quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Depois da Chuva - 90

"E mesmo que eu tente fugir das histórias que me perseguem, me assombram e me trancam nas sombras desse amor iludido, um amor perdido. Como se lágrimas de fogo escorressem por meus olhos, mas as lembranças aliviam a dor por dentro. Memórias impregnadas com o som do seu sorriso e o silêncio das minhas lágrimas, juntos em uma mesma memória, eu fecho os olhos e imagino você aqui, bem perto de mim."


Salão de Olívia, Salinas

 Selena, por algumas fontes desconhecidas na escola, havia conseguido saber o paradeiro de Miley. Ou melhor, aonde a garota estava se escondendo. Isso com certeza não iria ser uma coisa boa para Miley. Se descobrisse Selena aí, a garota iria enlouquecer. Mas Selena não esperou por muito tempo, e logo ela e William já estavam seguindo viagem para Salinas, que fora o endereço que ela conseguira, de um salão de beleza. Apenas isso. William não concordou muito com a ideia de levar Selena a lugares desconhecidos, mas quem é capaz de lutar contra a mente teimosa da garota?
 Após 3 horas, o carro já havia parado na porta do salão. Já era quase noite, mas o dia ainda não havia sumido completamente, e o sol ainda brilhava fraco no céu poente. Selena olhou bem para o alojamento que havia parado. Um salão simples, humilde, muito pequeno e ficava em uma rua deserta e com vários comércios, um do lado do outro, imprensados. Selena não era acostumada com tal lugar, mas sempre pensava em Miley, e sua motivação era maior. Sentia tamanha falta da garota que mal sabia distinguir. Sentia falta do abraço da amiga, dos conselhos, das conversas... Mal sabia porque Miley havia sumido, mas queria vê-la de qualquer jeito. E não iria desistir.
 William olhava para os lados, com uma expressão preocupada no rosto.
 - Mas como? - Disse ele, num fio de voz. - É aqui?
 - É aqui mesmo, William, e eu vou descer! - disse Selena, já começando a destrancar a porta do carro.

 Dentro do salão, Olívia já havia visto o movimento novo que aparecera na frente de seu alojamento. Como morava e trabalhava em uma cidade pequena e fútil, não haviam muitas pessoas com recursos avançados, como nas grandes cidades. Era difícil de ver um rico andando pelas ruas. E os que tinham, daqui a uns 3 meses estariam se mudando para as grandes cidades, estariam querendo se misturar com outros da mesma "espécie". Quando viu o grande carro parando em frente sua porta, uma curiosidade cresceu dentro de si. Talvez seria uma cliente que, por erro, havia parado para pedir informação. Ou quem sabe um turista. Mas não imaginava nenhuma clientela para seu salão.
 Foi quando seus olhos viram uma garota saindo do carro. Depois de algum tempo percebeu que quem dirigia era um motorista. Rica, já pensou Olívia. Aquele tipo de carro não era visto em Salinas, pelo menos ninguém nunca havia visto. A garota usava roupas dignas de grife, e só de botar o pé na calçada já percebera que era mimada e que não acostumada com lugares como aquele. Seu cabelo sedoso e castanho, eram ondas bem cuidadas, Olívia logo percebeu que ela devia frequentar os melhores salões onde quer que fosse. Já era previsível que a garota iria entrar em seu depósito, só não sabia o porque. Quem, do nível dele, entraria em um salão como aquele?
 Olívia ainda continuava confusa, e caminhou até Miley.
 - Miley, vem ver! - Ela deu um breve grito e foi até Miley, que se encontrava sentada em um banco, escrevendo algo em seu caderno. - Vem ver que carrão acabou de estacionar na porta! Com motorista e tudo.
 Miley olhou para a porta, não entendo muito o quão espanto da tia ao perceber tal coisa. Mas quando Miley viu quem saía do quarto, levou as mãos á boca, e os joelhos no chão.
 - É a Selena! - ela bufou, se abaixando atrás da mesa, atrás das pernas de Olívia. - É a Selena, uma colega lá do colégio. Diz pra ela que eu não estou, tia, diz que eu já fui! - e começou a engatinhar para dentro do gabinete, se apressando.
 Olívia não entendia a atitude de Miley, acho que nunca entenderia.
 - Espera aí! - gritou ela, fazendo Miley parar e se virar, ainda de quatro no chão. - Se ela veio aqui é porque se importa.
 - Ah, não, tia! - Miley grunhiu, parecendo ficar impaciente. - Você não entende nada. Mas faça o que eu disse, faça o que eu peço, diga que eu não estou.
 - Mas você não é diferente?
 - Diz que eu não estou! - gritou Miley pela última vez, antes de correr de quatro para o gabinete.
 - Mas como...

 Enquanto isso, parecia que William "discutia" com Selena. Por alguns motivos, ele se queixava com a garota sobre o lugar onde estavam pisando. Ele não gostava daquele tipo de lugar, parecia medíocre. Parecia não querer deixar Selena sair do carro. Após algumas palavras, Selena abriu a porta, saindo do carro, e William saiu apressadamente depois.
 - William...
 - Aqui é muito perigoso, por favor, Selena! - ele ainda insistia com a garota.
 - Isso é muito feio, não pode discriminar as pessoas só porque moram num lugar feio - Selena bateu o pé, naquele jeito bem mimadinha que só ela tinha. As pessoas que passavam na rua paravam para olhá-la. Sua beleza era incomum naquele lugar, tanto no modo de se vestir e se comportar, e isso incomodava William. O causava preocupação, medo.
 Selena bufou e começou a caminhar para dentro do salão.
 - Espera um instante! - chamou Will, fazendo Selena parar e se virar. - Se precisar de alguma coisa eu estou aqui. Eu vou ficar aqui.
 Selena revirou os olhos. Desnecessário aquela preocupação.
 - Ok, qualquer coisa eu grito - garantiu ela, e deu as costas, indo.
 - Tudo bem - sussurrou ele, olhando Selena.

 Dentro do salão, Olívia já esperava por Selena. Viu a garota entrar e se encontrava encostada no balcão, dando um sorriso meio forçado. Selena, ao ver a mulher, abriu um largo sorriso. Nada forçado. Conseguia ter uma simpatia incrível, que só ela tinha. Um carisma imenso.
 - Boa tarde - cumprimentou Olívia, sem sorrir.
 - Oi, boa tarde - sorriu Selena.
 Olívia olhou de baixo para cima de Selena. Ás vezes sua respiração falhava ao ver o quanto a menina era bonita e bem arrumada, mas sabia disfarçar. Tinha que mandar um papo para mandá-la embora, como quis dizer Miley.
 - Então, o que vamos fazer hoje? - perguntou Olívia.
 Selena desfez o sorriso, olhando agora confusa para a mulher.
 - Não, nada. Não vou fazer nada - respondeu ela, cerrando os olhos. - Eu vim procurar a Miley.
 - Ah é? - Olívia abriu um sorrisinho fraco de canto. - Devia ter ligado antes, porque a Miley está viajando - mentiu ela.
 Um misto de confusão e tristeza se passou no rosto de Selena. Agora sim o sorriso da garota havia sumido de vez. Miley só sabia sumir, era isso mesmo? Nunca mais acharia a garota?
 - Como? - sussurrou ela, numa respiração entre cortada.
 - Ela não está.
 - Não está?!
 - Não. Ela saiu pra viajar hoje de manhã com os pais - respondeu Olívia, agora sorrindo um pouco mais.
 - Não, não - Selena balançou a cabeça, completamente incrédula. A garota parecia assustada. - Como assim foi viajar? Ela não pode viajar agora!
 Olívia olhou com curiosidade pra ela.
 - Porque não?
 - Porque... - Selena bufou, parecendo escolher as palavras. - Porque olha, acontece que se ela não chegar hoje no colégio, vão tomar a vaga dela.
 Os olhos de Olívia se esbugalharam, e seu primeiro olhar foi para o gabinete. Ela não sabia desse detalhe, e por um momento pareceu ficar pálida e incrédula. Iria segurar Miley ali com ela, mas não sabia que a sobrinha corria o risco de perder a vaga. Isso era um detalhe, um fato que ela desconhecia. Mas Olívia naquela hora se via sem saber o que fazer. Não podia simplesmente desmentir e dizer que Miley estava ali, aquilo não. Sua cabeça girou tantas vezes naquele momento e seu coração batia tão forte de medo de preocupação que por alguns segundos esqueceu que Selena estava ali.
 Por fim, ela se virou para Selena, ainda respirando fundo.
 - Eu sei... - disse Olívia, completamente perdida. - Mas o que eu vou fazer? - deu de ombros, parecendo a única solução.

