“Feche os olhos e pense em um lugar. Agora pense em uma pessoa. Se você demorar pra pensar em alguém, você se sente só. Se você sentir uma dorzinha no coração, você sente saudades. E se você pensar, quase que instantaneamente, em alguém, você sente amor.” — Querido John.
Na sala do diretor após a aula, Ethan conversava com o senhor Walker.
- O professor John estudou no exterior e é um dos melhores na matéria - explicou o diretor, se sentando em sua cadeira.
Alexander ergueu os olhos para Ethan por cima da xícara de café, com o olhar sério e piedoso. Baixou a xícara sobre a mesa e encarou o diretor.
- É um incompetente - disse Alex. - É isso que ele é. Como permitiu que ela lesse aquela porcaria na aula? - se referiu á Demi.
Ethan balançou a cabeça, dando um sorriso forçado.
- Senhor, é um professor novo, e eu tenho certeza que ele não sabia do conteúdo daquele trabalho e nem quem é o senhor - concluiu.
Alex juntou as sobrancelhas, olhando pra Ethan como se fosse louco. Depois, se ajeitou na cadeira, suspirando.
- O que ele fez é imperdoável - falou. - Assim como aquela menina sem respeito. Quem é essa menina? Eu quero saber o nome dela.
Ethan ficou sério, abaixando por alguns segundos a cabeça. Demi não tinha lá uma boa fama naquela escola, e aparentemente o senhor walker não se lembrava de que já a conhecia. Na verdade, se conheceram durante uma briga muito oculta que ela estava tendo com Joe, mas não se lembrava disso.
Por fim, o diretor bufou e disse:
- Ela é filha da...
- Pai!
Joe entrou na sala, ultrapassando os seguranças da porta. Alexander apenas se virou para o filho, ainda sentado na cadeira, com o rosto de extremo desprezo.
- Você é o culpado de tudo - apontou para Joe. - Porque você pediu pra ler aquilo na minha frente? Parece que você é o meu pior inimigo e não o meu filho.
Ethan observou enquanto Joe se abaixou até ficar no tamanho do pai, que estava sentado na cadeira.
- Pai, é sério, me perdoa - pediu Joe, os olhos piedosos. - Juro que não sabia o que dizia naquele trabalho. Além disso pensei que ela não teria coragem de ler na sua frente, eu juro.
Alex balançou a cabeça, olhando pra Joe com nojo. Ele não via como Joe se humilhava a seus pés, e queria mais. Balançava a cabeça com forte negação.
- Era só o que me faltava - disse ele, e bufou. - Ainda por cima isso acontecer por uma bobagem sua. Isso é o que me revolta mais. Levante-se!
Joe se levantou, ainda de cabeça baixa. Nada poderia descrever a tristeza e a humilhação que ele sentia naquele momento.
- O filho do secretário é um perfeito... - continuou Walker, olhando pra Joe com desprezo. - como eu vou dizer... IDIOTA!
Joe engoliu em seco, com a cabeça baixa. Ethan suspirou, pronto pra falar.
- Ah, deixa isso pra lá, senhor - disse o diretor, tentando abafar a situação. - Vai ver como logo todo mundo vai esquecer essa história ridícula e que...
- Você não entende de política, diretor - interrompeu Alex, mais sério. - Se essas coisas forem ignoradas, depois se forma uma bola de neve impossível de parar.
Ethan abriu e fechou os olhos várias vezes, juntando as sobrancelhas, mais confuso do que nunca.
- O que? - perguntou, encostando os cotovelos na mesa. - O que quer dizer com isso, senhor?
Alex bufou, baixando os olhos.
- Temos que enfrentar isso - respondeu. - Quando ainda está em tempo. Me diga agora o nome dessa aluna!
Uma onda de medo de preocupação subiu sobre o corpo de Ethan. Ele sentiu suas mãos tremerem e sua língua começar a travar. Ele balançou sua cabeça, tentando pensar em algo para livrar Demi. Tudo bem que ele não gostava da garota e muito menos queria defendê-la, mas ele sabia e muito bem do que Alex era capaz. Ele sabia muito bem o que ele poderia fazer quando ficava com raiva de uma pessoa, e como sabia.
- Por favor, senhor, deixe esse assunto comigo - pediu Ethan, baixando os olhos. - Eu garanto que não vai ter nenhum...
- Não! - interrompeu Alex. - De maneira alguma. É a mim que estão devendo uma explicação.
Ethan chegava a quase suar frio. Ele não podia combater com Alex, de jeito nenhum. E ele não fazia ideia do que ele pretendia fazer com Demi.
"DEMI, DEMI, DEMI!", era o que os alunos gritavam em uma parte do refeitório naquele momento, principalmente Madison, que estava mais feliz do que nunca. Demi estava em cima da mesa, como se estivesse recebendo algum "prêmio" e sorria para as mais ou menos 7 pessoas que a aplaudiam, entre elas Nick. Os alunos sorriam.
