“Uma das coisas mais belas da vida é olhar para o céu, contemplar uma estrela e imaginar que muito distante existe alguém olhando para o mesmo céu, contemplando a mesma estrela e murmurando baixinho: ‘Que Saudade’” — Bob Marley.
Nick acaba de sair da casa de Gomez, mais decepcionado do que quando havia entrado. Estava impaciente naquele dia, não queria saber de conversas muito longas e principalmente frente a frente com Jayden. Para se azar, um carro se aproximava da entrada da casa enquanto saía e sua cabeça pesou quando viu jayden saindo do carro.
- Como está, Nick? - perguntou ele enquanto saía do carro. - Meu motorista me ligou e disse que você havia saído. Quero falar com você.
Nick suspirou, baixando os olhos.
- Olha, senhor... se é por causa daquele outro dia, eu já disse que sinto muito, mas...
- O que? - perguntou Jayden, erguendo as sobrancelhas.
- Já tive muitos problemas e...
- Pois então vou te dar um outro problema - falou Jayden, se encostando no carro. - Preciso de alguém que organize as coisas pra mim. A secretária não dá conta. Você quer trabalhar pra mim?
Nick piscou os olhos várias vezes, pasmo.
- É sério?! - perguntou, incrédulo.
- É claro! - respondeu Gomez. - Você quer?
Nick sorriu.
- Claro que sim! - respondeu. - Mas... acontece que... o problema...
- O que é? - perguntou Jayden.
- Como eu vou conseguir autorização da escola pra sair?
Jayden suspirou e se desencostou do carro.
- Eu tomei a liberdade de conversar com o diretor. Ele concordou em autorizar você a sair um dia por semana - respondeu ele enquando dava as chaves ao porteiro. - Além do fim de semana. É óbvio que o mérito é só seu. Prezaram suas boas notas e o seu bom comportamento.
Nick juntou as sobrancelhas, ao mesmo tempo maravilhado. Jayden fazia as coisas sem nem ao menos Nick descobrir, ele descobria coisas que Nick jamais pensava. Isso era bom, mas também muito ruim... ruim demais.
- Então... pode contar comigo, senhor Gomez - Nick abriu um grande sorriso.
- Tá bom - Jayden deu um sorrisinho. - Me chame de Jayden!
- Jayden... - Nick balbuciou. - Vai ser meio complicado no início.
Jayden deu de ombros.
- No início, depois acostuma - os dois riram.
- Bom... - começou Nick.
- Só tem um problema! - interrompeu Jayden.
Nick olhou pra ele, sério, esperando a resposta.
- Selena! - respondeu Jayden.
Ao ouvir o nome da garota, Nick sentiu embrulhos no estômago. Estava tão contente que seu plano havia progredido, agora estava cada vez mais perto de Jayden e de sua vingança, mas algo tinha que dar errado. Ou melhor, alguém. Se convivesse com Selena, iria ser uma guerra sem armas na certa. Os dois não se suportavam.
- Acho que ela não vai ficar feliz quando souber - falou Jayden.
Nick bufou, baixando os olhos. De maneira alguma poderia falar algo de mal de Selena na frente do pai. Teria que se mostrar um garoto bondoso na frente de Jayden, o mais bondoso e amável que poderia conseguir. Então, ele apenas concordava.
- É... - suspirou Nick, levantando a cabeça. - Senhor Gomez, não se preocupe... perdão, perdão! Jayden! - ele riu. - Com o trabalho, eu vou fazer com que ela mude de opinião.
Jayden bufou, tirando os óculos escuros.
- Por enquanto eu prefiro que ela não saiba da história - falou.
- Ok... - concordou Nick, em um sussurro.
- Eu acho muito inteligente o que acabou de dizer. Eu gosto de empregar pessoas que sabem resolver as situações que aparecem.
Nick abriu um enorme sorriso. Sentia-se orgulhoso dele mesmo naquele momento. Havia conseguido o que tinha batalhado a tempos. A vingança que pretendia jogar pra cima da família Gomez começava a avançar. Era tudo o que ele mais queria, e estava valendo a pena. Baixou os olhos e viu a mão de Jayden estendida a ele e, como um rompante, apertou aquelas mãos, em um ato de pura parceria.
- Muito obrigado - agradeceu Nick.