Área de lazer, Upper East Side, Nova York

 Isabella e Nick ainda continuavam sentados na mesa, de frente para o gramado. Após a entrega dos "presentes" de Isabella, Nick finalmente pode perceber que a garota realmente queria ficar com ele. Apesar de aquilo não fazer parte dos seus planos, e de ele não gostar nem um pouco de Isabella do mesmo jeito que ela o amava, ele não conseguia simplesmente dizer não a menina. Não que alguma coisa os prendesse, Nick sabia perfeitamente que mantinha um relacionamento com a garota baseado em pena. Ele tinha pena de desprezá-la, tinha pena de terminar qualquer coisa com ela. E simplesmente ele não podia ignorar o estranho sentimento que sentia por Selena, apesar de não saber exatamente o que significava. E também não queria saber, mas toda vez que chegava perto da garota, a única opção é não dizer nada, antes de controlar a vontade de não beijá-la de novo.
 Os dois se beijavam naquele momento, trocavam carinhos e palavras bonitas. Na verdade, Isabella dizia palavras bonitas. Nick não conseguia dizer sequer uma palavra. Pensava que esse remorso que sentia no início de estar enganando Isabella estava passando, mas toda vez que estava com a garota ele voltava. E com toda a força. Só conseguia interromper as frases da garota com beijos, quem sabe assim ele não precisasse ouvir. Mas foram interrompidos no momento bonito por Logan, que se manifestou no meio deles.
 - Me desculpe interromper o romance de vocês - ele deu um sorriso sarcástico. - Mas me mandaram dizer á você, Nick, que o professor James vai ficar esperando no depósito da escola.
 - A mim? - perguntou Nick, confuso. Logan assentiu, concordando. Sua expressão era de extremo tédio. - E não disseram pra quê?
 - Humm, não! - respondeu Logan, parecendo "acordar". - E é óbvio que eu não perguntei - ele deu um risinho, de repente puxando um humor barato. - Quer dizer, eu fiz a minha parte, você sabe.
 Logan deu de ombros, de repente percebendo que seu "serviço" havia acabado, e acabou virando de costas e saindo de perto do casal, se encontrando satisfeito.
 - Obrigado - falou Nick, dando de ombros, depois de Logan ter saído.
 A expressão de Isabella era de preocupação. A garota não sorria mais como a 5 minutos atrás.
 - Nick, não vai não! - sussurrou ela. - O professor James jamais marcaria com você num lugar assim. Deve ser uma armadilha.
 Nick suspirou.
 - Da Seita, não é? - ele levantou as sobrancelhas, enquanto Isabella ficou calada. Sabia o quanto a garota tinha medo da Seita. Ele bufou e se aproximou dela. - Olha, no mínimo eles são uns idiotas. Aí sim eu vou poder reconhecer eles. Não se preocupe - ele passou as mãos pelo rosto da garota e lhe deu um beijo leve nos lábios. - Não é a Seita.
 Nick tomou um gole de seu suco, e se levantou da cadeira.
 - Tchau. Até logo - deu uma piscadinha pra Isabella e saiu.
 A garota não deixaria de se preocupar tão facilmente.

Salão de Olívia, Salinas

 Olívia não conseguiu se livrar de Selena tão fácil assim. Apesar da noite já estar caindo, o salão diminuía seu movimento a cada minuto, e Olívia quase se via encurralada por Selena. Mas pelo visto, a patricinha não iria desistir de encontrar Miley, e isso de uma certa forma tocava em Olívia. Miley sempre dizia que não era aceita, e agora ela via ali, uma menina bonita, gente boa, com uma ótima condição financeira que se importava com Miley. Estava ali, a procura da amiga. Mas Olívia estava realmente proibida de dar qualquer informação de Miley a Selena.
 Olívia voltou novamente para onde Selena estava, e a garota estava perto do balcão, quase na entrada do salão.
 - Eles não deixaram nenhum telefone pra localizá-los - respondeu Olívia, dando uma expressão triste á Selena. - Sinto muito, meu amor, mas eu não posso ajudar.
 Olívia parecia meio apressada, e começou a empurrar Selena levemente para fora do salão.
 - Que pena - disse Selena, triste, sendo carregada para fora do alojamento por Olívia.
 - É sério, muito sério - ela sorria forçado.
 - Tudo bem, não importa - disse Selena, parando em frente á entrada e se virando para Olívia, de novo com o sorriso simpático e lindo no rosto. - De qualquer maneira, muito obrigada por tudo.
 - De nada. Passe muito bem, até logo - Olívia sorriu, e deu as costas, praticamente correndo de volta para dentro do salão.

 Selena se virou, caminhando de volta para fora do salão, cabisbaixa pela notícia ruim que recebera. Ela não sabia bem o motivo, mas tinha que ter Miley de volta. Ela sentia que agora aquela simples garota fazia parte de sua vida. No começo, Miley seria apenas uma cobaia para seu mais novo projeto, e Selena ainda mantinha essa ideia. Queria que Miley mudasse, se revigorasse, queria tornar aquela menininha tímida e encolhida num canto numa "estrela", popular, amiga de Selena Gomez. Queria ver Miley no auge. Mas com o passar do tempo, com a convivência que pegou com a menina, essa ideia foi além disso. Tinha mais planos com Miley. Não de apenas transformá-la, mas de cuidar dela. Agora queria realmente que a garota e ela tornassem amigas! Quem sabe melhores amigas. Mas Miley parecia fugir de tudo. Até dela própria. E Selena precisava libertar Miley de qualquer medo, de qualquer angústia, para que a garota se soltasse e brilhasse. Porque esse era o objetivo principal de Selena.
 A garota estava perdida em seus pensamentos quando trombou com uma pessoa na entrada. Selena resmungou, e olhou pra ver quem teria batido nela. Logo quando olhou, sua dor de cabeça aumentou. De repente uma raiva em Selena começou a crescer e ela criou uma vontade imensa de bater em alguma coisa. Quando viu aquelas roupas, aquele cabelo... Argh!
 - DEMI! - Selena grunhiu, estressada. - O que faz aqui?!
 Demi ajeitava os cabelos pela batida, e olhou pra Selena, com o mesmo olhar de nojo e desprezo como sempre.
 - O que é que VOCÊ faz aqui? - ela destacou as palavras. - Está se sentindo bem, Selena? Isso daqui é um salão do interior, não um confér internacional.
 - Argh, não sabe nem falar francês direito! - disse Selena com desprezo.
 - Não, graças a Deus - Demi abriu um sorriso. - Vindo de você, tudo é elogio. Mas eu vim ver a Miley, onde ela está? - a garota rodou os olhos pelo salão, procurando Miley.
 Selena riu.
 - A Miley não está, teve que viajar com os pais - respondeu ela.
 Demi olhou pra garota, como se ela fosse louca ou tivesse sérios problemas mentais.
 - Tá delirando? - perguntou.
 - É sim. Se não acredita, vai perguntar - Selena apontou para Olívia, que varria o chão. - Foi ela quem me contou.
 Demi deu de ombros.
 - Ok, tudo bem.

