sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Depois da Chuva - 82

Vai embora, mas leva contigo, todos os sentimentos que eu sinto por você. Não deixe saudade, não quero viver uma vida de lembranças, convivendo dia a dia com a solidão. Quer ir, mais não volta mais, por que o que é verdade não se destrói tão fácil assim, não se vai por motivos tão simples. Quem ama cuida, não deixa partir, quem ama protege, não deixa ir. — Robson Lopes.

  A aula de ética continuava a essa altura, onde o novo professor conhecia os alunos.
 - Eu estive lendo os trabalhos de vocês - disse John -, e li com muita atenção.
 John mordeu os lábios e deu um sorriso sincero, fazendo algumas garotas perderem a fala por alguns segundos. Um garoto do fundo da sala levantou as mãos, com a expressão entediada.
 - E você já deu nota, professor? - perguntou ele.
 - Hmm, não - respondeu John. - Acho que ninguém pode dar nota a um pensamento ou a alguma opinião pessoal - ele bufou. - Teve um em particular... deixa eu ver se encontro - ele remexeu nas folhas em suas mãos - ... que eu gostei muito.
 O sorriso de Selena já era visível.
 - Dá pra notar que foi feito com o coração, com pura paixão... fogo - continuou o professor. - É "A Síndrome do Boneco de Plástico" de Demi Lovato.
 Selena ficou séria no mesmo momento. Mal podia acreditar no que estava ouvindo. Como assim o trabalho de Lovato?! Ela que havia se esforçado tanto. Os cochichos na sala já podiam ser ouvidos.
 John levantou os olhos para olhar Demi no fundo da sala, que agora segurava um sorrisinho sorrateiro nos lábios.
 - Demi... eu notei que você tem uma maneira muito especial de enfrentar as coisas - ele sorriu. - Vem. Chega mais - chamou ela.
 Demi sorriu e se levantou, caminhando até onde o professor se encontrava. Miley balançou a cabeça, agora ficando nervosa. Ela sabia que Demi teria de ler o trabalho na frente da sala, e não iria ser nada bom. A garota estava maluca de fazer aquilo, quem em sã consciência falava mal dos Walker na cara dura? Miley suspirou, e se levantou também, mas saiu da sala, pronta para não enfrentar aquela situação.
 Outro que não estava gostando era Joe Walker, é claro.
 - Eu não venho ao colégio pra escutar trabalhos dos meus colegas! - gritou ele, se levantando, com uma fúria nos olhos tremenda. - Meu pai paga uma fortuna para que vocês, professores, ensinem!
 John ergueu as sobrancelhas para o garoto em pé e Demi o olhava com desprezo.
 - Qual é o seu nome? - perguntou John.
 - Joe! - respondeu.
 - Joe... ás vezes os alunos podem explicar melhor do que os professores - explicou King. - Porque tem a paixão por dentro. Tem a liberdade pra poder se expressar sem pressões - ele sorriu e se voltou para Demi. - Poder ler, Demi. Nós estamos escutando.
 Demi abriu um largo sorriso e abriu seu envelope, revelando seu trabalho. Olhou pra Joe com um olhar de desprezo, que o mesmo se sentou, ainda bufando de raiva. O ódio que estava sentindo podia ser sentido de longe.
 - "Era uma vez um... - começou Demi, em voz alta.
 - Um minuto! - interrompeu o professor, e se virou pra sala. - Eu quero esclarecer que a Demi fez esse trabalho em forma de historinha - deu um sorrisinho de canto.
 - Então não vale! - gritou Joe, mais uma vez, se levantando da carteira. - Você não pediu historinha!
 John o olhou com temerosidade, talvez tentando compreender a expressão e o comportamento do garoto. Em seguida, encheu o rosto com um sorriso.
 - Vale tudo - respondeu ele. - Vale tudo, Joe - ele sorriu. - Ela escolheu o humor, nesse caso. E vai ser uma coisa muito important...
 - Não acho certo! - interrompeu Joe. - Não acho certo!
 John mordeu os lábios, balançando a cabeça.
 - Porque ficou assim? - perguntou. - Por acaso você tem algum problema em particular com o trabalho da Demi?
 Joe hesitou, e encarou por segundos o rosto de Demi, que se segurava em pé pra não rir. Joe engoliu em seco, e revirou os olhos. Todos da sala o encaravam. Por fim, bufou e se sentou:
 - Não - respondeu.
