sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Depois da Chuva - 91.

"Como um sonho que nunca se tornou realidade falta algo e eu quero você, não aguento mais sonhar! Então me dá um mapa ou alguma direção, um jeito de tocar seu coração. Se nesse tempo longe eu não pude esquecer, tudo isso indica que o que eu quero é você! Se mesmo assim você nunca me ouvir, pense nisso tudo que eu te digo aqui, tudo que eu quero é fazer você feliz."


Salão de Olívia, Salinas

 Após a grande confusão, resultou em Demi e Selena sentadas nas cadeiras do salão, em frente ao espelho, esperando por Olívia. Demi achava ridículo o modo como Selena tremia de medo, parecia estar passando por uma gravação de Jogos Mortais. A garota parecia apavorada, literalmente. Não queria que Olívia voltasse nunca. E até agora não havia entendido até onde Demi queria chegar, qual era o plano da garota.
 - Eu não posso continuar com esse jogo, eu não sei se isso tá desinfetado, eu não estou acostumada - sussurrou Selena, olhando para os cremes e produtos na mesinha de vidro á sua frente.
 Demi apenas suspirou, olhando pra Selena com desprezo, vendo Olívia se aproximar delas com uma capa roxa.
 - Vamos botar essa capinha, porque senão vai molhar a sua roupa - disse ela, colocando a capa em volta de Selena.
 A garota tremeu ainda mais.
 - Sabe o que é? É que eu prefiro sem capa - disse Selena, tentando tirar a capa de si.
 - Mas tem que ser com capa - Olívia pôs de volta.
 - Mas é que eu sempre usei sem capa...
 De repente um barulho de buzina começou a ecoar fora do salão. Selena pensou de primeiro que era William, mas ele não buzinaria daquele jeito, ele teria entrado logo, do jeito que estava preocupado. Olívia bufou e revirou os olhos.
 - Espere um instante - disse ela, virando-se para a porta. - Bota a capa! - e saiu.
 Após Olívia sair, Selena se apressou em tirar aquela capa, com uma expressão séria de nojo.
 - Não, sabe de uma coisa, Demi? - falou Sel, se virando para Demi ao seu lado, que estava encarando suas unhas mal feitas. - Eu sinto muito mesmo, mas não vou ficar nesse joguinho.
 - Espera aí! - falou Demi, entendiada.
 - Sinto muito, mas não posso.
 - Calminha! - Demi não estava estressada como Selena, ela estava apenas entediada. E também não podia ficar feliz, já que estava ao lado de Selena, que piorava as coisas em vez de ajudar.
 - Tem um táxi lá fora! - gritou Olívia para as garotas.
 - Ah, é o meu! - gritou Demi de volta, parecendo "acordar" de seu tédio.
 Olívia caminhou até elas.
 - O que eu falo? - perguntou.
 - É o meu, diz pra ele que já pode ir - respondeu Demi, e se virou para Selena. - Você está de carro?
 Selena revirou os olhos.
 - É claro que eu estou de carro!
 - Ah, então pode mandá-lo ir! - disse Demi á Olívia. - E diz que a minha mãe vai pagar, ele sabe de tudo.
 - Ah é? - disse Olívia, levantando as sobrancelhas. Não convivia com aquele tipo de gente, tudo era motivo para surpresa. - Mas tudo bem, por favor, pelo menos isso, né? Ainda bem!
 Olívia deu as costas novamente, dessa vez saindo do salão afim de falar com o taxista. Selena parecia prestes a explodir. Queria sair daquele lugar mais do que nunca, e parecia que se tentasse algum tipo de fuga, Demi a esquartejava. Não sabia nem porque havia topado aquele plano. Opa, ela não havia topado plano nenhum, tudo fora por pressão de Demi. Agora sim Selena queria dar uns belos tapas de novo na garota.
 Selena se levantou da cadeira, de repente decidida a ir embora.
 - Não, chega! - ela se levantou. - Eu vou entrar em pânico, não vou deixar que ninguém toque no meu cabelinho - ela acariciou os cabelos, o que causou uma onda de nojo em Demi. - Só quem me penteia é a minha cabeleireira ou a Miley. Eu não vou deixar...
 - Olha, se você tivesse cuidado da Miley como cuida do seu cabelinho, ela não teria fugido! - interrompeu Demi, se levantando também, ficando de frente com Selena.
 As duas se encararam ferozmente. Com certeza dali sairia uma bela discussão, como sempre. Mas Selena havia se ofendido com a resposta de Demi. Porque ela se considerava sim que cuidava de Miley, que dava a garota privilégios que ela não havia ganhado na vida, isso era algum pecado? Selena se considerava certa na história.
 - A única coisa que eu fiz foi incluir ela no meu grupo! - respondeu Selena.
 - Ah sei, claro, na sua porcaria de grupo. A Miley não aguentou tanta chatice, por isso fugiu!
 - O que ela não aguentou foi ficar no mesmo quarto que você, isso ela não aguentou! - gritou Selena, já ficando com raiva.
 Demi cerrou os olhos, se aproximando mais de Selena, com uma vontade louca de dar um murro naquele rosto mimado e cheio de maquiagem.
 - A única coisa que você quer é transforma-lá numa bonequinha chata como você! - gritou Demi.
 - Eu só quero transformar em uma menina decente, uma menina da sociedade - Selena rangeu os dentes.
 A fúria de Demi subiu, e ela apontou o dedo para Selena.
 - Faço o favor de avisar, Selena, que no momento que a Miley aparecer, eu que vou cuidar dela!
 - Ah é? - Selena levantou as sobrancelhas. - Vamos ver se ela quer ficar com você, primeiro temos que perguntar isso.
 Demi olhou com um nojo extremo para a garota em sua frente.
 - É claro que ela não vai querer ser outras das suas amiguinhas, as escravinhas, nojentas, se toca, garota!
 - Olha a maneira que você fala comigo, das minhas amigas...
 - Ah, cala sua boca!
 E dali a discussão seguiu, em frases que eram impossíveis de se reconhecer de tanto que as garotas gritavam e falavam coisas ao mesmo tempo. E ainda mais que Miley assistia aquilo tudo. Tinha visto tudo, desde que as garotas pisaram no salão. Ela não iria se manifestar de jeito nenhum, não queria que nenhuma das duas a visse, mas ver a discussão e a briga estava piorando tudo. Miley teve que se segurar muito para não sair do gabinete, mas não aguentou por muito tempo.
 Miley havia decidido sair. Se não tomasse uma decisão, as garotas se pegariam ali, no meio do salão, que nem na vez da sala de dança, onde as duas brigaram a tapas. Não podia deixar isso acontecer, também porque odiava ver as duas brigarem. Miley saiu ás pressas quando viu Demi começar a pegar no pulso de Selena.
 - PAREM DE BRIGAR! CHEGA! - gritou ela, fazendo Demi e Selena pararem na hora de falar e olharem pra garota, que pelas roupas, parecia estar mesmo em casa e não ter ido viajar.
 Demi e Selena ficaram imóveis ao ver Miley. Nenhum som saía da boca das duas, e movimento nenhum era feito, apenas ouviam as respirações. A mais surpresa era Selena, pois acreditara na conversa de Olívia, que Miley não estava ali. Demi também estava surpresa, mas logo sumiu, porque sabia que Miley estava ali.
 - Eu fugi porque eu quis, não foi culpa de ninguém - falou Miley, depois de um tempo de silêncio.
 Demi virou o rosto para Selena.
 - Viu? - falou ela. - Eu disse que ela ia aparecer.