Jayden abriu um sorriso. Tinha se orgulhado daquele garoto em tão pouco tempo de convivência, havia se enturmado em seus pensamentos. Admirava a força de vontade do garoto, a força que ele tinha de ser alguém na vida. Mas Jayden jamais imaginava o propósito real de Nick. Ele não imaginava que Nick queria mesmo era destrui-lo, ele e toda a família pela morte do pai. Ele não imaginava a vingança. E Nick, todavia, mostrava um sorriso de puro veneno, olhando firmemente para os olhos de Jayden. O plano avançava, e o desejo de vingança de Nick se tornava mais e mais forte.
Demi e Madison caminhavam entre os arredores mais ostis do colégio, indo novamente áquele caminhão velho que se encontrava Samuel. Demi se lembrava muito bem da última vez que havia estado lá, e precisava tomar sérias decisões sobre isso. Dessa vez levava Madison pra ver se melhorava algo com aquela situação. As duas andavam pelas estradas de terra, sujando suas botas de uniforme e suavam com o sol quente.
- Não pode ser! - falava Demi enquanto as duas caminhavam. - Ainda mais com o trabalho que teve pra entrar no colégio. Na boa, o que deu na Miley? Quem botou essa ideia na cabeça dela?
- Ué, como eu vou saber? - disse Madison. - Eu não acho que o que eu disse tenha a ver com isso. E também não foi tão grave assim.
Madison suspirou ao lembrar das brigas contínuas que teve com Miley. Mas seus pensamentos foram barrados pelo grito que Demi dera, ao quase socar a barriga da amiga ao fazê-la parar no meio da estrada estreita. A frente, se encontrava um enorme cachorro, rosnando e rangendo os dentes.
Madison podia sentir a tremedeira de Demi ao seu lado.
- Calma aí, cachorrinho - falou Madison, calma. - O que está fazendo aqui?
O cachorro avançou ainda mais pra elas, rangendo os dentes e latindo.
- Calminha, calminha garoto, eu não to com medo! - gritou Madison.
- Espera, você ficou maluca? - gritou Demi, arregalando os olhos.
Em seguida, as garotas ouviram passos. Vários passos. E de imediato avistaram a sua frente homens de preto, homens enormes e sérios, correndo até o cachorro. Agarraram o cachorro com as próprias mãos e o colocaram em uma coleira enorme. Madison e Demi observaram muito bem quando Alexander Walker surgiu entre os homens, como se fosse um imperador.
Os olhos de Demi e Alex se encontraram, com bastante desgosto.
- Posso saber o que as duas fazem nesse terreno? - perguntou ele, fumando seu inseparável cigarro.
O sangue de Demi subiu só de ouvir a voz anasalada de Alex. A última conversa que tiveram não foi tão prazerosa assim.
- Imagino que o mesmo que o senhor, só que sem os cachorros - respondeu Demi, resgatando o tom de deboche. - Passeamos.
Alex de um sorriso cínico.
- Que resposta interessante... muito simpática - falou ele. - Nesse terreno não se pode passar. Isso é proibido.
- Hmm... - Demi deu um mega sorriso falso e cruzou os braços. - Nós duas não sabíamos, porque somos novas aqui. Não é verdade? - se virou pra Madison.
Alex se aproximou das garotas antes mesmo de Madison ter a chance de falar.
- Sabe porque trouxe esses cachorros? - perguntou Alex, dando uma tragada no cigarro. - Para provar que o meu filho não mentiu! Se ele disse que tem um menino por aqui, tem que estar escondido. Esses cachorros vão conseguir encontrá-lo!
Demi e Madison tremeram dos pés a cabeça. Agora não tinham resposta alguma a dar. Samuel estava escondido naquela região, e se o pegassem, seria o fim. Tudo acabaria. Demi se sentia um lixo por ter de ficar quieta a frente de Alex. Odiava aquele olhar astuto e cínico do político, odiava seu jeito de ordenar e de exigir. Até de pessoas que ele não tinha direito. E é claro, era frio. Sem coração.
- Soltem os cachorros! - ordenou ele.
Em meio segundo já podia se ver os cachorros correndo em alta velocidade pela estrada a frente e pelo matagal ao lado, latindo como famintos. Os seguranças corriam atrás, pra não se perderem ou perderem qualquer outro vestígio. Alex deu um sorriso diabólico a Demi e deu as costas, caminhando pela estrada, tragando seu cigarro sendo seguido pelos seus seguranças enormes.