 John revirou os olhos.
 - Então sente-se e escute - ordenou, e encarou Joe. Em seguida, voltou sua atenção para Demi. - Agora sim vamos escutar.
 Demi abriu um grande sorriso, e voltou sua atenção para o trabalho.
 - "Era uma vez uma cidade chamada Falcatruolândia. Quem mandava lá era um político chamado Mister Falcatrua..." - começou Demi, e a turma riu. - "... Ele tinha..."
 - Com licença, professor - Demi foi interrompida pelo diretor Ethan entrando na sala, acompanhado do senhor Walker e seus seguranças.
 John rapidamente se levantou.
 - Apresento seu senhor secretário, Alexander Walker - apresentou Ethan, e John e Alex trocaram apertos de mãos. - É o pai de um dos nossos alunos.
 - Prazer em conhecer - sorriu John.
 - Muito prazer - disse Alex, sério.
 - E com a sua licença, vamos levar o filho dele - disse Ethan, apontando para Joe.
 - Pois não, claro.
 - Vamos lá, Joe - chamou Ethan.
 Joe se levantou, ainda emburrado, e caminhou até o pai na frente da sala, encarando Demi com horrores na mente sobre a garota. A mente dele parecia se desvairar, ele queria muito se vingar, queria muito que Demi se ferrasse naquela hora.
 - Pai - disse Joe, se aproximando do mesmo. - Porque não fica pra escutar? Nossa colega vai ler uma historinha sobre um político, aposto que vai se interessar - apontou pra Demi.
 Demi congelou no mesmo instante. Joe cruzou os braços e se virou para encarar Demi, que havia retirado seu sorriso. Como Joe era capaz de cada coisa.. Alexander juntou as sobrancelhas, confuso, enquanto o diretor Ethan voltava sua atenção ao professor John:
 - Pode me explicar que trabalho é esse que não fiquei sabendo? - sussurrou o diretor.
 John deu um sorrisinho de canto.
 - São os trabalhos de ética, senhor Jones - respondeu.
 Ethan deu um sorrisinho amarelo.
 - Ah sim - disse ele. - Os benditos trabalhos de ética - se voltou para Joe. - Bom Joe, venha conosco, não vamos mais atrapalhar a aula.
 O diretor se retirava da sala, mas Walker o parou.
 - Perdão - disse Alexander, com a voz abafada e a expressão séria. - Mas se o meu filho disse que o tema pode me interessar, eu peço permissão para ficar e escutar.
 Ethan balançou a cabeça, sem nexo.
 - Depois eu consigo uma cópia, senhor secretário, e envio para o senhor com muito prazer...
 - Não - interrompeu Alex. - Eu gostaria de ficar e escutar - olhou para Demi. - Tem algum problema?
 - Não, não - responderam John e Ethan, com sorrisos.
 O diretor não estava entendendo pra lá de nada, mas seguia ordens do secretário. Deus o livre se fosse confrontá-lo.
 - Por favor, traga uma cadeira - pediu ele a um aluno no fundo da classe.
 O garoto de cabelos escuros se levantou e pegou uma cadeira, caminhando até o secretário.
 - Eu posso fumar? - perguntou Alex ao diretor.
 - A vontade - respondeu ele, sorrindo. - O senhor está em casa.
 Depois de um tempo, John voltou a frente da sala, suspirando.
 - Bem, já que estamos todos acomodados... - se virou para Demi. - Comece, Demi. Estamos escutando.
 Mas a garota estava congelando. Demi não sabia expressar o quanto estava nervosa naquele momento. Joe havia conseguido o que queria, e agora? Como ficaria seu trabalho, que foi considerado o melhor da sala? Ela não podia se deixar intimidar porque o grande senhor Walker estava a olhando, pronto a todos os ouvidos pra ouvir o que ela queria dizer.
 - "O p-político... Muito... "
 Suas mãos tremiam. Seus olhos mal olhavam o papel, vagavam pela sala. Principalmente olhavam para a expressão do senhor Walker, que na verdade a olhava sério, com seu cigarro na boca. Demi estava tão nervosa que dava pausas extremas entre 4 palavras. John estava percebendo seu nervosismo, e se aproximou da garota.
 - Tá se sentindo bem? - sussurrou ele.