Corredor, Upper East Side, Nova York

 Chloe não via a hora de chegar a grande festa organizada por Demi. Não que nunca tivesse ido a uma balada daquelas, mas raramente ia em alguma festa. Seu pai era como um cão de guarda, além de ser o diretor do colégio. Mas Chloe também tinha que inventar desculpas para conseguir se locomover para algum lugar, e tentava pedir dinheiro ao pai naquele momento, enquanto perseguia-o pelos corredores.
 - Não venha com gracinhas, Chloe, não vou te dar nenhum centavo - respondeu o diretor Ethan, já nervoso.
 Chloe bufou, enquanto os dois se aproximavam da sala do diretor.
 - Pai, eu preciso comprar essa blusa, é urgente! - implorou ela.
 - Comprasse roupa na sexta feira! Porque quer tanto esse dinheiro? - perguntou ele quando os dois adentravam na sala.
 - Porque está em oferta, e a oferta acaba hoje, pai.
 - Não tenho dinheiro suficiente para despesas extras, então vai ter que esperar - respondeu Ethan, indo para sua mesa.
 Chloe levantou as sobrancelhas. Tinha que pensar em alguma coisa, precisava de roupas para a festa.
 - Ah, não tem dinheiro? - ela cerrou os olhos, desconfiada. - Pra comprar um carro novo você tem, agora pra que sua filha não pareça uma mendiga você não um centavo! - bateu as mãos nos braços da cadeira, enquanto se sentava na mesma. - Nunca!
 Ethan olhou com raiva para a filha. Não gostava quando a menina tocava no assunto do carro, principalmente porque ele sabia que ela já descobrira a história verdadeira do mesmo. Ele bufou, tentando não se estressar, e se debruçou na mesa, olhando para a garota.
 - Já terminou?
 - Não - respondeu ela, prontamente, de um modo abusado. - E já vou avisando que hoje e amanhã eu vou dormir com as minhas amigas no colégio.
 Chloe deu um sorriso falso e virou de costas, indo para a porta, dando uma última olhada para o pai antes de sair.
 Ethan bufou, encarando as costas da garota enquanto ela se afastava. Por fim, se sentou, passando as mãos nos cabelos.
 - Hailey, Hailey! - disse ele, mencionando o nome de sua esposa. - Que monstro nós fizemos.

Salão de Olívia, Salinas

 Selena ainda não conseguia dizer uma palavra. Ainda fitava Miley, não acreditando que a garota estava mesmo ali. Mas sua maior dor era ter que concordar com Demi. E também concordar que a garota era mesmo esperta e tinha razão. Jamais falaria isso em voz alta, não queria que Demi se vangloriasse. Agora estava mais feliz por ver que Miley estava bem e bem na frente dela, e que poderia levar a garota de volta com ela. Mas não entendia o motivo de a garota querer tanto ficar.
 - Ah, vamos lá, volta pro colégio - insistiu Demi mais uma vez. - Sentimos a sua falta - ela sorriu.
 Selena decidiu falar.
 - Olha, Miley, se você voltar eu prometo que vou te transformar no meu próxima projeto - ela deu um grande sorriso. - O mais importante de todos.
 Demi olhou com desprezo para Selena.
 - Ai, deixa ela em paz! - disse Demi, rangendo os dentes. - Ela vai decidir com quem fica, ok?
 - Não, não! - interrompeu Miley. - Vocês não podem me obrigar a decidir com quem eu devo ficar. Eu não posso. Porque nós três não podemos nos dar super bem?
 Um som de gargalhadas logo ecoou pelo salão. Demi e Selena começaram a rir e a falar coisas sem coerência, apontando uma para a outra. Com falas negativas, é claro. As duas se odiavam, achavam realmente que Miley havia ficado maluca por pensar uma barbaridade dessa.
 - Eu? Com ela? - disse Selena, rindo. - Ah não, querida, eu prefiro lavar o meu cabelo aqui do que ser amiga dela!
 Demi riu mais um pouco, mas logo ficou séria com o comentário de Selena, e a olhou fuzilando-a com os olhos.
 - Shh, quieta! - disse para Selena e se virou para Miley. - Olha, temos que voltar para o colégio, está bem? Vamos! - ela se virou para Selena, sem dar chance de Miley responder. - Vamos no seu carro.
 Selena sorriu.
 - Ah claro, vamos no meu carro... Nós duas! - apontou para Miley. - Você pega um táxi - olhou com nojo para Demi.
 Demi olhou, por um momento pasma para Selena. Não sabia que o nível de egoísmo da garota chegava a esse ponto.
 - Ah claro, por mim não se preocupe, ok? Porque eu já fui vacinada contra a idiotice, então mesmo que eu vá ao seu lado, eu não...
 - Olha, se você quer saber...
 - PAREM, CHEGA! - gritou Miley mais uma vez, interrompendo o começo de uma nova discussão. As garotas pararam e se viraram para Miley. - Eu não entendo como podem ficar discutindo por uma idiotice como essa! Vocês tem tudo! - ela se estressou, encarando as garotas. - Na vida tem coisas muito mais importantes do que quem é que vai dirigir um grupo de dança na escola!
 Miley encarou as duas, que por meio segundo abaixaram a cabeça, ofendidas.
 - Eu sei, estamos perdendo tempo - falou Selena. - Temos coisas muito mais importantes pra fazer. Poderíamos ir ao shopping, ou poderíamos pedir que fizéssemos as unhas num lugar mais bonito onde eu possa te levar, assim você descança as suas mãozinhas - Selena fez um biquinho.
 Miley balançou a cabeça, olhando para Selena como se fosse a criatura mais patética da face da terra. Selena tinha que entender que Miley nunca iria conhecer a vida que levava. Selena era bilionária, tinha todas as coisas a seu alcançe, mordomos, motoristas, jatinhos particulares... A garota vivia uma vida de rainha. Usava as melhores roupas, tinha o melhor estilista do mundo, tinha o melhor tratamento de cabelo, das unhas, tinha o rosto mais lindo que Miley já vira, parecia uma boneca de porcelana. Era popular na escola, popular entre os garotos, tinha todos a seus pés e todos imploravam pela sua amizade e por um mínimo de atenção. Selena era a típica americana perfeita! A mais perfeita.
 E mesmo que Demi fosse diferente, Miley sabia que Demi era igual á Selena. Demi também nunca entenderia. Era filha de uma cantora famosa, portanto Demi também nadava em dinheiro, assim como Selena. Apesar de não demonstrar muito, ela preferia a vida da riqueza. Demi era do tipo de garota largada, rockeira, de mal com ela mesma e com o mundo. Usava roupas pretas e neutras, mas mesmo que andasse largada, ainda assim era uma boneca de luxo. Uma boneca revoltada, mas ainda assim de luxo. Maltratava todos que ela queria, era muito marrenta, e era capaz de lutar por tudo aquilo que quer. Mesmo que seja as míseras coisas. Tinha uma personalidade muito forte e adorava quebrar as regras. Ela amava fazer isso, era seu grande hobby. Vez ou outra estava se arriscando, e era sem medo nenhum. Era uma verdadeira garota rebelde! Talvez a mais rebelde de todas.
 E Miley era apenas uma garota comum. Talvez a mais comum dentre todas. Ninguém nunca iria entendê-la.
 - Quem dera que pudessem conhecer o que é o verdadeiro sofrimento - falou ela, depois de minutos de silêncio. - Pra que assim, vocês pudessem dar mais valor as amigas que tem. Pra poder correr, poder cantar, rir, poder curtir a vida! Mas não, vocês não vão conhecer isso.
 Demi cerrou os olhos, confusa.
 - Espera, tem uma coisa que eu não estou entendendo - disse ela. - Você tem tudo isso, igual a gente. Então a que se refere com sofrimento de verdade?
 Miley bufou e baixou os olhos. Uma hora tinha que deixar que outras entrassem em sua vida para conhecê-la melhor, para que possam a entendê-la. Se queria deixar que outras pessoas a entendessem, tinha que abrir as portas para isso.
 - Venham comigo.
 Dito isso, Miley deu as costas e seguiu para o gabinete do salão, ouvindo passos atrás de si, indicando que as garotas estavam atrás dela. Enquanto isso, Olívia se escondia atrás da pilasta, olhando Miley e as amigas. E sorrindo boba consigo mesma.