 Demi se aproximou da mulher, que logo parou o que estava fazendo já percebendo que teria que responder a mais perguntas. Logo ao ver Demi, Olívia já percebera que era do mesmo "ramo" da outra garota. Tudo bem que não era tão ageitadinha. Selena era notávelmente uma patricinha, isso estava na cara. Já Demi não. A garota tinha um cabelo preto grande, sedoso, meio encaracolado. Tinha um piercing no nariz e uma tatuagem nos pulsos. Apesar de ser largada e por usar roupas típicas dos rockeiros, eram roupas de marca. Roupas que não se via muito em Salinas. Os rockeiros dali normalmente andavam apenas com roupas pretas. Mas Demi conseguia ser tão bonita quanto Selena.
 Mas como Demi havia ido parar ali? E, para o azar de ambos, havia chegado na mesma hora que Selena? Devemos lembrar que Demi também era amiga de Miley. E que se preocupava, tanto quanto Selena. Ela não iria desistir de Miley, e estava extremamente arrependida por ter dado ás costas a garota por causa de um erro fútil, que na verdade não causou nenhum dado a Demi. Mas por influências de Madison, acabou que virou as costas para a pequena garota, o que causou de ela ir embora. Demi queria reparar o erro, e trazer Miley de volta, então como as fontes que Selena tinha, ela também conseguira o endereço de um salão de beleza. Apenas isso.
 - Oi, tudo bem? - cumprimentou Demi, sorrindo, ao chegar perto de Olívia. - Olha, a senhora me impressionou. Achei bonito o seu salão. Sério, parabéns.
 Olívia a olhava sem sorrir, pois já previa o que ela queria saber. E não era muito fazer um relaxamento ou uma hidratação.
 - Obrigada - agradeceu Olívia, seca. - Mas eu já disse pra sua amiga que a Miley não está.
 O sorriso de Demi desapareceu. Mil coisas se passaram em sua cabeça, mas a cabeça dela pensava rápido. E como!
 - Ela? - apontou para Selena, na entrada do salão. - Não, ela não é minha amiga - riu forçado. - Mas a Miley é! E onde ela está?
 - Bom, ela teve que viajar com a família - contou a mesma mentira.
 Demi cerrou os olhos, olhando desconfiada para a loira em sua frente. É claro que não estava acreditando sequer em uma palavra de Olívia. Não era possível.
 - Hmm, que época estranha pra viajar, não é? - supôs ela.
 Olívia quase derrubou o pote de produto em suas mãos. Aquele olhar de Demi a fazia pigarrear, mesmo sem querer. A fazia hesitar, e Demi sabia que ela estava mentindo. Logo Olívia percebera que Demi não era tão ingênua quanto Selena, que acreditara na primeira mentira que contara sobre Miley.
 - É que... Quando dão férias ao pai dela eles... Sempre... Sempre viajam - Olívia gaguejou, mais nervosa do que o normal.
 - Hmm, sim - concordou Demi, rolando os olhos pelo salão. - Mas muito obrigada, senhora. Mas se a Miley ligar pra você, diga que a Demi mandou um beijo - Demi voltou a sorrir.
 - Vou dizer. Até logo - disse Olívia.
 - Ok, muito obrigada.

 Demi voltou até onde Selena estava, a qual esticava o pescoço mais do que o normal para ver o que Demi fazia. Demi olhou pra trás, e certificou-se de que Olívia não estava espiando, e de repente puxou Selena para um canto, perto do balcão, onde estavam longe dos olhares de Olívia.
 - Disfarça e se esconde! - sussurrou Demi, puxando Selena. - Finge que está vendo essas fotos, vem.
 Demi pegou algumas revistas espalhadas pelo balcão próximo a entrada, dando uma á Selena, que não estava entendendo nada.
 - Porque? - perguntou Selena.
 - Essa viagem é a maior lorota - respondeu Demi, balançando a cabeça, com seus olhos focados em algum lugar.
 Selena bufou, agora achando mais do que nunca que Demi tinha problemas sérios.
 - Ai, Demizinha, você ficou maluca, não ficou? - falou ela, rindo forçado. - Ficou sim!
 Demi bufou. Achava Selena tão idiota!
 - Ok, então pergunta pro caderno porque eu estou maluca!
 - Que caderno? - perguntou Selena, arregalando os olhos.
 - O da Miley! - respondeu Demi, dando a volta em Selena, apontando para um caderno florido em cima do balcão. Aquele mesmo que Miley escrevia para sua irmã. - De repente na pressa de se esconder, ela deixou aqui - sussurrou.
 Selena ainda não entendia nada. Parecia que nada que Demi falasse era coerente. A garota pensava rápido demais, diferente dela, que demorava um pouco pra entender esse tipo de coisas. Temia ser usada por Demi para alguma coisa.
 - Mas eu sei como fazê-la sair! - Demi sorriu. - Vem! - puxou Selena.
 - Vem nada! - Selena se soltou, parecendo apavorada. - Chega, Demi! Não vai me dar ordens, escutou? Eu vou embora! Tchau! - Ela se virou pra ir embora do salão.
 - Espera aí, garota! - Demi puxou Selena de volta. - Para, ok? Ponha em prática pela primeira vez o único neurônio que funciona, está bem? Vem logo...
 - O que está acontecendo, meninas? - ouviram a voz de Olívia, enquanto a mulher se aproximava das duas na entrada do alojamento. - Porque discutem?
 Demi deu um sorriso mega forçado, e coçou atrás dos cabelos. Aquilo não fazia parte do plano, Olívia não podia vê-las.
 - Não, nada - Demi riu. - Já que estamos aqui queremos aproveitar pra... Lavar o cabelo, fazer um penteado...
 - COMO É QUE É?! - gritou Selena, agora sim realmente apavorada.
 Olívia abriu um grande sorriso. Dessa vez sincero.
 - Está bem! - concordou ela, santitante.
 - Não liga pra ela! - disse Demi, apontando para Selena, que era notável ver suas pernas tremendo. - Ela é assim mesmo. É como os gatos, tem medo de água. Mas não se preocupe, basta pentear o pixaim dela - passou as mãos pelo cabelo de Selena. - E falando nisso, começa com ela. Porque ela é muito apressada.
 Demi começou a empurrar Selena para as mãos de Olívia. Selena mal pôde controlar, e já estava berrando, querendo fugir. Quem iria imaginar que Selena Gomez faria o cabelo naquele mísero alojamento. "Não precisa, não precisa" gritava Selena, olhando com ódio para Demi.