 Demi olhou em seus olhos, aqueles castanhos chocolate. Se sentia bem por olhar aqueles olhos que eram agradáveis e que pareciam realmente se preocupar com ela. John sentia um afeto pela garota enorme, queria ajudá-la, e se esquecia de que era apenas seu professor. Mas a química entre os dois rolava de forma instantânea.
 Por fim, Demi bufou e ajeitou os ombros:
 - Não, eu to nervosa - respondeu.
 John deu um sorrisinho de canto.
 - Muita gente tem medo de falar em público - disse ele. - E eu espero que seja isso. E não que tenha medo do que escreveu!
 Sua expressão ficou séria, e ele e Demi se encararam por alguns segundos. Ele podia decifrar o que a garota estava sentindo, mas preferia confortá-la. Depois, se virou novamente para a turma.
 - Pessoal! - chamou. - É importante que todos entendam uma coisa: a ética começa por nós mesmos. Sendo fiéis ao que sentimos. - se virou para Ethan - Não é verdade, senhor diretor?
 Ethan largou os ombros, abrindo um sorriso.
 - Com certeza - respondeu. - A ética é um dos valores fundamentais do nosso colégio, alunos.
 - Está vendo? - falou John a Demi. - Vai por um bom caminho. Se sente em condições de continuar?
 Demi suspirou, e abriu um leve sorriso.
 - Sim - respondeu. - Obrigada.
 John trocou um sorriso caloroso com a garota e voltou a se sentar.
 - Continue - falou.
 Demi suspirou, abrindo um enorme sorriso. Parecia mil vezes mais confiante agora do que a 2 minutos.
 - "... O político tinha um filho que brincava o dia todo de ser um homem poderoso, com espada e tudo, como He-Man, o bonequinho de plástico. Mas como era muito preguiçoso trocou a espada pesada por um celular, que também tinha super poderes. Quando estava com problemas, apertava uma tecla e o político, mister Falcatrua, vinha a seu socorro. E foi assim que ele mandou prender um rapaz. Que provas estava pairando sobre sua responsabilidade? O bonequinho abusava de seus super poderes, ele fugiu do colégio, dirigindo sem abilitação. Se embebedou, mentiu e discriminou. Pois não se importava, afinal, a tecla o salvaria mil vezes, já que o mister Falcatrua era mestre na hipocrisia como ninguém. E enquanto que na Falcatrualândia com o celular se consegue impunidade, a ética será o disfarce de muitos de seus funcionários."
 Demi parou de ler, e ergueu os olhos para a sala de aula. Ainda haviam alunos que soltavam risadas, mas também pessoas que olhavam pra ela sem expressão. Demi abriu um sorriso de satisfação e, vagamente, olhou pra Joe na porta da sala, ao lado de seu pai, com a expressão mais séria do que nunca.
 Demi sabia que Joe iria matá-la depois. E sua barriga se revirava ao pensar nisso, mas só por alguns segundos. Ela não se importava mais com o que o garoto iria dizer.
 - Bom, depois continuamos com uma longa investigação, mas basicamente era isso que eu queria que lessem - disse John, abrindo um sorriso e se virando para Demi. - Excelente metáfora de algumas realidades, Demi. Meus parabéns - se virou para a turma. - Acho que merece aplausos, não é mesmo?
 Os alunos se alegraram, e bateram palmas animadamente. Mas o chamou a atenção foi ver Alexander Walker, que ficara sério a leitura inteira, se levantar de sua cadeira e dar um sorriso, batendo palmas. A boca de Joe se abriu, em sinal de extrema surpresa. Como seu pai havia gostado do texto, logo de Demi?
 Demi e Joe se encararam, e não se duvidava que dali com certeza iria sair uma bela guerra.

 O salão de Olívia ia bem, melhor do que antes. A saudades que sentia de Miley afetava seu trabalho, mal podia trabalhar direito. Queria ligar pra garota, saber como estava e tudo mais, pois o último encontro entre as duas na escola não recebeu notícias boas. Se contentava em fazer cabelos e esfriar mais a cabeça antes de fazer loucuras pela sobrinha. Estava alisando um cabelo naquele momento, com os pensamentos em Miley.
 - Agora está bem, Lily. Tá alinhado, muito bem, mas tem que cuidar desse cabelo porque, com tanto alisamento, tá maltratado - disse Olívia, largando a prancha ao lado da cadeira onde se sentava Lily Wrhite.