Área abandonada, próximo a Upper East Side, Nova York

 Madison não apoiou muito á ideia de Demi querer ir atrás de Miley, já que a garota não ia nem um pouco com a cara da garota. Mas como sabia que Demi era teimosa, nem questionou muito e acabou concordando. No quarto, a garota agradecia a Deus por já ser sexta feira e rapidamente se lembrou de Samuel, na área abandonada próxima a escola. Rapidamente, ela pegou todas as sacolas enviadas pela mãe de Demi e seguiu pra lá, afim de fazer alguém sorrir hoje, e ninguém melhor do que Samuel.
 Ao chegar lá, entrou no caminhão, e reparou a boa limpeza que ele e Demi haviam feito. Ao ver as sacolas, os olhos de Samuel brilharam como nunca haviam brilhado antes.
 - É sério que tá me dando tudo isso? - disse ele, remexendo em todas as sacolas.
 Madison sorriu.
 - Eu não, tá pensando o que? - ela riu, ajudando o garoto a desembrulhar vários brinquedos. - Foi a Demi, só que ela não pôde vir. Olha isso! - ela pegou um rádio.
 Samuel arregalou os olhos.
 - Um rádio gravador! - ele pegou nas mãos, como se pegasse ouro.
 - É super legal, aqui você liga e aqui você aumenta o volume com esse botão - ela apontava os seguintes botões ao garoto. - Viu?
 - Legal! - ele gritou, sorridente. - É super legal. Eu nunca tinha ganhado tanta coisa na vida, Madison! Olha isso! - ele pegou um carrinho.
 Madison olhava para o garoto. Olhava para o sorriso dele. Seu coração começou a ganhar um novo sentimento, a garota começara a ficar feliz. A felicidade de Samuel naquele momento a contagiava também, porque de qualquer forma ela se identificava com o garoto. Madison havia saído de um orfanato. Ela nunca havia ganhado presentes na vida, nunca havia conhecido seus pais, ninguém nunca a havia adotado. Madison viveu solitária por sua vida até hoje com 16 anos. A garota dos cabelos castanhos sabia exatamente o significado da palavra solidão e sofrimento. Ela havia vivido sua vida inteira em um abrigo, tendo que ser obrigada a trabalhar duro para conseguir comida e não tinha lá muitos amigos. Samuel se encontrava na mesma que ela. O garoto havia sido abandonado na rua após seu irmão ter sido preso por culpa de Joe. A garota não desejava o que ela passou a ninguém, muito menos a Samuel, que era um garoto cheio de energia e experiências novas pela longa vida que ainda tinha pela frente. Ela lutaria com forças e dentes para manter o garoto uma vida boa, mesmo que fosse da mais simples forma possível. Madison iria cuidar dele, já decidira isso dentro de si. Não deixaria mal nenhum chegar á Samuel.
 O garoto percebera a expressão de Madison mudar e a garota ficar mais séria.
 - O que é? - disse Samuel, tirando Madison de seus pensamentos. - O que você tem?
 - Não, nada - ela respondeu, sorrindo forçado. - É que... É que eu me lembrei de quando eu era criança. Eu sonhava que alguém me desse alguma coisa - ela riu, completamente forçado. Parecia que queria chorar.
 Samuel ficou confuso.
 - E aí? Os seus pais não te davam brinquedos?
 - Não, é que... Eu nunca conheci os meus pais - respondeu Madison, baixando os olhos. - Eu fui criada no orfanato, sabia?
 A expressão de Samuel foi surpreendente, o garoto torceu o nariz, em sinal de nojo e ao mesmo tempo medo.
 - Ui, meu irmão disse que orfanato é ruim!
 - Bom, nem todos. Mas eu não tive muita sorte e caí no pior - deu de ombros. - Por isso eu tive que bancar a forte, pra poder aguentar. E não tem ninguém que cuide de mim.
 Samuel ficou novamente confuso.
 - Então quem paga a sua escola? - perguntou.
 - Como é que eu vou saber quem paga a minha escola? - ela deu de ombros. - É isso que me dá raiva, tem alguém me sustentando e eu não sei quem é! Já tentei várias vezes entrar na direção pra investigar. Mas eu não consigo roubar aqueles papéis.
 Samuel sorriu.
 - Ah, eu roubo e trago pra você - ele deu de ombros.
 - Nem em sonho, você não vai roubar nada!
 - Ah, o problema é que você já está velha e...
 - Como velha?! - disse Madison, de repente se pegando em uma risada.
 Samuel riu.
 - As mulheres não sabem roubar nada!
 Madison balançou a cabeça, ainda sorrindo.
 - A única coisa que você tem que fazer é ficar aqui, bem quietinho. Pra que ninguém veja você.
 Samuel revirou os olhos.