Quando desapareceu de seu caminho, Demi podia jurar que quase chorava. Ela e Madison se olhavam aflitas, sem saber o que fazer.
- Ah não - sussurrou Madison.
Demi tapou a caneça com as mãos, desesperada.
- Se aquelas feras encontrarem o Samuel, não sei o que vão fazer! - gemeu.
- Não, não, não! - gritou Madison. - Nós temos que fazer alguma coisa, e rápido!
- Eu não consigo pensar em nada! - gritou Demi, seus olhos já começando a ficar lacrimejados.
- Pensar que nada, nós temos que agir e logo! Anda, Demi, vem! - gritou Madison, puxando pelo pulso de Demi e puxando a garota pela estrada.
- Mas espera, onde você vai?! - perguntou Demi, se soltando.
- Anda, corre! - gritou Madison, correndo a frente na estrada.
- Onde você vai? Menina, tá maluca? ONDE VOCÊ VAI? ME ESPERA! - berrou Demi, correndo atrás de Madison.
Chegando ao caminhão de Samuel, Demi e Madison olharam para os lados, percebendo que nenhum segurança do Walker ainda se encontrava naquele lugar. As duas saíram de trás dos arbustos ao ver que a área estava segura. Suas roupas estavam sujas e seus joelhos estavam completamente ralados. Demi havia prendido o cabelo e estava com um leve corte na mão enquanro Madison estava com leves cortes pelo rosto e um pior na testa. Estavam sujas e cansadas, mas não iriam desistir.
Após sair do esconderijo, as duas se aproximaram o mais rápido possível do caminhão, mas param de repente ao ver que um dos cachorros de Walker estava na porta do caminhão, vasculhando alguma coisa. A tremedeira de Demi havia voltado.
Madison bufou.
- EI! EI! FORA! - gritou Madison, avançando para o cachorro.
O cachorro se virou para Madison, e começou a latir. Ela pegou um pedaço de galho que havia encontrado no chão e começou a avançar para o cachorro novamente.
- FORA DAQUI!
Demi observava de longe quando tudo aconteceu. Madison tiçava o cachorro, ameçava com um pedaço de madeira. De repente, em um impacto, o cachorro saltou pra cima de Madison, a jogando no chão, subindo em cima da própria. Demi soltou um grito de horror e um grito de pavor. As lágrimas em seus olhos começavam a correr. O cachorro - que mais parecia um lobo enorme - arranhava Madison no rosto e nos braços. Sua camisa de uniforme já estava rasgada e o cão a arranhava e deu uma mordida em sua perna, enquanto Madison gemia de dor e gritava apavorada. "NAAAAAAAAAAAAAAAAO", Demi gritava, chorando. Se sentia incapacitada de fazer alguma coisa, se sentia incapacitada de ajudar. Parecia que não podia ajudar a amiga de modo algum.
E por fim, Madison estava deitada no chão, seu corpo sangrando.
No quarto de Selena, ela e as amigas se encontravam conversando sobre o mesmo assunto do almoço, das preocupações em sinal. Selena estava em seu notbook na escrivaninha, enquanto Emily se sentava na escada e Isabella na cama.
- Essa nova aparição da Seita me deixa grilada, eu tenho medo de que façam alguma coisa contra mim - comentou Emily, ainda intrigada com aquela história.
Isabella bufou.
- Tomara que façam alguma coisa. Mas contra a idiota da Demi!
- Ah meu Deus! - bufou Selena, se levantando da escrivaninha e se virando para Isabella, impaciente. - Como pode dizer isso depois do que fizeram com o seu namorado?
Isabella juntou as sobrancelhas, confusa.
- Você é a favor da Seita? - perguntou Selly.
- Não! - gritou Isabella, arregalando os olhos. - Mas essa menina merece isso. O Nick não!
Selena bufou, balançando a cabeça.
- Olha, esse grupo não seleciona as vítimas! Isso é pior do que cabelos brancos aos 30 anos, não deviam nem existir! - concluiu Selly.
- Mas não é só preto ou branco - falou Isa. - Também tem grisalho.
Selena olhou pra Isa, incrédula.
- Não acredito que você apoia essa monstruosidade, francamente!
Isabella suspirou, pegando um chocolate que estava em seu colo e o comendo.
- Tudo bem, desculpa - falou ela enquanto comia. - Mas é que eu não suporto essa imbecil da Demi, eu, eu... aff! Eu não suporto ela!