 - Você não entende - Lily balançou a cabeça. - Eu quero uam mudança. Eu já cansei de ser a mesma - passou as mãos nos cabelos, agora lisos.
 Olívia suspirou e revirou os olhos.
 - Olha aqui, Lily, eu recomendo pra você...
 - Olha só! - gritou uma voz de homem. - Muito boa!
 Olívia olhou pra trás, vendo um homem sorrindo.
 - Muito boa o que? - perguntou.
 - Muito boa tarde - ele respondeu, sorrindo.
 Olívia sorriu.
 - Ah sim.
 - Olha, deixei suas tintas ali - apontou pro balcão.
 - Ah, obrigada - sorriu.
 - Tchau. Se cuida - e se afastou.
 Lily seguiu o homem com os olhos até se afastar e sair do salão.
 - Ele é muito bonito, não é? - disse Olívia. - É muito lindo. Mas sabe de uma coisa? Ele é gay.
 Lily bufou, decepcionada. Olívia voltou a mexer nos cabelos da mulher.
 - Ah, que desperdício - bufou Lily.
 Olívia riu.
 - Olha, como eu estava falando, eu vou te dar um alô - disse ela, pegando um papel - Sua carinha é muito linda, muito bonita, você fica bem de cabelo liso, mas se botarmos um pouquinho de cor, um tonzinho assim, fica bem...
 - Você acha? Não é muito atrevimento? - perguntou ela;
 - Não...
 Olívia se interrompeu ao ouvir o telefone tocar do outro lado do salão, onde pediu licença a Lily e foi ver o telefone rapidamente.
 - Alô, salão da Olívia - atendeu ela, sorrindo.
 Ficou pálida de repente, seu sorriso desaparecendo de seu rosto instantaneamente.
 - O que foi, Miley? - perguntou, já com a voz pesarosa. - Não, não, filha calma... Não, não se preocupe... Ta, eu falo com o diretor, eu vou ligar e vou pedir pra dar permissão pra você sair... Ok Miley, está bem, tenha calma filha...
 Olívia desligou o telefone, agora sim preocupada. Rapidamente, pegou sua agenda e discou o número da escola.

Continua.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Depois da Chuva - 82

Vai embora, mas leva contigo, todos os sentimentos que eu sinto por você. Não deixe saudade, não quero viver uma vida de lembranças, convivendo dia a dia com a solidão. Quer ir, mais não volta mais, por que o que é verdade não se destrói tão fácil assim, não se vai por motivos tão simples. Quem ama cuida, não deixa partir, quem ama protege, não deixa ir. — Robson Lopes.

  A aula de ética continuava a essa altura, onde o novo professor conhecia os alunos.
 - Eu estive lendo os trabalhos de vocês - disse John -, e li com muita atenção.
 John mordeu os lábios e deu um sorriso sincero, fazendo algumas garotas perderem a fala por alguns segundos. Um garoto do fundo da sala levantou as mãos, com a expressão entediada.
 - E você já deu nota, professor? - perguntou ele.
 - Hmm, não - respondeu John. - Acho que ninguém pode dar nota a um pensamento ou a alguma opinião pessoal - ele bufou. - Teve um em particular... deixa eu ver se encontro - ele remexeu nas folhas em suas mãos - ... que eu gostei muito.
 O sorriso de Selena já era visível.
 - Dá pra notar que foi feito com o coração, com pura paixão... fogo - continuou o professor. - É "A Síndrome do Boneco de Plástico" de Demi Lovato.
 Selena ficou séria no mesmo momento. Mal podia acreditar no que estava ouvindo. Como assim o trabalho de Lovato?! Ela que havia se esforçado tanto. Os cochichos na sala já podiam ser ouvidos.
 John levantou os olhos para olhar Demi no fundo da sala, que agora segurava um sorrisinho sorrateiro nos lábios.
 - Demi... eu notei que você tem uma maneira muito especial de enfrentar as coisas - ele sorriu. - Vem. Chega mais - chamou ela.
 Demi sorriu e se levantou, caminhando até onde o professor se encontrava. Miley balançou a cabeça, agora ficando nervosa. Ela sabia que Demi teria de ler o trabalho na frente da sala, e não iria ser nada bom. A garota estava maluca de fazer aquilo, quem em sã consciência falava mal dos Walker na cara dura? Miley suspirou, e se levantou também, mas saiu da sala, pronta para não enfrentar aquela situação.