Casa de Miley, Salinas

 Miley levou as garotas até um terraço, onde puderam ver, em um tipo de cerquinha preta, uma garotinha sentada, rodeada de brinquedos. Miley queria que vissem Abigail, por algum motivo. A garotinha dos cabelos castanhos claros brincava com uma boneca, sorrindo sozinha, parecendo por alguns momentos conversar com o brinquedo. Selena e Demi olhavam aquela cena, uma parte não estavam entendendo nada.
 - Vem cá, qual é o problema da sua irmãzinha? - perguntou Demi, apontando principalmente para as cercas ao lado da menina.
 - Ela tem síndrome de down - respondeu Miley, colocando as mãos no bolso. - Bom, eu imagino que vocês saibam o que é isso.
 - Eu sei, claro - respondeu Selena, não tirando os olhos da menina.
 - Sei sim. Mais conhecidos como mongolóides, não é? - disse Demi.
 Selena se virou para a garota, arregalando os olhos, pasma. Como Demi não tinha um desconfiômetro?
 - Demi, como pode ser tão idiota?! - falou Selena.
 Demi ficou com uma expressão apática.
 - Foi mal, desculpa - sussurrou ela, voltando a encarar a menina.
 - Tudo bem, não tem problema - disse Miley, parecendo entediada. - É verdade, eles são chamados assim. São pessoas diferentes. Ás vezes elas dão um pouco de trabalho para entender as coisas, mas a Abigail entende.
 Demi deu um grande sorriso, e logo foi se aproximando com ousadia da cerca onde a menina brincava.
 - Oi, Abigail! - gritou ela, sorrindo. - Você também gosta de se fazer de bobinha, não é? - ela abriu a cerca, entrando nela.
 Miley e Selena foram pra ver o que Demi fazia.
 - Demi, pára! - gritou Selena, com medo de que Demi fizesse alguma besteira.
 - Tudo bem, relaxa - Miley acalmou Selena.
 Demi se abaixou, até ficar na altura da menina, que se encontrava sentada, agora vendo um álbum de fotos.
 - Ela fica o dia todo com esse álbum, enchendo de fotos e vendo televisão - comentou Miley, sorrindo ao olhar a irmã. - Não é verdade? Demi, tem até uma foto da sua mãe aí!
 - Não acredito! - Demi riu, pegando uma foto de sua mãe, Emma. - Abigail, você tem muito mal gosto!
 - Não - disse Abigail, de repente numa tentativa de sorrir.
 Demi virou-se para Miley, abrindo um grande sorriso após ouvir a menina falar.
 - Ela não gosta que falem mal dos artistas dela - riu Miley.
 Demi riu novamente, achando aquilo completamente incrível.
 - Ah não! - ela exclamou, pegando uma revista que estava o lado de Abigail. - Aqui diz que a minha mãe tem seios naturais?
 - O que são seios? - perguntou Abigail.
 Risadas ecoaram pelo térreo, enquanto Miley e Demi riam sem parar da situação. Demi nunca tinha tido contato com pessoas como Abigail, e estava adorando a experiência. Não eram apenas "mongolóides" como ela os via.
 - Que legal, ela entende tudo o que a gente fala! - falou Demi, completamente maravilhada.
 Miley sorriu e se desencostou da cerca.
 - Bem, eu vou trazer alguma coisa pra vocês beberem - falou ela, descendo as escadas e voltando para dentro da casa simples.
 Finalmente Selena se sentiu capaz de chegar perto da pequena cerca, e pôde ver a menina de perto. Também ficou maravilhada, mas não demonstrou tanto quanto Demi. E ainda pôde ver a garota ainda falar com Abigail.
 - Então me diz - continuou Demi, se sentando ao lado da garotinha. - É verdade que você vê as coisas diferente?
 Selena se irritou.
 - Demi, a visão dela é igual a sua, não implica!
 - Shh! - falou Demi. - Eu não estou falando com você! - se voltou para Abigail. - Vem cá, lindinha.
 Demi foi para o lado de Abigail, tentando fazer com que a garotinha se levantasse. A menina dizia "Não, não" várias vezes, e Selena também tentava fazer com que Demi parasse e deixasse a menina quieta. Quando Miley chegou com a bandeja com 3 copos de suco, Selena já estava super estressada.
 - Olha só, Miley! - disse Selena, apontando para Demi.
 Miley encarou Demi por um tempo, um misto de que não estava entendendo o que a garota tentava fazer com sua irmã, mas que também não estava gostando, seja lá o que fosse. Demi bufou e se levantou.
 - Eu só quero mostrar que a sua irmã pode fazer as coisas por ela mesma! - explicou-se ela.
 Miley balançou a cabeça. Aquilo causou impactos fortes dentro dela. Mesmo que ela tivesse aberto as portas para outras pessoas conhecerem sua vida, eles ainda não a entendiam. E nunca iriam entender, ela acabara de ter certeza. Abigail não era uma pessoa "normal", ela tinha mais dificuldades. Demi tinha que entender isso, e estava querendo reverter situações irreversíveis. Miley bufou e afastou esses pensamentos.
 - Vocês querem suco? - perguntou ela, estendendo a bandeja.
 - Eu quero! - Selena sorriu, pegando o suco.
 - Eu não, obrigada - Demi revirou os olhos. - Miley, porque você não volta pra escola? É muito importante que você não pare de estudar. E sua irmã é mais inteligente do que nós três juntas, é sério.
 Um silêncio de alguns segundos se formou no trio das garotas, cada uma analisando o que Demi havia dito.
 - É, isso é verdade - concordou Selena. - Nisso essa morta de fome tem razão - Selena olhou para Demi com desdém. - Vou te dizer uma coisa, Miley: a sua irmã está muito bem. A sua irmã não tem nada, é só uma anjinha. E você vai ficar muito bem, mas estudando, meu amor, por isso é melhor você voltar pra escola! Além disso, viajei por 3 horas, não é a toa que eu vim aqui.
 Miley deu um sorriso fraco, enquanto via Demi brincar mais uma vez com Abigail. Não sabia se devia realmente voltar, mas ela sabia, bem lá no fundo, que não deveria parar de estudar. Isso iria piorar as coisas. Sabia que sua irmã estava bem, mas queria estar com ela o tempo todo, e sabia que devia vencer isso pra poder viver. Era isso, ela precisava viver. Sua cabeça traziam várias ideias, mas tinha que, pela primeira vez, escolher pela razão. Deixar a emoção de lado.
 - Então, o que me diz? - perguntou Selena.
 Miley mordeu os lábios... E logo deu um sorriso. Selena arregalou os olhos, e logo cutucou Demi.
 - Demi, presta atenção! - ela praticamente bateu em Demi, fazendo a garota olhar para Miley. - Você vai voltar.
 - Eu vou voltar! - respondeu Miley.

Sala de jogos, Upper East Side, Nova York

 Chloe não iria desistir fácil de conseguir comprar a roupa que queria. Queria ficar irresistível, afinal também, ela e Jacob tinham uma farsa. Queria que todos da escola pensassem que eles eram o casal mais perfeito do UES. Poderia ser o maior caô, e era mesmo, mas quando ela queria ajudar, era pra ser bem feito. Além de que ela sempre teve uma queda pelo Jacob, mesmo se fosse a mínima possível. Já acreditara em uma época que realmente Jacob queria ter mais algo com ela, mas descobrira que foi uma farsa. Águas passadas, era o que Chloe pensava. E agora que se dava bem com o garoto, queria ajudá-lo, mesmo que estivesse sendo usada.
 Ela pisou na sala de jogos, e o viu de primeiro na mesa de sinuca. Haviam poucas pessoas ali, e Jacob só empilhava as bolas, distraído. Lindo!, pensou Chloe. Ela ajeitou os cabelos e o uniforme e chegou perto do garoto, começando uma conversa.
 - Eu já falei com o meu pai e está tudo pronto pra gente ir á festa - falou ela, depois de alguns minutos.
 Jacob mordeu os lábios e sorriu para a garota, fazendo Chloe tremer por alguns minutos. Jacob era tão bonito quanto Joe, o que fazia ele ser uma segunda opção para as garotas, quando eram rejeitadas por Joe.
 - Ah, que legal! - ele deu um sorriso forçado.
 Chloe ficou séria. Sorriso forçado? Ela havia percebido isso, e depois Jacob voltou a se concentrar nas bolas.
 - Qual o problema? - perguntou ela.
 Ele se voltou para ela.
 - Nada não - respondeu ele. - Acontece que a gente não vai poder ir junto ao Inferno. Foi mal.
 Chloe ficou sem fala. Mais uma vez Jacob ficava com mais uma dessas para cima dela. Mais uma vez ele a rejeitara.
 - O que?! - ela disse pasma.
 - O que foi? - disse ele, distraído.
 - Esqueceu que eu sou seu álibi? - ela disse, como se fosse óbvio. - Esqueceu que todos pensam que nós estamos ficando?
 - Eu sei, acontece que eu não vou precisar de você - ele ergueu as sobrancelhas. - É sério, o Joe me pediu pra cuidar da Emily, e...
 Jacob parou de falar ao ver os olhos de Chloe baixarem. Ele já havia magoado a garota uma vez, mas não pensava que ela se magoaria de novo. Jacob também era o maior galinha da escola, e todas sabiam disso, mas como dizem que mulher gosta de sofrer, todas voltavam á ele se e abrisse as portas. Isso acontecia frequentemente com Jacob, mas não tanto quanto acontecia com Joe. Mas enfim, por um momento ele se sentiu culpado.
 - Você está chateada? - perguntou ele.
 Chloe olhou pra ele e deu um sorriso de canto.
 - Não, não - respondeu ela. - Não tem problema, sério.
 Jacob abriu um grande sorriso e botou o rosto da garota entre suas mãos.
 - Muito obrigado! - ele falou. - Você me fez um favorzão de qualquer maneira.
 Jacob envolveu Chloe pela cintura e a abraçou em um abraço carinhoso, o que fez a garota tremer. Logo se afastou e deu um beijo em sua bochecha, saindo da sala de jogos. Chloe fechou os olhos para não se desconcentrar. Não sabia ao certo o que sentia por Jacob ainda, na verdade nunca soube. Só sabia que seu coração perdia o compasso ao chegar perto do garoto. E o pior é que ela sabia que ele não valia a pena. Sabia perfeitamente.
Continua.

