais não afetou em nada para Olívia e sua amiga, já que Joe trocava algumas carícias quentes com Olívia enquanto Jacob enfiava a língua na boca da outra garota. Em certos momentos, os garotos revezavam para ver quem dirigia. Após algumas voltas por lugares da cidade que nunca tinham visto, Joe passou o volante para Jacob e ele e Olívia foram pra trás do carro, onde se engoliam ferozmente e Joe fez questão de tirar o vestido da garota. Jacob e a outra pareciam não perceber, ou não estavam nem aí pra isso.
 Joe deitou a garota no banco do carro e retirou sua camisa de botões, fazendo Olívia apreciar seu físico. Ele retirou-lhe o vestido, e a garota parecia suplicar para que ele continuasse. A garota mesmo retirou sua calcinha, vendo que Joe estava meio devagar com o carro em movimento. Ela retirou a calça de Joe rapidamente com agilidade e massageou seu órgão genital com prazer. Joe beijou Olívia com vontade, abrindo suas pernas e as encaixando em sua cintura enquanto ele a penetrava com força, e a garota gemia em meios aos risos. Jacob bebia mais no banco da frente do carro enquanto Joe transava com Olívia. Ele não sabia como, já que o carro estava em alta velocidade e Jacob não parava de rir com o efeito da bebida.
 Em seguida, Joe passou para o banco da frente no lugar de Jacob, e ele e a outra garota foram pra trás, ficando Joe e Olívia na frente novamente. Os dois estavam suados e riam escandalosamente. Joe pegou algo no bolso e acendeu um isqueiro. Maconha. Ele disse que precisava relaxar.
 Após isso, tudo aconteceu muito rápido.
 Joe parecia não olhar a estrada. Tudo a sua frente ficou nebuloso e embaçado. Quando se deu por si, Joe perdeu o controle do volante e o carro deu um zigue-zague que quase atropelou algumas pessoas na pista. Isso seria o de menos, se o carro ainda não estivesse revirando louco pela estrada. Foi quando Jacob também pareceu acordar.
 — Joe, pare! — o garoto berrou.
 Mas Joe não estava ouvindo. O carro parecia descontrolado. Á frente deles se encontrava uma rua feita inteiramente de cabanas de feiras, e estava lotada de pessoas, e o carro avançava para aquele lado. Joe virava o volante como um maluco tentando parar o carro ou virá-lo em outra direção, mas não conseguia. As garotas agora gritavam apavoradas dentro do carro. Em menos de 2 minutos, eles estavam passando a uma velocidade inacreditável pelas barracas de feira, destruindo que viam pela frente, derrubando alimentos no chão e quase matando umas dezenas de pessoas.
 O carro seguia desgovernado. As pessoas saltavam ao ver que o carro se aproximava deles e destruía tudo que se via pela frente, fazendo o vidro do carro estar cheio de coisas amassadas como melancias e mamões. Joe não enxergava nada, mas tentava como um louco parar o carro.
 Mas, infelizmente, mal vendo as coisas á sua frente, Joe sentiu um baque no peito e os vidro se quebrando a sua frente. De repente ele não enxergava nada. Tudo ficou escuro e ele fechou os olhos, mergulhando na inconsciência.