 Outro que não estava gostando era Joe Walker, é claro.
 - Eu não venho ao colégio pra escutar trabalhos dos meus colegas! - gritou ele, se levantando, com uma fúria nos olhos tremenda. - Meu pai paga uma fortuna para que vocês, professores, ensinem!
 John ergueu as sobrancelhas para o garoto em pé e Demi o olhava com desprezo.
 - Qual é o seu nome? - perguntou John.
 - Joe! - respondeu.
 - Joe... ás vezes os alunos podem explicar melhor do que os professores - explicou King. - Porque tem a paixão por dentro. Tem a liberdade pra poder se expressar sem pressões - ele sorriu e se voltou para Demi. - Poder ler, Demi. Nós estamos escutando.
 Demi abriu um largo sorriso e abriu seu envelope, revelando seu trabalho. Olhou pra Joe com um olhar de desprezo, que o mesmo se sentou, ainda bufando de raiva. O ódio que estava sentindo podia ser sentido de longe.
 - "Era uma vez um... - começou Demi, em voz alta.
 - Um minuto! - interrompeu o professor, e se virou pra sala. - Eu quero esclarecer que a Demi fez esse trabalho em forma de historinha - deu um sorrisinho de canto.
 - Então não vale! - gritou Joe, mais uma vez, se levantando da carteira. - Você não pediu historinha!
 John o olhou com temerosidade, talvez tentando compreender a expressão e o comportamento do garoto. Em seguida, encheu o rosto com um sorriso.
 - Vale tudo - respondeu ele. - Vale tudo, Joe - ele sorriu. - Ela escolheu o humor, nesse caso. E vai ser uma coisa muito important...
 - Não acho certo! - interrompeu Joe. - Não acho certo!
 John mordeu os lábios, balançando a cabeça.
 - Porque ficou assim? - perguntou. - Por acaso você tem algum problema em particular com o trabalho da Demi?
 Joe hesitou, e encarou por segundos o rosto de Demi, que se segurava em pé pra não rir. Joe engoliu em seco, e revirou os olhos. Todos da sala o encaravam. Por fim, bufou e se sentou:
 - Não - respondeu.
 John revirou os olhos.
 - Então sente-se e escute - ordenou, e encarou Joe. Em seguida, voltou sua atenção para Demi. - Agora sim vamos escutar.
 Demi abriu um grande sorriso, e voltou sua atenção para o trabalho.
 - "Era uma vez uma cidade chamada Falcatruolândia. Quem mandava lá era um político chamado Mister Falcatrua..." - começou Demi, e a turma riu. - "... Ele tinha..."
 - Com licença, professor - Demi foi interrompida pelo diretor Ethan entrando na sala, acompanhado do senhor Walker e seus seguranças.
 John rapidamente se levantou.
 - Apresento seu senhor secretário, Alexander Walker - apresentou Ethan, e John e Alex trocaram apertos de mãos. - É o pai de um dos nossos alunos.
 - Prazer em conhecer - sorriu John.
 - Muito prazer - disse Alex, sério.
 - E com a sua licença, vamos levar o filho dele - disse Ethan, apontando para Joe.
 - Pois não, claro.
 - Vamos lá, Joe - chamou Ethan.
 Joe se levantou, ainda emburrado, e caminhou até o pai na frente da sala, encarando Demi com horrores na mente sobre a garota. A mente dele parecia se desvairar, ele queria muito se vingar, queria muito que Demi se ferrasse naquela hora.
 - Pai - disse Joe, se aproximando do mesmo. - Porque não fica pra escutar? Nossa colega vai ler uma historinha sobre um político, aposto que vai se interessar - apontou pra Demi.
 Demi congelou no mesmo instante. Joe cruzou os braços e se virou para encarar Demi, que havia retirado seu sorriso. Como Joe era capaz de cada coisa.. Alexander juntou as sobrancelhas, confuso, enquanto o diretor Ethan voltava sua atenção ao professor John:
 - Pode me explicar que trabalho é esse que não fiquei sabendo? - sussurrou o diretor.
 John deu um sorrisinho de canto.
 - São os trabalhos de ética, senhor Jones - respondeu.
 Ethan deu um sorrisinho amarelo.