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sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Depois da Chuva - 91.

"Como um sonho que nunca se tornou realidade falta algo e eu quero você, não aguento mais sonhar! Então me dá um mapa ou alguma direção, um jeito de tocar seu coração. Se nesse tempo longe eu não pude esquecer, tudo isso indica que o que eu quero é você! Se mesmo assim você nunca me ouvir, pense nisso tudo que eu te digo aqui, tudo que eu quero é fazer você feliz."


Salão de Olívia, Salinas

 Após a grande confusão, resultou em Demi e Selena sentadas nas cadeiras do salão, em frente ao espelho, esperando por Olívia. Demi achava ridículo o modo como Selena tremia de medo, parecia estar passando por uma gravação de Jogos Mortais. A garota parecia apavorada, literalmente. Não queria que Olívia voltasse nunca. E até agora não havia entendido até onde Demi queria chegar, qual era o plano da garota.
 - Eu não posso continuar com esse jogo, eu não sei se isso tá desinfetado, eu não estou acostumada - sussurrou Selena, olhando para os cremes e produtos na mesinha de vidro á sua frente.
 Demi apenas suspirou, olhando pra Selena com desprezo, vendo Olívia se aproximar delas com uma capa roxa.
 - Vamos botar essa capinha, porque senão vai molhar a sua roupa - disse ela, colocando a capa em volta de Selena.
 A garota tremeu ainda mais.
 - Sabe o que é? É que eu prefiro sem capa - disse Selena, tentando tirar a capa de si.
 - Mas tem que ser com capa - Olívia pôs de volta.
 - Mas é que eu sempre usei sem capa...
 De repente um barulho de buzina começou a ecoar fora do salão. Selena pensou de primeiro que era William, mas ele não buzinaria daquele jeito, ele teria entrado logo, do jeito que estava preocupado. Olívia bufou e revirou os olhos.
 - Espere um instante - disse ela, virando-se para a porta. - Bota a capa! - e saiu.
 Após Olívia sair, Selena se apressou em tirar aquela capa, com uma expressão séria de nojo.
 - Não, sabe de uma coisa, Demi? - falou Sel, se virando para Demi ao seu lado, que estava encarando suas unhas mal feitas. - Eu sinto muito mesmo, mas não vou ficar nesse joguinho.
 - Espera aí! - falou Demi, entendiada.
 - Sinto muito, mas não posso.
 - Calminha! - Demi não estava estressada como Selena, ela estava apenas entediada. E também não podia ficar feliz, já que estava ao lado de Selena, que piorava as coisas em vez de ajudar.
 - Tem um táxi lá fora! - gritou Olívia para as garotas.
 - Ah, é o meu! - gritou Demi de volta, parecendo "acordar" de seu tédio.
 Olívia caminhou até elas.
 - O que eu falo? - perguntou.
 - É o meu, diz pra ele que já pode ir - respondeu Demi, e se virou para Selena. - Você está de carro?
 Selena revirou os olhos.
 - É claro que eu estou de carro!
 - Ah, então pode mandá-lo ir! - disse Demi á Olívia. - E diz que a minha mãe vai pagar, ele sabe de tudo.
 - Ah é? - disse Olívia, levantando as sobrancelhas. Não convivia com aquele tipo de gente, tudo era motivo para surpresa. - Mas tudo bem, por favor, pelo menos isso, né? Ainda bem!
 Olívia deu as costas novamente, dessa vez saindo do salão afim de falar com o taxista. Selena parecia prestes a explodir. Queria sair daquele lugar mais do que nunca, e parecia que se tentasse algum tipo de fuga, Demi a esquartejava. Não sabia nem porque havia topado aquele plano. Opa, ela não havia topado plano nenhum, tudo fora por pressão de Demi. Agora sim Selena queria dar uns belos tapas de novo na garota.
 Selena se levantou da cadeira, de repente decidida a ir embora.
 - Não, chega! - ela se levantou. - Eu vou entrar em pânico, não vou deixar que ninguém toque no meu cabelinho - ela acariciou os cabelos, o que causou uma onda de nojo em Demi. - Só quem me penteia é a minha cabeleireira ou a Miley. Eu não vou deixar...
 - Olha, se você tivesse cuidado da Miley como cuida do seu cabelinho, ela não teria fugido! - interrompeu Demi, se levantando também, ficando de frente com Selena.
 As duas se encararam ferozmente. Com certeza dali sairia uma bela discussão, como sempre. Mas Selena havia se ofendido com a resposta de Demi. Porque ela se considerava sim que cuidava de Miley, que dava a garota privilégios que ela não havia ganhado na vida, isso era algum pecado? Selena se considerava certa na história.
 - A única coisa que eu fiz foi incluir ela no meu grupo! - respondeu Selena.
 - Ah sei, claro, na sua porcaria de grupo. A Miley não aguentou tanta chatice, por isso fugiu!
 - O que ela não aguentou foi ficar no mesmo quarto que você, isso ela não aguentou! - gritou Selena, já ficando com raiva.
 Demi cerrou os olhos, se aproximando mais de Selena, com uma vontade louca de dar um murro naquele rosto mimado e cheio de maquiagem.
 - A única coisa que você quer é transforma-lá numa bonequinha chata como você! - gritou Demi.
 - Eu só quero transformar em uma menina decente, uma menina da sociedade - Selena rangeu os dentes.
 A fúria de Demi subiu, e ela apontou o dedo para Selena.
 - Faço o favor de avisar, Selena, que no momento que a Miley aparecer, eu que vou cuidar dela!
 - Ah é? - Selena levantou as sobrancelhas. - Vamos ver se ela quer ficar com você, primeiro temos que perguntar isso.
 Demi olhou com um nojo extremo para a garota em sua frente.
 - É claro que ela não vai querer ser outras das suas amiguinhas, as escravinhas, nojentas, se toca, garota!
 - Olha a maneira que você fala comigo, das minhas amigas...
 - Ah, cala sua boca!
 E dali a discussão seguiu, em frases que eram impossíveis de se reconhecer de tanto que as garotas gritavam e falavam coisas ao mesmo tempo. E ainda mais que Miley assistia aquilo tudo. Tinha visto tudo, desde que as garotas pisaram no salão. Ela não iria se manifestar de jeito nenhum, não queria que nenhuma das duas a visse, mas ver a discussão e a briga estava piorando tudo. Miley teve que se segurar muito para não sair do gabinete, mas não aguentou por muito tempo.
 Miley havia decidido sair. Se não tomasse uma decisão, as garotas se pegariam ali, no meio do salão, que nem na vez da sala de dança, onde as duas brigaram a tapas. Não podia deixar isso acontecer, também porque odiava ver as duas brigarem. Miley saiu ás pressas quando viu Demi começar a pegar no pulso de Selena.
 - PAREM DE BRIGAR! CHEGA! - gritou ela, fazendo Demi e Selena pararem na hora de falar e olharem pra garota, que pelas roupas, parecia estar mesmo em casa e não ter ido viajar.
 Demi e Selena ficaram imóveis ao ver Miley. Nenhum som saía da boca das duas, e movimento nenhum era feito, apenas ouviam as respirações. A mais surpresa era Selena, pois acreditara na conversa de Olívia, que Miley não estava ali. Demi também estava surpresa, mas logo sumiu, porque sabia que Miley estava ali.
 - Eu fugi porque eu quis, não foi culpa de ninguém - falou Miley, depois de um tempo de silêncio.
 Demi virou o rosto para Selena.
 - Viu? - falou ela. - Eu disse que ela ia aparecer.