- Você abusou, Demi, você deu o maior banho, que beleza! - gritou Aiden, animado.
Demi sorriu.
- Pior que se não fosse pelo professor, eu não teria tido coragem - falou ela.
- Independente disso você estava genial, parabéns! - falou Nick, sorrindo.
- Obrigada, meu povo! - gritou ela.
Eles conversaram animadamente, enquanto Demi ainda se mantinha firme no "topo", que era em cima da mesa. Madison comemorava e conversava animadamente com Aiden e as outras pessoas que ali se mantinham, parabenizando Demi pelo ótimo trabalho.
De repente, uns homens de preto, que eram bem lembrados por Demi pelos "gorilas do Walker", apareceram no refeitório, indo direto a Demi, que sorria com os amigos.
- Senhorita Demi? - apontou um deles para Demi ao se aproximarem.
Demi juntou as sobrancelhas.
- Sou eu - respondeu ela.
Sem mais palavras, o seguranças puxaram seu braço e a puxaram para fora da mesa com brutalidade.
- Que isso! - gritou a garota, agora presa nos braços do seguranças, que a arrastavam.
- Demi! - gritou Madison.
- Me larga, o que é isso?! - gritou Demi.
A garota parou de gritar quando os mesmos seguranças pararam, ainda no meio do refeitório, na frente de Alexander Walker, que olhava pra Demi sem nenhuma expressão. A garota fechou a boca, enquanto sentia um frio se passar por sua espinha.
- Senhorita Lovato - disse Alex -, quero falar com a senhorita. Venha comigo a sala do diretor.
Alexander deu as costas para caminhar, e Demi não sabia o que dizer. Nada poderia descrever o medo que estava sentindo naquele momento. Tinha uma expectativa muito ruim do que poderia acontecer, e não imaginava coisas boas.
- Agora não dá! - falou ela, e Alex se virou novamente. - Agora eu... tenho outra aula!
Alex olhou a garota, com um olhar que nem comentamos. Demi nunca deixara abaixar a cabeça pra nenhuma pessoa, mas o senhor Walker dava arrepios em Demi. Só de olhá-lo já causava muito medo nela.
- Venha comigo a sala do diretor - repetiu Alex. - Anda logo!
O coração de Demi se acelerou. Por um instante, havia se arrependido por ter dado uma de esperta e ter lido aquele trabalho na frente do político. Demi bufou e se soltou dos seguranças, "me larga!" e saiu andando na frente deles, com o coração a mil.
Madison e os outros observavam, com muita atenção e muita preocupação. Madison estava a ponto de sair correndo e puxar Demi deles, mas o mesmo medo que Alex causava em Demi, Madison sentia a mesma coisa, o mesmo receio, o mesmo medo. Nick balançava a cabeça, completamente estupefato.
- Caramba, Aiden, não vacila, esse cara vai pegar ela! - gritou Nick, apontando para Alex.
Aiden não sabia o que dizer, seu queixo tremia.
- Ta, mas o que podemos fazer? Não inventa - sussurrou Aiden, assustado.
- Eu não sei - respondeu Nick. - No mínimo temos que ficar junto com ela, por via das dúvidas.
- Calma, não vai dar em nada...
Demi havia se sentado em uma das poltronas brancas da sala do diretor. Suas pernas tremiam tanto que mal aguentava ficar de pé. Os seguranças a encaravam, e o pior de tudo era que Alex a encarava ferozmente, enquanto se sentava em uma cadeira em sua frente. Demi estava indefesa e ela odiava se sentir assim.
- Sabe de uma coisa? - começou Alex. - Eu jamais gostei das historinhas. Eu não entendo - ele ergueu as sobrancelhas e se encostou na cadeira. - Já que você entende disso, gostaria que me explicasse o que você quis dizer.
Demi olhou em volta, tentando pensar em algo. Sua cabeça girava tanto que ela se sentia incapaz de falar alguma coisa, parecia que as palavras não iam sair. Ela abaixava a cabeça constantemente.
- Não me sinto em condições de explicar nada - respondeu ela, com os olhos baixos.
Alex se levantou, jogando o cigarro que fumava na lixeira. Em seguida, olhou para os seguranças.
- Saiam - ordenou a eles.
Os seguranças saíram da sala, fechando a porta. A onda de medo em Demi agora se tornava um furacão. Era só ela e ele agora na sala, enquanto ele se sentava em seu lado na poltrona branca.
- Vamos ver - começou ele. - Porque você não tenta?
Demi baixou os olhos, mordendo os lábios, tentando pensar em algo.