 - Ah sim - disse ele. - Os benditos trabalhos de ética - se voltou para Joe. - Bom Joe, venha conosco, não vamos mais atrapalhar a aula.
 O diretor se retirava da sala, mas Walker o parou.
 - Perdão - disse Alexander, com a voz abafada e a expressão séria. - Mas se o meu filho disse que o tema pode me interessar, eu peço permissão para ficar e escutar.
 Ethan balançou a cabeça, sem nexo.
 - Depois eu consigo uma cópia, senhor secretário, e envio para o senhor com muito prazer...
 - Não - interrompeu Alex. - Eu gostaria de ficar e escutar - olhou para Demi. - Tem algum problema?
 - Não, não - responderam John e Ethan, com sorrisos.
 O diretor não estava entendendo pra lá de nada, mas seguia ordens do secretário. Deus o livre se fosse confrontá-lo.
 - Por favor, traga uma cadeira - pediu ele a um aluno no fundo da classe.
 O garoto de cabelos escuros se levantou e pegou uma cadeira, caminhando até o secretário.
 - Eu posso fumar? - perguntou Alex ao diretor.
 - A vontade - respondeu ele, sorrindo. - O senhor está em casa.
 Depois de um tempo, John voltou a frente da sala, suspirando.
 - Bem, já que estamos todos acomodados... - se virou para Demi. - Comece, Demi. Estamos escutando.
 Mas a garota estava congelando. Demi não sabia expressar o quanto estava nervosa naquele momento. Joe havia conseguido o que queria, e agora? Como ficaria seu trabalho, que foi considerado o melhor da sala? Ela não podia se deixar intimidar porque o grande senhor Walker estava a olhando, pronto a todos os ouvidos pra ouvir o que ela queria dizer.
 - "O p-político... Muito... "
 Suas mãos tremiam. Seus olhos mal olhavam o papel, vagavam pela sala. Principalmente olhavam para a expressão do senhor Walker, que na verdade a olhava sério, com seu cigarro na boca. Demi estava tão nervosa que dava pausas extremas entre 4 palavras. John estava percebendo seu nervosismo, e se aproximou da garota.
 - Tá se sentindo bem? - sussurrou ele.
 Demi olhou em seus olhos, aqueles castanhos chocolate. Se sentia bem por olhar aqueles olhos que eram agradáveis e que pareciam realmente se preocupar com ela. John sentia um afeto pela garota enorme, queria ajudá-la, e se esquecia de que era apenas seu professor. Mas a química entre os dois rolava de forma instantânea.
 Por fim, Demi bufou e ajeitou os ombros:
 - Não, eu to nervosa - respondeu.
 John deu um sorrisinho de canto.
 - Muita gente tem medo de falar em público - disse ele. - E eu espero que seja isso. E não que tenha medo do que escreveu!
 Sua expressão ficou séria, e ele e Demi se encararam por alguns segundos. Ele podia decifrar o que a garota estava sentindo, mas preferia confortá-la. Depois, se virou novamente para a turma.
 - Pessoal! - chamou. - É importante que todos entendam uma coisa: a ética começa por nós mesmos. Sendo fiéis ao que sentimos. - se virou para Ethan - Não é verdade, senhor diretor?
 Ethan largou os ombros, abrindo um sorriso.
 - Com certeza - respondeu. - A ética é um dos valores fundamentais do nosso colégio, alunos.
 - Está vendo? - falou John a Demi. - Vai por um bom caminho. Se sente em condições de continuar?
 Demi suspirou, e abriu um leve sorriso.
 - Sim - respondeu. - Obrigada.
 John trocou um sorriso caloroso com a garota e voltou a se sentar.
 - Continue - falou.
 Demi suspirou, abrindo um enorme sorriso. Parecia mil vezes mais confiante agora do que a 2 minutos.
 - "... O político tinha um filho que brincava o dia todo de ser um homem poderoso, com espada e tudo, como He-Man, o bonequinho de plástico. Mas como era muito preguiçoso trocou a espada pesada por um celular, que também tinha super poderes. Quando estava com problemas, apertava uma tecla e o político, mister Falcatrua, vinha a seu socorro. E foi assim que ele mandou prender um rapaz. Que provas estava pairando sobre sua responsabilidade? O bonequinho abusava de seus super poderes, ele fugiu do colégio, dirigindo sem abilitação. Se embebedou, mentiu e discriminou. Pois não se importava, afinal, a tecla o salvaria mil vezes, já que o mister Falcatrua era mestre na hipocrisia como ninguém. E enquanto que na Falcatrualândia com o celular se consegue impunidade, a ética será o disfarce de muitos de seus funcionários."