Corredor, Upper East Side, Nova York

 Chloe não via a hora de chegar a grande festa organizada por Demi. Não que nunca tivesse ido a uma balada daquelas, mas raramente ia em alguma festa. Seu pai era como um cão de guarda, além de ser o diretor do colégio. Mas Chloe também tinha que inventar desculpas para conseguir se locomover para algum lugar, e tentava pedir dinheiro ao pai naquele momento, enquanto perseguia-o pelos corredores.
 - Não venha com gracinhas, Chloe, não vou te dar nenhum centavo - respondeu o diretor Ethan, já nervoso.
 Chloe bufou, enquanto os dois se aproximavam da sala do diretor.
 - Pai, eu preciso comprar essa blusa, é urgente! - implorou ela.
 - Comprasse roupa na sexta feira! Porque quer tanto esse dinheiro? - perguntou ele quando os dois adentravam na sala.
 - Porque está em oferta, e a oferta acaba hoje, pai.
 - Não tenho dinheiro suficiente para despesas extras, então vai ter que esperar - respondeu Ethan, indo para sua mesa.
 Chloe levantou as sobrancelhas. Tinha que pensar em alguma coisa, precisava de roupas para a festa.
 - Ah, não tem dinheiro? - ela cerrou os olhos, desconfiada. - Pra comprar um carro novo você tem, agora pra que sua filha não pareça uma mendiga você não um centavo! - bateu as mãos nos braços da cadeira, enquanto se sentava na mesma. - Nunca!
 Ethan olhou com raiva para a filha. Não gostava quando a menina tocava no assunto do carro, principalmente porque ele sabia que ela já descobrira a história verdadeira do mesmo. Ele bufou, tentando não se estressar, e se debruçou na mesa, olhando para a garota.
 - Já terminou?
 - Não - respondeu ela, prontamente, de um modo abusado. - E já vou avisando que hoje e amanhã eu vou dormir com as minhas amigas no colégio.
 Chloe deu um sorriso falso e virou de costas, indo para a porta, dando uma última olhada para o pai antes de sair.
 Ethan bufou, encarando as costas da garota enquanto ela se afastava. Por fim, se sentou, passando as mãos nos cabelos.
 - Hailey, Hailey! - disse ele, mencionando o nome de sua esposa. - Que monstro nós fizemos.

Salão de Olívia, Salinas

 Selena ainda não conseguia dizer uma palavra. Ainda fitava Miley, não acreditando que a garota estava mesmo ali. Mas sua maior dor era ter que concordar com Demi. E também concordar que a garota era mesmo esperta e tinha razão. Jamais falaria isso em voz alta, não queria que Demi se vangloriasse. Agora estava mais feliz por ver que Miley estava bem e bem na frente dela, e que poderia levar a garota de volta com ela. Mas não entendia o motivo de a garota querer tanto ficar.
 - Ah, vamos lá, volta pro colégio - insistiu Demi mais uma vez. - Sentimos a sua falta - ela sorriu.
 Selena decidiu falar.
 - Olha, Miley, se você voltar eu prometo que vou te transformar no meu próxima projeto - ela deu um grande sorriso. - O mais importante de todos.
 Demi olhou com desprezo para Selena.
 - Ai, deixa ela em paz! - disse Demi, rangendo os dentes. - Ela vai decidir com quem fica, ok?
 - Não, não! - interrompeu Miley. - Vocês não podem me obrigar a decidir com quem eu devo ficar. Eu não posso. Porque nós três não podemos nos dar super bem?
 Um som de gargalhadas logo ecoou pelo salão. Demi e Selena começaram a rir e a falar coisas sem coerência, apontando uma para a outra. Com falas negativas, é claro. As duas se odiavam, achavam realmente que Miley havia ficado maluca por pensar uma barbaridade dessa.
 - Eu? Com ela? - disse Selena, rindo. - Ah não, querida, eu prefiro lavar o meu cabelo aqui do que ser amiga dela!
 Demi riu mais um pouco, mas logo ficou séria com o comentário de Selena, e a olhou fuzilando-a com os olhos.
 - Shh, quieta! - disse para Selena e se virou para Miley. - Olha, temos que voltar para o colégio, está bem? Vamos! - ela se virou para Selena, sem dar chance de Miley responder. - Vamos no seu carro.
 Selena sorriu.
 - Ah claro, vamos no meu carro... Nós duas! - apontou para Miley. - Você pega um táxi - olhou com nojo para Demi.
 Demi olhou, por um momento pasma para Selena. Não sabia que o nível de egoísmo da garota chegava a esse ponto.
 - Ah claro, por mim não se preocupe, ok? Porque eu já fui vacinada contra a idiotice, então mesmo que eu vá ao seu lado, eu não...
 - Olha, se você quer saber...
 - PAREM, CHEGA! - gritou Miley mais uma vez, interrompendo o começo de uma nova discussão. As garotas pararam e se viraram para Miley. - Eu não entendo como podem ficar discutindo por uma idiotice como essa! Vocês tem tudo! - ela se estressou, encarando as garotas. - Na vida tem coisas muito mais importantes do que quem é que vai dirigir um grupo de dança na escola!
 Miley encarou as duas, que por meio segundo abaixaram a cabeça, ofendidas.
 - Eu sei, estamos perdendo tempo - falou Selena. - Temos coisas muito mais importantes pra fazer. Poderíamos ir ao shopping, ou poderíamos pedir que fizéssemos as unhas num lugar mais bonito onde eu possa te levar, assim você descança as suas mãozinhas - Selena fez um biquinho.
 Miley balançou a cabeça, olhando para Selena como se fosse a criatura mais patética da face da terra. Selena tinha que entender que Miley nunca iria conhecer a vida que levava. Selena era bilionária, tinha todas as coisas a seu alcançe, mordomos, motoristas, jatinhos particulares... A garota vivia uma vida de rainha. Usava as melhores roupas, tinha o melhor estilista do mundo, tinha o melhor tratamento de cabelo, das unhas, tinha o rosto mais lindo que Miley já vira, parecia uma boneca de porcelana. Era popular na escola, popular entre os garotos, tinha todos a seus pés e todos imploravam pela sua amizade e por um mínimo de atenção. Selena era a típica americana perfeita! A mais perfeita.
 E mesmo que Demi fosse diferente, Miley sabia que Demi era igual á Selena. Demi também nunca entenderia. Era filha de uma cantora famosa, portanto Demi também nadava em dinheiro, assim como Selena. Apesar de não demonstrar muito, ela preferia a vida da riqueza. Demi era do tipo de garota largada, rockeira, de mal com ela mesma e com o mundo. Usava roupas pretas e neutras, mas mesmo que andasse largada, ainda assim era uma boneca de luxo. Uma boneca revoltada, mas ainda assim de luxo. Maltratava todos que ela queria, era muito marrenta, e era capaz de lutar por tudo aquilo que quer. Mesmo que seja as míseras coisas. Tinha uma personalidade muito forte e adorava quebrar as regras. Ela amava fazer isso, era seu grande hobby. Vez ou outra estava se arriscando, e era sem medo nenhum. Era uma verdadeira garota rebelde! Talvez a mais rebelde de todas.
 E Miley era apenas uma garota comum. Talvez a mais comum dentre todas. Ninguém nunca iria entendê-la.
 - Quem dera que pudessem conhecer o que é o verdadeiro sofrimento - falou ela, depois de minutos de silêncio. - Pra que assim, vocês pudessem dar mais valor as amigas que tem. Pra poder correr, poder cantar, rir, poder curtir a vida! Mas não, vocês não vão conhecer isso.
 Demi cerrou os olhos, confusa.
 - Espera, tem uma coisa que eu não estou entendendo - disse ela. - Você tem tudo isso, igual a gente. Então a que se refere com sofrimento de verdade?
 Miley bufou e baixou os olhos. Uma hora tinha que deixar que outras entrassem em sua vida para conhecê-la melhor, para que possam a entendê-la. Se queria deixar que outras pessoas a entendessem, tinha que abrir as portas para isso.
 - Venham comigo.
 Dito isso, Miley deu as costas e seguiu para o gabinete do salão, ouvindo passos atrás de si, indicando que as garotas estavam atrás dela. Enquanto isso, Olívia se escondia atrás da pilasta, olhando Miley e as amigas. E sorrindo boba consigo mesma.