Selena suspirou, baixando os olhos e ajeitando os belos cabelos encaracolados. De repente as garotas ouvem batidas na porta.
- Vê quem é - falou Selena para Emily.
Emily correu até a porta, abrindo-a. Mas não encontrou ninguém.
- Não tem ninguém - disse ela, fechando a porta.
As garotas apertaram os olhos pra um bilhete no chão, logo na soleira da porta.
- Pega isso! - falou Selena, apontando para o papel.
Emily se abaixou e pegou, e logo abriu um grande sorriso.
- Diz que é pra Emily! - bradou ela. - Que sou eu.
- Ah, que bom - sorriu Selena. - Quem deve ser?
Emily abriu o envelope.
- Ain, é do Joe - respondeu Emily, fazendo biquinho.
- Ah, que romântico! - gritou Selena, sarcarsticamente.
Emily riu e caminhou até a escada.
- Meninas, eu tenho que tomar um banho!
- Ui, parece que vai ser um contato imediato - comentou Isabella, sorrindo.
- E bota imediato nisso! - gritou Emily e entrou no banheiro;
Madison já estava na enfermaria, acompanhada do senhor Walker e do diretor Ethan, que já havia sido avisado. Sua perna estava horrível: a doutora fazia um grande curativo na parte inicial de sua coxa. Demi também havia estado ali antes, mas apenas para fazer um curativo na testa, perto da sobrancelha.
- Tem que trocar o curativo todos os dias, e lavar a ferida - falava a doutora enquanto dava o toque final no curativo de Madison. - Se sentir incômodo no ferimento, por favor, tome um desses comprimidos a cada 6 horas - esticou uns remédios nas mãos de Madison.
- Claro - agradeceu Madison, pegando os remédios.
- Obrigado, doutora - agradeceu Alex, sorrindo.
- De nada.
- Meus cachorros estão vacinados - afirmou Walker, e se virou para Madison. - Por isso a senhorita não corre nenhum risco.
Madison o encarou, tremendo de fúria. Agora sim entendia o que Demi sentia ao ver o rosto do político.
- Ah sim, o único risco que eu corro é que da próxima vez me arranquem um pedaço da perna, não é? - falou a garota, debochada. - Não é possível que ajam cachorros assassinos na escola! Ou então, sei lá... - virou-se para Ethan. - Eu posso ligar pra algum amigo jornalista, como me aconselhou minha amiga Demi!
Ethan e Alex se encararam, muito ferozmente. Os dois agora ficavam tensos. Apesar de tentar acabar com tudo, sabiam muito bem do que Demi era capaz. E se não era capaz de fazer, sabiam do que ela podia fazer pra mandar alguém (ou simplesmente insinuar).
Teriam que trabalhar bastante pra pelo menos dar um jeito em Madison, ou quem sabe em Demi mesmo.
- Olha - disse Ethan, rindo forçado. - Mantenha a calma, filha. Como responsável do colégio, eu vou cuidar diretamente desse assunto. Além disso, o senhor Walker já retirou os cachorros.
- Mas é claro - confirmou Alex. - É claro que sim. Eu não vou expor mais nenhum aluno a uma situação de risco.
Madison olhava de Alex para Ethan. Dois cúmplices, duas pessoas de puro veneno. Quem não conseguia ver ou enxergar isso? Os dois sorriam forçado um para o outro, mas Madison entendia o que eles queriam dizer. Se ela mexesse um dedo na situação, os dois caíam.
- Hmm, posso acompanhar o senhor? - perguntou Ethan á Alex, um sinal de que precisavam sair daquela sala imediatamente.
Alex olhou para Madison, e afagou o seu cabelo por alguns instantes.
- Com licença - pediu ele, e se afastou com Ethan para fora da sala.
- O senhor sabe, não é? - sussurrou Ethan ao senhor Walker, quando já estavam fora da sala. - É um assunto delicado, e se isso tivesse acontecido com outro tipo de aluna, o colégio poderia ter enfrentado um processo. Por isso, bom... é... eu gostaria que... se fosse possível...
- Sim, sim - interrompeu Alex, acendendo um cigarro. - Eu entendo perfeitamente. E esse menino?
O diretor juntou as sobrancelhas, quase gelando. Tinha medo das palavras de Alex, do que poderia mandar ou exigir. Ethan sabia muito bem que Alex se referia ao desconhecido Samuel.