Depósito, Upper East Side, Nova York

 Nick era orgulhoso. Não importava quantas vezes tentassem aconselhá-lo, ele faria o que ele queria, o que ele pensava que era certo. Ao chegar no depósito, ele encontrou um alojamento vazio e escuro. Tudo bem que ele havia sim achado estranho o professor James ter marcado com ele naquele lugar, mas se fosse a Seita mesmo, ele pensava que iria reconhecê-los. Ele descia as escadas dali, olhando para os lados, ainda a preocupação não invadia seu corpo.
 Nick só conseguia ver várias caixas empilhadas e um depósito vazio. Escuro e frio. Mal podia ver muita coisa, por causa da ausência de luz. Continuou caminhando até o centro, ainda não ouvindo nenhum barulho. Aquilo começou a parecer estranho pra ele. O depósito estava completamente vazio, onde estava o professor James? Ou melhor, onde estava a Seita? Porque pelo jeito quem iria encontrá-lo era a Seita.
 Mas do escuro obscuro, ele ouviu passos. De repente passou a prestrar mais atenção nas coisas ao seu redor. Eram passos pesados, pareciam estar marchando. Ele não se atreveu a se mexer. De repente um medo, um receio começou a subir em si. Mas não o bastante para ele se apavorar. Pareciam passos de botas, e estava em uníssono, um único passo. Mas não era uma pessoa, o que fez Nick ficar ainda mais preocupado. De repente os passos pararam. Ele os sentiu se aproximando, mas haviam parado. Ele sabia que eles estavam atrás dele, mas não tomou coragem para se virar.
 De repente ele viu uma luz. Não uma luz de clarear o depósito inteiro, mas uma pequena luz que vinha detrás de si. Nessa hora, Nick obrigou-se a se virar. E, ao se virar, seu coração parou de bater. Ele se deparou com 5 deles. Sim, 5 DELES! A Seita! Mas Nick não podia reconhecê-los. Eles estavam vestidos com máscaras de gás e roupas do exército, com botas e tudo. E traziam consigo um objeto em suas mãos, que por causa do escuro Nick não conseguia ver. E a luz que via era na verdade uma pequena fogueira no chão que havia surgido do nada, que com o passar dos minutos ela crescia. Nick começava a ficar realmente com medo, mas ele não deixava transparecer o pânico.
 Foi quando ele ouviu mais passos. As pessoas á sua frente estavam paradas, imóveis. Não mexiam nenhum dedo, pareciam nem respirar. Nick então bufou, vendo que os passos vinham atrás dele novamente. Quando os passos pararam, ele se virou, vendo que tinha mais 5 deles atrás de si. A luz da fogueira aumentou, então Nick se virou e viu que a fogueira aumentara nos 5 segundos.
 Nick não iria mostrar pânico, se bem que já estava apavorado. Não conseguia se mexer. Com o passar dos minutos, a fogueira foi se apagando, e as pessoas ali começaram a formar uma rodinha em volta de Nick. E pareciam entoar um jogral, que dizia: "A Seita manda aqui! A Seita manda aqui! Todos devem temer a Seita! Bolsistas não devem ficar aqui! A Seita manda aqui!"
 Eles repetiam isso milhares de vezes, enquanto andavam em rodinha em volta de Nick, cada vez mais adentrando. Nick sentia seu medo em expansão toda vez que eles chegavam mais perto dele. Então ele pôde perceber que o objeto nas mãos deles era um tipo de cajado de madeira, alguns tinham de ferro e por aí vai. Depois de algum tempo, eles pararam um pouco de repetir a mesma frase, enfim parando, ainda em rodinha, com Nick no meio. Foi quando um deles pegou o cajado e empurrou Nick com toda força no chão, fazendo o garoto bater a cabeça. "BOLSISTAS NÃO DEVEM FICAR AQUI!", agora eles gritavam.
 - O QUE VOCÊS QUEREM? - gritou Nick, ainda no chão. Não iria se mostrar com medo, havia decidido isso.

Parque principal, Manhattan

 A mãe de Nick e sua irmãzinha estavam andando pelo parque de sua cidade, por algum momento felizes. Após a ida de Nick para Nova York, as duas sentiam uma falta imensa do garoto, mas sabiam que ele havia ido para estudar. Tudo bem que Nick estava escondendo parte das coisas para elas, mas não podia deixá-las saberem de seu grande objetivo, o grande objetivo de vingar a morte de seu pai. Acharia melhor que as duas não soubessem, principalmente sua mãe, que não iria gostar nada. Iria fazê-lo ficar de qualquer jeito, e ele não iria aceitar isso.
 - Me diz, o que ensinaram em ortografia? - perguntou a mãe, enquanto balançava Grace no balanço.
 - Me ensinaram que... - a garota parecia tentar lembrar. - Que em ortografia a gente bota um acento no R. No primeiro R! - ela sorriu.
 A mãe não se contentou e riu.
 - O R leva acento? - ela perguntou, rindo. - A professor te ensinou isso?
 - Sim, e ela é a mais inteligente.
 - A mais inteligente? Não me diga! - riu. - E o que mais aprendeu?
 - A árvore não tem acento!
 - A professora te ensinou essas coisas? - ela riu forçado. - Assim só vai tirar zero na escola.

Depósito, Upper East Side, Nova York

 - JURE QUE VOCÊ VAI ABANDONAR O NOSSO COLÉGIO! - gritou um deles.
 Muita coisa já havia acontecido. Eles bateram em Nick, o deixando com um corte grave na testa e com o braço quebrado. Além dos cortes fracos pelo rosto. Arrancaram a rua roupa, o deixando apenas de boxers e estavam meio que tentando afogá-lo em uma pequena piscina. Deixavam sua cabeça várias vezes debaixo d'água, e só retiravam quando o garoto já não tinha mais forças.
 - AQUI NÓS NÃO GOSTAMOS DE CAIPIRAS IDIOTAS FEITO VOCÊ!
 - VOCÊ JÁ DEVIA TER IDO EMBORA A MUITO TEMPO!
 - EU NÃO VOU EMBORA! - gritou Nick, e mergulharam sua cabeça na água novamente.
 E fizeram isso repetidas vezes, até que Nick já se encontrava sem forças. Completamente sem forças.
 - Me deixem sair, por favor... - sussurrou ele, em um fio de voz.
 - Você vai embora daqui? - perguntou um deles.
 Nick pensou muito antes de responder. Não imaginava que seria tão fraco assim, a chegar ao ponto de se render para a Seita, que ele falava ser tão medíocre e que não fazia mal a uma mosca. Não quis ouvir Isabella. Mas ele não aguentava mais o que estava passando, estava encharcado, machucado e dolorido. Seu plano não podia terminar, mas sua cabeça girava tanto, que ele só conseguiu responder em um fio de voz:
 - Eu vou embora daqui.
 - Mais alto! - gritou um deles.
 - EU VOU EMBORA DAQUI! - gritou Nick. - SEXTA FEIRA EU VOU EMBORA DAQUI, TA LEGAL?
 As risadas ecoaram pelo depósito. A Seita sempre conseguia o que queria. Nick não sabia o que ia realmente fazer, não sabia mesmo.

Parque principal, Manhattan

 Uma fisgada no coração da mãe de Nick denunciou o que estava acontecendo com o filho. Sempre tem aquela história, se acontece algo com alguém que nós amamos, nós sentimos. Foi o que aconteceu com a mãe de Nick. Ela sentiu uma fisgada, e logo seu pensamento foi em Nick. A mulher ficou séria, parando de dar as risadas gostosas com a filha Grace. Ela não entendia, mas precisava de Nick naquele momento. Precisava saber como ele estava.
 - O que você tem, mãe? - perguntou Grace, vendo a mãe ficar estranha do nada.
 Ela demorou um pouco a responder.
 - Porque, meu amor?
 - Não sei, você ficou estranha - respondeu Grace.
 - Não, não é nada! - disse ela. - Não é nada - sorriu forçado. - A propósito, já está chegando seu aniversário!
 - É! - a menina ficou sorridente.
 - Vai querer alguma coisa? Já pensou? - ela teve uma ideia. - Ah sim, vamos fazer uma festinha para as suas amigas.
 - Não, eu quero um festão!
 - Como um festão? - ela riu, mexendo nos cabelos de Grace. - Você é muito novinha pra ter um festão.
 - O que eu quero é ir pra Nova York ver o meu irmão!
 O rosto da mulher ficou sério ao lembrar de Nick. E novamente aquela fisgada a pegou de jeito.
 - Deve estar morrendo de saudade dele, não é? - disse ela.
 - É, sinto muita saudade.
 - Eu também sinto saudade, filha. Mas vamos ter que esperar até o Nick ligar pra podermos combinar.
 - Eu acho que não vai ligar.
 - Ele vai ligar, claro que vai ligar! Não pense em coisas terríveis.
 E logo as duas estavam brincando pelo parque. Uma distração, já que a falta de Nick doía em todas as duas.

Continua.