- Olha, eu agradeço por me chamar de expert - começou ela -, mas eu sou apenas uma principiante.
Alex riu irônicamente, enquanto encarava a garota, que não virava o rosto.
- Por favor - disse ele. - Não seja modesta. Não se faça de boba. Parecia tão segura lá.
Demi olhou para o homem a seu lado, agora soltando uma risada baixa.
- Vem cá, qual foi a parte que não entendeu? - perguntou.
- Aquele tom debochado... que falava do meu filho e de mim - respondeu ele. - Estava soando como uma acusação. - ele suspirou, se aproximando mais do rosto de Demi, que não se mexia. - Se você é tão corajosa, explique. Fale diretamente.
Demi estava com a respiração cortada, não sabendo as palavras que saíriam de sua boca se aquele homem se aproximasse mais uma vez dela. Ela suspirou, tentando se acalmar. Parecia que não ia conseguir. Baixou seus olhos mais uma vez, estava quase suando frio. Bufou fortemente e disse:
- Olha só, eu escrevi sobre o que eu vi. E goste ou não o seu filho faz coisas graves - Demi encarou o político. - E sempre sai são e salvo - dá de ombros.
- Coisas? - perguntou ele, juntando as sobrancelhas. - Que coisas? Me diga que coisas. Seja mais precisa.
Demi levantou as sobrancelhas, revirando os olhos. Agora que começou terminaria. Era o jeito. Já não estava mais tão nervosa.
- Então, ele bateu dirigindo na contra-mão e depois fugiu do clube, e se meteu numa briga em que quem acabou preso foi outro - ela ergueu as sobrancelhas, como se fosse óbvio.
- O outro era um criminoso, pelo que eu entendi - afirmou Alex.
Demi olhou com desdém para o pai de Joe, agora com um leve embrulho no estômago. Tinha nojo daquela gente.
- Ah é? - disse ela, irônica. - O senhor se deu ao trabalho de investigar? Sabe se ele se comportou assim por necessidade ou por vontade?
Alex deu de ombros.
- Isso não muda nada - respondeu ele. - Não deixa de ser um criminoso.
Demi balançou a cabeça, agora realmente indignada enquanto se levantava do sofá branco.
- Isso é a sua opinião - disse ela, de pé, se segurando para sua raiva não aumentar. - O senhor se deu ao trabalho de investigar se esse criminoso era responsável por alguém?
Alex juntou as sobrancelhas, confuso, enquanto estendia seus braços no sofá, acendendo mais um cigarro, o que causou náuseas em Demi.
- Mas o que é isso? - perguntou ele. - É um interrogatório?
Demi riu falsamente.
- O senhor gosta de perguntar, mas não gosta de responder, não é?
- Olha só - Alex se levantou, aproximando-se novamente da garota. - Eu escutei alguma coisa sobre um irmão menor que parece que desapareceu.
O rosto de Demi ficou pálido e a mesma abaixou o rosto imediatamente. Seu coração se acelerou como nunca; será que ele desconfiava de Samuel?
- Que coincidência, não é verdade? - continuou Alex, pressionando. - O meu filho foi atacado por um menino de rua no colégio, e você está envolvida.
Demi bufou, revirando os olhos. Fazia de tudo pra não mostrar seu rosto apavorado e agoniado ao político naquele momento, pois sabia muito bem que todos percebiam o que sentia. Deu uma risada abafada.
- Sabe o que é? Seu filho ás vezes faz acusações que não pode provar, inclusive inventou que eu roubei uma carteira - ela sorriu cinicamente.
Alex balançou a cabeça.
- Deve ter sido um mal entendido - disse ele.
- É, talvez - concordou ela. - Mas ele não queria me pedir desculpas e ninguém do colégio fez nada. Claro, deve ser porque o diretor estava ocupado experimentando o carrinho novo, não é?
Demi bufou, arregalando os olhos, agora perto do homem. Sua mente processava o que havia acabado de falar e percebera que foi uma coisa grave. Se afastou rapidamente dele, olhando sua expressão: olhava pra garota sério, sem expressão, com o cigarro soltando fumaça entre os dedos.
- Eu prefiro pensar que você fala com ingenuidade, na sua idade - disse ele. - Eu vou dizer uma coisa: vão encontrar esse menino, e você vai ser expulsa! - afirmou, apontando o dedo para Demi.
O coração de Demi se apertou novamente, olhando do dedo apontado ao rosto do secretário. Sua fúria subia naquele momento e tudo o que ela queria ali era esmagar aquele dedo, ou até mesmo cortá-lo.
- Até lá - continuou Alex -, não se meta com o meu filho!
Era isso mesmo que ela escutava? Ele a estava ameaçando? Demi suspirou, vendo que ele tinha tirado seu dedo com o cigarro da cara dela. Agora sentia mais ódio de Joe do que o do pai.