Área abandonada, próximo a Upper East Side, Nova York

 Madison não apoiou muito á ideia de Demi querer ir atrás de Miley, já que a garota não ia nem um pouco com a cara da garota. Mas como sabia que Demi era teimosa, nem questionou muito e acabou concordando. No quarto, a garota agradecia a Deus por já ser sexta feira e rapidamente se lembrou de Samuel, na área abandonada próxima a escola. Rapidamente, ela pegou todas as sacolas enviadas pela mãe de Demi e seguiu pra lá, afim de fazer alguém sorrir hoje, e ninguém melhor do que Samuel.
 Ao chegar lá, entrou no caminhão, e reparou a boa limpeza que ele e Demi haviam feito. Ao ver as sacolas, os olhos de Samuel brilharam como nunca haviam brilhado antes.
 - É sério que tá me dando tudo isso? - disse ele, remexendo em todas as sacolas.
 Madison sorriu.
 - Eu não, tá pensando o que? - ela riu, ajudando o garoto a desembrulhar vários brinquedos. - Foi a Demi, só que ela não pôde vir. Olha isso! - ela pegou um rádio.
 Samuel arregalou os olhos.
 - Um rádio gravador! - ele pegou nas mãos, como se pegasse ouro.
 - É super legal, aqui você liga e aqui você aumenta o volume com esse botão - ela apontava os seguintes botões ao garoto. - Viu?
 - Legal! - ele gritou, sorridente. - É super legal. Eu nunca tinha ganhado tanta coisa na vida, Madison! Olha isso! - ele pegou um carrinho.
 Madison olhava para o garoto. Olhava para o sorriso dele. Seu coração começou a ganhar um novo sentimento, a garota começara a ficar feliz. A felicidade de Samuel naquele momento a contagiava também, porque de qualquer forma ela se identificava com o garoto. Madison havia saído de um orfanato. Ela nunca havia ganhado presentes na vida, nunca havia conhecido seus pais, ninguém nunca a havia adotado. Madison viveu solitária por sua vida até hoje com 16 anos. A garota dos cabelos castanhos sabia exatamente o significado da palavra solidão e sofrimento. Ela havia vivido sua vida inteira em um abrigo, tendo que ser obrigada a trabalhar duro para conseguir comida e não tinha lá muitos amigos. Samuel se encontrava na mesma que ela. O garoto havia sido abandonado na rua após seu irmão ter sido preso por culpa de Joe. A garota não desejava o que ela passou a ninguém, muito menos a Samuel, que era um garoto cheio de energia e experiências novas pela longa vida que ainda tinha pela frente. Ela lutaria com forças e dentes para manter o garoto uma vida boa, mesmo que fosse da mais simples forma possível. Madison iria cuidar dele, já decidira isso dentro de si. Não deixaria mal nenhum chegar á Samuel.
 O garoto percebera a expressão de Madison mudar e a garota ficar mais séria.
 - O que é? - disse Samuel, tirando Madison de seus pensamentos. - O que você tem?
 - Não, nada - ela respondeu, sorrindo forçado. - É que... É que eu me lembrei de quando eu era criança. Eu sonhava que alguém me desse alguma coisa - ela riu, completamente forçado. Parecia que queria chorar.
 Samuel ficou confuso.
 - E aí? Os seus pais não te davam brinquedos?
 - Não, é que... Eu nunca conheci os meus pais - respondeu Madison, baixando os olhos. - Eu fui criada no orfanato, sabia?
 A expressão de Samuel foi surpreendente, o garoto torceu o nariz, em sinal de nojo e ao mesmo tempo medo.
 - Ui, meu irmão disse que orfanato é ruim!
 - Bom, nem todos. Mas eu não tive muita sorte e caí no pior - deu de ombros. - Por isso eu tive que bancar a forte, pra poder aguentar. E não tem ninguém que cuide de mim.
 Samuel ficou novamente confuso.
 - Então quem paga a sua escola? - perguntou.
 - Como é que eu vou saber quem paga a minha escola? - ela deu de ombros. - É isso que me dá raiva, tem alguém me sustentando e eu não sei quem é! Já tentei várias vezes entrar na direção pra investigar. Mas eu não consigo roubar aqueles papéis.
 Samuel sorriu.
 - Ah, eu roubo e trago pra você - ele deu de ombros.
 - Nem em sonho, você não vai roubar nada!
 - Ah, o problema é que você já está velha e...
 - Como velha?! - disse Madison, de repente se pegando em uma risada.
 Samuel riu.
 - As mulheres não sabem roubar nada!
 Madison balançou a cabeça, ainda sorrindo.
 - A única coisa que você tem que fazer é ficar aqui, bem quietinho. Pra que ninguém veja você.
 Samuel revirou os olhos.