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quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Depois da Chuva - 90

"E mesmo que eu tente fugir das histórias que me perseguem, me assombram e me trancam nas sombras desse amor iludido, um amor perdido. Como se lágrimas de fogo escorressem por meus olhos, mas as lembranças aliviam a dor por dentro. Memórias impregnadas com o som do seu sorriso e o silêncio das minhas lágrimas, juntos em uma mesma memória, eu fecho os olhos e imagino você aqui, bem perto de mim."


Salão de Olívia, Salinas

 Selena, por algumas fontes desconhecidas na escola, havia conseguido saber o paradeiro de Miley. Ou melhor, aonde a garota estava se escondendo. Isso com certeza não iria ser uma coisa boa para Miley. Se descobrisse Selena aí, a garota iria enlouquecer. Mas Selena não esperou por muito tempo, e logo ela e William já estavam seguindo viagem para Salinas, que fora o endereço que ela conseguira, de um salão de beleza. Apenas isso. William não concordou muito com a ideia de levar Selena a lugares desconhecidos, mas quem é capaz de lutar contra a mente teimosa da garota?
 Após 3 horas, o carro já havia parado na porta do salão. Já era quase noite, mas o dia ainda não havia sumido completamente, e o sol ainda brilhava fraco no céu poente. Selena olhou bem para o alojamento que havia parado. Um salão simples, humilde, muito pequeno e ficava em uma rua deserta e com vários comércios, um do lado do outro, imprensados. Selena não era acostumada com tal lugar, mas sempre pensava em Miley, e sua motivação era maior. Sentia tamanha falta da garota que mal sabia distinguir. Sentia falta do abraço da amiga, dos conselhos, das conversas... Mal sabia porque Miley havia sumido, mas queria vê-la de qualquer jeito. E não iria desistir.
 William olhava para os lados, com uma expressão preocupada no rosto.
 - Mas como? - Disse ele, num fio de voz. - É aqui?
 - É aqui mesmo, William, e eu vou descer! - disse Selena, já começando a destrancar a porta do carro.

 Dentro do salão, Olívia já havia visto o movimento novo que aparecera na frente de seu alojamento. Como morava e trabalhava em uma cidade pequena e fútil, não haviam muitas pessoas com recursos avançados, como nas grandes cidades. Era difícil de ver um rico andando pelas ruas. E os que tinham, daqui a uns 3 meses estariam se mudando para as grandes cidades, estariam querendo se misturar com outros da mesma "espécie". Quando viu o grande carro parando em frente sua porta, uma curiosidade cresceu dentro de si. Talvez seria uma cliente que, por erro, havia parado para pedir informação. Ou quem sabe um turista. Mas não imaginava nenhuma clientela para seu salão.
 Foi quando seus olhos viram uma garota saindo do carro. Depois de algum tempo percebeu que quem dirigia era um motorista. Rica, já pensou Olívia. Aquele tipo de carro não era visto em Salinas, pelo menos ninguém nunca havia visto. A garota usava roupas dignas de grife, e só de botar o pé na calçada já percebera que era mimada e que não acostumada com lugares como aquele. Seu cabelo sedoso e castanho, eram ondas bem cuidadas, Olívia logo percebeu que ela devia frequentar os melhores salões onde quer que fosse. Já era previsível que a garota iria entrar em seu depósito, só não sabia o porque. Quem, do nível dele, entraria em um salão como aquele?
 Olívia ainda continuava confusa, e caminhou até Miley.
 - Miley, vem ver! - Ela deu um breve grito e foi até Miley, que se encontrava sentada em um banco, escrevendo algo em seu caderno. - Vem ver que carrão acabou de estacionar na porta! Com motorista e tudo.
 Miley olhou para a porta, não entendo muito o quão espanto da tia ao perceber tal coisa. Mas quando Miley viu quem saía do quarto, levou as mãos á boca, e os joelhos no chão.
 - É a Selena! - ela bufou, se abaixando atrás da mesa, atrás das pernas de Olívia. - É a Selena, uma colega lá do colégio. Diz pra ela que eu não estou, tia, diz que eu já fui! - e começou a engatinhar para dentro do gabinete, se apressando.
 Olívia não entendia a atitude de Miley, acho que nunca entenderia.
 - Espera aí! - gritou ela, fazendo Miley parar e se virar, ainda de quatro no chão. - Se ela veio aqui é porque se importa.
 - Ah, não, tia! - Miley grunhiu, parecendo ficar impaciente. - Você não entende nada. Mas faça o que eu disse, faça o que eu peço, diga que eu não estou.
 - Mas você não é diferente?
 - Diz que eu não estou! - gritou Miley pela última vez, antes de correr de quatro para o gabinete.
 - Mas como...

 Enquanto isso, parecia que William "discutia" com Selena. Por alguns motivos, ele se queixava com a garota sobre o lugar onde estavam pisando. Ele não gostava daquele tipo de lugar, parecia medíocre. Parecia não querer deixar Selena sair do carro. Após algumas palavras, Selena abriu a porta, saindo do carro, e William saiu apressadamente depois.
 - William...
 - Aqui é muito perigoso, por favor, Selena! - ele ainda insistia com a garota.
 - Isso é muito feio, não pode discriminar as pessoas só porque moram num lugar feio - Selena bateu o pé, naquele jeito bem mimadinha que só ela tinha. As pessoas que passavam na rua paravam para olhá-la. Sua beleza era incomum naquele lugar, tanto no modo de se vestir e se comportar, e isso incomodava William. O causava preocupação, medo.
 Selena bufou e começou a caminhar para dentro do salão.
 - Espera um instante! - chamou Will, fazendo Selena parar e se virar. - Se precisar de alguma coisa eu estou aqui. Eu vou ficar aqui.
 Selena revirou os olhos. Desnecessário aquela preocupação.
 - Ok, qualquer coisa eu grito - garantiu ela, e deu as costas, indo.
 - Tudo bem - sussurrou ele, olhando Selena.

 Dentro do salão, Olívia já esperava por Selena. Viu a garota entrar e se encontrava encostada no balcão, dando um sorriso meio forçado. Selena, ao ver a mulher, abriu um largo sorriso. Nada forçado. Conseguia ter uma simpatia incrível, que só ela tinha. Um carisma imenso.
 - Boa tarde - cumprimentou Olívia, sem sorrir.
 - Oi, boa tarde - sorriu Selena.
 Olívia olhou de baixo para cima de Selena. Ás vezes sua respiração falhava ao ver o quanto a menina era bonita e bem arrumada, mas sabia disfarçar. Tinha que mandar um papo para mandá-la embora, como quis dizer Miley.
 - Então, o que vamos fazer hoje? - perguntou Olívia.
 Selena desfez o sorriso, olhando agora confusa para a mulher.
 - Não, nada. Não vou fazer nada - respondeu ela, cerrando os olhos. - Eu vim procurar a Miley.
 - Ah é? - Olívia abriu um sorrisinho fraco de canto. - Devia ter ligado antes, porque a Miley está viajando - mentiu ela.
 Um misto de confusão e tristeza se passou no rosto de Selena. Agora sim o sorriso da garota havia sumido de vez. Miley só sabia sumir, era isso mesmo? Nunca mais acharia a garota?
 - Como? - sussurrou ela, numa respiração entre cortada.
 - Ela não está.
 - Não está?!
 - Não. Ela saiu pra viajar hoje de manhã com os pais - respondeu Olívia, agora sorrindo um pouco mais.
 - Não, não - Selena balançou a cabeça, completamente incrédula. A garota parecia assustada. - Como assim foi viajar? Ela não pode viajar agora!
 Olívia olhou com curiosidade pra ela.
 - Porque não?
 - Porque... - Selena bufou, parecendo escolher as palavras. - Porque olha, acontece que se ela não chegar hoje no colégio, vão tomar a vaga dela.
 Os olhos de Olívia se esbugalharam, e seu primeiro olhar foi para o gabinete. Ela não sabia desse detalhe, e por um momento pareceu ficar pálida e incrédula. Iria segurar Miley ali com ela, mas não sabia que a sobrinha corria o risco de perder a vaga. Isso era um detalhe, um fato que ela desconhecia. Mas Olívia naquela hora se via sem saber o que fazer. Não podia simplesmente desmentir e dizer que Miley estava ali, aquilo não. Sua cabeça girou tantas vezes naquele momento e seu coração batia tão forte de medo de preocupação que por alguns segundos esqueceu que Selena estava ali.
 Por fim, ela se virou para Selena, ainda respirando fundo.
 - Eu sei... - disse Olívia, completamente perdida. - Mas o que eu vou fazer? - deu de ombros, parecendo a única solução.