- Se o meu filho disse que tem um menino, é porque está em algum lugar - afirmou Alex, dando uma tragada em seu cigarro. Ethan começava a hesitar. - Alguém está escondendo ele, não acha?
Ethan bufou, tentando encontrar as palavras.
- Hmm, eu vou cuidar pessoal para que ele apareça - falou ele, dando um sorriso amarelo. - E quanto á Demi, não se preocupe, eu vou falar com ela. Fique tranquilo. Ficará tudo sobre a minha responsabilidade.
O senhor Alex deu um grande sorriso, o máximo que podia dar que era sem mostrar os dentes. Depois, deu mais uma tragada em seu cigarro, o final, e o jogou no lixo ao lado, se retirando de perto de Ethan, saindo da enfermaria. Ethan bufou, quase suando frio. Estava metido nisso, estava macumulado com Walker, agora já não tinha mais pra onde correr.
No salão de Olívia, sua sobrinha Miley já havia chegado. Olívia fazia as unhas de uma mulher, enquanto Miley voltava de sua casa, se sentando ao lado dela.
- Pronto, a Abigail já está dormindo que nem um anjinho - falou Miley, sorrindo. - Como é bom sentir o cheiro do salão de novo!
Olívia riu.
- Depois de passar 20 anos, de pé 12 horas por dia, você vai ter enjoô - disse ela.
- Ah, mas eu gosto muito desse trabalho - sorriu Miley. - A gente deixa as pessoas bonitas, elas ficam contentes.
- Prontinho! - disse Olívia á mulher que acabara de fazer as unhas.
A mulher sorriu, se levantando.
- Você deve ter troco - falou ela.
- Eu recebo pra senhora, venha por aqui - disse Miley, indo até o caixa, sendo seguida pela mulher.
Miley foi pra trás do caixa.
- Ah, Miley... você tem um coração de ouro - disse a mulher, abrindo a bolsa, pegando uma nota altíssima de dinheiro e estendendo á Miley. - Cuide dele. Não deixe ninguém roubá-lo!
Miley olhou confusa para a mulher, e a olhou se despedir de todas no salão e saindo pela porta da frente. Miley olhou para a nota em suas mãos e ficou confusa. Depois, guardou o dinheiro em seu bolso e foi até sua Olívia, dando um beijo em seu rosto.
- Como é bom estar em casa outra vez - disse ela, sorrindo.
Olívia permaneceu séria.
- Essa não é a sua casa! - falou ela, desviando os olhos de Miley. - Sua casa é aqui ao lado! Onde sua mãe não sabe diferenciar a filha doente da saudável, onde você vai passar os melhores anos entre médicos e remédios... onde provavelmente vão acabar atrofiando parte da sua capacidade, como sua vida.
Miley ficou estática, apenas olhando Olívia se levantar e andar pelo salão. Agora o estabelecimento se encontrava vazio. Olívia mantinha os olhos marejados, e Miley balançava a cabeça. Sabia que a tia não concordava de Miley querer cuidar para sempre de sua irmã, e esquecer de seu futuro, de ter um bom estudo.
- Você nunca tinha falado assim - disse Miley.
- Não - concordou Olívia. - Nunca tinha sentido tanta dor nos pés e nos ossos.
Foi aí que Miley percebeu. Olhou de sua tia de cima a baixo e percebeu que ela já não era a mesma que a tinha visitado no Upper East. Seus cabelos, que antes eram sedosos e cuidados, estavam desgastados, maltratados. Ela mancava, aparentemente com muita dor, e agora se encaminhava á porta. Miley ficou sem reação. Não sabia daquilo. A tia estava doente, era fato. E agora mais um peso pesava em suas costas. Passou a vida inteira ouvindo da tia que não devia gastar sua vida cuidando de sua irmãzinha doente, e agora quem se encontrava nessa situação era ela mesma. E Miley, como sempre, estava saudável!
Seus olhos começaram a lacrimejarem, em um ato de peso. Correu até a mesinha de cabeceira mais próxima, ao retrato de Abigail.
- Qual é o meu lugar, Abigail? - disse ela ao retrato, as lágrimas começando a surgir. - Qual? Se não é aqui e nem no colégio, não tem lugar pra mim!
Olívia ouvia Miley, as lágrimas correndo desesperadamente, e um misto de sentimentos horríveis se passavam dentro de si.
Continua.