Casa de Miley, Salinas

 Miley levou as garotas até um terraço, onde puderam ver, em um tipo de cerquinha preta, uma garotinha sentada, rodeada de brinquedos. Miley queria que vissem Abigail, por algum motivo. A garotinha dos cabelos castanhos claros brincava com uma boneca, sorrindo sozinha, parecendo por alguns momentos conversar com o brinquedo. Selena e Demi olhavam aquela cena, uma parte não estavam entendendo nada.
 - Vem cá, qual é o problema da sua irmãzinha? - perguntou Demi, apontando principalmente para as cercas ao lado da menina.
 - Ela tem síndrome de down - respondeu Miley, colocando as mãos no bolso. - Bom, eu imagino que vocês saibam o que é isso.
 - Eu sei, claro - respondeu Selena, não tirando os olhos da menina.
 - Sei sim. Mais conhecidos como mongolóides, não é? - disse Demi.
 Selena se virou para a garota, arregalando os olhos, pasma. Como Demi não tinha um desconfiômetro?
 - Demi, como pode ser tão idiota?! - falou Selena.
 Demi ficou com uma expressão apática.
 - Foi mal, desculpa - sussurrou ela, voltando a encarar a menina.
 - Tudo bem, não tem problema - disse Miley, parecendo entediada. - É verdade, eles são chamados assim. São pessoas diferentes. Ás vezes elas dão um pouco de trabalho para entender as coisas, mas a Abigail entende.
 Demi deu um grande sorriso, e logo foi se aproximando com ousadia da cerca onde a menina brincava.
 - Oi, Abigail! - gritou ela, sorrindo. - Você também gosta de se fazer de bobinha, não é? - ela abriu a cerca, entrando nela.
 Miley e Selena foram pra ver o que Demi fazia.
 - Demi, pára! - gritou Selena, com medo de que Demi fizesse alguma besteira.
 - Tudo bem, relaxa - Miley acalmou Selena.
 Demi se abaixou, até ficar na altura da menina, que se encontrava sentada, agora vendo um álbum de fotos.
 - Ela fica o dia todo com esse álbum, enchendo de fotos e vendo televisão - comentou Miley, sorrindo ao olhar a irmã. - Não é verdade? Demi, tem até uma foto da sua mãe aí!
 - Não acredito! - Demi riu, pegando uma foto de sua mãe, Emma. - Abigail, você tem muito mal gosto!
 - Não - disse Abigail, de repente numa tentativa de sorrir.
 Demi virou-se para Miley, abrindo um grande sorriso após ouvir a menina falar.
 - Ela não gosta que falem mal dos artistas dela - riu Miley.
 Demi riu novamente, achando aquilo completamente incrível.
 - Ah não! - ela exclamou, pegando uma revista que estava o lado de Abigail. - Aqui diz que a minha mãe tem seios naturais?
 - O que são seios? - perguntou Abigail.
 Risadas ecoaram pelo térreo, enquanto Miley e Demi riam sem parar da situação. Demi nunca tinha tido contato com pessoas como Abigail, e estava adorando a experiência. Não eram apenas "mongolóides" como ela os via.
 - Que legal, ela entende tudo o que a gente fala! - falou Demi, completamente maravilhada.
 Miley sorriu e se desencostou da cerca.
 - Bem, eu vou trazer alguma coisa pra vocês beberem - falou ela, descendo as escadas e voltando para dentro da casa simples.
 Finalmente Selena se sentiu capaz de chegar perto da pequena cerca, e pôde ver a menina de perto. Também ficou maravilhada, mas não demonstrou tanto quanto Demi. E ainda pôde ver a garota ainda falar com Abigail.
 - Então me diz - continuou Demi, se sentando ao lado da garotinha. - É verdade que você vê as coisas diferente?
 Selena se irritou.
 - Demi, a visão dela é igual a sua, não implica!
 - Shh! - falou Demi. - Eu não estou falando com você! - se voltou para Abigail. - Vem cá, lindinha.
 Demi foi para o lado de Abigail, tentando fazer com que a garotinha se levantasse. A menina dizia "Não, não" várias vezes, e Selena também tentava fazer com que Demi parasse e deixasse a menina quieta. Quando Miley chegou com a bandeja com 3 copos de suco, Selena já estava super estressada.
 - Olha só, Miley! - disse Selena, apontando para Demi.
 Miley encarou Demi por um tempo, um misto de que não estava entendendo o que a garota tentava fazer com sua irmã, mas que também não estava gostando, seja lá o que fosse. Demi bufou e se levantou.
 - Eu só quero mostrar que a sua irmã pode fazer as coisas por ela mesma! - explicou-se ela.
 Miley balançou a cabeça. Aquilo causou impactos fortes dentro dela. Mesmo que ela tivesse aberto as portas para outras pessoas conhecerem sua vida, eles ainda não a entendiam. E nunca iriam entender, ela acabara de ter certeza. Abigail não era uma pessoa "normal", ela tinha mais dificuldades. Demi tinha que entender isso, e estava querendo reverter situações irreversíveis. Miley bufou e afastou esses pensamentos.
 - Vocês querem suco? - perguntou ela, estendendo a bandeja.
 - Eu quero! - Selena sorriu, pegando o suco.
 - Eu não, obrigada - Demi revirou os olhos. - Miley, porque você não volta pra escola? É muito importante que você não pare de estudar. E sua irmã é mais inteligente do que nós três juntas, é sério.
 Um silêncio de alguns segundos se formou no trio das garotas, cada uma analisando o que Demi havia dito.
 - É, isso é verdade - concordou Selena. - Nisso essa morta de fome tem razão - Selena olhou para Demi com desdém. - Vou te dizer uma coisa, Miley: a sua irmã está muito bem. A sua irmã não tem nada, é só uma anjinha. E você vai ficar muito bem, mas estudando, meu amor, por isso é melhor você voltar pra escola! Além disso, viajei por 3 horas, não é a toa que eu vim aqui.
 Miley deu um sorriso fraco, enquanto via Demi brincar mais uma vez com Abigail. Não sabia se devia realmente voltar, mas ela sabia, bem lá no fundo, que não deveria parar de estudar. Isso iria piorar as coisas. Sabia que sua irmã estava bem, mas queria estar com ela o tempo todo, e sabia que devia vencer isso pra poder viver. Era isso, ela precisava viver. Sua cabeça traziam várias ideias, mas tinha que, pela primeira vez, escolher pela razão. Deixar a emoção de lado.
 - Então, o que me diz? - perguntou Selena.
 Miley mordeu os lábios... E logo deu um sorriso. Selena arregalou os olhos, e logo cutucou Demi.
 - Demi, presta atenção! - ela praticamente bateu em Demi, fazendo a garota olhar para Miley. - Você vai voltar.
 - Eu vou voltar! - respondeu Miley.

Sala de jogos, Upper East Side, Nova York

 Chloe não iria desistir fácil de conseguir comprar a roupa que queria. Queria ficar irresistível, afinal também, ela e Jacob tinham uma farsa. Queria que todos da escola pensassem que eles eram o casal mais perfeito do UES. Poderia ser o maior caô, e era mesmo, mas quando ela queria ajudar, era pra ser bem feito. Além de que ela sempre teve uma queda pelo Jacob, mesmo se fosse a mínima possível. Já acreditara em uma época que realmente Jacob queria ter mais algo com ela, mas descobrira que foi uma farsa. Águas passadas, era o que Chloe pensava. E agora que se dava bem com o garoto, queria ajudá-lo, mesmo que estivesse sendo usada.
 Ela pisou na sala de jogos, e o viu de primeiro na mesa de sinuca. Haviam poucas pessoas ali, e Jacob só empilhava as bolas, distraído. Lindo!, pensou Chloe. Ela ajeitou os cabelos e o uniforme e chegou perto do garoto, começando uma conversa.
 - Eu já falei com o meu pai e está tudo pronto pra gente ir á festa - falou ela, depois de alguns minutos.
 Jacob mordeu os lábios e sorriu para a garota, fazendo Chloe tremer por alguns minutos. Jacob era tão bonito quanto Joe, o que fazia ele ser uma segunda opção para as garotas, quando eram rejeitadas por Joe.
 - Ah, que legal! - ele deu um sorriso forçado.
 Chloe ficou séria. Sorriso forçado? Ela havia percebido isso, e depois Jacob voltou a se concentrar nas bolas.
 - Qual o problema? - perguntou ela.
 Ele se voltou para ela.
 - Nada não - respondeu ele. - Acontece que a gente não vai poder ir junto ao Inferno. Foi mal.
 Chloe ficou sem fala. Mais uma vez Jacob ficava com mais uma dessas para cima dela. Mais uma vez ele a rejeitara.
 - O que?! - ela disse pasma.
 - O que foi? - disse ele, distraído.
 - Esqueceu que eu sou seu álibi? - ela disse, como se fosse óbvio. - Esqueceu que todos pensam que nós estamos ficando?
 - Eu sei, acontece que eu não vou precisar de você - ele ergueu as sobrancelhas. - É sério, o Joe me pediu pra cuidar da Emily, e...
 Jacob parou de falar ao ver os olhos de Chloe baixarem. Ele já havia magoado a garota uma vez, mas não pensava que ela se magoaria de novo. Jacob também era o maior galinha da escola, e todas sabiam disso, mas como dizem que mulher gosta de sofrer, todas voltavam á ele se e abrisse as portas. Isso acontecia frequentemente com Jacob, mas não tanto quanto acontecia com Joe. Mas enfim, por um momento ele se sentiu culpado.
 - Você está chateada? - perguntou ele.
 Chloe olhou pra ele e deu um sorriso de canto.
 - Não, não - respondeu ela. - Não tem problema, sério.
 Jacob abriu um grande sorriso e botou o rosto da garota entre suas mãos.
 - Muito obrigado! - ele falou. - Você me fez um favorzão de qualquer maneira.
 Jacob envolveu Chloe pela cintura e a abraçou em um abraço carinhoso, o que fez a garota tremer. Logo se afastou e deu um beijo em sua bochecha, saindo da sala de jogos. Chloe fechou os olhos para não se desconcentrar. Não sabia ao certo o que sentia por Jacob ainda, na verdade nunca soube. Só sabia que seu coração perdia o compasso ao chegar perto do garoto. E o pior é que ela sabia que ele não valia a pena. Sabia perfeitamente.
Continua.

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