Área de lazer, Upper East Side, Nova York

 Isabella e Nick ainda continuavam sentados na mesa, de frente para o gramado. Após a entrega dos "presentes" de Isabella, Nick finalmente pode perceber que a garota realmente queria ficar com ele. Apesar de aquilo não fazer parte dos seus planos, e de ele não gostar nem um pouco de Isabella do mesmo jeito que ela o amava, ele não conseguia simplesmente dizer não a menina. Não que alguma coisa os prendesse, Nick sabia perfeitamente que mantinha um relacionamento com a garota baseado em pena. Ele tinha pena de desprezá-la, tinha pena de terminar qualquer coisa com ela. E simplesmente ele não podia ignorar o estranho sentimento que sentia por Selena, apesar de não saber exatamente o que significava. E também não queria saber, mas toda vez que chegava perto da garota, a única opção é não dizer nada, antes de controlar a vontade de não beijá-la de novo.
 Os dois se beijavam naquele momento, trocavam carinhos e palavras bonitas. Na verdade, Isabella dizia palavras bonitas. Nick não conseguia dizer sequer uma palavra. Pensava que esse remorso que sentia no início de estar enganando Isabella estava passando, mas toda vez que estava com a garota ele voltava. E com toda a força. Só conseguia interromper as frases da garota com beijos, quem sabe assim ele não precisasse ouvir. Mas foram interrompidos no momento bonito por Logan, que se manifestou no meio deles.
 - Me desculpe interromper o romance de vocês - ele deu um sorriso sarcástico. - Mas me mandaram dizer á você, Nick, que o professor James vai ficar esperando no depósito da escola.
 - A mim? - perguntou Nick, confuso. Logan assentiu, concordando. Sua expressão era de extremo tédio. - E não disseram pra quê?
 - Humm, não! - respondeu Logan, parecendo "acordar". - E é óbvio que eu não perguntei - ele deu um risinho, de repente puxando um humor barato. - Quer dizer, eu fiz a minha parte, você sabe.
 Logan deu de ombros, de repente percebendo que seu "serviço" havia acabado, e acabou virando de costas e saindo de perto do casal, se encontrando satisfeito.
 - Obrigado - falou Nick, dando de ombros, depois de Logan ter saído.
 A expressão de Isabella era de preocupação. A garota não sorria mais como a 5 minutos atrás.
 - Nick, não vai não! - sussurrou ela. - O professor James jamais marcaria com você num lugar assim. Deve ser uma armadilha.
 Nick suspirou.
 - Da Seita, não é? - ele levantou as sobrancelhas, enquanto Isabella ficou calada. Sabia o quanto a garota tinha medo da Seita. Ele bufou e se aproximou dela. - Olha, no mínimo eles são uns idiotas. Aí sim eu vou poder reconhecer eles. Não se preocupe - ele passou as mãos pelo rosto da garota e lhe deu um beijo leve nos lábios. - Não é a Seita.
 Nick tomou um gole de seu suco, e se levantou da cadeira.
 - Tchau. Até logo - deu uma piscadinha pra Isabella e saiu.
 A garota não deixaria de se preocupar tão facilmente.

Salão de Olívia, Salinas

 Olívia não conseguiu se livrar de Selena tão fácil assim. Apesar da noite já estar caindo, o salão diminuía seu movimento a cada minuto, e Olívia quase se via encurralada por Selena. Mas pelo visto, a patricinha não iria desistir de encontrar Miley, e isso de uma certa forma tocava em Olívia. Miley sempre dizia que não era aceita, e agora ela via ali, uma menina bonita, gente boa, com uma ótima condição financeira que se importava com Miley. Estava ali, a procura da amiga. Mas Olívia estava realmente proibida de dar qualquer informação de Miley a Selena.
 Olívia voltou novamente para onde Selena estava, e a garota estava perto do balcão, quase na entrada do salão.
 - Eles não deixaram nenhum telefone pra localizá-los - respondeu Olívia, dando uma expressão triste á Selena. - Sinto muito, meu amor, mas eu não posso ajudar.
 Olívia parecia meio apressada, e começou a empurrar Selena levemente para fora do salão.
 - Que pena - disse Selena, triste, sendo carregada para fora do alojamento por Olívia.
 - É sério, muito sério - ela sorria forçado.
 - Tudo bem, não importa - disse Selena, parando em frente á entrada e se virando para Olívia, de novo com o sorriso simpático e lindo no rosto. - De qualquer maneira, muito obrigada por tudo.
 - De nada. Passe muito bem, até logo - Olívia sorriu, e deu as costas, praticamente correndo de volta para dentro do salão.

 Selena se virou, caminhando de volta para fora do salão, cabisbaixa pela notícia ruim que recebera. Ela não sabia bem o motivo, mas tinha que ter Miley de volta. Ela sentia que agora aquela simples garota fazia parte de sua vida. No começo, Miley seria apenas uma cobaia para seu mais novo projeto, e Selena ainda mantinha essa ideia. Queria que Miley mudasse, se revigorasse, queria tornar aquela menininha tímida e encolhida num canto numa "estrela", popular, amiga de Selena Gomez. Queria ver Miley no auge. Mas com o passar do tempo, com a convivência que pegou com a menina, essa ideia foi além disso. Tinha mais planos com Miley. Não de apenas transformá-la, mas de cuidar dela. Agora queria realmente que a garota e ela tornassem amigas! Quem sabe melhores amigas. Mas Miley parecia fugir de tudo. Até dela própria. E Selena precisava libertar Miley de qualquer medo, de qualquer angústia, para que a garota se soltasse e brilhasse. Porque esse era o objetivo principal de Selena.
 A garota estava perdida em seus pensamentos quando trombou com uma pessoa na entrada. Selena resmungou, e olhou pra ver quem teria batido nela. Logo quando olhou, sua dor de cabeça aumentou. De repente uma raiva em Selena começou a crescer e ela criou uma vontade imensa de bater em alguma coisa. Quando viu aquelas roupas, aquele cabelo... Argh!
 - DEMI! - Selena grunhiu, estressada. - O que faz aqui?!
 Demi ajeitava os cabelos pela batida, e olhou pra Selena, com o mesmo olhar de nojo e desprezo como sempre.
 - O que é que VOCÊ faz aqui? - ela destacou as palavras. - Está se sentindo bem, Selena? Isso daqui é um salão do interior, não um confér internacional.
 - Argh, não sabe nem falar francês direito! - disse Selena com desprezo.
 - Não, graças a Deus - Demi abriu um sorriso. - Vindo de você, tudo é elogio. Mas eu vim ver a Miley, onde ela está? - a garota rodou os olhos pelo salão, procurando Miley.
 Selena riu.
 - A Miley não está, teve que viajar com os pais - respondeu ela.
 Demi olhou pra garota, como se ela fosse louca ou tivesse sérios problemas mentais.
 - Tá delirando? - perguntou.
 - É sim. Se não acredita, vai perguntar - Selena apontou para Olívia, que varria o chão. - Foi ela quem me contou.
 Demi deu de ombros.
 - Ok, tudo bem.