- Você entendeu? - perguntou ele.
Demi deu de ombros. Apesar da raiva, não iria baixar a bola.
- Então vamos ver se me expulsam. Porque talvez a minha mãe compre um iatezinho pro diretor... - disse ela, dando um sorriso cínico.
- Garota, não brinque com fogo! - interrompeu Alex. - Você pode se queimar, menina.
Os olhos de Demi ganhavam uma fúria enorme. Se segurava o bastante pra não enfiar aquele cigarro na garganta do homem e seguir para matar Joe. Como odiava os Walker. Todos a perseguiam. Demi sentia ódio a cada palavra dita pelo secretário.
- E diga pro seu filho não tentar me bater de novo! - disse Demi, rangendo os dentes, se segurando pra não soltar um grito. - Porque senão vamos ver quem vão expulsar primeiro!
Alex piscou os olhos várias vezes após ouvir as palavras de Demi, meio perplexo.
- Olha, meu filho é incapaz de agredir uma mulher - falou.
Demi riu, cinicamente. Se aproximou dele, falando firmemente:
- O senhor não conhece seu filho.
Houve um momento de silêncio, apenas os dois se encarando. Agora estavam mais calmos, mas a conversa havia estressado bastante. Várias coisas pairavam nas duas mentes, estavam cheias de coisas.
Por fim, Alex deu mais uma tragada em seu cigarro, jogando-o na lixeira próxima.
- Não estou disposto a escutar mais tolices - falou. - Não estou acostumado com esse tipo de discussões típicas desses programas que você assiste.
Demi riu, ainda o encarando.
- É, tem razão - concordou. - Isso é bem diferente da TV. Isso aqui parece mais com um filme da máfia!
As palavras de Demi causaram um impacto doloroso, o que causou de Alex a encarar por longos minutos, com uma expressão de fúria. Demi deu um passo pra trás, parecia que Alex saltaria em seu pescoço a qualquer momento. Por fim, o político suspirou e deu as costas, pisando fundo no piso e saindo logo em seguida, passando pelos seguranças.
Demi suspirou, e percebeu que os três seguranças na porta a encaravam de forma furiosa. Demi rapidamente correu e bateu a porta, não se importando se era alguma coisa de falta de educação. Encostou-se na porta, encarando o chão. Estava ferrada! Totalmente ferrada. Suas palavras haviam realmente atingido o senhor Walker e sua cabeça não parava de martelar as circunstâncias e consequências que pudessem vir. Sua mente parecia girar naquele momento, e o alívia aos poucos tomava seu corpo.
No refeitório, os alunos que haviam presenciado Demi ser carregada pelos monstros do Walker ainda estavam preocupados, principalmente Madison e Nick, que queriam a todo custo saber o que estava se passando. Os alunos conversavam aleatoriamente sobre esse assunto, quando foram surpreendidos por Josh atropelando as pessoas a sua frente, correndo em direção ao grupo formado no meio.
Josh chegou ao meio das pessoas, que olharam assustados para o garoto magro respirando abafado, e trazia consigo um papel em suas mãos.
- Pessoal - disse Josh, ainda respirando com dificuldade pela corrida. - Aconteceu uma coisa terrível... no quarto do Nick! - apontou para Nick.
Todos os olhos ali se viraram para o garoto no centro da roda, que olhava pra Josh nesse momento com uma extrema confusão nos olhares.
- No meu quarto? - perguntou Nick, confuso.
- Josh, o que você tem? - perguntou Aiden, se aproximando do garoto, que tremia.
- O que houve? - perguntou Nick.
- Fala! - gritou Madison.
Josh fechou os olhos, ainda suando e tremendo. O garoto realmente parecia apavorado com o que tinha visto. Ele apenas pegou o papel em suas mãos, abrindo-o, entregando nas mãos de Nick, mostrando o que havia lá dentro.
- É A MARCA DA SEITA! - gritou um garoto do grupo.
Era impossível descrever a palidez e a choque que todos tiveram naquele momento. Josh fechava os olhos, tremendo e com medo do que iria ouvir. Madison botou as mãos na boca, completamente chocada. Aiden havia dado um passo pra trás, assustado. As pessoas estavam tremendo, assim como Josh.
Já Nick mantinha a mesma expressão. Olhava o desenho na folha: a marca de uma mão, em tinta preta. Apenas isso. Já ouvira falar da Seita antes, Isabella o alertara sobre essa gente, mas isso não o estava preocupando.
- O que eles fizeram, Josh? - perguntou Nick, acalmando o pessoal que ainda falando em múrmurios.
Josh ficou calado, ainda tremia de nervoso.
- Responde, o que eles fizeram? - repetiu Nick, se aproximando do garoto. Josh continuou calado. - FALA LOGO!
Continua.