 Demi parou de ler, e ergueu os olhos para a sala de aula. Ainda haviam alunos que soltavam risadas, mas também pessoas que olhavam pra ela sem expressão. Demi abriu um sorriso de satisfação e, vagamente, olhou pra Joe na porta da sala, ao lado de seu pai, com a expressão mais séria do que nunca.
 Demi sabia que Joe iria matá-la depois. E sua barriga se revirava ao pensar nisso, mas só por alguns segundos. Ela não se importava mais com o que o garoto iria dizer.
 - Bom, depois continuamos com uma longa investigação, mas basicamente era isso que eu queria que lessem - disse John, abrindo um sorriso e se virando para Demi. - Excelente metáfora de algumas realidades, Demi. Meus parabéns - se virou para a turma. - Acho que merece aplausos, não é mesmo?
 Os alunos se alegraram, e bateram palmas animadamente. Mas o chamou a atenção foi ver Alexander Walker, que ficara sério a leitura inteira, se levantar de sua cadeira e dar um sorriso, batendo palmas. A boca de Joe se abriu, em sinal de extrema surpresa. Como seu pai havia gostado do texto, logo de Demi?
 Demi e Joe se encararam, e não se duvidava que dali com certeza iria sair uma bela guerra.

 O salão de Olívia ia bem, melhor do que antes. A saudades que sentia de Miley afetava seu trabalho, mal podia trabalhar direito. Queria ligar pra garota, saber como estava e tudo mais, pois o último encontro entre as duas na escola não recebeu notícias boas. Se contentava em fazer cabelos e esfriar mais a cabeça antes de fazer loucuras pela sobrinha. Estava alisando um cabelo naquele momento, com os pensamentos em Miley.
 - Agora está bem, Lily. Tá alinhado, muito bem, mas tem que cuidar desse cabelo porque, com tanto alisamento, tá maltratado - disse Olívia, largando a prancha ao lado da cadeira onde se sentava Lily Wrhite.
 - Você não entende - Lily balançou a cabeça. - Eu quero uam mudança. Eu já cansei de ser a mesma - passou as mãos nos cabelos, agora lisos.
 Olívia suspirou e revirou os olhos.
 - Olha aqui, Lily, eu recomendo pra você...
 - Olha só! - gritou uma voz de homem. - Muito boa!
 Olívia olhou pra trás, vendo um homem sorrindo.
 - Muito boa o que? - perguntou.
 - Muito boa tarde - ele respondeu, sorrindo.
 Olívia sorriu.
 - Ah sim.
 - Olha, deixei suas tintas ali - apontou pro balcão.
 - Ah, obrigada - sorriu.
 - Tchau. Se cuida - e se afastou.
 Lily seguiu o homem com os olhos até se afastar e sair do salão.
 - Ele é muito bonito, não é? - disse Olívia. - É muito lindo. Mas sabe de uma coisa? Ele é gay.
 Lily bufou, decepcionada. Olívia voltou a mexer nos cabelos da mulher.
 - Ah, que desperdício - bufou Lily.
 Olívia riu.
 - Olha, como eu estava falando, eu vou te dar um alô - disse ela, pegando um papel - Sua carinha é muito linda, muito bonita, você fica bem de cabelo liso, mas se botarmos um pouquinho de cor, um tonzinho assim, fica bem...
 - Você acha? Não é muito atrevimento? - perguntou ela;
 - Não...
 Olívia se interrompeu ao ouvir o telefone tocar do outro lado do salão, onde pediu licença a Lily e foi ver o telefone rapidamente.
 - Alô, salão da Olívia - atendeu ela, sorrindo.
 Ficou pálida de repente, seu sorriso desaparecendo de seu rosto instantaneamente.
 - O que foi, Miley? - perguntou, já com a voz pesarosa. - Não, não, filha calma... Não, não se preocupe... Ta, eu falo com o diretor, eu vou ligar e vou pedir pra dar permissão pra você sair... Ok Miley, está bem, tenha calma filha...
 Olívia desligou o telefone, agora sim preocupada. Rapidamente, pegou sua agenda e discou o número da escola.

Continua.