 Demi se aproximou da mulher, que logo parou o que estava fazendo já percebendo que teria que responder a mais perguntas. Logo ao ver Demi, Olívia já percebera que era do mesmo "ramo" da outra garota. Tudo bem que não era tão ageitadinha. Selena era notávelmente uma patricinha, isso estava na cara. Já Demi não. A garota tinha um cabelo preto grande, sedoso, meio encaracolado. Tinha um piercing no nariz e uma tatuagem nos pulsos. Apesar de ser largada e por usar roupas típicas dos rockeiros, eram roupas de marca. Roupas que não se via muito em Salinas. Os rockeiros dali normalmente andavam apenas com roupas pretas. Mas Demi conseguia ser tão bonita quanto Selena.
 Mas como Demi havia ido parar ali? E, para o azar de ambos, havia chegado na mesma hora que Selena? Devemos lembrar que Demi também era amiga de Miley. E que se preocupava, tanto quanto Selena. Ela não iria desistir de Miley, e estava extremamente arrependida por ter dado ás costas a garota por causa de um erro fútil, que na verdade não causou nenhum dado a Demi. Mas por influências de Madison, acabou que virou as costas para a pequena garota, o que causou de ela ir embora. Demi queria reparar o erro, e trazer Miley de volta, então como as fontes que Selena tinha, ela também conseguira o endereço de um salão de beleza. Apenas isso.
 - Oi, tudo bem? - cumprimentou Demi, sorrindo, ao chegar perto de Olívia. - Olha, a senhora me impressionou. Achei bonito o seu salão. Sério, parabéns.
 Olívia a olhava sem sorrir, pois já previa o que ela queria saber. E não era muito fazer um relaxamento ou uma hidratação.
 - Obrigada - agradeceu Olívia, seca. - Mas eu já disse pra sua amiga que a Miley não está.
 O sorriso de Demi desapareceu. Mil coisas se passaram em sua cabeça, mas a cabeça dela pensava rápido. E como!
 - Ela? - apontou para Selena, na entrada do salão. - Não, ela não é minha amiga - riu forçado. - Mas a Miley é! E onde ela está?
 - Bom, ela teve que viajar com a família - contou a mesma mentira.
 Demi cerrou os olhos, olhando desconfiada para a loira em sua frente. É claro que não estava acreditando sequer em uma palavra de Olívia. Não era possível.
 - Hmm, que época estranha pra viajar, não é? - supôs ela.
 Olívia quase derrubou o pote de produto em suas mãos. Aquele olhar de Demi a fazia pigarrear, mesmo sem querer. A fazia hesitar, e Demi sabia que ela estava mentindo. Logo Olívia percebera que Demi não era tão ingênua quanto Selena, que acreditara na primeira mentira que contara sobre Miley.
 - É que... Quando dão férias ao pai dela eles... Sempre... Sempre viajam - Olívia gaguejou, mais nervosa do que o normal.
 - Hmm, sim - concordou Demi, rolando os olhos pelo salão. - Mas muito obrigada, senhora. Mas se a Miley ligar pra você, diga que a Demi mandou um beijo - Demi voltou a sorrir.
 - Vou dizer. Até logo - disse Olívia.
 - Ok, muito obrigada.

 Demi voltou até onde Selena estava, a qual esticava o pescoço mais do que o normal para ver o que Demi fazia. Demi olhou pra trás, e certificou-se de que Olívia não estava espiando, e de repente puxou Selena para um canto, perto do balcão, onde estavam longe dos olhares de Olívia.
 - Disfarça e se esconde! - sussurrou Demi, puxando Selena. - Finge que está vendo essas fotos, vem.
 Demi pegou algumas revistas espalhadas pelo balcão próximo a entrada, dando uma á Selena, que não estava entendendo nada.
 - Porque? - perguntou Selena.
 - Essa viagem é a maior lorota - respondeu Demi, balançando a cabeça, com seus olhos focados em algum lugar.
 Selena bufou, agora achando mais do que nunca que Demi tinha problemas sérios.
 - Ai, Demizinha, você ficou maluca, não ficou? - falou ela, rindo forçado. - Ficou sim!
 Demi bufou. Achava Selena tão idiota!
 - Ok, então pergunta pro caderno porque eu estou maluca!
 - Que caderno? - perguntou Selena, arregalando os olhos.
 - O da Miley! - respondeu Demi, dando a volta em Selena, apontando para um caderno florido em cima do balcão. Aquele mesmo que Miley escrevia para sua irmã. - De repente na pressa de se esconder, ela deixou aqui - sussurrou.
 Selena ainda não entendia nada. Parecia que nada que Demi falasse era coerente. A garota pensava rápido demais, diferente dela, que demorava um pouco pra entender esse tipo de coisas. Temia ser usada por Demi para alguma coisa.
 - Mas eu sei como fazê-la sair! - Demi sorriu. - Vem! - puxou Selena.
 - Vem nada! - Selena se soltou, parecendo apavorada. - Chega, Demi! Não vai me dar ordens, escutou? Eu vou embora! Tchau! - Ela se virou pra ir embora do salão.
 - Espera aí, garota! - Demi puxou Selena de volta. - Para, ok? Ponha em prática pela primeira vez o único neurônio que funciona, está bem? Vem logo...
 - O que está acontecendo, meninas? - ouviram a voz de Olívia, enquanto a mulher se aproximava das duas na entrada do alojamento. - Porque discutem?
 Demi deu um sorriso mega forçado, e coçou atrás dos cabelos. Aquilo não fazia parte do plano, Olívia não podia vê-las.
 - Não, nada - Demi riu. - Já que estamos aqui queremos aproveitar pra... Lavar o cabelo, fazer um penteado...
 - COMO É QUE É?! - gritou Selena, agora sim realmente apavorada.
 Olívia abriu um grande sorriso. Dessa vez sincero.
 - Está bem! - concordou ela, santitante.
 - Não liga pra ela! - disse Demi, apontando para Selena, que era notável ver suas pernas tremendo. - Ela é assim mesmo. É como os gatos, tem medo de água. Mas não se preocupe, basta pentear o pixaim dela - passou as mãos pelo cabelo de Selena. - E falando nisso, começa com ela. Porque ela é muito apressada.
 Demi começou a empurrar Selena para as mãos de Olívia. Selena mal pôde controlar, e já estava berrando, querendo fugir. Quem iria imaginar que Selena Gomez faria o cabelo naquele mísero alojamento. "Não precisa, não precisa" gritava Selena, olhando com ódio para Demi.

Depósito, Upper East Side, Nova York

 Nick era orgulhoso. Não importava quantas vezes tentassem aconselhá-lo, ele faria o que ele queria, o que ele pensava que era certo. Ao chegar no depósito, ele encontrou um alojamento vazio e escuro. Tudo bem que ele havia sim achado estranho o professor James ter marcado com ele naquele lugar, mas se fosse a Seita mesmo, ele pensava que iria reconhecê-los. Ele descia as escadas dali, olhando para os lados, ainda a preocupação não invadia seu corpo.
 Nick só conseguia ver várias caixas empilhadas e um depósito vazio. Escuro e frio. Mal podia ver muita coisa, por causa da ausência de luz. Continuou caminhando até o centro, ainda não ouvindo nenhum barulho. Aquilo começou a parecer estranho pra ele. O depósito estava completamente vazio, onde estava o professor James? Ou melhor, onde estava a Seita? Porque pelo jeito quem iria encontrá-lo era a Seita.
 Mas do escuro obscuro, ele ouviu passos. De repente passou a prestrar mais atenção nas coisas ao seu redor. Eram passos pesados, pareciam estar marchando. Ele não se atreveu a se mexer. De repente um medo, um receio começou a subir em si. Mas não o bastante para ele se apavorar. Pareciam passos de botas, e estava em uníssono, um único passo. Mas não era uma pessoa, o que fez Nick ficar ainda mais preocupado. De repente os passos pararam. Ele os sentiu se aproximando, mas haviam parado. Ele sabia que eles estavam atrás dele, mas não tomou coragem para se virar.
 De repente ele viu uma luz. Não uma luz de clarear o depósito inteiro, mas uma pequena luz que vinha detrás de si. Nessa hora, Nick obrigou-se a se virar. E, ao se virar, seu coração parou de bater. Ele se deparou com 5 deles. Sim, 5 DELES! A Seita! Mas Nick não podia reconhecê-los. Eles estavam vestidos com máscaras de gás e roupas do exército, com botas e tudo. E traziam consigo um objeto em suas mãos, que por causa do escuro Nick não conseguia ver. E a luz que via era na verdade uma pequena fogueira no chão que havia surgido do nada, que com o passar dos minutos ela crescia. Nick começava a ficar realmente com medo, mas ele não deixava transparecer o pânico.
 Foi quando ele ouviu mais passos. As pessoas á sua frente estavam paradas, imóveis. Não mexiam nenhum dedo, pareciam nem respirar. Nick então bufou, vendo que os passos vinham atrás dele novamente. Quando os passos pararam, ele se virou, vendo que tinha mais 5 deles atrás de si. A luz da fogueira aumentou, então Nick se virou e viu que a fogueira aumentara nos 5 segundos.
 Nick não iria mostrar pânico, se bem que já estava apavorado. Não conseguia se mexer. Com o passar dos minutos, a fogueira foi se apagando, e as pessoas ali começaram a formar uma rodinha em volta de Nick. E pareciam entoar um jogral, que dizia: "A Seita manda aqui! A Seita manda aqui! Todos devem temer a Seita! Bolsistas não devem ficar aqui! A Seita manda aqui!"
 Eles repetiam isso milhares de vezes, enquanto andavam em rodinha em volta de Nick, cada vez mais adentrando. Nick sentia seu medo em expansão toda vez que eles chegavam mais perto dele. Então ele pôde perceber que o objeto nas mãos deles era um tipo de cajado de madeira, alguns tinham de ferro e por aí vai. Depois de algum tempo, eles pararam um pouco de repetir a mesma frase, enfim parando, ainda em rodinha, com Nick no meio. Foi quando um deles pegou o cajado e empurrou Nick com toda força no chão, fazendo o garoto bater a cabeça. "BOLSISTAS NÃO DEVEM FICAR AQUI!", agora eles gritavam.
 - O QUE VOCÊS QUEREM? - gritou Nick, ainda no chão. Não iria se mostrar com medo, havia decidido isso.

Parque principal, Manhattan

 A mãe de Nick e sua irmãzinha estavam andando pelo parque de sua cidade, por algum momento felizes. Após a ida de Nick para Nova York, as duas sentiam uma falta imensa do garoto, mas sabiam que ele havia ido para estudar. Tudo bem que Nick estava escondendo parte das coisas para elas, mas não podia deixá-las saberem de seu grande objetivo, o grande objetivo de vingar a morte de seu pai. Acharia melhor que as duas não soubessem, principalmente sua mãe, que não iria gostar nada. Iria fazê-lo ficar de qualquer jeito, e ele não iria aceitar isso.
 - Me diz, o que ensinaram em ortografia? - perguntou a mãe, enquanto balançava Grace no balanço.
 - Me ensinaram que... - a garota parecia tentar lembrar. - Que em ortografia a gente bota um acento no R. No primeiro R! - ela sorriu.
 A mãe não se contentou e riu.
 - O R leva acento? - ela perguntou, rindo. - A professor te ensinou isso?
 - Sim, e ela é a mais inteligente.
 - A mais inteligente? Não me diga! - riu. - E o que mais aprendeu?
 - A árvore não tem acento!
 - A professora te ensinou essas coisas? - ela riu forçado. - Assim só vai tirar zero na escola.

Depósito, Upper East Side, Nova York

 - JURE QUE VOCÊ VAI ABANDONAR O NOSSO COLÉGIO! - gritou um deles.
 Muita coisa já havia acontecido. Eles bateram em Nick, o deixando com um corte grave na testa e com o braço quebrado. Além dos cortes fracos pelo rosto. Arrancaram a rua roupa, o deixando apenas de boxers e estavam meio que tentando afogá-lo em uma pequena piscina. Deixavam sua cabeça várias vezes debaixo d'água, e só retiravam quando o garoto já não tinha mais forças.
 - AQUI NÓS NÃO GOSTAMOS DE CAIPIRAS IDIOTAS FEITO VOCÊ!
 - VOCÊ JÁ DEVIA TER IDO EMBORA A MUITO TEMPO!
 - EU NÃO VOU EMBORA! - gritou Nick, e mergulharam sua cabeça na água novamente.
 E fizeram isso repetidas vezes, até que Nick já se encontrava sem forças. Completamente sem forças.
 - Me deixem sair, por favor... - sussurrou ele, em um fio de voz.
 - Você vai embora daqui? - perguntou um deles.
 Nick pensou muito antes de responder. Não imaginava que seria tão fraco assim, a chegar ao ponto de se render para a Seita, que ele falava ser tão medíocre e que não fazia mal a uma mosca. Não quis ouvir Isabella. Mas ele não aguentava mais o que estava passando, estava encharcado, machucado e dolorido. Seu plano não podia terminar, mas sua cabeça girava tanto, que ele só conseguiu responder em um fio de voz:
 - Eu vou embora daqui.
 - Mais alto! - gritou um deles.
 - EU VOU EMBORA DAQUI! - gritou Nick. - SEXTA FEIRA EU VOU EMBORA DAQUI, TA LEGAL?
 As risadas ecoaram pelo depósito. A Seita sempre conseguia o que queria. Nick não sabia o que ia realmente fazer, não sabia mesmo.

Parque principal, Manhattan

 Uma fisgada no coração da mãe de Nick denunciou o que estava acontecendo com o filho. Sempre tem aquela história, se acontece algo com alguém que nós amamos, nós sentimos. Foi o que aconteceu com a mãe de Nick. Ela sentiu uma fisgada, e logo seu pensamento foi em Nick. A mulher ficou séria, parando de dar as risadas gostosas com a filha Grace. Ela não entendia, mas precisava de Nick naquele momento. Precisava saber como ele estava.
 - O que você tem, mãe? - perguntou Grace, vendo a mãe ficar estranha do nada.
 Ela demorou um pouco a responder.
 - Porque, meu amor?
 - Não sei, você ficou estranha - respondeu Grace.
 - Não, não é nada! - disse ela. - Não é nada - sorriu forçado. - A propósito, já está chegando seu aniversário!
 - É! - a menina ficou sorridente.
 - Vai querer alguma coisa? Já pensou? - ela teve uma ideia. - Ah sim, vamos fazer uma festinha para as suas amigas.
 - Não, eu quero um festão!
 - Como um festão? - ela riu, mexendo nos cabelos de Grace. - Você é muito novinha pra ter um festão.
 - O que eu quero é ir pra Nova York ver o meu irmão!
 O rosto da mulher ficou sério ao lembrar de Nick. E novamente aquela fisgada a pegou de jeito.
 - Deve estar morrendo de saudade dele, não é? - disse ela.
 - É, sinto muita saudade.
 - Eu também sinto saudade, filha. Mas vamos ter que esperar até o Nick ligar pra podermos combinar.
 - Eu acho que não vai ligar.
 - Ele vai ligar, claro que vai ligar! Não pense em coisas terríveis.
 E logo as duas estavam brincando pelo parque. Uma distração, já que a falta de Nick doía em todas as duas.

Continua.

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